LUZ ESPÍRITA
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No Principio era o Verbo... - Inácio Ferreira/Carlos A. Baccelli

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:01 am

No Principio era o Verbo...
Carlos A. Baccelli

Espirito Inácio Ferreira

No Principio Era o Verbo...
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. "
João, cap. 1, v. 1

O Espiritismo é a mais lídima expressão do Verbo Divino, que, gradativamente, vem se revelando à Humanidade.
Desde as épocas mais remotas, a palavra da Verdade tem soado aos ouvidos humanos, na tentativa de acordar os homens para as realidades da Vida Imortal.
Bramanismo, Druidismo, Zoroastrismo, Taoísmo, Budismo, a filosofia de Sócrates e Platão e outras congéneres, tocadas, mais tarde, pela excelsa luz do Cristianismo, são manifestações do mesmo Pensamento-Director que tange os espíritos nas estradas sem fim da Evolução.
Surgindo em meados do século XIX, a Doutrina Espírita, além de ser, pois, a revivescência do Cristianismo, é também o desdobramento da Verdade que, em todos os tempos, sempre esteve acessível aos interessados em seu conhecimento. Não nos iludamos, portanto. Se a Doutrina Espírita, na actualidade, representa a nossa mais avançada concepção do Verbo Divino, que, através dela, nos soa com maior nitidez à compreensão, simplesmente, não passa de ser o berço de novas e mais altas luzes, que sempre haverão de brilhar nos horizontes da Terra para que toda a treva se dissipe.
Neste singelo livro que o Senhor nos permitiu alinhavar agora, nada pretendemos a não ser continuarmos, à luz da Fé Raciocinada, em nossa incessante busca, para que, finalmente, sob o amparo do Evangelho, possamos atinar com a essência daquilo que somos, construindo, em definitivo, o Reino de Deus em nossos corações!

Inácio Ferreira
Uberaba - MG, Io de janeiro de 2012


Última edição por Ave sem Ninho em Qui Jan 05, 2023 11:37 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:02 am

Índice
No Principio Era o Verbo...

CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:02 am

CAPÍTULO 1
Mais uma vez, por sugestão de nossa irmã Domingas, nos reunimos no Hospital dos Médiuns para estudarmos importantes aspectos de nossa Doutrina.
Inicialmente, o grupo, um tanto reduzido, estava composto por ela - Domingas -, Odilon, Modesta, Manoel Roberto, Paulino e por mim. O propósito era um estudo ligeiro sobre alguns tópicos do livro "A Génese", o 5o livro do Pentateuco, que a confreira alegava não entender muito bem. — Sempre tive dificuldade com "A Génese" ponderou. - Creio que me informaram mal a respeito do livro, dizendo que a sua leitura e compreensão apenas seriam possíveis a quem possuísse algum conhecimento na área científica.
— Não é verdade - aparteei. -A obra em questão é acessível a quem se disponha a estudá-la com atenção. É claro que nela existem abordagens de carácter um pouco mais complexo, mas nada que não possa ser entendido com o auxílio de um dicionário ou de alguém com um pouco mais de experiência.
— Agradeço a vocês, principalmente ao senhor, Doutor, e ao Dr. Odilon, pela sua disponibilidade em nos auxiliarem no estudo que vamos começar...
— Domingas - falou Modesta -, todos nós agradecemos, inclusive, minha irmã, pela sua iniciativa.
Confesso que eu também apenas consegui fazer uma espécie de leitura dinâmica de "A Génese" - os primeiros capítulos, de facto, são de mais complexa abordagem...
— E eu - disse Manoel Roberto -, nem abri o livro...
— Pois é, Manoel, você perdeu um tempão...
Falta de insistir para que você estudasse não foi.
— Doutor, eu sempre tive dificuldade com Química, Física, Biologia...
— Você sabia fazer contas de somar para saber quanto iria receber no fim do mês, não é?!
— Claro, Doutor! Dependurado como eu vivia...
— De minha parte - observou Paulino -, não tenho vergonha de dizer que só conheço o livro de nome... Corrigindo: conhecia! Porque lá no "Liceu" o estudo de "A Génese", como de todas as obras da Codificação, faz parte do programa. Quando encarnado, conforme sabem, o meu contacto com o Espiritismo, infelizmente, foi muito pequeno. — Então, vamos lá - redargui. - Odilon, você poderia começar nos dando algumas notícias do livro...
— Por ordem de lançamento, que obedeceu a projecto da Espiritualidade Superior, "A Génese" é o último volume que integra o Pentateuco - os 5 livros básicos da Doutrina: "O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns", "O Evangelho Segundo o Espiritismo", "O Céu e o Inferno" e, finalmente, "A Génese". Lançado a Io de janeiro de 1868, foi, por assim dizer, o "canto do cisne" do Codificador, que viria a desencarnar em 31 de março de 1869, quando, incansável, já estava trabalhando noutra obra relacionando o Espiritismo ao Magnetismo.
— Diga-se de passagem - aparteei o amigo -, os Espíritos que orientavam Kardec insistiram para que ele se apressasse no lançamento da obra... Àquela altura, o seu quadro de saúde, embora os seus apenas 64 janeiros, era delicado. Em 1866, portanto, três anos antes de ocorrer o seu desenlace, o Dr. Demeure, segundo se pode ler em "Obras Póstumas", recomendava a ele: "Enfraquecendo-se diariamente a saúde do Sr. Allan Kardec, devido ao excesso de trabalho que é mais do que ele pode suportar, vejo-me na necessidade de lhe repetir o que já lhe disse inúmeras vezes: Tendes necessidade de repouso; as forças humanas têm limites que o vosso desejo de ver progredir o ensino vos leva muitas vezes a transpor. Estais errado, porque, assim agindo, não apressais a marcha da Doutrina, mas arruinais vossa saúde, ficando materialmente impossibilitado de terminar a tarefa que viestes cumprir neste mundo ".
— O extremo devotamento é próprio dos grandes espíritos! - exclamou Modesta, com acerto. — Doutor - acrescentou Odilon -, "A Génese" já estava sendo escrita desde 1867, porque, também em "Obras Póstumas", vamos nos deparar com um comunicado do mesmo Dr. Demeure, dizendo ao Codificador: "Primeiramente duas palavras sobre a obra que está no seu início. Como já dissemos tantas vezes, é urgente pô-la em execução sem perda de tempo e apressar o mais possível a sua publicação ".
— Ué! - exclamou Domingas. - Ao mesmo tempo em que aconselha repouso, o Dr. Demeure pede a Kardec que se apresse...
— É assim mesmo, minha filha - comentei.
- Os Espíritos Superiores, como a gente costumava dizer na Terra, "batem e sopram"...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:02 am

— Interessante - informou Odilon - é que as obras de autoria de Kardec já eram ansiosamente aguardadas pelos leitores. As três primeiras edições se esgotaram em, praticamente, dois meses! Em 22 de fevereiro de 1868, o Codificador já estava cogitando de uma 4a edição...
— E o Dr. Demeure - falei -, consultado por Kardec a respeito de uma revisão que pretendia fazer na obra, voltou a lhe dizer, em aparente contradição:
"Esta revisão é um trabalho sério e aconselho-vos a não esperar muito para começá-lo. É melhor estar pronto antes da hora do que terem de esperar por vós. Sobretudo não vos apresseis ". Repararam?!...
— Em 4 de julho de 1868 - esclareceu Odilon -, o Dr. Demeure, em nome da Falange do Espírito da Verdade, escreveu (tudo indica que através do Sr. Desliens, um dos médiuns da maior confiança do Codificador): "Hoje vos incitarei a rever com cuidado sobretudo os primeiros capítulos, nos quais todas as ideias são excelentes, não contendo senão verdades, mas onde certas expressões poderiam prestar-se a uma interpretação errónea. Salvo estas rectificações, que vos aconselho a não negligenciardes, porque, quando não podem atacar as ideias, voltam-se contras as palavras...".
— "Quando não podem atacar as ideias"?... - repetiu Domingas, pausadamente.
— "... voltam-se contra as palavras... "! - completou o Director do "Liceu".
— Tenho a impressão de que conheço essa história!... - retrucou Domingas, reticente.
— E eu, idem! - endossou Paulino.
— Assim como - prossegui - a publicação de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", em 1864, foi importante para a natureza ética da Doutrina - para a sua natureza religiosa! -, "A Génese" foi importante para o seu carácter científico, reafirmando o seu tríplice aspecto: Ciência, Filosofia e Religião!
— Para mim - observou Modesta -, esta unificação de conhecimentos, aproximando a Fé da Razão, é o que há de mais revolucionário no Espiritismo - é o que sempre lhe dará essa condição de modernidade, porque, sem dúvida, até então, Religião e Ciência eram aspectos da Verdade inconciliáveis!
— Muito bem colocado - concordou Odilon. Sinceramente, eu não sei como, neste sentido, Kardec pode continuar sendo ignorado pelos estudiosos do mundo, porque ele encarnou a Fé Raciocinada, escrevendo que fé verdadeira é aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da Humanidade!
— A questão, meu caro, conforme você sabe, continua sendo de preconceito... As religiões ortodoxas não cedem espaço e não abrem mão do poder! Infelizmente, no mundo, os interesses materiais continuam falando mais alto...
— Até quando, Doutor?! - inquiriu Manoel Roberto.
— Até quando do advento da "grande dor", da qual, não sendo Nostradamus e nem nada, prevejo que a Humanidade não escapará - porque os factos nos demonstram que, a cada dia, sob o ponto de vista moral, o homem parece se degradar...
— Quanta injustiça! Quanta corrupção!...
— Segundo estimativas, somente o tráfico de drogas movimenta cerca de 500 bilhões de dólares anuais! - frisei. - Mas este é assunto de que trataremos noutra oportunidade.
— Voltando a falar sobre "A Génese" - retomou Odilon a palavra -, na Introdução que escreveu para a sua Ia edição, Kardec afirma: "Dois elementos ou, se o preferem, duas forças regem o Universo: o elemento espiritual e o elemento material; da acção simultânea destes dois princípios nascem fenómenos especiais que são naturalmente inexplicáveis, se se faz abstracção de um dos dois, da mesma forma que a formação da água seria impossível se fossem abstraídos um de seus dois elementos constitutivos: o oxigénio e o hidrogénio ".
— O elemento espiritual como sendo o elemento causal, não, Doutor?! Inclusive do elemento material?]...
— Exactamente - elucidou Odilon. - Em outras palavras, podemos dizer que tudo é espírito, pois a matéria é efeito, e não causa.
— Inclusive - ponderei -, alguns cientistas, a exemplo de alguns místicos, têm tido a coragem de afirmar que "não existe nada senão Deus "
Um deles, o Dr. Amit Goswami, tem escrito que "a consciência é a base de toda existência, inclusive da matéria e do cérebro, e a ciência deve ser fundamentada nessa metafísica, e não na metafísica materialista tradicional."
—A Ciência moderna está caminhando na direcção da Doutrina, não lhes parece?! - perguntou Modesta.
— Sim, não há dúvida. Mas, por conta disto, não devemos nos enfatuar... O Espiritismo tem algo a oferecer à Ciência, mas a Ciência também tem o que oferecer ao Espiritismo!
— Aliás, Doutor, se me permite, Kardec chegou a dizer que o Espiritismo haveria de ser científico, ou não sobreviveria...
— Correto, Domingas, mas justamente aí é que mora o perigo: Jesus Cristo deve ser o "Centro" de nossas mais altas e nobres aspirações! O homem evolui para ser como Deus, e não para ser Deus!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:02 am

