Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
E levantando-se, disse:
- Tenho de ir.
Vicente precisa orientá-la quanto ao seu procedimento de agora em diante.
Continuaremos ao seu lado, Emílie.
Ela se esforçou por sorrir, ao agradecer:
- Que Deus o abençoe, Miguel.
Nunca poderei retribuir todo o bem que me fez.
Obrigada, meu amigo.
- Somos apenas mensageiros a serviço do Bem.
Miguel se despediu e saiu.
Alguns minutos depois, Vicente entrou e demorou-se longo tempo orientando-a e informando-a quanto às próximas acções a serem adoptadas.
Assim que o advogado saiu e Emílie se viu de novo sozinha, pôs-se a reflectir sobre a imensa misericórdia de Deus e a forma surpreendente como o Pai age muitas vezes.
Ela jamais poderia imaginar que justamente Fernando seria o instrumento da Espiritualidade para libertá-la.
Naquela noite não conseguiu conciliar o sono, relembrando cada experiência que vivera, desde que a fatalidade se abatera sobre sua vida.
Recordou-se de Ricardo e, com muito carinho, de Cíntia.
Sobretudo, as palavras de Miguel não lhe saíam da mente.
"Afinal - pensava - de que adiantaria enfrentar tanto sofrimento, tantas dificuldades, se não houvesse um objectivo?"
O que deveria fazer quando tudo estivesse esclarecido?
Como, então, conduziria a própria vida?
No curso da fria madrugada, em diversos momentos a mágoa e o ressentimento por Isabel e Filomena tentaram dominá-la, todavia, inspirada no exemplo altruísta de Lucrécia, afastava-os conscientemente e buscava emitir apenas amor, evitando pensar naqueles que lhe haviam causado tantas dores.
A partir daquela noite, Emílie concentrou-se ainda mais em si mesma.
Meditava seriamente sobre a continuidade de seu aprendizado e as decisões que deveria assumir quando deixasse a clínica.
A cada dia sua ansiedade aumentava.
Vicente deixara claro que sua saída dependeria do andamento das investigações.
A lembrança de Cíntia a enchia de ternura e mais do que nunca desejava vê-la, a saudade da filha a torturava.
Seu consolo era a ideia de que muito em breve estaria livre.
Três dias haviam se passado desde a visita de Vicente.
Naquela madrugada, enquanto seu corpo dormia, Emílie recebeu a visita inesperada da filha, trazida pelas mãos de Heloise.
Acariciando o rosto da mãe, ela dizia:
- Só mais um pouco de paciência, mamãe, e tudo se esclarecerá.
Seja forte e confie em Deus.
Lembre-se de que Ele nunca nos abandonou, nem por um só instante.
Banhada em lágrimas, Emílie tentava conversar com a filha, sem conseguir.
Sua emoção era enorme.
Percebia que a menina, apesar de tão jovem, compreendia os acontecimentos até melhor do que ela própria.
- Tenho de ir.
Vicente precisa orientá-la quanto ao seu procedimento de agora em diante.
Continuaremos ao seu lado, Emílie.
Ela se esforçou por sorrir, ao agradecer:
- Que Deus o abençoe, Miguel.
Nunca poderei retribuir todo o bem que me fez.
Obrigada, meu amigo.
- Somos apenas mensageiros a serviço do Bem.
Miguel se despediu e saiu.
Alguns minutos depois, Vicente entrou e demorou-se longo tempo orientando-a e informando-a quanto às próximas acções a serem adoptadas.
Assim que o advogado saiu e Emílie se viu de novo sozinha, pôs-se a reflectir sobre a imensa misericórdia de Deus e a forma surpreendente como o Pai age muitas vezes.
Ela jamais poderia imaginar que justamente Fernando seria o instrumento da Espiritualidade para libertá-la.
Naquela noite não conseguiu conciliar o sono, relembrando cada experiência que vivera, desde que a fatalidade se abatera sobre sua vida.
Recordou-se de Ricardo e, com muito carinho, de Cíntia.
Sobretudo, as palavras de Miguel não lhe saíam da mente.
"Afinal - pensava - de que adiantaria enfrentar tanto sofrimento, tantas dificuldades, se não houvesse um objectivo?"
O que deveria fazer quando tudo estivesse esclarecido?
Como, então, conduziria a própria vida?
No curso da fria madrugada, em diversos momentos a mágoa e o ressentimento por Isabel e Filomena tentaram dominá-la, todavia, inspirada no exemplo altruísta de Lucrécia, afastava-os conscientemente e buscava emitir apenas amor, evitando pensar naqueles que lhe haviam causado tantas dores.
A partir daquela noite, Emílie concentrou-se ainda mais em si mesma.
Meditava seriamente sobre a continuidade de seu aprendizado e as decisões que deveria assumir quando deixasse a clínica.
A cada dia sua ansiedade aumentava.
Vicente deixara claro que sua saída dependeria do andamento das investigações.
A lembrança de Cíntia a enchia de ternura e mais do que nunca desejava vê-la, a saudade da filha a torturava.
Seu consolo era a ideia de que muito em breve estaria livre.
Três dias haviam se passado desde a visita de Vicente.
Naquela madrugada, enquanto seu corpo dormia, Emílie recebeu a visita inesperada da filha, trazida pelas mãos de Heloise.
Acariciando o rosto da mãe, ela dizia:
- Só mais um pouco de paciência, mamãe, e tudo se esclarecerá.
Seja forte e confie em Deus.
Lembre-se de que Ele nunca nos abandonou, nem por um só instante.
Banhada em lágrimas, Emílie tentava conversar com a filha, sem conseguir.
Sua emoção era enorme.
Percebia que a menina, apesar de tão jovem, compreendia os acontecimentos até melhor do que ela própria.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Sentindo o carinho da filha e o amparo de Heloise, deixou-se envolver pelas suaves e renovadoras energias que de ambas emanavam.
Antes de se despedirem, quando já amanhecia, Heloise, com ar de extrema seriedade, olhou Emílie nos olhos e disse:
- É hora de irmos.
Hoje você deixará a clínica e estará finalmente livre dessa provação.
Agora, Emílie, mais do que nunca, precisa estar atenta para não perder o ensejo que recebeu.
A Providência permitiu a dor como instrumento para que você pudesse chegar à sua verdadeira missão na terra, ao motivo pelo qual aqui está.
Sabe que tem débitos a reparar e que tem trabalho assumido perante a Espiritualidade superior, que, sob o comando do Espírito de Verdade, deflagrou as luzes abençoadas da Doutrina Espírita por toda parte.
Não consinta que o sofrimento tenha sido em vão, descuidando-se de cumprir aquilo que veio realizar.
Devo alertá-la de que, se falhar, deverá repetir a lição, seja nesta ou em outra encarnação.
Não deixe que isso aconteça, querida.
Aproveite e oportunidade, ainda que ela traga muitos espinhos aparentes.
Lembre-se de que na vida colhemos aquilo que semeamos, portanto, Emílie, semeie sem cessar o bem, o amor, a luz, mesmo que em alguns momentos sinta as mãos feridas pelos espinhos.
Não desista jamais, persevere e bem depressa colherá a paz do dever cumprido.
E por certo novas alegrias a esperam no futuro.
Cíntia estará a seu lado, este consolo você terá.
Tenha fé e prossiga confiante.
Mais uma vez Heloise a abraçou com ternura.
Emílie, fortemente envolvida pela emoção e banhada pelas lágrimas, não tinha condição de dizer nada.
Depois foi Cíntia quem a abraçou, assegurando:
- Em breve estaremos juntas novamente.
Logo, ambas desapareceram em meio a luzes suaves, enquanto os primeiros raios do sol entravam pela pequena janela.
Emílie despertou com o coração acelerado, tentando rememorar o que se passara.
Ainda tinha o rosto molhado de lágrimas, e compreendeu que de facto recebera a visita da avó e da filha.
Embora estivesse cansada e quase sem se alimentar por vários dias, sentiu que novas forças a invadiam.
Levantou-se e caminhou lentamente pelo pequeno aposento, procurando reter as palavras da avó.
Desejou ter papel e pena para poder registar aquele importante recado, como não dispunha desses instrumentos, repetia baixinho o que podia lembrar, para fixar a lição na memória.
Estava compenetrada no exercício quando a porta do quarto se abriu e Miguel entrou sorridente.
- Miguel! Que faz aqui tão cedo, meu amigo?
- Vim buscá-la.
- Buscar-me?
- Sim, Emílie. Você está livre.
Emílie agarrou-se ao pescoço do amigo:
- Não sei o que dizer!
Esperei tanto por este momento, Miguel!
De repente, o semblante de Emílie se fez sério.
Antes de se despedirem, quando já amanhecia, Heloise, com ar de extrema seriedade, olhou Emílie nos olhos e disse:
- É hora de irmos.
Hoje você deixará a clínica e estará finalmente livre dessa provação.
Agora, Emílie, mais do que nunca, precisa estar atenta para não perder o ensejo que recebeu.
A Providência permitiu a dor como instrumento para que você pudesse chegar à sua verdadeira missão na terra, ao motivo pelo qual aqui está.
Sabe que tem débitos a reparar e que tem trabalho assumido perante a Espiritualidade superior, que, sob o comando do Espírito de Verdade, deflagrou as luzes abençoadas da Doutrina Espírita por toda parte.
Não consinta que o sofrimento tenha sido em vão, descuidando-se de cumprir aquilo que veio realizar.