CAPÍTULO 2
Na próxima semana em que nos reunimos, antes de dar início aos nossos estudos sobre "A Génese", como de costume, pedimos a Manoel Roberto que proferisse ligeira oração.
— Divino Mestre - orou o companheiro com poucas palavras —, solicitamos a Tua inspiração e a Tua presença, através daquelas entidades espirituais que Contigo cooperam em prol de nosso esclarecimento...
Que possamos, Senhor, com o Teu auxílio, assimilar as lições que a Verdade nos transmite, com o propósito de colocá-las em prática em nossas vidas, aprendendo, sobretudo, a amar os semelhantes, qual sempre nos amaste e amarás sempre. Assim seja!...
— Manoel - disse eu -, enquanto você fazia a prece, não pude deixar de pensar na importância de sempre estarmos em conexão mental com os Planos Superiores, de onde toda a luz se derrama...
— Eu também, Doutor - comentou Domingas -, pensei que, se, na Terra, o homem fosse mais companheiro da oração, de espírito assim pacificado, ele erraria muito menos - desenvolveria mais a sua percepção das coisas espirituais e viveria em maior sintonia com o Alto...
— Domingas - observou Odilon com precisão -, se Jesus, nosso Mestre e Senhor, sentia a necessidade de orar...
— Jesus também orou! - exclamou Modesta.
— Sim, e em várias oportunidades - tornou o Director do "Liceu". - Não apenas no Monte das Oliveiras, quando se aproximava o momento de seu maior testemunho...
— "Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade. "!
— Uma prece tão simples, não é, D. Modesta, mas tão profunda?!
— Exactamente, Domingas! - concordou a companheira a qual fizera a citação que se encontra inserida no Evangelho de Mateus, capítulo 26, versículo 42.
— Também em Mateus - aduzi -, no capítulo 11, versículo 25, nos deparamos com uma das orações que o Senhor formulou a Deus: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. "!
— Impressiona-me o fato de Jesus orar - falou Paulino. - Ele, cuja vida, praticamente, já era uma oração!
— Pois é, meu filho - redarguiu Odilon -, e nós, espíritos extremamente imperfeitos, desprezamos o valor da prece! Quantas e quantas vezes não nos julgamos dispensados de orar!...
— Ou, então, Odilon - comentei -, achamos que a prece nada resolve, porque, em nossa estreita visão, não apresenta resultados imediatos. Não compreendemos que o objectivo da oração, em essência, é movimentarmos dentro de nós as forças divinas que jazem em estado de latência...
— Se o homem orasse com maior frequência, ele se espiritualizaria mais rápido!
— Muito bem, Manoel - alegrei-me com a definição do companheiro que, neste Outro Lado, fazia tão evidentes progressos.
— Jesus, a cada instante - prosseguiu Domingas -, nos exortava à oração... Certa vez, dirigindo-se aos discípulos, disse-lhes: "A seara na verdade é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara."!
— Também, no instante do Calvário - endossou Modesta -, estando prestes a expirar, "clamou em alta voz": "Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito!".
— O Cristo, no entanto - interveio Odilon -, não somente orou como, igualmente, nos ensinou a orar... Foi a pedido dos Apóstolos que Ele proferiu a oração do "Pai Nosso", que, por assim dizer, há quase dois mil anos, tem sido o luzeiro da fé de todos os cristãos.
— Ai de nós, se não fosse o "Pai Nosso"! - exclamou Domingas, pronunciando as indeléveis palavras: "Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia; perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo oque nos deve. E não nos deixes cair em tentação."
— Quão proveitoso é o estudo, não?! - concluiu Paulino, externando felicidade. - Estamos reunidos para comentarmos sobre "A Génese", começamos a falar sobre a oração e...
— Pois é, meu filho, se Adão e Eva tivessem orado quando submetidos à tentação pela serpente, provavelmente, a história teria tido outro desfecho...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:02 am

Estando, porém, no Jardim do Éden, achavam que não precisavam orar mais!
— Doutor, a sua observação é, deveras, curiosa: quase sempre, o homem se lembra de orar a Deus apenas depois do desastre consumado!
— Odilon, tendo eu já a curiosidade de consultar o Antigo Testamento, justamente no livro de "Génesis", no capítulo 9, versículo 25, Noé, antes de abençoar o nome do Senhor, profere maldição contra Canaã primeiro amaldiçoou os semelhantes, depois orou!...
O pessoal esboçou um sorriso e, com "A Génese" nas mãos, concitei:
— Se a gente não começar a tecer alguns comentários sobre o Io capítulo deste livro do Pentateuco, falando um pouco sobre os "Caracteres da Revelação Espírita"... Por favor, abram aí os volumes que vocês têm à sua disposição. Seria, reconheço, um tanto fastidioso fazer a leitura de todo o capítulo...
— No entanto, Doutor - aparteou Odilon -, seria o ideal...
— Sim, mas o nosso intuito é o de um estudo ligeiro da obra, para nossa maior elucidação dos temas que aqui são tratados, como também para os nossos irmãos encarnados, aos quais, quando oportuno, pretendo apresentar um resumo de nossos comentários e reflexões.
— Os livros da Codificação - tornou o amigo -, não obstante, necessitam ser meditados, parágrafo a parágrafo... É bom que o senhor, Doutor, em suas anotações, faça este destaque.
— Sem dúvida, sem dúvida.
— Em minha opinião, os grupos de estudo deveriam se reunir para efectuar uma leitura de cada obra...
— Estudarem sem pressa, não é, Doutor?!
— Nem que, por exemplo, levassem cinco anos para chegar ao fim de um livro... Sendo proveitoso, o estudo de uma única obra proporciona esclarecimentos que, na maioria das vezes, muitos não conseguem, lendo dezenas de livros!
— A qualidade do estudo?...
— ...supera a quantidade, Manoel - respondi ao companheiro.
— Neste capítulo I, "Caracteres da Revelação Espírita", o tema apresentado por Kardec é tão substancioso, que a gente não sabe nem por onde começar -a rigor, nenhum parágrafo pode ser suprimido! Mas, já que o objectivo é de síntese, eu gostaria de trazer uma frase para as nossas reflexões.
— A vontade, Odilon.
— "Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é que sua origem é divina, que a iniciativa pertence aos Espíritos, e que a sua elaboração é o resultado do trabalho do homem ".
— Modesta - perguntei -, o que você acha?
— Que a iniciativa pertence aos Espíritos, mas não a espíritos como nós, não é?!
— A sua observação é subtil! - exclamei, sorrindo.
- Por tal motivo, minha cara, é que, quando desejo me referir a Espírito Superior, eu escrevo a palavra Espírito com E, reservando o e minúsculo para nós!
— Por que a origem do Espiritismo é divina?! - indagou Paulino. - Não seria presunção?! Toda religião diz que a sua origem é divina...
— Para Kardec, a conotação é outra - explicou Odilon. -O Espiritismo é de origem divina porque é um conjunto de Leis Naturais que foram reveladas aos homens -a Doutrina estuda as Leis da Criação! Não há qualquer sentido sectário na definição de Kardec.
— E o Espiritismo - tornou o pupilo do Director do "Liceu" - revelou aos homens todas as Leis da Criação Divina?...
— Boa, meu rapaz! - intervim. - Obvio que não! Agora, ao dizer isto a um espírita ortodoxo, você precisa ter muito cuidado - de preferência, estar preparado para falar e sair correndo...
— Eu gostaria - ponderou Domingas - de dar ênfase a que a elaboração da Revelação Espírita "é o resultado do trabalho do homem"... Seria do trabalho de Kardec e dos médiuns?
— Não, Domingas - respondeu Odilon, antecipando-se. - Esta questão é de suma importância para os nossos comentários. O trabalho de Kardec, como pesquisador, foi tão ou mais decisivo que a participação dos médiuns! Sem a genialidade do Codificador, talvez o Espiritismo não tivesse passado da fase das "mesas girantes"!...
— Os espíritas encarnados - continuei não podem, e não devem, ficar tudo esperando dos desencarnados! A Ciência Espírita carece de se desenvolver! O trabalho de estudiosos como Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, William Crookes e outros, no passado, foram de suma importância para a consolidação da Doutrina.
— E aquilo que você tem dito, não é, Inácio?!
O Espiritismo precisa ser pensado...
— Sim, conforme sabemos, os Espíritos Superiores nos inspiram, todavia é da Lei que eles não nos tragam tudo pronto! No capítulo XXV, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", o Codificador escreveu: "Não, os Espíritos não vêm isentar o homem da lei do trabalho: vêm unicamente mostrar-lhe a meta que lhe cumpre atingir e o caminho que a ela conduz, dizendo-lhe: Anda e chegarás. "!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:03 am