Devo alertá-la de que, se falhar, deverá repetir a lição, seja nesta ou em outra encarnação.
Não deixe que isso aconteça, querida.
Aproveite e oportunidade, ainda que ela traga muitos espinhos aparentes.
Lembre-se de que na vida colhemos aquilo que semeamos, portanto, Emílie, semeie sem cessar o bem, o amor, a luz, mesmo que em alguns momentos sinta as mãos feridas pelos espinhos.
Não desista jamais, persevere e bem depressa colherá a paz do dever cumprido.
E por certo novas alegrias a esperam no futuro.
Cíntia estará a seu lado, este consolo você terá.
Tenha fé e prossiga confiante.
Mais uma vez Heloise a abraçou com ternura.
Emílie, fortemente envolvida pela emoção e banhada pelas lágrimas, não tinha condição de dizer nada.
Depois foi Cíntia quem a abraçou, assegurando:
- Em breve estaremos juntas novamente.
Logo, ambas desapareceram em meio a luzes suaves, enquanto os primeiros raios do sol entravam pela pequena janela.
Emílie despertou com o coração acelerado, tentando rememorar o que se passara.
Ainda tinha o rosto molhado de lágrimas, e compreendeu que de facto recebera a visita da avó e da filha.
Embora estivesse cansada e quase sem se alimentar por vários dias, sentiu que novas forças a invadiam.
Levantou-se e caminhou lentamente pelo pequeno aposento, procurando reter as palavras da avó.
Desejou ter papel e pena para poder registar aquele importante recado, como não dispunha desses instrumentos, repetia baixinho o que podia lembrar, para fixar a lição na memória.
Estava compenetrada no exercício quando a porta do quarto se abriu e Miguel entrou sorridente.
- Miguel! Que faz aqui tão cedo, meu amigo?
- Vim buscá-la.
- Buscar-me?
- Sim, Emílie. Você está livre.
Emílie agarrou-se ao pescoço do amigo:
- Não sei o que dizer!
Esperei tanto por este momento, Miguel!
De repente, o semblante de Emílie se fez sério.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Miguel, estranhando, perguntou:
- Que foi? Não está feliz?
- Claro que estou, como poderia não estar?
Tenho desejado tanto e por tanto tempo a chegada deste momento!... É que...
Emílie calou-se. Miguel insistiu:
- O que a preocupa?
Se estiver com medo de retomar à mansão, tranquilize seu coração.
Por ora vamos para minha casa, onde poderá ficar pelo tempo que quiser.
Diante dos factos, e tendo em vista que seu marido vive na casa dos que são acusados pelo que lhe aconteceu, as autoridades entendem que seria inconveniente seu retomo ao convívio da família, ao menos por enquanto.
- Realmente não gostaria de voltar àquela casa tão cedo.
Não é isso que me preocupa.
Emílie sentou-se na cama, respirou fundo, procurando organizar as ideias, e depois, erguendo os olhos cor de mel que brilhavam intensamente, disse:
- Alguns meses atrás eu sabia exactamente o que me faltava e o que desejava fazer.
Ansiava por recuperar o que me fora tirado.
E queria, sobretudo, que aqueles que me haviam prejudicado sofressem a dor do ciúme e da inveja, vendo-me triunfante e feliz.
Porém...
Miguel continuava de pé, atento.
- Agora tudo o que me parecia essencial não tem mais sentido.
Chego a ter medo do que vai ser minha vida de hoje em diante...
Miguel aproximou-se dela, com carinho paternal:
- Emílie, não tema nada.
Ao longo de minha vida venho presenciando muitas transformações e testemunhando a experiência de inúmeros amigos que passaram por isso.
Tenho acompanhado também aqueles que jamais se perguntam o que estão fazendo da existência, se têm ou não uma tarefa a cumprir (certamente com receio da resposta).
E creia-me, embora os primeiros pareçam muitas vezes perdidos, sofrendo a angústia da dúvida, o temor do desconhecido, percebo que crescem dia a dia.
E à medida que se desenvolvem ficam mais felizes, mais úteis e mais firmes, diria que as ventanias naturais da vida de todos nós os fortalecem cada vez mais.
Portanto, tranquilize sua alma.
Este é um grande momento em sua vida.
Aproveite-o!
- Parece que participou da pequena reunião com Heloise e Cíntia, esta noite.
- Como?
Emílie sorriu e tocou suavemente as mãos do amigo:
- Deixe para lá, Miguel.
Compreendendo imediatamente, ele disse a sorrir:
- Muito bem, já que todos estamos em sintonia, melhor mesmo é não duvidar e seguir confiante. Pronta?
Emílie se levantou decidida:
- Vamos, estou pronta.
Miguel abriu a porta gentilmente para a moça, que sem vacilar percorreu o corredor da clínica, diante dos olhares curiosos de funcionários e de outros internos.
Quando se aproximavam da porta principal, Emílie notou grande tumulto do lado de fora, que já se iniciava à porta da clínica, com a presença de muitos guardas.
- Que foi? Não está feliz?
- Claro que estou, como poderia não estar?
Tenho desejado tanto e por tanto tempo a chegada deste momento!... É que...
Emílie calou-se. Miguel insistiu:
- O que a preocupa?
Se estiver com medo de retomar à mansão, tranquilize seu coração.
Por ora vamos para minha casa, onde poderá ficar pelo tempo que quiser.
Diante dos factos, e tendo em vista que seu marido vive na casa dos que são acusados pelo que lhe aconteceu, as autoridades entendem que seria inconveniente seu retomo ao convívio da família, ao menos por enquanto.
- Realmente não gostaria de voltar àquela casa tão cedo.
Não é isso que me preocupa.
Emílie sentou-se na cama, respirou fundo, procurando organizar as ideias, e depois, erguendo os olhos cor de mel que brilhavam intensamente, disse:
- Alguns meses atrás eu sabia exactamente o que me faltava e o que desejava fazer.
Ansiava por recuperar o que me fora tirado.
E queria, sobretudo, que aqueles que me haviam prejudicado sofressem a dor do ciúme e da inveja, vendo-me triunfante e feliz.
Porém...
Miguel continuava de pé, atento.
- Agora tudo o que me parecia essencial não tem mais sentido.
Chego a ter medo do que vai ser minha vida de hoje em diante...
Miguel aproximou-se dela, com carinho paternal:
- Emílie, não tema nada.
Ao longo de minha vida venho presenciando muitas transformações e testemunhando a experiência de inúmeros amigos que passaram por isso.
Tenho acompanhado também aqueles que jamais se perguntam o que estão fazendo da existência, se têm ou não uma tarefa a cumprir (certamente com receio da resposta).
E creia-me, embora os primeiros pareçam muitas vezes perdidos, sofrendo a angústia da dúvida, o temor do desconhecido, percebo que crescem dia a dia.
E à medida que se desenvolvem ficam mais felizes, mais úteis e mais firmes, diria que as ventanias naturais da vida de todos nós os fortalecem cada vez mais.
Portanto, tranquilize sua alma.
Este é um grande momento em sua vida.
Aproveite-o!
- Parece que participou da pequena reunião com Heloise e Cíntia, esta noite.
- Como?
Emílie sorriu e tocou suavemente as mãos do amigo:
- Deixe para lá, Miguel.
Compreendendo imediatamente, ele disse a sorrir:
- Muito bem, já que todos estamos em sintonia, melhor mesmo é não duvidar e seguir confiante. Pronta?
Emílie se levantou decidida:
- Vamos, estou pronta.
Miguel abriu a porta gentilmente para a moça, que sem vacilar percorreu o corredor da clínica, diante dos olhares curiosos de funcionários e de outros internos.
Quando se aproximavam da porta principal, Emílie notou grande tumulto do lado de fora, que já se iniciava à porta da clínica, com a presença de muitos guardas.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Instintivamente ela olhou para Miguel, que esclareceu:
- Os policiais são necessários, pois há imprensa, amigos seus e curiosos sem conta.
Tomando a frente, ele segurou com força sua mão.
- Vamos.
Emílie deixou que Miguel a conduzisse e passou pelos guardas, atingindo a porta principal.
Assustou-se ao ver a multidão que ocupava a frente do prédio, mas sentiu novamente a mão firme de Miguel na sua e prosseguiu, com o corpo erecto e a cabeça erguida.
Emílie ouvia gritos no meio do povo:
- Você é que é a assassina!
Nós sabemos!
- Não faça essa pose de santa, não! Você mereceu!
Sem ligar às ofensas, e sem se deter, caminhou em meio ao cordão formado pelos policiais, procurando focar a atenção em Vicente, que os esperava com a porta da carruagem aberta.
Quando Emílie conseguiu alcançar o advogado, sorriu e, auxiliada por ele, subiu na carruagem.
Ao entrar, a surpresa:
Jairo a aguardava.
Sentando-se a seu lado, abraçou-o como a um pai.
- Jairo, que faz aqui?
Nem posso acreditar...
- Que mais poderia fazer?
Acompanho de perto o caso, pois meu maior desejo era vê-la finalmente livre.
Emílie segurou suas mãos, enrugadas e desgastadas pelo tempo e pelas lutas da vida, e beijou-as carinhosamente, dizendo:
- Obrigada por tudo, meu querido amigo, meu irmão.
Vicente e Miguel juntaram-se a eles e a carruagem seguiu depressa para a casa do último, onde eram esperados.
Emílie foi recebida por Sara e sua família, bem como por outros amigos que fizera na vila.