CAPÍTULO 3
Outro ângulo que precisa ser considerado - continuei -, e vocês hão de concordar
comigo, é que, na condição de desencarnados, praticamente habitantes da esfera imediata à Crosta, os nossos conhecimentos são ainda bastante limitados...
— De facto - asseverou Odilon -, estamos distantes de maiores vislumbres da Verdade: somos detentores de relativas informações, porque a nossa condição espiritual não difere tanto da condição de nossos irmãos na experiência física...
— É preciso coragem para dizer isto! exclamou Domingas. - Inclusive, muitos médiuns relutariam em filtrar este depoimento oriundo dos espíritos que por eles se expressam!
— Não - disse eu -, mais do que de coragem, a questão, minha cara, é de honestidade!
— Concordo, Inácio - endossou Modesta. - Por que não haveríamos de assumir a humanidade que ainda nos caracteriza?! Tanto quanto os companheiros que mourejam no corpo carnal, estamos sujeitos a equívocos... Os Espíritos directamente envolvidos na codificação da Doutrina não pertencem ao nosso Plano - por assim dizer, os seus autores intelectuais, integrantes da Falange do Espírito da Verdade, residem em Dimensões Superiores!
— Daí, com certeza, às vezes sobre o mesmo assunto, certas opiniões contraditórias, não é?!
— Exactamente, Manoel - enfatizei. - Por exemplo: um dos Espíritos mais actuantes em "A Génese", Galileu Galilei, que viveu nos séculos XVI e XVII, um dos maiores cientistas que a Humanidade conheceu, escreveu através de Camille Flammarion, o médium de sua maior afinidade na "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas": "Aos que estejam religiosamente desejosos de conhecer, e que sejam humildes diante de Deus, direi, rogando-lhes, todavia, que não baseiem nenhum sistema sobre as minhas palavras...'".
— Aproveitando o assunto, Doutor - emendou Odilon -, ainda dentro deste capítulo I, "Caracteres da Revelação Espírita", podemos falar sobre a "Concordância Universal do Ensino dos Espíritos".
— Sim, mas, antes, permita-me destacar o que o próprio Kardec fez questão de frisar, evidenciando o carácter naturalmente dinâmico da Doutrina: "em nenhuma parte, o ensino espírita foi ministrado de maneira completa... ". Ao que me concerne, diria: em nenhuma parte, o ensino espírita foi ou é ministrado de maneira completa! O Espiritismo ainda não está concluído! A Revelação é gradativa!...
— Doutor, isto é perfeitamente lógico! Em "O Livro dos Espíritos", considerando que o Espiritismo é a "ciência do infinito", Kardec pontificou: "... o estudo do Espiritismo é imenso; liga-se a todas as questões da metafísica e da ordem social; é todo um mundo que se abre ante nós. ".
— Que maravilha! - exclamou Domingas, circunspecta.
— O Espiritismo, então, não pode ser uma doutrina "engessada"?!...
— Não e não! - repliquei de maneira instantânea. - Mil vezes, não!...
— Aprecio esta veemência do senhor, Doutor.
— Mas o nosso Paulino tocou numa questão fundamental - sublinhei. - Você não acha, Odilon?
— Sem dúvida - respondeu o Instrutor. -O Espiritismo, segundo Kardec, surgiu para combater o materialismo e a ortodoxia...
— A ortodoxia que, segundo André Luiz, por Chico Xavier, costuma ser "o cadáver da revelação " O Espiritismo não nasceu para ser mais um "ismo"... Trata-se de uma doutrina de vanguarda, que, sob pena de não cumprir com o seu desiderato, não pode repetir os mesmos equívocos das religiões tradicionais. No mundo moderno, não haverá espaço para a religião que não comungar com a ciência! Aliás, vocês me perdoem, mas a palavra "religião" carece, também, de ser repensada... Os Espíritos disseram a Kardec que o Espiritismo é a Ciência do Espírito! Claro, teve que ser sistematizado, todavia ele está em a Natureza!
Nos Mundos Superiores, o Espiritismo sequer nome tem ele existe como expressão livre do pensamento!
— Doutor, sobre a questão da "Concordância Universal do Ensino dos Espíritos"...
— Que é um tema delicado e complexo! exclamei.
— Precisamos - prosseguiu Odilon - efectuar algumas reflexões. Por exemplo: os espíritos, quase em todas as culturas, sempre ensinaram a verdade da Reencarnação - no Hinduísmo, no Budismo, no Cristianismo dos tempos apostólicos...
— Entre os gregos e os egípcios - citei. Talvez tenha sido entre os egípcios, com a chamada Metempsicose, uma das primeiras manifestações de crença na pluralidade das existências!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:03 am

— Portanto, Doutor, eis a concordância, porém, com uma "discordância" dentro dela: em geral, os espíritos não concordam sobre os processos da Reencarnação! Neste sentido, ninguém se aprofundou tanto quanto o Espiritismo...
— Mormente, se me permite dizer, com o advento de Chico Xavier e sua extraordinária obra psicográfica!
"Missionários da Luz", de André Luiz, encerra notável contribuição ao mais amplo conhecimento dos homens em tomo dos mecanismos da Reencarnação.
Acompanhando a reencarnação de Segismundo, André formula importante indagação a Alexandre: — "O que vimos, porém, com Segismundo é regra geral para todos os casos?" Poucos são, infelizmente, os que meditam na elucidativa resposta do Mentor: "De modo algum, os processos de reencarnação, tanto quanto os da morte física, diferem ao infinito, não existindo, segundo eremos, dois absolutamente iguais ".
— E também, Inácio - comentou Modesta -, nem todos os espíritos estão de acordo com a Reencarnação - muitos chegam a duvidar de que ela realmente exista!
— Sim, no mesmo capítulo de "Missionários da Luz", André Luiz se refere a espíritos que retomam ao corpo, em nova existência, totalmente inconscientes...
Em "Cartas de Uma Morta", de Maria João de Deus, obra que sempre apreciei bastante pelo seu conteúdo revelador, a autora nos diz textualmente: "... conheci inúmeros companheiros, que duvidavam dos ensinamentos dos mestres quando se referiam aos pretéritos longínquos; e alguns deles me asseveravam não poderem admitir a multiplicidade das existências das almas ".
— Doutor - concluiu Paulino -, baseados nisto, podemos considerar que a "Concordância Universal do Ensino dos Espíritos" é relativa...
— Sinceramente, tenho esta opinião - respondi.
— Além do mais - esclareceu Odilon -, precisamos levar em consideração algo de grande importância: a questão da filtragem mediúnica...
— E dos interesses em jogo, meu caro - enfatizei. - Você sabe tanto quanto eu que, à época de Kardec, o personalismo entre os médiuns era menor e... não existia a Internet!
— O que o senhor quer dizer com isso, Doutor?! - questionou-me Domingas.
— A época da Codificação, a "concordância" era espontânea, porque, sem fácil contacto uns com os outros, os médiuns ignoravam, entre si, o que os Espíritos estavam transmitindo por seu intermédio...
Hoje, dificilmente, um médium se dispõe a ser instrumento para confirmar a informação que tenha vindo através de outro! E mais provável, inclusive, pela incompreensível competição reinante entre eles, que se façam instrumentos de contestação mútua!
— O Inácio tem razão - falou Modesta.
- Não sei, mas os médiuns sempre nutriram certa rivalidade entre si... Quando eu estava encarnada, esta rivalidade era menor, mas também existia!
— Que estrago pode fazer o personalismo, não é?! - aparteou Domingas. - Posso dizer a vocês que companheiros de mediunidade, às vezes, me rotulavam de obsedada...
— Que falta de ética! - exclamou Paulino.
— Você me desculpe, meu filho, mas isto é muito mais que falta de ética - às vezes, é falta mesmo de um certo rubor na face... Você entendeu?
O pupilo de Odilon sorriu desajeitado e o Director do "Liceu" falou, retomando a palavra:
— A "Concordância Universal", aludida pelo Codificador, em termos de revelação de natureza mediúnica, hoje careceria de ser revista...
— Opinião corajosa, Odilon! - exclamei. — Vejamos os fatos. Infelizmente, o Espiritismo, na actualidade, se concentra em terras brasileiras...
— A excepção de Portugal - observei -, onde, deveras, o Movimento é promissor!
— Não desconsiderando o heróico esforço de grupos isolados na Inglaterra, França, Canadá, Suíça, Estados Unidos da América do Norte, Colômbia, Cuba...
— São grupos, porém, que ainda se encontram em fase de estruturação - grupos pioneiros, lavrando o terreno para a promissora colheita do porvir! São grupos nos quais, compreensivelmente, os médiuns estão na fase inicial do adestramento de suas faculdades.
— Com base nisto, Dr. Odilon?...
— Com base nisto, Domingas, a "Concordância Universal" praticamente inexiste, porque, se assim posso me expressar, passou a se resumir em "Concordância Nacional"...
— Eu quase diria "Regional", Odilon!...
— Mas - redarguiu Manoel Roberto -, a mediunidade não está no mundo todo?
— Está - respondi -, no entanto, pelos próprios espíritas, a mediunidade exercida fora da Doutrina é considerada anti-doutrinária! Arre! Eta palavrinha que me provoca urticária!...
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No Principio era o Verbo... - Inácio Ferreira/Carlos A. Baccelli Empty Re: No Principio era o Verbo... - Inácio Ferreira/Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:03 am

CAPÍTULO 4
Você ouviu falar, Manoel perguntei ao amigo -, de um médium chamado Daskalos, cognominado "o Mago de Strovolos", cuja biografia foi escrita por Kyriacos C. Markides?!
— Meu Deus! - exclamou Domingas. - O senhor agora deu para falar grego, Doutor?!
— Exactamente, minha cara. O seu nome verdadeiro era Spyros Sathi, desencarnado em 1995. Ele foi um sensitivo extraordinário!
— Espírita?!
— A mediunidade não pertence ao Espiritismo, Domingas!
— Daskalos, que nasceu em Chipre, enxergava e conversava com os espíritos e era excepcional médium de cura, de desdobramento...
— Fazia exorcismo! No Brasil, teria sido queimado por um pessoal que é especialista em acender fogueiras...
— Ele foi muito perseguido e, como todo médium, sofreu bastante - informou Odilon.
— Se ele não era espírita?...
— Era um médium antidoutrinário, Manoel completei.
- Só que Daskalos não estava nem aí para isto...
— Aproveitemos, no entanto, para discorrermos um pouco mais sobre este assunto que, para mim, é sempre apaixonante: Mediunidade! Creio que não estaremos nos afastando de nossos estudos de "A Génese", já que o tema da "Concordância Universal do Ensino dos Espíritos" veio à baila.
— Óptimo! - exclamou Domingas sempre interessada.
— A mediunidade está em tudo - tudo é mediunidade, intermediação! A Criação é um ato de natureza mediúnica, no qual o Criador se fez médium de Si mesmo, na vontade de Criar! A mediunidade, para mim, está comprovada cientificamente.
— Como?! - indagou Manoel.
— Veja você: segundo a Física Moderna, um eléctron é influenciado por outro... Toda partícula tem a sua antipartícula! A mudança de sinal em uma delas, no que os físicos chamam de "spin", determina a mudança de sinal em outra.
— A este fenómeno - aduzi - Carl Gustav Jung, discípulo de Freud, chamou de "sincronicidade"!
— Exactamente - um nome científico para "mediunidade"! No fundo, "sincronicidade" é sintonia!
— "Sincronicidade" é o termo utilizado para explicar ocorrências, ou fenómenos, que independem do tempo e do espaço...
— Peço a vocês não complicarem muito solicitou
Domingas -, pois, caso contrário, não conseguirei sustentar "sincronicidade"...
— Os cientistas hoje estão admitindo prosseguiu Odilon - que "todas as ocorrências são resultado de mudanças em alguma parte do Universo", demonstrando que tudo está inter-relacionado.
— Dr. Odilon - desculpe-me -, mas aonde o senhor está querendo chegar?! - perguntou Modesta que, até então, permanecera em silêncio.
— Que a mediunidade é uma questão muito mais abrangente do que se pensa! Ela é atemporal e "não-local"!...
— Perdi a "sincronicidade"!... - gracejou Domingas.
— Você vai achá-la! - devolvi o gracejo. Preste atenção. Por exemplo: um desencarnado que entra em contacto com um encarnado, está noutra dimensão de tempo e de espaço! Os espíritos que estão acima de nós...
— Sei...
— ...em relação a nós, não estão em diferente dimensão de tempo e de espaço?
— Estão!
— Compreendi, Inácio! - exclamou Modesta.
- Na condição de médium, muitas vezes, eu sentia isto... O espírito comunicante estava e, ao mesmo tempo, não estava presente.
— Aliás, nem você sabia de que lado estava, não é, Modesta?!
— As vezes, não sabia mesmo - concordou a medianeira. - Como tudo isto é complexo!
— Então, falando sobre "Concordância Universal" - retomou Odilon o assunto -, os pensamentos estão aí todos os pensamentos estão aí, à disposição de quem seja capaz de captá-los!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:03 am