A casa estava cheia e deram a ela uma grande festa de boas-vindas.
Emílie viveu com entusiasmo cada minuto daquele dia, ao lado das pessoas que aprendera a amar.
De quando em quando pensava na filha, mas logo se distraía com alguém que requeria sua atenção.
Entretanto, mesmo em meio à enorme alegria daquela hora, as palavras de Heloise não se afastavam de sua mente.
Ela não precisava mais de papel:
trazia-as impressas no coração.
Na mansão o tumulto era absoluto.
Tão logo soube que Fernando abandonara a Igreja, Isabel deduziu o que estava por vir.
Preocupada em atenuar a tempestade que inevitavelmente se abateria sobre eles, tentou envenenar o marido contra o sobrinho, afirmando que por certo perdera o juízo.
Na mesma tarde, receberam o comunicado das denúncias em que ele comprometera a família.
Filomena, chocada e apavorada com o que lhe poderia acontecer, imaginando seu segredo descoberto, trancou-se no quarto e lá ficou isolada e deprimida.
Foi em vão que a mãe instou para que abrisse a porta.
Profundamente abala da, ora chorava sem controlo, ora permanecia fitando o nada.
Ouvir a voz da mãe a fazia cair em pranto desesperado, quando Isabel se afastava ela soluçava baixinho, o corpo inteiro tremendo.
- Os policiais são necessários, pois há imprensa, amigos seus e curiosos sem conta.
Tomando a frente, ele segurou com força sua mão.
- Vamos.
Emílie deixou que Miguel a conduzisse e passou pelos guardas, atingindo a porta principal.
Assustou-se ao ver a multidão que ocupava a frente do prédio, mas sentiu novamente a mão firme de Miguel na sua e prosseguiu, com o corpo erecto e a cabeça erguida.
Emílie ouvia gritos no meio do povo:
- Você é que é a assassina!
Nós sabemos!
- Não faça essa pose de santa, não! Você mereceu!
Sem ligar às ofensas, e sem se deter, caminhou em meio ao cordão formado pelos policiais, procurando focar a atenção em Vicente, que os esperava com a porta da carruagem aberta.
Quando Emílie conseguiu alcançar o advogado, sorriu e, auxiliada por ele, subiu na carruagem.
Ao entrar, a surpresa:
Jairo a aguardava.
Sentando-se a seu lado, abraçou-o como a um pai.
- Jairo, que faz aqui?
Nem posso acreditar...
- Que mais poderia fazer?
Acompanho de perto o caso, pois meu maior desejo era vê-la finalmente livre.
Emílie segurou suas mãos, enrugadas e desgastadas pelo tempo e pelas lutas da vida, e beijou-as carinhosamente, dizendo:
- Obrigada por tudo, meu querido amigo, meu irmão.
Vicente e Miguel juntaram-se a eles e a carruagem seguiu depressa para a casa do último, onde eram esperados.
Emílie foi recebida por Sara e sua família, bem como por outros amigos que fizera na vila.
A casa estava cheia e deram a ela uma grande festa de boas-vindas.
Emílie viveu com entusiasmo cada minuto daquele dia, ao lado das pessoas que aprendera a amar.
De quando em quando pensava na filha, mas logo se distraía com alguém que requeria sua atenção.
Entretanto, mesmo em meio à enorme alegria daquela hora, as palavras de Heloise não se afastavam de sua mente.
Ela não precisava mais de papel:
trazia-as impressas no coração.
Na mansão o tumulto era absoluto.
Tão logo soube que Fernando abandonara a Igreja, Isabel deduziu o que estava por vir.
Preocupada em atenuar a tempestade que inevitavelmente se abateria sobre eles, tentou envenenar o marido contra o sobrinho, afirmando que por certo perdera o juízo.
Na mesma tarde, receberam o comunicado das denúncias em que ele comprometera a família.
Filomena, chocada e apavorada com o que lhe poderia acontecer, imaginando seu segredo descoberto, trancou-se no quarto e lá ficou isolada e deprimida.
Foi em vão que a mãe instou para que abrisse a porta.
Profundamente abala da, ora chorava sem controlo, ora permanecia fitando o nada.
Ouvir a voz da mãe a fazia cair em pranto desesperado, quando Isabel se afastava ela soluçava baixinho, o corpo inteiro tremendo.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Não queria comer nem falar com ninguém.
Isabel, tomada pela raiva, tomou-se ainda mais agressiva.
Não podia suportar o facto de o sobrinho a ter desafiado daquela maneira.
Sem se conformar, pediu ao marido providências para evitar que Emílie fosse libertada.
Gritava:
- Precisa fazer alguma coisa, Felipe.
Vão soltar aquela desvairada, aquela mulher é perigosa!
- Acalme-se, Isabel.
Não há muito a fazer diante do que Fernando apresentou à justiça.
- Ele está mentindo!
- Só que existem provas do que ele diz
Apresentou provas, entende?
- Que provas, Felipe, que provas?
- Não sei, não tive acesso a elas.
- Mas precisa ter. Você deve ter acesso a tudo!
Afinal, é uma autoridade nesta cidade ou não é?
Dom Felipe, com severidade, respondeu:
- Isabel, você está sendo acusada de tentativa de assassinato, além de muitas outras coisas.
Os factos são bastante graves.
Fui orientado pelos nossos advogados a ter muita cautela ao conduzir o processo, para não piorar ainda mais a situação.
- Não acredito que irá se dobrar a esses impertinentes!
Na sua posição, Felipe!
Somos donos de metade desta cidade, inclusive das pessoas.
A maioria deve algum favor à nossa família e chegou a hora de cobrar.
Faça valer a sua posição!
Não admita que nos acusem.
Faça algo! Seu sobrinho está doente, não vê?
Qualquer pessoa que tem esse procedimento não passa de um doente.
Não pode levá-lo a sério.
Faça o que tem de ser feito!
- Estou fazendo o que é possível.
- Não quero ver aquela mulher solta!
Não vou admitir isso, Felipe!
- Isabel, a polícia é quem controla o caso.
Não tenho como dar ordens nesse nível!
- Ora, Felipe, não seja tolo.
Quem está conduzindo o caso?
- O delegado Endo Garcia.
Isabel, tomada pela raiva, tomou-se ainda mais agressiva.
Não podia suportar o facto de o sobrinho a ter desafiado daquela maneira.
Sem se conformar, pediu ao marido providências para evitar que Emílie fosse libertada.
Gritava:
- Precisa fazer alguma coisa, Felipe.
Vão soltar aquela desvairada, aquela mulher é perigosa!
- Acalme-se, Isabel.
Não há muito a fazer diante do que Fernando apresentou à justiça.
- Ele está mentindo!
- Só que existem provas do que ele diz
Apresentou provas, entende?
- Que provas, Felipe, que provas?
- Não sei, não tive acesso a elas.
- Mas precisa ter. Você deve ter acesso a tudo!
Afinal, é uma autoridade nesta cidade ou não é?
Dom Felipe, com severidade, respondeu:
- Isabel, você está sendo acusada de tentativa de assassinato, além de muitas outras coisas.
Os factos são bastante graves.
Fui orientado pelos nossos advogados a ter muita cautela ao conduzir o processo, para não piorar ainda mais a situação.
- Não acredito que irá se dobrar a esses impertinentes!
Na sua posição, Felipe!
Somos donos de metade desta cidade, inclusive das pessoas.
A maioria deve algum favor à nossa família e chegou a hora de cobrar.
Faça valer a sua posição!
Não admita que nos acusem.
Faça algo! Seu sobrinho está doente, não vê?
Qualquer pessoa que tem esse procedimento não passa de um doente.
Não pode levá-lo a sério.
Faça o que tem de ser feito!
- Estou fazendo o que é possível.
- Não quero ver aquela mulher solta!
Não vou admitir isso, Felipe!
- Isabel, a polícia é quem controla o caso.
Não tenho como dar ordens nesse nível!
- Ora, Felipe, não seja tolo.
Quem está conduzindo o caso?
- O delegado Endo Garcia.
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Localização : Porto - Portugal
Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
- E qual é o interesse desse homem?
Aja rapidamente para que o caso seja abafado.
- Não é tão simples, Isabel.
Garcia é um homem muito sério e competente.
Os advogados já conversaram com ele, e está firme no propósito de esclarecer os factos e descobrir toda a verdade.
Os gritos de Isabel se faziam ouvir por toda a mansão:
- Ele não é ninguém, Felipe! Ninguém!
Você sabe quem está acima dele, portanto, faça o que tem de ser feito!
Livre-se dele! Não interessa como!
O que não podemos é deixar que essa mulherzinha dementada desmoralize nossa família.
É isso que está tentando, não percebe?
- Quem está tentando?
Isabel, enfurecida, continuou:
- Essa moça. É evidente que assim que estiver livre vai querer nos prejudicar, dar o troco, se vingar.
Virá retomar o que pensa que é seu de direito.
Não vou admitir, Felipe, em hipótese alguma.
Dom Felipe se levantou, perturbado, e andou até a janela, observando a luz do entardecer que se espalhava pelos jardins da mansão.
Depois de fundo suspiro, virou-se para a mulher e disse:
- Sei muito bem o que você fez, Isabel, mas não se preocupe, nada lhe acontecerá.
Sei que odeia a moça e quis fazer tudo o que podia para proteger nossa família.
Isabel ergueu ainda mais a cabeça e respondeu, altiva:
- É bom que entenda meus motivos.
Faço tudo para preservar e defender nossa família.
- É claro, Isabel, fique tranquila.
Entretanto, não poderemos impedir que a moça seja libertada.
- E por quê?
- Não há mais nada contra ela.
Além das provas que incriminam Fernando, eles têm a sua confissão espontânea.
Agora vá ver sua filha, e procure descansar um pouco.
- Filomena está trancada no quarto.
Não adianta bater e tentar falar com ela.
Eu não estou cansada, Felipe.
Quero solucionar o problema.
Dom Felipe segurou com toda a força o braço da esposa, e apertando-o disse:
- Desta vez, só desta vez, dona Isabel, deixe tudo comigo.
E vá ver sua filha, estou ordenando!
Ela não comeu nada o dia todo.
Aja rapidamente para que o caso seja abafado.
- Não é tão simples, Isabel.
Garcia é um homem muito sério e competente.
Os advogados já conversaram com ele, e está firme no propósito de esclarecer os factos e descobrir toda a verdade.
Os gritos de Isabel se faziam ouvir por toda a mansão:
- Ele não é ninguém, Felipe! Ninguém!
Você sabe quem está acima dele, portanto, faça o que tem de ser feito!
Livre-se dele! Não interessa como!
O que não podemos é deixar que essa mulherzinha dementada desmoralize nossa família.
É isso que está tentando, não percebe?
- Quem está tentando?
Isabel, enfurecida, continuou:
- Essa moça. É evidente que assim que estiver livre vai querer nos prejudicar, dar o troco, se vingar.
Virá retomar o que pensa que é seu de direito.
Não vou admitir, Felipe, em hipótese alguma.
Dom Felipe se levantou, perturbado, e andou até a janela, observando a luz do entardecer que se espalhava pelos jardins da mansão.
Depois de fundo suspiro, virou-se para a mulher e disse:
- Sei muito bem o que você fez, Isabel, mas não se preocupe, nada lhe acontecerá.
Sei que odeia a moça e quis fazer tudo o que podia para proteger nossa família.
Isabel ergueu ainda mais a cabeça e respondeu, altiva:
- É bom que entenda meus motivos.
Faço tudo para preservar e defender nossa família.
- É claro, Isabel, fique tranquila.
Entretanto, não poderemos impedir que a moça seja libertada.
- E por quê?
- Não há mais nada contra ela.
Além das provas que incriminam Fernando, eles têm a sua confissão espontânea.
Agora vá ver sua filha, e procure descansar um pouco.
- Filomena está trancada no quarto.
Não adianta bater e tentar falar com ela.
Eu não estou cansada, Felipe.
Quero solucionar o problema.
Dom Felipe segurou com toda a força o braço da esposa, e apertando-o disse:
- Desta vez, só desta vez, dona Isabel, deixe tudo comigo.
E vá ver sua filha, estou ordenando!
Ela não comeu nada o dia todo.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Isabel soltou-se das mãos do marido e reclamou:
- Está me machucando, meu marido!
Sabe que faço tudo para o bem de nossa família.
- Estou falando sério, Isabel: não interfira mais.
Seu excesso de zelo está destruindo nossa família, não compreende?
Garanto que me empenharei ao máximo para que o caso seja abafado e resolvido.
Mas por ora nada posso fazer para impedir o retomo de Emílie ao convívio da família.
Ricardo está totalmente incontrolável e quer que a esposa volte.
- Ricardo é um imbecil.
Fez uma péssima escolha e pretende persistir no erro.
Se ele teimar em receber aquela mulher, que saia desta casa e viva com os próprios recursos.
Não admitirei que a louca ponha os pés aqui novamente.
Se ele continuar nos desafiando com esse casamento, quero que você o deserde, Felipe.
Já que acha que sabe o que faz, que viva às próprias custas.
Não lhe dê mais nada. Nem dinheiro, nem trabalho.
E não o ajude com sua influência.
Ele que tente obter as coisas com seu esforço, para ver como tudo é mais difícil.
Pensa que pode fazer o que quer, mas não é assim.
Exausto pela infrutífera discussão, dom Felipe comentou, em tom irónico:
- Como sempre, querida, você está sendo muito radical.
Se Ricardo quiser viver outra vez com Emílie, darei o suporte de que necessitar.
Ele é meu filho e, apesar de não concordar em absoluto com sua escolha, não posso admitir que perambule por aí como um qualquer.
Vou ocupá-lo em trabalho que o afaste da cidade e de nós, porém me recuso a prejudicá-lo.
O rapaz também já sofreu bastante.
Isabel, subindo as escadas, dizia em tom agressivo:
- Você me desaponta muito, Felipe!
Meu pai jamais concordaria com suas atitudes!
Ainda bem que ele não está aqui para testemunhar suas fraquezas.
Dom Felipe não respondeu.
Virou-se para a imensa janela, que tinha as cortinas abertas.
Isabel subiu as escadas pisando duro.
Quando chegou ao topo encontrou Ricardo, que descia apressado, ao cruzar com ela, gritou inconformado:
- Como pôde fazer aquilo?
Como foi capaz de tal armação?
- É tudo mentira, Ricardo, seu primo está louco.
- Não acredito mais em você!
Isabel deu de ombros e saiu andando, a mostrar seu azedume:
- Não me importo mais. Acredite no que quiser.
Afinal, seus julgamentos não são mesmo confiáveis.
- Está me machucando, meu marido!
Sabe que faço tudo para o bem de nossa família.
- Estou falando sério, Isabel: não interfira mais.
Seu excesso de zelo está destruindo nossa família, não compreende?
Garanto que me empenharei ao máximo para que o caso seja abafado e resolvido.
Mas por ora nada posso fazer para impedir o retomo de Emílie ao convívio da família.
Ricardo está totalmente incontrolável e quer que a esposa volte.
- Ricardo é um imbecil.
Fez uma péssima escolha e pretende persistir no erro.
Se ele teimar em receber aquela mulher, que saia desta casa e viva com os próprios recursos.
Não admitirei que a louca ponha os pés aqui novamente.
Se ele continuar nos desafiando com esse casamento, quero que você o deserde, Felipe.
Já que acha que sabe o que faz, que viva às próprias custas.
Não lhe dê mais nada. Nem dinheiro, nem trabalho.
E não o ajude com sua influência.
Ele que tente obter as coisas com seu esforço, para ver como tudo é mais difícil.
Pensa que pode fazer o que quer, mas não é assim.
Exausto pela infrutífera discussão, dom Felipe comentou, em tom irónico:
- Como sempre, querida, você está sendo muito radical.
Se Ricardo quiser viver outra vez com Emílie, darei o suporte de que necessitar.
Ele é meu filho e, apesar de não concordar em absoluto com sua escolha, não posso admitir que perambule por aí como um qualquer.
Vou ocupá-lo em trabalho que o afaste da cidade e de nós, porém me recuso a prejudicá-lo.
O rapaz também já sofreu bastante.
Isabel, subindo as escadas, dizia em tom agressivo:
- Você me desaponta muito, Felipe!
Meu pai jamais concordaria com suas atitudes!
Ainda bem que ele não está aqui para testemunhar suas fraquezas.
Dom Felipe não respondeu.
Virou-se para a imensa janela, que tinha as cortinas abertas.
Isabel subiu as escadas pisando duro.
Quando chegou ao topo encontrou Ricardo, que descia apressado, ao cruzar com ela, gritou inconformado:
- Como pôde fazer aquilo?
Como foi capaz de tal armação?
- É tudo mentira, Ricardo, seu primo está louco.
- Não acredito mais em você!
Isabel deu de ombros e saiu andando, a mostrar seu azedume:
- Não me importo mais. Acredite no que quiser.
Afinal, seus julgamentos não são mesmo confiáveis.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Sem dar resposta, Ricardo desceu as escadas rapidamente.
Isabel ainda perguntou:
- Aonde vai com tanta pressa?
- Buscar Cíntia.
Não quero que Emílie encontre a filha num convento.
- Não ouse fazer isso, Ricardo. A menina precisa...
- A menina precisa da mãe, de mais ninguém.
- Não vão deixá-lo entrar no convento.
- Tenho a autorização de quem realmente manda nesta casa.
Sem dizer mais nada, Ricardo partiu rápido em direcção à pequena vila onde ficava o convento.
A noite caía gelada sobre a cidade.
Isabel tomou a postar-se à porta do quarto de Filomena, insistindo para que a abrisse.
A filha se recusava a conversar, estava apavorada.
Isabel acabou por desistir.
No dia seguinte, tentaram novamente.
Como a moça não respondia, Isabel deu ordem para arrombarem a porta.
Encontraram Filomena sentada com os olhos arregalados, vermelhos de tanto chorar.
A mãe a sacudiu com força, para obrigá-la a reagir.
Não obteve resposta.
Agitou-a mais rudemente, sem resultado, ela não dizia nada, em estado de choque.
Isabel a sacudia mais e mais, sem dar atenção à situação lastimável da filha:
- Vamos, reaja! Filomena, reaja!
A moça continuava imóvel.
Dom Felipe acorreu, atraído pela gritaria no quarto, e indignou-se com a cena chocante:
- Pare com isso, Isabel!
Pare! Está machucando a menina!
- Ela tem de reagir, Felipe!
- Ela precisa de um médico, pelo amor de Deus, Isabel!
Olhe o seu estado!
Enfurecida, Isabel não parava de gritar com a filha.
Com a ajuda dos serviçais, dom Felipe finalmente conseguiu afastar a esposa e, após atendimento médico, enviou a filha para uma clínica de repouso, onde pudesse ser tratada.