— E, muito dificilmente, entre dois médiuns a filtragem será a mesma! Quase sempre, concordarão no "atacado", mas discordarão no "varejo"... Sintonia ou "sincronia" perfeita, que, até agora, por sobre a Terra surgiu, foi apenas entre Jesus e Deus: "Eu e o Pai somos um!"
— No livro "Instruções Psicofónicas", obra-prima da mediunidade de Chico Xavier, há uma comunicação, do espírito de Teresa d'Avila, que ilustra o que estamos comentando. Antes da mensagem propriamente dita, o espírito de José Xavier, explicou aos presentes:
"Esforcemo-nos por entrelaçar pensamentos e preces, por alguns minutos, pois receberemos, na noite de hoje, a palavra, distanciada embora, de quem há sido, para muitos de nós, um anjo e uma benfeitora. Nosso grupo, em sua feição espiritual, deve permanecer atento. Neste instante, aproximar-se-á de nós, tanto quanto possível, a grande Teresa d'Avila e, assim como um grão de areia pode, em certas situações, reflectir a luz de uma estrela, nosso conjunto receber-lhe-á a mensagem de carinho e encorajamento, através de fluidos teledinâmicos". (o destaque é do autor espiritual)
— "Fluidos teledinâmicos"?! - interrogou Domingas.
— O pensamento a se propagar em "ondas", através do incomensurável! - procurei esclarecer.
Fiz pequeno intervalo e aduzi:
— Minha cara, do ponto de vista físico, entre encarnados e desencarnados, estar perto sempre significa estar muito longe! Compreendeu?! Entre a Terra e a dimensão espiritual mais próxima existe um abismo!
— Agora, através do pensamento?...
— Estamos, prezada Modesta, embora não saibamos disto, todos interligados - uns aos outros e a Deus!
— Doutor - questionou-me Paulino com vivacidade -, será que o que existe entre uma dimensão e outra é o chamado "buraco de verme "?...
— Literalmente! - respondi sorrindo. - O túmulo é mesmo um "buraco" de vermes, não é?!...
— Voltando ao tema da Mediunidade - atalhou Odilon -, creio que seja importante insistirmos na questão dos pensamentos que estão por aí, passíveis de serem "acessados" pelos que, com eles, estabelecem conexão...
— Emmanuel, prefaciando o livro "Nos Domínios da Mediunidade" - aparteou Domingas -, escreveu que: "Cada criatura com os sentimentos que lhe caracterizam a vida íntima emite raios específicos e vive na onda espiritual com que se identifica.
"Semelhantes verdades não permanecerão semiocultas em nossos santuários de fé. Irradiar-se-ão dos templos da Ciência como equações matemáticas "!
— Desculpem-me pela nova intromissão falei -, mas o sensitivo italiano, Pietro Ubaldi, em uma de suas obras, comenta a respeito das "correntes de pensamento"...
— O livro, o terceiro de sua lavra, se intitula "As Noúres" - completou o Director do "Liceu".
— Ubaldi era espírita? - questionou Paulino.
— Não - tomei a iniciativa de responder. Aliás, entre alguns adeptos da Doutrina, há certa resistência às obras de sua autoria.
— O importante, no entanto - ressaltou Odilon -, é que a chamada "Concordância Universal" extrapola o âmbito da Doutrina!
— Muito bem lembrado, meu caro! - exclamei.
Quando os Espíritos da Codificação "concordaram" entre si, ainda não havia Espiritismo na Terra! Para que haja "concordância", não necessariamente os comunicados carecem de ser obtidos em nossos arraiais doutrinários!
E mais: no que tange, por exemplo, à Reencarnação, não foram as mais antigas filosofias reencarnacionistas que "concordaram" com o Espiritismo, mas o Espiritismo é que "concordou" com elas!...
— Hummm!. - resmungou Domingas como quem, naquele justo momento, acabasse de ter um insight.
— Todavia - insistiu Odilon -, deixem-me ir ao âmago da questão: o Conhecimento Pleno, como sendo a máxima expressão da Verdade, que, em essência, existe no Pensamento Divino, jaz oculto apenas àquelas mentes que não logram acessá-lo... O que quero dizer é que a mediunidade depende do médium!
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No Principio era o Verbo... - Inácio Ferreira/Carlos A. Baccelli Empty Re: No Principio era o Verbo... - Inácio Ferreira/Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:04 am

— No livro recentemente lançado pelo nosso amigo - procurei frisar -, "Chico Xavier, o Médium dos Pés Descalços", Chico fala a respeito disto: "Que se aperfeiçoe o violino, e o artista encontrará nele as mais amplas facilidades de expressão. Sem cooperador habilitado, a tarefa surge deficiente. A mediunidade, em si, depende do médium ". (destaquei).
— E não apenas como faculdade - encerrou o preclaro Instrutor -, mas também a sua condução!
— Faculdade e carácter - sintetizou Modesta. Concordo plenamente.
— Sobra mediunidade e falta carácter!
— Doutor, não é bem assim amenizou Odilon, reticente.
— Em homenagem a você, que é um gentleman, vou concordar!
— O problema, Odilon - ponderou Modesta -, é que, embora seja uma lei física - não sei se posso me expressar assim -, a mediunidade não deixa de ser regida por princípios de natureza ética!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:04 am

CAPÍTULO 5
Antes de prosseguirmos em nossos estudos e comentários - fiz questão de enfatizar -, precisamos dizer que a renovação íntima, à luz do Evangelho, é o móvel de todos os nossos anseios e aspirações - sem Jesus Cristo, nenhum Conhecimento faz sentido, mesmo porque todo Conhecimento converge para a necessidade de sermos melhores do que somos.
— Doutor, palavras muito oportunas estas - concordou Odilon. - Chegará o tempo em que os homens descobrirão que o Evangelho é sabedoria pura e que o Cristo, igualmente, é o maior cientista de todos os tempos, porque as suas lições têm profundas conotações com a essência da Vida.
— O Evangelho comporta muitas interpretações, inclusive de natureza metafísica: "Meu reino não é deste mundo"; "Há muitas moradas na casa de meu Pai"; "Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo"...
— O Evangelho é um livro de autoconhecimento, não?! - exclamou Domingas.
— Ele é "o" livro do autoconhecimento! asseverou Modesta.
— Dando sequência, porém, aos nossos estudos sobre o 5o livro da Codificação, ainda no seu primeiro capítulo...
— Doutor, estamos há cinco semanas neste primeiro capítulo! Quanto tempo nós levaremos para concluir o estudo?! - perguntou Manoel.
— Até que estamos indo rápido demais, você não acha, Odilon?! Para realmente estudar e assimilar o que estuda ninguém deve ter pressa. Este, aliás, é o problema de muitos companheiros de Doutrina fazem uma leitura dinâmica de uma obra e concluem que tudo já sabem dela. Ledo engano!
— Estudar é explorar todas as possibilidades propícias do texto - claro, dentro de nossa limitada capacidade de compreendê-lo. Sempre haveremos de nos deparar com alguém que poderá apreciá-lo por um ângulo que não conseguimos enxergar... A rigor, precisaríamos ter aqui, integrando o nosso grupo, um Físico, um Químico, um Psicólogo, um Filósofo - enfim, gente habilitada em várias áreas do conhecimento académico.
— E não um Psiquiatra "meia-boca", como eu...
— Um Dentista! - acrescentou Odilon.
— Uma analfabeta! - emendou Domingas.
— Assim não - reclamou Modesta. -O que vai sobrar para mim?!
— E para nós dois, não é, Paulino?!
— Exacto, Manoel!
— Chega, então, de conversa fiada e vamos lá. Diz aqui Kardec, inclusive com palavras negritadas, que "o Espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará. " O que vocês acham? Quem deseja tomar a iniciativa dos comentários?...
— Doutor, eis uma das coisas que eu acho bonitas no Espiritismo: ausência de pretensão! Como costuma dizer o Dr. Odilon, Kardec não escreveu que "fora do Espiritismo não há salvação"! Ele não...
— ...não quis ser como o Papa, com a sua pretensa infalibilidade! - emendei, sem conseguir me controlar.
— E preciso muita coragem para se escrever algo assim, principalmente - disse Manoel - sendo o fundador de uma Doutrina!
— O Espiritismo - ponderou Odilon - não teme a Ciência; ao contrário, anseia pelo seu avanço!... A Ciência só poderá comprovar os postulados da Doutrina, que, segundo o Codificador, se necessário, não hesitará em se modificar sobre este ou aquele ponto...
— Coisa que até hoje, passados quase 155 anos da Codificação, ainda não aconteceu - redarguiu Modesta. -O Espiritismo, por mercê da Misericórdia Divina, continua hoje tão actual quanto ontem...
— Permitam-me pequena leitura deste parágrafo - solicitou o Instrutor: "O Espiritismo não estabelece, portanto, como princípio absoluto, senão aquilo que está demonstrado com evidência ou que ressalta logicamente da observação. Ligado a todos os ramos da economia social, aos quais empresta apoio de suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que elas sejam, elevadas ao estado de verdades práticas e saídas do domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria...".
— Vocês ouviram bem? - indaguei.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:04 am