Na verdade, Filomena nunca mais se recuperaria do desequilíbrio que a acometera, permanecendo internada na clínica por muitos anos.
Embora dom Felipe tivesse relativo controlo da situação, proibindo jornais e outros periódicos que estavam sob sua influência de publicarem sequer uma linha relativa ao desfecho do caso de Emílie, foi impotente para conter a lamentável repercussão e o desgosto que causara.
A notícia se espalhara pela cidade e todos comentavam o episódio.
Não obstante Isabel negasse sistematicamente, sustentando que o sobrinho era vítima de alucinações e mantendo-se intocável em sua posição, o prestígio que usufruía em Barcelona foi abalado e muitos se afastaram dela.
A situação começara a fugir-lhe do controle e aos poucos desmoronava o domínio que a família exercera por décadas.
Isabel ainda perguntou:
- Aonde vai com tanta pressa?
- Buscar Cíntia.
Não quero que Emílie encontre a filha num convento.
- Não ouse fazer isso, Ricardo. A menina precisa...
- A menina precisa da mãe, de mais ninguém.
- Não vão deixá-lo entrar no convento.
- Tenho a autorização de quem realmente manda nesta casa.
Sem dizer mais nada, Ricardo partiu rápido em direcção à pequena vila onde ficava o convento.
A noite caía gelada sobre a cidade.
Isabel tomou a postar-se à porta do quarto de Filomena, insistindo para que a abrisse.
A filha se recusava a conversar, estava apavorada.
Isabel acabou por desistir.
No dia seguinte, tentaram novamente.
Como a moça não respondia, Isabel deu ordem para arrombarem a porta.
Encontraram Filomena sentada com os olhos arregalados, vermelhos de tanto chorar.
A mãe a sacudiu com força, para obrigá-la a reagir.
Não obteve resposta.
Agitou-a mais rudemente, sem resultado, ela não dizia nada, em estado de choque.
Isabel a sacudia mais e mais, sem dar atenção à situação lastimável da filha:
- Vamos, reaja! Filomena, reaja!
A moça continuava imóvel.
Dom Felipe acorreu, atraído pela gritaria no quarto, e indignou-se com a cena chocante:
- Pare com isso, Isabel!
Pare! Está machucando a menina!
- Ela tem de reagir, Felipe!
- Ela precisa de um médico, pelo amor de Deus, Isabel!
Olhe o seu estado!
Enfurecida, Isabel não parava de gritar com a filha.
Com a ajuda dos serviçais, dom Felipe finalmente conseguiu afastar a esposa e, após atendimento médico, enviou a filha para uma clínica de repouso, onde pudesse ser tratada.
Na verdade, Filomena nunca mais se recuperaria do desequilíbrio que a acometera, permanecendo internada na clínica por muitos anos.
Embora dom Felipe tivesse relativo controlo da situação, proibindo jornais e outros periódicos que estavam sob sua influência de publicarem sequer uma linha relativa ao desfecho do caso de Emílie, foi impotente para conter a lamentável repercussão e o desgosto que causara.
A notícia se espalhara pela cidade e todos comentavam o episódio.
Não obstante Isabel negasse sistematicamente, sustentando que o sobrinho era vítima de alucinações e mantendo-se intocável em sua posição, o prestígio que usufruía em Barcelona foi abalado e muitos se afastaram dela.
A situação começara a fugir-lhe do controle e aos poucos desmoronava o domínio que a família exercera por décadas.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Fernando, sentado na beira da cama, via o luar pelas grades da pequena janela.
Pensava em Emílie, que bem pouco tempo atrás estivera em condição parecida com aquela.
Contudo, o momento complicado que vivia não lhe tirava a tranquilidade.
Sabia que havia feito o que era correcto e estava em paz consigo mesmo.
Sua única preocupação era o orfanato, praticamente abandonado.
Pensava nas crianças e temia que a paróquia não assumisse o controle, como deveria, afinal, aquele havia sido um profundo desejo seu, mas pouco apoiado pelo padre.
Orava pelas crianças, pedindo que Deus as amparasse.
Algumas vezes pensava em Filomena e imaginava como ela o estaria odiando, àquela altura, por havê-los exposto tanto.
Apesar do carinho que ainda nutria por ela, sabia que seria muito difícil se aproximarem outra vez.
Ele aguardava pacientemente o desenrolar dos factos, e foi com extrema alegria que recebeu a informação de que Emílie fora finalmente libertada.
A justiça prevalecera.
Depois que todos se recolheram, Emílie permaneceu sentada no sofá da sala, quase sem acreditar que estava livre.
Seu coração transbordava de contentamento.
Não se cansava de relembrar o rosto alegre de Cíntia e sentia-se feliz por saber que se avizinhava o momento de revê-la.
Aquilo que tanto desejara nos últimos meses estava enfim acontecendo.
Pensava em Lucrécia, em quanto ela a havia ajudado, e sentia o coração apertado de saudade da amiga e protectora.
Só após muito tempo sozinha na sala foi que subiu para o quarto.
Enquanto atravessava o longo e escuro corredor, sentiu um medo estranho apoderar-se dela.
Parecia que um grande perigo a esperava mais adiante.
Parou, atenta, tentando capta r qualquer ruído que houvesse na casa.
Nada. O silêncio era absoluto.
Ainda assim, seu coração batia descompassado, como a querer sair-lhe pela boca.
Pensou em chamar alguém, mas como explicar o medo que sentia?
Caminhou devagar, e à medida que avançava mais medo sentia, até o pânico se apossar dela.
Ao entrar no quarto verificou tudo:
abriu armários e portas, agachou-se e olhou debaixo da cama, pensando que pudesse haver alguém ali.
Depois, foi até a janela e devagar abriu a cortina.
Não havia ninguém.
Quando se virou ouviu uma gargalhada ecoar em sua mente.
Assustada, perguntou:
- Quem está aí?
Ela viu, então, as quatro entidades espirituais que a perseguiam.
Um dos homens falou:
- Acha que se livrou de nós?
Pensa que agora que se tomou boazinha vamos perdoar tudo o que nos fez?
Nunca, está entendendo?
O que você fez não tem perdão!
Pensava em Emílie, que bem pouco tempo atrás estivera em condição parecida com aquela.
Contudo, o momento complicado que vivia não lhe tirava a tranquilidade.
Sabia que havia feito o que era correcto e estava em paz consigo mesmo.
Sua única preocupação era o orfanato, praticamente abandonado.
Pensava nas crianças e temia que a paróquia não assumisse o controle, como deveria, afinal, aquele havia sido um profundo desejo seu, mas pouco apoiado pelo padre.
Orava pelas crianças, pedindo que Deus as amparasse.
Algumas vezes pensava em Filomena e imaginava como ela o estaria odiando, àquela altura, por havê-los exposto tanto.
Apesar do carinho que ainda nutria por ela, sabia que seria muito difícil se aproximarem outra vez.
Ele aguardava pacientemente o desenrolar dos factos, e foi com extrema alegria que recebeu a informação de que Emílie fora finalmente libertada.
A justiça prevalecera.
Depois que todos se recolheram, Emílie permaneceu sentada no sofá da sala, quase sem acreditar que estava livre.
Seu coração transbordava de contentamento.
Não se cansava de relembrar o rosto alegre de Cíntia e sentia-se feliz por saber que se avizinhava o momento de revê-la.
Aquilo que tanto desejara nos últimos meses estava enfim acontecendo.
Pensava em Lucrécia, em quanto ela a havia ajudado, e sentia o coração apertado de saudade da amiga e protectora.
Só após muito tempo sozinha na sala foi que subiu para o quarto.
Enquanto atravessava o longo e escuro corredor, sentiu um medo estranho apoderar-se dela.
Parecia que um grande perigo a esperava mais adiante.
Parou, atenta, tentando capta r qualquer ruído que houvesse na casa.
Nada. O silêncio era absoluto.
Ainda assim, seu coração batia descompassado, como a querer sair-lhe pela boca.
Pensou em chamar alguém, mas como explicar o medo que sentia?
Caminhou devagar, e à medida que avançava mais medo sentia, até o pânico se apossar dela.
Ao entrar no quarto verificou tudo:
abriu armários e portas, agachou-se e olhou debaixo da cama, pensando que pudesse haver alguém ali.
Depois, foi até a janela e devagar abriu a cortina.
Não havia ninguém.
Quando se virou ouviu uma gargalhada ecoar em sua mente.
Assustada, perguntou:
- Quem está aí?
Ela viu, então, as quatro entidades espirituais que a perseguiam.
Um dos homens falou:
- Acha que se livrou de nós?
Pensa que agora que se tomou boazinha vamos perdoar tudo o que nos fez?
Nunca, está entendendo?
O que você fez não tem perdão!
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Emílie, apavorada, porém consciente de tudo o que ocorria, tentou conversar com eles:
- Sou inocente, por isso me libertaram.
- Você é uma assassina!
E terá de pagar pelo que nos fez!
- Mas eu não...
De súbito imagens lhe vinham à mente, cenas se sucediam, e aqueles espíritos transfigurados apareciam vestindo outras roupas, em situação completamente diversa.
Emílie se esforçava por entender o sentido daquilo quando uma das mulheres, a que parecia mais jovem, lançou sobre ela toda a sua energia transforma da em ódio e a empurrou até que caísse.
Vendo-a no chão, aproximou-se com uma faca na mão e sentenciou:
- Você tem de pagar, vamos persegui-la onde quer que se encontre e acabaremos com sua alegria.
Não importa quantas vezes se levante, nós a faremos cair outra vez.
Emílie, sem saber o que fazer, acuada no canto do chão do quarto, gritou em desespero.
Em alguns segundos, surgiram Miguel e os que estavam mais perto daquele quarto.
Quando Miguel entrou, ela gemia de dor no antebraço direito.
- O que houve, Emílie?
- Graças a Deus vocês apareceram.
Eles se foram, mas meu braço está machucado.
- Emílie, o que aconteceu? - perguntou Sara, ajudando a amiga a se sentar na cama.
- Entidades que há muito me perseguem se mostraram outra vez.
Querem me destruir e fizeram ameaças terríveis.
Machucaram-me com uma faca.
Isso pode acontecer, Miguel, ou estou enlouquecendo?
- Creio que seja possível.
Quando o sentimento (seja de ódio ou de amor) é muito intenso, atravessa a barreira vibratória e afecta o campo material.
É raro, mas não impossível.
- Acho que nunca senti tanto medo em minha vida...
Emílie chorava baixinho, ainda assustada.
Miguel, Sara e outros amigos a envolveram em prolongada prece, buscando acalmar suas emoções e fortalecer sua fé.
Sara se ofereceu para dormir com a amiga, que agradeceu:
- Vou aceitar de bom grado, Sara.
Gostaria muito que ficasse comigo esta noite.
Passado algum tempo o silêncio voltou à casa.
Emílie, entretanto, não conseguia conciliar o sono, repetidamente revia as figuras aterradoras das entidades e remexia na memória buscando descobrir de onde conhecia aqueles rostos.
Na manhã seguinte, bem cedo, Emílie estava na sala quando Miguel desceu para o desjejum.
- Acordada tão cedo? Conseguiu descansar?
- Não muito, Miguel.
Gostaria de conversar com você.
- Sou inocente, por isso me libertaram.
- Você é uma assassina!
E terá de pagar pelo que nos fez!
- Mas eu não...
De súbito imagens lhe vinham à mente, cenas se sucediam, e aqueles espíritos transfigurados apareciam vestindo outras roupas, em situação completamente diversa.
Emílie se esforçava por entender o sentido daquilo quando uma das mulheres, a que parecia mais jovem, lançou sobre ela toda a sua energia transforma da em ódio e a empurrou até que caísse.
Vendo-a no chão, aproximou-se com uma faca na mão e sentenciou:
- Você tem de pagar, vamos persegui-la onde quer que se encontre e acabaremos com sua alegria.
Não importa quantas vezes se levante, nós a faremos cair outra vez.
Emílie, sem saber o que fazer, acuada no canto do chão do quarto, gritou em desespero.
Em alguns segundos, surgiram Miguel e os que estavam mais perto daquele quarto.
Quando Miguel entrou, ela gemia de dor no antebraço direito.
- O que houve, Emílie?
- Graças a Deus vocês apareceram.
Eles se foram, mas meu braço está machucado.
- Emílie, o que aconteceu? - perguntou Sara, ajudando a amiga a se sentar na cama.
- Entidades que há muito me perseguem se mostraram outra vez.
Querem me destruir e fizeram ameaças terríveis.
Machucaram-me com uma faca.
Isso pode acontecer, Miguel, ou estou enlouquecendo?
- Creio que seja possível.
Quando o sentimento (seja de ódio ou de amor) é muito intenso, atravessa a barreira vibratória e afecta o campo material.
É raro, mas não impossível.
- Acho que nunca senti tanto medo em minha vida...
Emílie chorava baixinho, ainda assustada.
Miguel, Sara e outros amigos a envolveram em prolongada prece, buscando acalmar suas emoções e fortalecer sua fé.
Sara se ofereceu para dormir com a amiga, que agradeceu:
- Vou aceitar de bom grado, Sara.
Gostaria muito que ficasse comigo esta noite.
Passado algum tempo o silêncio voltou à casa.
Emílie, entretanto, não conseguia conciliar o sono, repetidamente revia as figuras aterradoras das entidades e remexia na memória buscando descobrir de onde conhecia aqueles rostos.
Na manhã seguinte, bem cedo, Emílie estava na sala quando Miguel desceu para o desjejum.
- Acordada tão cedo? Conseguiu descansar?
- Não muito, Miguel.
Gostaria de conversar com você.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
- Claro! Já tomou seu café?
- Já, obrigada. Espero na sala.
Não demorou muito e Miguel retomou, atencioso.
- Como se sente, Emílie?
- Assustada. Feliz por estar finalmente livre, mas com medo do futuro, e depois do que houve ontem à noite, muitas dúvidas acorrem à minha mente.
Estou confusa e angustiada.
É como se tivesse a consciência de que sempre haverá alguma coisa a me infelicitar!
Miguel se levantou silencioso, foi até a sala de jantar, onde Sara terminara o desjejum, e pediu que ela os acompanhasse para uma conversa no jardim de inverno.
Acomodaram-se entre as folhagens fartas e, assumindo tom grave, Miguel começou:
- Emílie, precisa ter noção de algumas questões delicadas para tomar sua decisão.
- Continue, por favor.
- Você foi agraciada pela misericórdia divina com uma mediunidade muito ampla:
clarividência, psicografia, clariaudiência...
Analisando as dificuldades que enfrentou até agora, concluímos que provavelmente elas são provas pelas quais você precisava passar.
- Concordo com você, Miguel.
Já pensei muito sobre isso.
- Pois bem. O que pretende fazer daqui para frente?
Perdoe-me por perguntar, mas é fundamental para que possamos conversar.
- Quero trabalhar por essa doutrina que tanto me beneficiou, Miguel.
Somente pelo estudo dos princípios espíritas pude começar a compreender minha situação e o real motivo das perturbações que sofria.
Sei que sou médium e que devo utilizar minha sensibilidade em favor dos necessitados de ajuda.
Quero continuar a aprender e prosseguir no caminho que encontrei.
- Fico feliz por ouvir isso e desejo que persevere em sua decisão.
No entanto, é preciso que saiba também que os médiuns, em sua grande maioria, são espíritos comprometidos com as leis divinas, que reencarnam com a responsabilidade de usar os dons que receberam como contribuição para o progresso da Humanidade.
E quando conseguem fazê-lo com êxito, encontram o próprio progresso, resgatando dívidas e dando um passo adiante na jornada evolutiva.
Emílie ouvia com atenção.
Sara permanecia calada.
Miguel prosseguiu:
- O que aconteceu ontem, Emílie, e aquilo que através de nossa sensibilidade já havíamos percebido indicam que existem pesadas dívidas a serem resgatadas.
- Tentei recordar quem são aquelas entidades, de onde as conheço.
Enquanto estavam diante de mim, muitas imagens me vieram à mente e sei que faziam parte delas.
Todavia, nada ficou suficientemente claro.
- Não faça esforço para se lembrar do passado, Emílie.
Muitas vezes ele é doloroso demais para nós.
Aproveitemos a bênção do esquecimento, conscientes de que somos imperfeitos, com pesados fardos sobre nossos ombros.
- Já, obrigada. Espero na sala.
Não demorou muito e Miguel retomou, atencioso.
- Como se sente, Emílie?
- Assustada. Feliz por estar finalmente livre, mas com medo do futuro, e depois do que houve ontem à noite, muitas dúvidas acorrem à minha mente.
Estou confusa e angustiada.
É como se tivesse a consciência de que sempre haverá alguma coisa a me infelicitar!
Miguel se levantou silencioso, foi até a sala de jantar, onde Sara terminara o desjejum, e pediu que ela os acompanhasse para uma conversa no jardim de inverno.
Acomodaram-se entre as folhagens fartas e, assumindo tom grave, Miguel começou:
- Emílie, precisa ter noção de algumas questões delicadas para tomar sua decisão.
- Continue, por favor.
- Você foi agraciada pela misericórdia divina com uma mediunidade muito ampla:
clarividência, psicografia, clariaudiência...
Analisando as dificuldades que enfrentou até agora, concluímos que provavelmente elas são provas pelas quais você precisava passar.
- Concordo com você, Miguel.
Já pensei muito sobre isso.
- Pois bem. O que pretende fazer daqui para frente?
Perdoe-me por perguntar, mas é fundamental para que possamos conversar.
- Quero trabalhar por essa doutrina que tanto me beneficiou, Miguel.
Somente pelo estudo dos princípios espíritas pude começar a compreender minha situação e o real motivo das perturbações que sofria.
Sei que sou médium e que devo utilizar minha sensibilidade em favor dos necessitados de ajuda.
Quero continuar a aprender e prosseguir no caminho que encontrei.
- Fico feliz por ouvir isso e desejo que persevere em sua decisão.
No entanto, é preciso que saiba também que os médiuns, em sua grande maioria, são espíritos comprometidos com as leis divinas, que reencarnam com a responsabilidade de usar os dons que receberam como contribuição para o progresso da Humanidade.
E quando conseguem fazê-lo com êxito, encontram o próprio progresso, resgatando dívidas e dando um passo adiante na jornada evolutiva.
Emílie ouvia com atenção.
Sara permanecia calada.
Miguel prosseguiu:
- O que aconteceu ontem, Emílie, e aquilo que através de nossa sensibilidade já havíamos percebido indicam que existem pesadas dívidas a serem resgatadas.
- Tentei recordar quem são aquelas entidades, de onde as conheço.