- "... assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que elas sejam...". (destaquei) Daí o extremo cuidado que precisamos ter antes de levantarmos bandeiras contra o progresso da Ciência! Conforme sabem, eu sou a favor da pesquisa com as células-tronco, inclusive embrionárias. Penso que a Ciência está em trânsito para novos conhecimentos no campo da Genética - inicialmente, tudo é muito empírico. A Ciência se aperfeiçoa a cada dia. Agora, apressadamente, muitos adeptos da Doutrina estão se posicionando contrários, alegando interferência na reencarnação dos espíritos...
— E não é bem assim - disse Domingas, autora do livro "A Lei da Reencarnação". Vejamos a controvertida questão dos "embriões congelados"...
É um contra-senso imaginar que, ao lado de todo embrião congelado, existe um espírito!
— Então, vamos devagar - aduzi. - Precisamos dizer aos nossos irmãos na Terra que os processos de reencarnação, neste Outro Lado, também evoluem... A nossa Ciência não permanece estagnada!
— Doutor - comentou Manoel Roberto, sempre interessado em notícias, digamos, exóticas quem diria, por exemplo, que um homem pudesse engravidar...
— Engravidou?! - inquiriu Domingas, surpresa. - Quem?! Onde?! Ora, eu não estava sabendo disto, não! Ninguém me conta nada!
— Um norte-americano de 34 de idade, chamado Thomas Beatie - transexual masculino. A esposa, Nancy, teve que retirar o útero, e ele, que nasceu hermafrodita, foi inseminado. Foram a um banco de espermas e tiveram uma linda menina. Foi a sua própria esposa que o inseminou com uma seringa. Inclusive, eles se apresentaram no mais famoso programa de entrevistas dos Estados Unidos, de Oprah Winfrey.
— Agora, vá o senhor escrever isto, hem, Dr. Inácio?! - gracejou Domingas.
— Muy amiga, você, minha cara! - rebati.
— Pois é - interveio Modesta. - Baseado nisto, como ficam as teorias de que o espírito para reencarnar necessita do psiquismo da mãe e não sei mais quê!...
— Olha, tem uma notícia mais recente ainda continuou Manoel. -O primeiro transplante de útero já foi realizado na Terra!...
— Você está brincando, Manoel! Transplante de útero - de uma mulher para um homem?!...
— Por enquanto, não, Domingas - foi um transplante de uma mãe para a filha!
— Ora - replicou Domingas -, o Chico vivia dizendo que "... a Ciência vai desenvolver o ser humano no laboratório. Eles (os cientistas) vão fabricar um enorme útero no laboratório e aí dentro vão gerar o ser.
Levarão talvez de duzentos a quatrocentos anos até conseguirem realizar. Mas vão realizar. Aí, libertarão a mulher do parto.
"E tem outra coisa - dizia ele. -Nesse útero, os espíritos vão reencarnar, tudo direitinho, sem problemas. Esse fato não vai alterar coisa alguma, a Ciência vai conseguir isso. Ora, o avanço da Ciência é obra da Espiritualidade através dos missionários. "
— É por isto, Inácio, que alguns não entendem quando você fala em reencarnação no Mundo Espiritual - eles acham que os mecanismos que envolvem a complexa questão do renascimento são sempre os mesmos, em todas as dimensões!
— Vejamos - pontificou Odilon -, os nossos comentários estão girando apenas sobre um dos princípios da Doutrina -a Reencarnação! Quanta coisa nova acontecendo, que, forçosamente, há de levar os estudiosos a reverem conceitos! E no que tange, então, à Mediunidade? Até bem pouco tempo as comunicações se limitavam às "mesas girantes"...
— Hoje - disse eu -, até digitação fui obrigado a aprender! O bom e velho lápis de psicografia está sendo aposentado - aliás, já se aposentou!
— Odilon - inquiriu Modesta -, como há de ser a mediunidade no futuro?
— Pergunta difícil, minha irmã! Obvio que o médium continuará se valendo de seus recursos intelecto morais e de sua capacidade sensitiva - não temos muito como fugir disto. Agora, os processos de intercâmbio serão cada vez mais refinados, inclusive com boas perspectivas no campo da Transcomunicação Instrumental - a chamada TCI!
— Analisemos o Caso Chico Xavier, o Homem Psi! Chico apenas psicografava à maneira tradicional? Não! Ele ouvia os espíritos, conversava com os espíritos, discutia com eles e, depois, colocava no papel, por si mesmo, o produto deste diálogo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:04 am

Eu tenho comigo, Odilon - falei -, que o Chico era médium em tempo integral! Não era médium uma vez por semana, como a maioria dos médiuns, que, ainda por cima, vivem faltando às reuniões, sem qualquer comprometimento...
— Chico era a mediunidade - a mediunidade humana! Jesus era a Mediunidade Divina!
— Entre mim e o Chico, por exemplo brincou Domingas, mas falando com acerto -, deve existir a mesma distância que existia entre ele e o Cristo! Chico, no ápice da mediunidade humana, e Jesus, no ápice da Mediunidade Divina! E eu, cá embaixo, tentando sair da obsessão...
— Eu, idem - aprovou Modesta.
Rápido silêncio se fez e Odilon concluiu:
— Bem, resumindo, é isto aí. O Espiritismo, como diz o Dr. Inácio, não pode ser mais um "ismo" -o Espiritismo, e doa a quem doer, tem compromisso apenas e tão-somente com a Verdade!
Não podemos, neste sentido, nos posicionar como os religiosos tradicionais! O Espiritismo está em aberto... Claro que se assenta sobre fundamentos básicos, referendados pela Fé Raciocinada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 11:04 am

CAPÍTULO 6
Depois de uma semana de intensas actividades, novamente estávamos reunidos para estudar, cada qual portando nas mãos o seu exemplar de "A Génese".
Poucos irmãos encarnados conseguem pensar que, neste Outro Lado, o Espiritismo é uma doutrina tão desconhecida da maioria quanto entre os homens, na Terra. Refiro-me, óbvio, às dimensões mais próximas!
A Codificação Espírita, antes de se tornar realidade no mundo, em meados do século XIX, se tornou realidade nas vizinhanças espirituais do Planeta.
— Hoje - comecei a falar - vamos reflectir sobre o capítulo II, intitulado "Deus", no qual Kardec escreveu sobre a "Existência de Deus", "A Natureza Divina", "A Providência" e "A Visão de Deus". Este capítulo, naturalmente, é um desdobramento do que abre "O Livro dos Espíritos", nossa obra basilar.
— Interessante - observou Odilon -é que a Ciência nunca se ocupou tanto de Deus quanto agora - os cientistas têm se empenhado em provar a existência do Criador! Einstein dizia que o seu maior anseio era o de conhecer o "pensamento" de Deus...
— Convenhamos, embora a sua grande genialidade, ele extrapolou... Em "O Livro dos Espíritos", na pergunta de número 10, Kardec pergunta: "O homem pode compreender a natureza íntima de Deus?". A resposta veio sucinta: "Não.
Falta-lhe, para tanto, um sentido. "
— Doutor, este sentido seria o sentido da mediunidade? - indagou Domingas.
— Sinceramente, não acredito, a menos que o chamado "sexto sentido" venha a se desdobrar em outros mais. Não sei o que o Odilon tem a dizer a respeito...
— Concordo, Doutor. Um filósofo pré-socrático, Heráclito de Éfeso, que viveu, aproximadamente, há 500 a.C., também afirmava que: "Só uma coisa é sábia:
conhecer o pensamento que governa tudo através de tudo." Conhecer o Pensamento Divino é conhecer as suas Leis, e, evidentemente, o homem ainda não possui cérebro para tanto! Este conhecimento há de ser gradativo - penso que, de fato, o homem necessitará de desenvolver "sentidos especiais" que, por agora, transcendem a nossa capacidade sequer de imaginá-los.
— Eu tenho, Dr. Odilon - comentou Paulino -, ultimamente, lido alguma coisa a respeito...
Alguns cientistas, chamados "deístas", têm falado na existência de um "Design Inteligente"...
— Esta teoria começou com William Pailey, em 1831 - era um teólogo.
— Portanto, inclusive, é anterior à própria Codificação - destaquei com base na informação que Odilon nos transmitia.
— Sim. Ele justificou a sua ideia, dizendo que, por exemplo, se um homem estivesse caminhando sobre terreno inculto e se deparasse com uma pedra, o fato não teria nenhum efeito sobre o seu pensamento, mas se ele se deparasse com um relógio...
— Este mesmo exemplo é tomado por Kardec quando ele diz que a existência do relógio atesta a existência do relojoeiro - em síntese: "Deus não se mostra, mas afirma-se mediante suas obras "
— Contra factos não há argumentos, não é?! exclamou Modesta. - O Universo aí está...
— E está muito mais para nós - emendei -, que, por assim dizer, estamos vivendo na sua contraparte...
— Para mim - falou Manoel Roberto -, negar a existência do Criador, é negar a própria existência da criatura, que não poderia ter-se feito a si mesma.
Isto é ilógico! Isto seria admitir que o "nada" fosse capaz de criar alguma coisa...
— Então, Manoel, neste caso, o "nada" seria Deus! - replicou Domingas.
— Com os Espíritos Superiores - prossegui -, defendendo a existência de Deus, Kardec se apoia no axioma: "Todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente "!
— Outra coisa, Doutor - frisou o Instrutor: a ideia de Deus é intuitiva! A crença num Ser Superior talvez seja a mais antiga da Humanidade - foi o que deu origem à Mitologia, com os seus vários deuses!
— O Politeísmo!
— Exactamente, Paulino, que, depois de milénios, evoluiu para o Monoteísmo, e que, na actualidade, está evoluindo para o Monismo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:33 pm