Enquanto estavam diante de mim, muitas imagens me vieram à mente e sei que faziam parte delas.
Todavia, nada ficou suficientemente claro.
- Não faça esforço para se lembrar do passado, Emílie.
Muitas vezes ele é doloroso demais para nós.
Aproveitemos a bênção do esquecimento, conscientes de que somos imperfeitos, com pesados fardos sobre nossos ombros.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Não gaste sua energia tentando recordar, use-a em serviço ao próximo.
Emílie balançou a cabeça, em sinal de que estava assimilando as ponderações do amigo.
Ele continuou:
- Há muito trabalho a ser feito.
Embora a consoladora Doutrina Espírita comece a se propagar pelo mundo, há muito a ser feito para que seus princípios se tomem efectivamente conhecidos.
A oposição é ferrenha e as mentiras espalhadas também se avolumam.
A divulgação dos verdadeiros preceitos espíritas carece ser intensificada em toda parte.
- Gostaria muito de contribuir, Miguel.
- E terá oportunidade de fazê-lo.
Repito: há muito trabalho.
Por exemplo, precisamos de alguém que colabore na tradução das revistas espíritas, bem como de outras obras, do francês para o espanhol.
E isso tem de ser feito por alguém que conheça a língua e também os princípios doutrinários, de modo a se preservar a fidelidade do conteúdo.
Além disso, os núcleos espíritas estão sendo procurados por número crescente de pessoas, o que implica a necessidade de mais trabalhadores conscientes e preparados, inclusive médiuns.
- Sinto-me preparada.
Quero trabalhar, Miguel.
- Emílie, não creia que será fácil.
Temos em nossa própria experiência e na de muitos amigos a demonstração de que a dor é companheira daqueles que se propõem actuar nas fileiras espíritas.
- A dor?
- Não falo somente da dor física - aliás, a mais fácil de ser cuidada.
Refiro-me sobretudo à dor moral, às difíceis escolhas que têm de fazer os que querem servir a Deus com sinceridade e dedicação.
Vivemos tempos em que se dá primazia ao prazer físico e ao bem-estar material.
O homem busca a satisfação dos seus desejos e a dor não faz parte de seu repertório.
Entretanto, é ela que nos faz crescer, sair da acomodação, galgar degraus na caminhada evolutiva.
Infelizmente, a grande maioria de nós ainda precisa da dor para crescer - em particular os médiuns, que enfrentam inimigos do passado, além das resistências do presente, oriundas de suas próprias imperfeições.
Miguel fez uma pausa, dando tempo para que Emílie absorvesse as explicações.
Ela se levantou e caminhou em silêncio até um dos vasos com farta folhagem.
Tirou duas ou três folhas secas e depois se virou para Miguel, perguntando:
- Então é muito difícil ser médium?
- Realmente é, Emílie.
Neste momento muitos estão encantados com a possibilidade de intermediar a comunicação entre os dois planos da vida.
Acham estimulante possuir essa capacidade, antes considerada sobrenatural.
Contudo, boa parte deles rapidamente se perde e confunde em seu papel, agindo segundo velhos hábitos e buscando nas actividades mediúnicas a satisfação dos próprios interesses, ainda que camuflados por intenções aparentemente nobres.
Ser médium com Jesus é estar a serviço da Espiritualidade superior, sem vaidade, compreendendo que a submissão à vontade de Deus é que deve prevalecer sempre.
Emílie voltou para junto dos amigos e indagou:
- Acha que não vou conseguir, Miguel?
Não terei força suficiente?
- Você pode triunfar em suas responsabilidades, Emílie.
Deus não lhe confiaria os compromissos desta encarnação se não fosse capaz de dar conta deles.
Emílie balançou a cabeça, em sinal de que estava assimilando as ponderações do amigo.
Ele continuou:
- Há muito trabalho a ser feito.
Embora a consoladora Doutrina Espírita comece a se propagar pelo mundo, há muito a ser feito para que seus princípios se tomem efectivamente conhecidos.
A oposição é ferrenha e as mentiras espalhadas também se avolumam.
A divulgação dos verdadeiros preceitos espíritas carece ser intensificada em toda parte.
- Gostaria muito de contribuir, Miguel.
- E terá oportunidade de fazê-lo.
Repito: há muito trabalho.
Por exemplo, precisamos de alguém que colabore na tradução das revistas espíritas, bem como de outras obras, do francês para o espanhol.
E isso tem de ser feito por alguém que conheça a língua e também os princípios doutrinários, de modo a se preservar a fidelidade do conteúdo.
Além disso, os núcleos espíritas estão sendo procurados por número crescente de pessoas, o que implica a necessidade de mais trabalhadores conscientes e preparados, inclusive médiuns.
- Sinto-me preparada.
Quero trabalhar, Miguel.
- Emílie, não creia que será fácil.
Temos em nossa própria experiência e na de muitos amigos a demonstração de que a dor é companheira daqueles que se propõem actuar nas fileiras espíritas.
- A dor?
- Não falo somente da dor física - aliás, a mais fácil de ser cuidada.
Refiro-me sobretudo à dor moral, às difíceis escolhas que têm de fazer os que querem servir a Deus com sinceridade e dedicação.
Vivemos tempos em que se dá primazia ao prazer físico e ao bem-estar material.
O homem busca a satisfação dos seus desejos e a dor não faz parte de seu repertório.
Entretanto, é ela que nos faz crescer, sair da acomodação, galgar degraus na caminhada evolutiva.
Infelizmente, a grande maioria de nós ainda precisa da dor para crescer - em particular os médiuns, que enfrentam inimigos do passado, além das resistências do presente, oriundas de suas próprias imperfeições.
Miguel fez uma pausa, dando tempo para que Emílie absorvesse as explicações.
Ela se levantou e caminhou em silêncio até um dos vasos com farta folhagem.
Tirou duas ou três folhas secas e depois se virou para Miguel, perguntando:
- Então é muito difícil ser médium?
- Realmente é, Emílie.
Neste momento muitos estão encantados com a possibilidade de intermediar a comunicação entre os dois planos da vida.
Acham estimulante possuir essa capacidade, antes considerada sobrenatural.
Contudo, boa parte deles rapidamente se perde e confunde em seu papel, agindo segundo velhos hábitos e buscando nas actividades mediúnicas a satisfação dos próprios interesses, ainda que camuflados por intenções aparentemente nobres.
Ser médium com Jesus é estar a serviço da Espiritualidade superior, sem vaidade, compreendendo que a submissão à vontade de Deus é que deve prevalecer sempre.
Emílie voltou para junto dos amigos e indagou:
- Acha que não vou conseguir, Miguel?
Não terei força suficiente?
- Você pode triunfar em suas responsabilidades, Emílie.
Deus não lhe confiaria os compromissos desta encarnação se não fosse capaz de dar conta deles.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
- Então, o que devo fazer?
- Não existe uma fórmula.
Todavia, se colocar os preceitos da Doutrina Espírita acima de seus interesses pessoais, se nunca a desvirtuar e, sobretudo, se tentar sinceramente aplicar na prática de sua vida diária os ensinos de Jesus, especialmente a humildade e o amor, com certeza estará no caminho.
Emílie se calou.
Contemplando o céu azul através das amplas vidraças do jardim de inverno, deixou que as lágrimas rolassem pelo seu rosto.
Sara segurou-lhe as mãos e disse:
- Você não estará sozinha.
Muitos são os que nos apoiam, tanto aqui como no plano espiritual.
- Eu sei, Sara.
As últimas circunstâncias da minha vida são uma prova do auxílio constante que recebemos.
Sei que temos protecção, não é isso que temo.
- Então o que é?
Emílie ergueu os olhos húmidos para Miguel e Sara e confessou:
- Temo a mim mesma.
Miguel tocou de leve suas mãos e disse:
- Esse é o desafio de todos nós, Emílie.
Durante todo o dia Emílie esteve amorosamente envolvida em carinho e atenção dos amigos.
No final da tarde, recebeu o aviso de que Ricardo aguardava na entrada, pedindo para vê-la.
Ao ouvir o nome do marido, Emílie ficou aturdida.
Sentiu uma angústia antiga, sua velha conhecida.
O medo apoderou-se dela.
- O que vou fazer? Não sei o que dizer.
Esperei por este momento e agora não sei como agir.
Antes queria que Ricardo sofresse dor igual à que amarguei, quando acreditou em mentiras a meu respeito.
Estava magoada e ofendida por não me haver compreendido.
Mas, diante de tudo o que aprendi, como continuar desejando a mesma coisa?
Miguel se levantou e estendeu-lhe o braço:
- Confie na Providência que tem guiado os seus passos até aqui e ponha em prática o que tem aprendido, Emílie.
Você precisa enfrentar seu destino.
Emílie esboçou ligeiro sorriso, e ainda com passos inseguros acompanhou Miguel até o hall, onde Ricardo se encontrava a esperá-la.
Assim que o viu ficou com as pernas bambas, e quase não continha a emoção.
Queria abraçar o marido, beijá-lo, refugiar-se confortavelmente em seus braços, como costumava fazer no passado, mas sentia que algo indefinido os distanciava.
Ao vê-la, profundamente comovido, Ricardo antecipou-se e, abraçando-a com carinho, balbuciou:
- Emílie, Emílie...
- Não existe uma fórmula.