— Convém, no entanto, Odilon - ressalvei -, dizer que o Monismo carece ser cuidadosamente interpretado, para não derivarmos para o Panteísmo, de Spinoza - tese que os Espíritos Superiores refutaram.
— Eu não estou entendendo nada - disse Domingas com sinceridade.
— Domingas - perguntei -, o pai é o filho por ele criado?
— Não, não é. O pai é o pai, o filho é o filho!
O pai é o criador -o filho é a criatura!
— O Panteísmo afirma que Deus e o mundo são uma realidade só! Ou seja: "Deus é tudo e tudo é Deus"!
— Bem, sob certo aspecto... O pai está no filho, mas não é filho. O filho tem a genética do pai, mas não a sua personalidade!
— Se o Panteísmo dissesse que Deus é a alma do Universo...
— Sim, a alma, mas não o Universo, assim como o homem não é o seu corpo!
— O certo é o seguinte - resumiu a estudiosa companheira: — Deus, como Inteligência Suprema e Causa Primária de todas as coisas, é indispensável à Vida! O resto...
— O resto é discussão para milénios! - exclamou Manoel com acerto.
— Kardec - pontuou Odilon -, em "O Livro dos Espíritos", escreveu que "a inteligência de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor no seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou ".
— Gostaria, no entanto - aparteei -, de ler este pequeno trecho de "A Génese", que, além de esclarecedor, é altamente consolador: "... não há um ser, ínfimo que o possamos supor, que não seja saturado por ele, de alguma forma. Estamos assim constantemente na presença da Divindade; não há sequer uma de nossas acções que possamos subtrair à sua consideração; nosso pensamento está em incessante contacto com o seu pensamento, e é com razão que se diz que Deus jaz nas mais profundas dobras de nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo ".
— Do que falamos até agora - solicitou Manoel -, o que poderíamos concluir:
— Vamos, cada um, emitir um parecer? propus.
- Comecemos por você, Manoel?
— Deus existe e é o Criador -a Criação é a sua obra!
— Paulino, e você?
— Não importa a forma, não importa a denominação: Deus, de facto, é o "Design Inteligente"...
Ele é o autor do Big Bang!
— Modesta?...
— Até agora, só estamos cogitando de Deus intelectualmente... Eu gostaria de ficar com as palavras de João Evangelista, no capítulo 4, versículo 8, de sua Primeira Carta: "Deus é Amor"! E se Deus é Amor, o sentido que precisamos desenvolver para percebê-lo é justamente este: Amor!
— Muito bem! - admirei-me, tocado pelas palavras da estimada irmã. - E você, Odilon?
— Doutor, se nem sei quem sou eu...
O pessoal sorriu.
— Apelando como eu, não é, Odilon?! Você ainda há de ficar bom nisto...
— Penso, Doutor, mas penso sinceramente, que, à medida que mais bem nos conhecermos, mais bem haveremos de conhecer a Deus. Até lá, continuaremos com as nossas conjecturas...
— E qual é o seu parecer, Doutor?! - inquiriu-me Domingas.
— Bem, a minha opinião é a de todos vocês somadas... Porém, para não deixar de ser original, diria, com os físicos quânticos, que Deus é o Grande Eléctron: quando Ele mesmo, é partícula; quando se transfigura em onda, origina a Criação! O Universo é a vibração de Deus!
— E sintetizando tudo o que estamos dizendo.
Doutor - retrucou a confreira -, como disse Jesus, Deus é nosso Pai!
— E também nossa Mãe, Domingas! - exclamei.
— Homem e mulher!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:34 pm

— Macho e fêmea! Um ser hermafrodita!...
— A Sua própria "alma gémea"?!...
— Quem sabe, a outra "metade" que procuramos esteja em nós mesmos?!...
— Mas isto não seria egoísmo, achar em nós mesmos a "parte" que nos completa?!...
— Ao contrário, seria o mais profundo altruísmo, sentimento que, por assim dizer, "impulsionou" o Criador no ato de criar, como Jesus, que veio se sacrificar pela Humanidade!
Houve silêncio e, para arrematar, tomei "O Livro dos Espíritos", efectuando oportuna leitura do texto: "Deus existe, não o podeis duvidar, e isso é o essencial. Acreditai no que vos digo e não queirais ir além. Não vos percais num labirinto de onde não poderíeis sair. Isso não vos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhosos, porque acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, pois, de lado, todos esses sistemas; tendes muitas coisas que vos tocam mais directamente, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos desembaraçardes delas. Isto vos será mais útil do que querer penetrar o que é impenetrável."
— Temos muito arroz e feijão para comer ainda! - comentei, fechando o volume que tinha nas mãos.
— Eu adoro arroz com feijão, Doutor! exclamou Domingas, arrancando sorrisos a todos nós.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:34 pm

CAPITULO 7
Logo após a prece de início, proferida desta feita por Paulino, explanei:
— Bem, estamos hoje reunidos para dialogarmos em torno do capítulo III, de "A Génese", que trata dos seguintes assuntos, que estão interrelacionados:
"Origem do Bem e do Mal", "O Instinto e a Inteligência" e "Destruição dos seres vivos uns pelos outros". São temas que, anteriormente, já foram abordados em "O Livro dos Espíritos" - Kardec apenas efectua mais algumas considerações a respeito deles, ampliando os horizontes de nossa compreensão.
Para melhor rendimento, hoje ficaremos apenas com a transcendente e velha questão do "Bem e do Mal".
Quem deseja falar em primeiro lugar?
— Eu, Doutor - ergueu Domingas a mão. Se Deus é Amor, e sendo Ele a Causa Primária da Criação, o mal não existe -a sua existência é fictícia.
Conforme já tive oportunidade de ler, no próprio "A Génese", "o mal é a ausência do bem ".
— Para mim - opinou Modesta -, muita discussão em torno deste assunto é somente exercitar o pensamento, porque, em essência, o mal é instrumento para que o Bem se evidencie.
Tanto assim é que, sempre que tenho oportunidade de escrever algo sobre o tema, faço questão de grafar "mal" com m minúsculo, e "Bem", com b maiúsculo... O mal é a ignorância!
— E você, Paulino, o que diz? - perguntei.
— Eu fico com a definição de "O Livro dos Espíritos", na resposta que os Mentores forneceram à questão 630: "O bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus, e o mal, tudo o que dela se afasta.
Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus; fazer o mal é infringir essa lei. ".
— Muito bem.
— Odilon?...
— O problema do Bem e do Mal tem, quase, a idade da Humanidade - vamos encontrá-lo atormentando a cabeça de filósofos e teólogos de todos os tempos. Zoroastro, na Pérsia, já falava da disputa entre Ahura-Mazda, o deus da Luz, e Arimã, o príncipe das Trevas - isto foi em torno do século VII a.C.!
Um dos filósofos pré-socráticos, Leucipo de Abdera, considerado o criador da teoria dos átomos, dizia:
"Nada deriva do acaso, mas tudo de uma razão e sob a necessidade.". Vejamos a concordância com que, mais tarde, nos ensinaria Jesus sobre a "necessidade" do escândalo: "Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas, ai do homem por quem o escândalo venha. ".
— Deus nos livre de sermos instrumentos do mal! - exclamou Domingas. -A "necessidade" do mal não justifica a sua autoria!
— Eu vou pedir a vocês - falei - permissão para ler o que está escrito no primeiro capítulo do livro "Libertação", de André Luiz, primorosa prelecção do Ministro Flácus: "O mal é o desperdício do tempo ou o emprego da energia em sentido contrário aos propósitos do Senhor. "!
— Lindo mesmo! - concordou Modesta.
— Numa única frase, está colocado tudo comentou Manoel Roberto.
— O mal, portanto, segundo deduzo - explanei -, é consequência de nosso livre-arbítrio! O mal é um subproduto de nossa imperfeição espiritual! E, pela Lei de Causa e Efeito, em se voltando contra nós, promove a nossa reeducação.
— Doutor - inquiriu Manoel -, eu poderia dizer: O mal não passa de um acidente de percurso?
— Eu vou pedir ao Odilon para responder.
— E o que se pode concluir. Vejamos: nas comunidades espirituais redimidas, o mal desaparece, ou, gradativamente, vai desaparecendo... Nos "mundos felizes", o mal não pode existir! Está escrito aqui - disse o Instrutor, apanhando sobre a mesa um exemplar de "O Evangelho Segundo o Espiritismo": "... o mal, nesses mundos, não existe. "!
— E nos "mundos regeneradores"?...
— A sua indagação é interessante, Domingas - elucidou o amigo. -A Terra será um mundo "regenerador", e não um mundo "regenerado"...
— Céus!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:34 pm

— De mundo "regenerador" para "regenerado", ainda há considerável distância a ser percorrida. O espírito de Santo Agostinho, em mensagem inserida no capítulo III, de "O Evangelho", escreveu: "Mas, ah! nesses mundos, ainda falível é o homem, e o espírito do mal não perdeu completamente o seu império "!
— Ah, não, isto é de desanimar! - tornou a companheira.
— Por que, minha filha?! Ser anjo não é tão simples assim... A verdade é que nós não sabemos o grande atraso espiritual em que vivemos! Convém nem pensar nisto!
— Domingas - comentei -, não faz muito, éramos antropófagos... Você se lembra?!
— Eu não, Doutor! Cruzes!...
— Mas éramos, sim, principalmente você que adora carne!...
A turma descontraiu-se.
— Vejamos agora - falei - alguns conceitos de "A Génese". Kardec anotou: "Onde o bem não existe, forçosamente existe o mal; deixar de fazer o mal já é o começo do bem. Deus não quer senão o bem; o mal provém unicamente do homem Se na criação houvesse um ser predisposto ao mal, ninguém o poderia evitar; porém, tendo o homem a causa do mal em SI MESMO, e tendo ao mesmo tempo seu livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitará o mal quando quiser".
— Está muito claro - observou Paulino. - Não há "divisão" de forças no Universo -o "ser" que as religiões criaram para competir com o Criador e que, na Bíblia, está figurado na "serpente" que tentou Adão e Eva, não passa de mitologia.
— Paulino - interveio Odilon -, a "serpente", como você disse, foi instrumento de tentação, mas a decisão de ceder coube a Adão e Eva - eles poderiam ter resistido!
— Por tal motivo - frisei - é que os Espíritos defendem a evolução de Jesus em "linha recta"...
O Cristo padeceu tentações, mas resistiu a elas!
Cair não é uma fatalidade! Na pergunta 645 de "O Livro dos Espíritos", Kardec indaga: "Quando o homem está mergulhado, de qualquer maneira, na atmosfera do vício, o mal não se torna para ele um arrastamento quase irresistível?" Resposta:
"Arrastamento, sim; irresistível, não..."! (destaquei)
— Então, não tem jeito de a gente se safar da responsabilidade, não é? - sabatinou Modesta.
— Não! - respondi.
— Infelizmente, não! - retrucou Domingas.
- Quem não estiver com as pernas bambas, não cai, nem se for empurrado... Pode, momentaneamente, perder o equilíbrio, mas não vai ao chão!
Aqui mais adiante - ajuntei -, Kardec considera:
"Se o homem tivesse sido criado perfeito, seria levado fatalmente ao bem; ora, em virtude de seu livre-arbítrio, ele não é fatalmente levado, nem ao bem, nem ao mal.
Deus quis que ele fosse submetido à lei do progresso, e que esse progresso fosse o fruto de seu próprio trabalho, a fim de que tivesse o mérito desse trabalho, do mesmo modo que carrega a responsabilidade do mal que é feito por sua vontade ".
— Novamente - acentuou Domingas -, caímos na questão do princípio das coisas...
— De facto, não nos ajudam muitas especulações, diante do que de concreto já sabemos: precisamos fazer o Bem! Somente através de sua prática, nos fortaleceremos e fugiremos à influência do mal!
— A nossa D. Modesta destacou algo de suma importância - redarguiu o Instrutor: - o nosso fortalecimento espiritual gradativo! Não nos esqueçamos de que todos ainda corremos o risco de nos lançarmos nos despenhadeiros do mal...
— Isto é mesmo muito sério, Odilon! exclamei, verdadeiramente preocupado.
— É o de que eu tenho mais receio!
sublinhou Modesta. - Por tal motivo, carecemos de trabalhar muito - mas muito mesmo! - criando, em nós, o hábito do Bem!
— Fazer o bem tem que ser a nossa "obsessão"...
— É por aí, Manoel - tornou a enfatizar a nobre companheira de lides de outrora no Sanatório Espírita em Uberaba. - Claro que, até para nos entregarmos à prática do Bem, carecemos de equilíbrio... Os espíritos obsessores possuem artimanhas que envolvem, inclusive, o nosso devotamente ao Bem!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:34 pm

— Tivemos pacientes no Sanatório - comentei - que não tinham medida para nada - alguns deles, pretendendo a santidade antes da hora, despojavam-se de tudo...
— Ué, e está errado?! - inquiriu Domingas, de propósito.
— Tudo tem que ser feito com naturalidade...
Chico, certa vez, nos contou que, empolgado com as orientações dos espíritos sobre a caridade, um gerente de Banco começou a emprestar dinheiro indiscriminadamente... Resultado: perdeu o emprego e, naturalmente, foi procurar Chico Xavier.
— Coitado do Chico! - exclamou Domingas. Era cada abacaxi para descascar!...
— O Chico, então, disse a ele: "Meu filho, a gente deve, sim, fazer caridade, mas com o dinheiro da gente... Isso é para quando o dinheiro for seu, e não dos outros!...".
— Uma das únicas vezes que Jesus fez caridade com o que não era dele - com os pães e os peixes - ele multiplicou o que havia tomado por empréstimo...
— Boa, Manoel! - comentei sorridente. - Você ainda vai se transformar num exegeta bíblico!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:35 pm

CAPÍTULO 8
Estamos estudando o capítulo III, de "A Génese" - esclareci.
- Na semana anterior, falamos sobre a questão do Bem e do Mal, primorosamente abordada por Kardec. Hoje vamos encerrar o capítulo, estudando os dois últimos itens: "O Instinto e a Inteligência" e "Destruição dos seres vivos uns pelos outros". Domingas - perguntei - o que você nos diz sobre o instinto e a inteligência?
— Doutor, estive lendo e reflectindo sobre o assunto e gostaria de destacar a seguinte colocação feita pelo Codificador: "O instinto é um guia seguro, que jamais se engana; a inteligência, pelo fato de ser livre, é por vezes sujeita a erro. ". Entendo que o instinto nos é dado pelo Criador em favor de nossa conservação - é o instinto que guia o "princípio inteligente" até que ele conquiste a láurea da razão...
— Muito bem! Você fez uma boa síntese.
— Paulino, quer fazer algum comentário?
— O instinto é o Determinismo Divino, não?!
É o que, por assim dizer, zela pela nossa integridade espiritual até que efectuemos a conquista do livre-arbítrio, que é atributo da inteligência.
— Óptimo! - exclamei. - Kardec escreveu que, "se o acto instintivo não tem o carácter do ato inteligente, não obstante, revela uma causa inteligente, essencialmente previsora".
— Doutor - aparteou Odilon -, eu estou aqui com o livro "Emmanuel", da lavra mediúnica de Chico Xavier - aliás, uma obra que os espíritas, em geral, precisam conhecer melhor. Emmanuel aqui trata de muitas questões de "A Génese" e, se vocês me permitem, gostaria de ler um pequeno trecho...
— A vontade, meu caro - disse eu.
— "Determinismo e Livre-arbítrio" -
Pergunta - O futuro, de um modo geral, estará rigorosamente determinado, como parece demonstrado pelos fenómenos ditos premonitórios, ou esses fenómenos envolvem um determinismo conciliável com os dados imediatos da consciência sobre os quais são geralmente estabelecidas as noções de liberdade e responsabilidade individuais? E em que termos, nestes últimos casos, se exerce esse determinismo, do ponto de vista teleológico? Resposta -Os seres da minha esfera não conhecem o futuro, nem podem interferir nas coisas que lhe pertencem. Acreditamos, todavia, que o porvir, sem estar rigorosamente determinado, está previsto nas suas linhas gerais ".
— Dr. Odilon, desculpe-me interromper, mas como é isso?! - perguntou Domingas.
— Em primeiro lugar, destaquemos a lucidez de Emmanuel, reconhecendo-se ainda um espírito limitado...
— O que sobra, então, para mim?!
— Sobra, Domingas - intervim -, sobra para aqueles que estão tendo a pretensão de questionar a obra de Emmanuel, com críticas impiedosas, inclusive o rotulando de jesuíta e moralista...
— Meu Deus!
— "... o porvir - prosseguiu Odilon -sem estar rigorosamente traçado, está previsto nas suas linhas gerais" - eis o Determinismo da Lei! A evolução é fatal! Ninguém fugirá de seu destino glorioso!
— Pode quebrar a cabeça quanto quiser! exclamei.
- Perder tempo, afastar-se do caminho, rebelar-se, todavia, mais cedo ou tarde, cairá em si mesmo e começará a correr atrás do prejuízo - como nós estamos tentando fazer!
— Deixem-me terminar a leitura da resposta fornecida por Emmanuel: "Imaginai um homem que fosse efectuar uma viagem. Todo o seu trajecto está previsto: dia de partida, caminhos, etapas, dia de chegada. Todas as actividades, contudo, no transcurso da viagem, estão afectas ao viajante, que se pode desviar ou não do roteiro traçado, segundo os ditames da sua vontade. Daí se infere que o livre-arbítrio é lei irrevogável na esfera individual, perfeitamente separável das questões do destino, anteriormente preparado. Os actos premonitórios são sempre dirigidos por entidades superiores, que procuram demonstrar a verdade de que a criatura não se reduz a um complexo de oxigénio, fosfato, etc., e que, além das percepções limitadas do homem físico, estão as faculdades superiores do homem transcendente ".
— O carma, então - observou Modesta com precisão -, começa com a aquisição do livre-arbítrio, que é apanágio da inteligência?!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:35 pm

— Correto - redarguiu o Instrutor. -O instinto não gera carma, ou, em outras palavras, não se submete à Lei de Causa e Efeito. O que gera carma é a faculdade de escolha consciente!
— Neste parágrafo - falei - Kardec resume tudo:
"O instinto é um guia seguro, sempre bom; num certo tempo, pode tornar-se inútil, porém jamais nocivo; enfraquece, pela predominância da inteligência ".
— Doutor, poderíamos dizer que o instinto se "alfabetiza"?...
— Domingas, eu prefiro dizer que a inteligência evolui para se tornar "instintiva"... É o que temos comentado entre nós: fomos criados simples e ignorantes para que nos tornemos sábios, sem, porém, perder a simplicidade! Agir com o "instinto" de Deus!
— Doutor, o senhor está filosofando - gracejou Domingas.
— Convém, no entanto, salientar - elucidou Modesta - que, quase sempre, o homem malbarata o instinto, ou seja: atribui ao instinto o que é de sua vontade!
— Muito bem lembrado! - concordou Odilon.
— Então - inquiriu Manoel Roberto -, o chamado "instinto assassino"...?
— ...não tem nada a ver - respondi. - Trata-se de uma figura de retórica... A "fera" que ainda existe dentro de nós, não tem nada a ver com a fera que já fomos na trajectória evolutiva do princípio inteligente... A maldade é oriunda da inteligência humana. Os animais possuem instinto de sobrevivência, mas não de destruição!
— Por este motivo - comentou Odilon -é que Kardec, logo em seguida, trata do tema: "Destruição dos seres vivos uns pelos outros"!
— Temos em "O Livro dos Espíritos" - disse Odilon pegando o livro sobre a mesa -, uma questão muito esclarecedora. É a pergunta de número 752, quando Kardec indaga: "Pode-se ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição? ". Os Espíritos responderam: "É o próprio instinto de destruição, no que ele tem de pior, porque, se a destruição é às vezes necessária, a crueldade jamais o é. Ela é sempre a consequência de uma natureza má ".
Silenciou por momento e explicou:
— Precisamos dizer que, nos primórdios da evolução, o ser racional ainda experimenta a influência do instinto, que, aos poucos, vai se enfraquecendo...
Há mesmo um ponto de transição, em que o instinto e a inteligência se confundem! É justamente aí que a inteligência pode submeter o instinto...
— Este assunto é muito complexo! - sentenciou Manoel.
— É e não é - redarguiu o Instrutor. - Analisemos a questão da crueldade. O instinto não é cruel. A crueldade já é uma "consequência da natureza má...".
— Então, a crueldade pode se manifestar no homem logo que ele alcança a racionalidade?
— Sim, Manoel! E mais: a nossa inteligência ainda é perversa! Infelizmente, não temos efectuado as melhores escolhas... Agora, que fique claro: a crueldade é consequência da natureza transitoriamente má!...
— Está mais claro para mim.
— Porque, sendo filhos de Deus, não podemos admitir que nós sejamos essencialmente maus, concorda?
— Perfeitamente.
— Como tomar um caminho errado, nem que tenha sido há mil anos, pode nos influenciar lamentou Domingas.
— É o que eu também estava pensando! exclamou Paulino.
— Os hábitos perniciosos... - emendou Manoel reticente.
— Por tal motivo - explicou Odilon -, é que ainda experimentamos sentimentos que nos contrariam, ideias absurdas que, de repente, assomam à nossa cabeça, sem que saibamos de onde surgiram...
— Ideias que nos assustam - falei. - Ideias de agressão, de crimes, de violência, de atentados...
— Quantas vezes eu já me peguei pensando assim! - lamentou-se Manoel.
— Não é só você, não - confortei o amigo. Eu, às vezes, me sinto o próprio Lampião, o famoso cangaceiro...
A turma gargalhou.
— E, depois, a turminha encarnada, da qual já fizemos parte, coloca toda a culpa nos obsessores...
— É mesmo, Doutor!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:35 pm

— Nós, os que estamos fora da carne propriamente dita, é que pagamos o pato... Sendo que, não raro, somos "obsidiados" pelo próprio passado!
— Como estes estudos são esclarecedores - considerou Domingas. - Igual a D. Modesta, no entanto, eu vou ficando com medo - com medo de mim mesma!...
— Não se esqueçam - disse eu - de que, no livro "Nosso Lar", Narcisa disse a André Luiz: "Classificamos o medo como dos piores inimigos da criatura, por alojar-se na cidadela da alma, atacando as forças mais profundas.". Medo, em essência, é falta de confiança em Deus!
— Deixem-me recitar uma trova - pediu Odilon - que o nosso amigo Formiga escreveu, dias atrás, com a inspiração que lhe é peculiar:
"Perdoa e auxilia sempre,
Procurando ser honesto,
Guarda a consciência em paz.
Que Deus cuidará do resto!... ".
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:35 pm

CAPÍTULO 9
Ainda no mesmo capítulo de "A Génese" - prossegui - sem a ideia de que possamos esgotar o assunto, antes de passarmos ao capítulo seguinte, teçamos mais algumas considerações sobre a "Destruição dos seres vivos uns pelos outros". Kardec escreveu que "a destruição dos seres vivos é uma das leis da Natureza, a qual, à primeira vista, menos parece conciliar-se com a bondade de Deus ".
— O assunto - opinou Odilon - não é novo, não é, Doutor?! No Hinduísmo, por exemplo, o deus Xiva, que pertence à trindade hinduísta, juntos a Vixnu e Brama, é também o deus da destruição.
— É aquele deus "dançarino"?... - perguntou Domingas.
— Exactamente! É o deus da "dança da vida" além do deus da destruição, é também considerado o deus da fertilidade, querendo significar que "tudo que nasce tem de morrer e da morte vem a vida nova"!
— A mitologia grega também possui a sua trindade, a chamada "trindade olímpica": Zeus, Hades e Poseidon! - explanei. - Corresponde à trindade católica: Pai, Filho e Espírito Santo! Vejamos como as religiões derivaram das crenças mitológicas. Estes três deuses gregos eram filhos de Cronos, ou Saturno, o deus "devorador" dos próprios filhos.
— Os antigos, então - indagou Manoel Roberto -já intuíam que a lei de Destruição é uma lei da Natureza?
— Sim - respondi. - Kardec no texto que escreve - e precisamos entender isto! - trata, digamos, até com certo desdém o que tanto nos apavora, ou seja, a morte! "Pelo incessante espectáculo da destruição escreve o Codificador — Deus ensina aos homens o pouco apreço que devem dar a seu veículo material e suscita neles a ideia da vida espiritual, fazendo com que eles a desejem como compensação ".
— No 2º capítulo do livro "O Céu e o Inferno" - lembrou Modesta -, intitulado "Temor da Morte", Kardec considera que "o temor da morte é um efeito da sabedoria da Providência e uma consequência do instinto de conservação, comum a todos os seres vivos ".
— O instinto de conservação contrabalança o instinto de destruição? - sabatinou Paulino.
— Sim, pois, caso contrário, o homem, e ser vivo algum, teria apego à existência - esclareceu Odilon. - Por tal motivo, os homens na Terra ainda são atormentados por certa dúvida em relação ao futuro...
— Como as Leis Divinas são sábias! exclamou Domingas.
— O medo da morte, que é o medo do nada, faz o homem apegar-se à vida e trabalhar pela sua preservação!
— Então, de certa maneira - insistiu a confreira -, os homens ainda não estão preparados para uma crença inabalável no futuro?...
— Pergunta interessantíssima! - repliquei. Não, não estão! E nem nós aqui, Domingas, ainda estamos completamente preparados... Sei que, para os nossos irmãos na Terra, será difícil entender isto, mas que posso fazer?!...
— O senhor poderia exemplificar?
— Francisco de Assis! - ponderei.
- Imaginemos se, de um instante para outro, boa parte da Humanidade adquirisse a compreensão deste luminar da Espiritualidade - o que haveria de ser do restante da Humanidade, cujos interesses se concentram nas coisas da matéria?!...
— Se boa parte da Humanidade fosse mendigar como Francisco de Assis...
— ...as instituições humanas faliriam todas! O trabalho material, como propulsor do desenvolvimento da inteligência... Enfim, seria um caos social inimaginável!
— As coisas precisam acontecer gradativamente - considerou Modesta. - Por enquanto, a excepção não pode constituir a regra!
— Em "O Céu o Inferno" - tomou Modesta -, o bom senso do Codificador registou: "É por isso que, entre os povos primitivos, o futuro não era senão uma vaga intuição, mais tarde uma simples esperança, mais tarde, enfim, uma certeza, mas ainda contrabalançada por um secreto apego à vida material". Se o homem hoje perdesse de todo o seu apego à vida material, ele se exporia aos perigos - não teria nenhum apreço pela existência e, consequentemente, viveria praticando "suicídios"...
Isto inviabilizaria a evolução!
— Modesta - falei -, finalmente, você chegou aonde eu queria. Aqui, em "O Livro dos Espíritos", no capítulo VI, Lei de Destruição - Destruição Necessária e Abusiva - há uma pergunta interessantíssima, a de número 729, formulada por Kardec: "Se a destruição é necessária para a regeneração dos seres, por que a Natureza os cerca de meios de preservação e conservação? "
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jan 02, 2023 7:36 pm

— De facto, parece que há uma contradição, não é?!
— Eis a resposta, sobre a qual precisamos reflectir: "A fim de que a destruição não chegue antes do tempo necessário. Toda destruição antecipada entrava o desenvolvimento do princípio inteligente, (destaquei) Foi por isso que Deus deu a cada ser a necessidade de viver e de se reproduzir ".
— Agora está claro! - redarguiu Paulino.
— A existência corporal, perante a Eternidade, nada é...
— ...mas, por outro lado, é tudo, Domingas! conclui o raciocínio. - Imaginemos se esse desdém pela vida, oriundo da certeza da imortalidade, se transferisse para cá, onde presentemente nos encontramos?...
— Estou entendendo o porquê de ter muito espírito com medo de morrer! - asseverou Manoel. Isto é uma das coisas mais interessantes com que eu me deparei na Vida de Além-Túmulo, porque, para mim, bastaria estar na condição de espírito livre para perder totalmente o medo da morte...
— Durma-se com um barulho desses?! retrucou Domingas com bom humor.
— Como se dará a morte no invólucro do espírito nas Dimensões Superiores? - quis saber Manoel.
— Ao que estamos informados - elucidei -, inclusive pela lógica, ela não é cercada dos receios que apavoram os que vivem nas dimensões mais materializadas - inclusive, meu caro, a decomposição natural do corpo não acontece como sucede na Terra. — Os espíritos que vivem em tais Esferas - continuou Odilon -, ao pressentirem o próprio desenlace, facilitam o seu desprendimento, ou seja: de maneira consciente, concorrem para que a desencarnação aconteça!
— Assim como existem espíritos - indagou Domingas - que, eles mesmos, cuidam de seu processo reencarnatório, espíritos existem que, quando é chegado o instante de sua transferência de plano existencial...?
— Não opõem o menor obstáculo à libertação dos laços que ainda os prendem ao veículo de manifestação que ocupam - respondeu o Instrutor, alongando comentários. - Sabemos que, em muitas dimensões, a chamada morte não tem por causa esta ou aquela enfermidade específica - ela se dá pela exaustão dos princípios vitais que entretém a vida do corpo!...
— Ah, o meu sonho seria desencarnar assim!
- exclamou Domingas com espontaneidade.
— Então, evolua, minha irmã! - gracejei.
— Vocês já imaginaram, que maravilha, a gente se deitar, sem adoecer, e deixar o corpo como uma borboleta que deixa o casulo!...
— Infelizmente - retruquei -, a nossa realidade é a da lagarta no casulo - ainda vamos ter que nos arrastar muito no chão, deixando marcas de baba em nossos rastros!...
— O Chico - interrogou Paulino -, desencarnou mais ou menos assim, não?!
— Sim - ponderou Odilon. - Embora doente, não se pode dizer que tenha desencarnado por causa desta ou daquela doença - aos quase 93 de idade, ele desencarnou por ter consumido, em serviço, todas as suas forças vitais! Aliás, conforme sabemos, Chico pedia que, se possível, Jesus concedesse a ele a bênção de trabalhar ao derradeiro hausto...
— Na véspera de seu desenlace, ocorrido em 30 de junho de 2002, ele ainda foi à periferia, participar da distribuição de alimentos com os assistidos - ele queria estar com o povo!...
— Uma vida missionária, não é, Domingas?!
- comentou Modesta, emocionada. - Chico não era um anjo, mas, sem dúvida, foi um espírito muito acima da média...
— Ponha média nisto, Modesta! - falei. - Chico sabia o dia e a hora de sua desencarnação... Ele deu todas as dicas, dizendo que gostaria de desencarnar num dia em que o povo brasileiro estivesse muito feliz - 30 de junho de 2002, justamente quando o Brasil conquistava o Penta campeonato de Futebol, na Ásia!
— Eu gostaria de fazer uma pergunta solicitou Paulino. - Quer dizer que a imortalidade plena, completamente livre de alguma espécie de morte, está muito longe de nós?
— A anos-luz, meu filho! - exclamei.
— Apenas não mais morrerá quem mais não tiver corpo, Paulino - explicou Odilon com mestria. - Enquanto o espírito possuir algum resquício de matéria da qual necessite se despojar, ele "morrerá"...
— Então?...
— Pergunte sem receio - insisti com o jovem pupilo de Odilon que, naquele momento, fazia o papel do neófito que ele não era.
— Nós também vamos "morrer"?...
— Claro que vamos! O perispírito, que representa o nosso corpo carnal, é susceptível de sofrer desgastes de quase toda ordem... Que vamos "morrer", vamos - agora só nos resta saber se vamos "morrer" para baixo ou para cima!...
— Para onde nos levará esse "buraco de minhoca", não é, Dr. Inácio?! - replicou Domingas.
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No Principio era o Verbo... - Inácio Ferreira/Carlos A. Baccelli Empty Re: No Principio era o Verbo... - Inácio Ferreira/Carlos A. Baccelli

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