Todavia, se colocar os preceitos da Doutrina Espírita acima de seus interesses pessoais, se nunca a desvirtuar e, sobretudo, se tentar sinceramente aplicar na prática de sua vida diária os ensinos de Jesus, especialmente a humildade e o amor, com certeza estará no caminho.
Emílie se calou.
Contemplando o céu azul através das amplas vidraças do jardim de inverno, deixou que as lágrimas rolassem pelo seu rosto.
Sara segurou-lhe as mãos e disse:
- Você não estará sozinha.
Muitos são os que nos apoiam, tanto aqui como no plano espiritual.
- Eu sei, Sara.
As últimas circunstâncias da minha vida são uma prova do auxílio constante que recebemos.
Sei que temos protecção, não é isso que temo.
- Então o que é?
Emílie ergueu os olhos húmidos para Miguel e Sara e confessou:
- Temo a mim mesma.
Miguel tocou de leve suas mãos e disse:
- Esse é o desafio de todos nós, Emílie.
Durante todo o dia Emílie esteve amorosamente envolvida em carinho e atenção dos amigos.
No final da tarde, recebeu o aviso de que Ricardo aguardava na entrada, pedindo para vê-la.
Ao ouvir o nome do marido, Emílie ficou aturdida.
Sentiu uma angústia antiga, sua velha conhecida.
O medo apoderou-se dela.
- O que vou fazer? Não sei o que dizer.
Esperei por este momento e agora não sei como agir.
Antes queria que Ricardo sofresse dor igual à que amarguei, quando acreditou em mentiras a meu respeito.
Estava magoada e ofendida por não me haver compreendido.
Mas, diante de tudo o que aprendi, como continuar desejando a mesma coisa?
Miguel se levantou e estendeu-lhe o braço:
- Confie na Providência que tem guiado os seus passos até aqui e ponha em prática o que tem aprendido, Emílie.
Você precisa enfrentar seu destino.
Emílie esboçou ligeiro sorriso, e ainda com passos inseguros acompanhou Miguel até o hall, onde Ricardo se encontrava a esperá-la.
Assim que o viu ficou com as pernas bambas, e quase não continha a emoção.
Queria abraçar o marido, beijá-lo, refugiar-se confortavelmente em seus braços, como costumava fazer no passado, mas sentia que algo indefinido os distanciava.
Ao vê-la, profundamente comovido, Ricardo antecipou-se e, abraçando-a com carinho, balbuciou:
- Emílie, Emílie...
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Não pôde prosseguir.
A emoção era tanta que embargava sua voz.
Fazia o possível para conter as lágrimas.
Emílie deixou-se envolver pelo terno abraço enquanto Miguel se afastou, deixando-os a sós.
Sem pensar, Emílie deixou o coração falar mais alto:
- Senti saudade.
- Eu nem posso contar o quanto sofria sua falta, Emílie.
Contudo, sinto-me também envergonhado pelo que permiti que lhe fizessem, querida.
Perdoe-me, por favor, fui injusto, confiando mais nos outros do que em você.
- Não vamos falar disso agora, Ricardo.
- Como posso calar sobre o que aconteceu?
Desde que soube da verdade, tenho me torturado a cada segundo.
Admiti que você fosse acusada, envolvida em uma trama sórdida.
Não percebi, querida, não percebi.
- Como poderia, Ricardo?
Todas as evidências estavam contra mim...
- Mas eu deveria ter imaginado...
- Como? Minhas crises estavam cada vez mais frequentes.
Você sabe que até eu tive dúvidas?
- Dúvidas?
- Sim, antes de ter compreensão total do que se passava comigo, do que significavam aquelas atitudes anormais, julgava estar perdendo o juízo e sem controlo sobre mim mesma.
Como saber o que poderia ter feito em tais circunstâncias?
- Vamos esquecer, querida, por favor.
Vamos recomeçar nossa vida.
Cíntia a espera ansiosa.
Ao ouvir o nome da filha, o rosto de Emílie iluminou-se.
- Como ela está, Ricardo?
- Agora está bem.
Depois que soube que em breve se encontraria com você, a alegria voltou ao seu coraçãozinho.
Ela sofreu demais, Emílie, nem pode imaginar quanto.
Falava em você todos os dias e sei que o maior desejo dela era vê-la outra vez.
- Imagino como deve ter sido difícil para nossa pequenina ter de enfrentar uma situação tão amarga.
- Foi difícil e sei que ela amadureceu bastante nesse período, tanto que às vezes me surpreende com uma visão da vida muito além de sua idade.
- Ela sempre foi muito inteligente e sensível.
- É verdade, sempre nos surpreendeu com suas observações aguçadas da realidade.
- Quando poderei vê-la, Ricardo?
- Imediatamente.
Ela nos aguarda no hotel.
- No hotel?
A emoção era tanta que embargava sua voz.
Fazia o possível para conter as lágrimas.
Emílie deixou-se envolver pelo terno abraço enquanto Miguel se afastou, deixando-os a sós.
Sem pensar, Emílie deixou o coração falar mais alto:
- Senti saudade.
- Eu nem posso contar o quanto sofria sua falta, Emílie.
Contudo, sinto-me também envergonhado pelo que permiti que lhe fizessem, querida.
Perdoe-me, por favor, fui injusto, confiando mais nos outros do que em você.
- Não vamos falar disso agora, Ricardo.
- Como posso calar sobre o que aconteceu?
Desde que soube da verdade, tenho me torturado a cada segundo.
Admiti que você fosse acusada, envolvida em uma trama sórdida.
Não percebi, querida, não percebi.
- Como poderia, Ricardo?
Todas as evidências estavam contra mim...
- Mas eu deveria ter imaginado...
- Como? Minhas crises estavam cada vez mais frequentes.
Você sabe que até eu tive dúvidas?
- Dúvidas?
- Sim, antes de ter compreensão total do que se passava comigo, do que significavam aquelas atitudes anormais, julgava estar perdendo o juízo e sem controlo sobre mim mesma.
Como saber o que poderia ter feito em tais circunstâncias?
- Vamos esquecer, querida, por favor.
Vamos recomeçar nossa vida.
Cíntia a espera ansiosa.
Ao ouvir o nome da filha, o rosto de Emílie iluminou-se.
- Como ela está, Ricardo?
- Agora está bem.
Depois que soube que em breve se encontraria com você, a alegria voltou ao seu coraçãozinho.
Ela sofreu demais, Emílie, nem pode imaginar quanto.
Falava em você todos os dias e sei que o maior desejo dela era vê-la outra vez.
- Imagino como deve ter sido difícil para nossa pequenina ter de enfrentar uma situação tão amarga.
- Foi difícil e sei que ela amadureceu bastante nesse período, tanto que às vezes me surpreende com uma visão da vida muito além de sua idade.
- Ela sempre foi muito inteligente e sensível.
- É verdade, sempre nos surpreendeu com suas observações aguçadas da realidade.
- Quando poderei vê-la, Ricardo?
- Imediatamente.
Ela nos aguarda no hotel.
- No hotel?
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Segurando as mãos da esposa com firmeza, Ricardo pediu:
- Emílie, gostaria que viesse comigo já.
Vamos nos instalar em um hotel, apenas por uns dias.
- Por que um hotel?
- Tenho vivido na casa de meus pais, desde que você foi levada.
Nossa casa ficou fechada por alguns meses, depois decidi vendê-la.
Ela me trazia muitas recordações e não pude continuar vivendo lá.
Agora que tudo está esclarecido, quero comprar uma casa nova, para começarmos tudo outra vez.
Apertando as mãos da esposa entre as suas e levando-as aos lábios, ele acrescentou:
- Vamos esquecer todo o mal que nos aconteceu e partir para uma nova vida.
Tínhamos tantos planos, tantos sonhos...
Vamos recomeçar, só que longe da minha família.
Você estava com a razão ao ter reservas em relação a eles.
Devia tê-la escutado e ficado em Paris.
Teríamos evitado todo esse sofrimento...
Emílie fitou o marido com olhar melancólico:
- Ricardo, Ricardo...
- O que foi? Não pode me perdoar?
Por favor, perdoe-me e esqueçamos tudo.
Quero você de volta, Emílie.
- Não é isso, Ricardo.
No início fiquei muito triste com você, devo confessar.
Mas depois de tudo o que vivi e aprendi, não posso guardar mágoa ou ressentimento, nem mesmo de sua mãe.
- Minha mãe agiu de maneira inaceitável.
Ela não podia, não tinha o direito de manipular as pessoas para obter seus desejos.
Isso é detestável. É inadmissível.
Eu não posso perdoá-la!
- Concordo que a conduta de dona Isabel é absolutamente reprovável.
E talvez tenha dificuldade em ficar frente a frente com ela, porém não devo e não vou odiá-la.
A bem da verdade, no fundo, sua mãe me fez um grande favor.
- Agora você me assusta. Está estranha...
Ricardo se afastou um pouco e olhou-a detidamente.
Emílie sorriu e disse:
- Mudei os cabelos, não percebeu?
- Percebi que estava muito diferente.
Ficou bem com essa cor, e o corte também me agradou.
- Emílie, gostaria que viesse comigo já.
Vamos nos instalar em um hotel, apenas por uns dias.
- Por que um hotel?
- Tenho vivido na casa de meus pais, desde que você foi levada.
Nossa casa ficou fechada por alguns meses, depois decidi vendê-la.
Ela me trazia muitas recordações e não pude continuar vivendo lá.
Agora que tudo está esclarecido, quero comprar uma casa nova, para começarmos tudo outra vez.
Apertando as mãos da esposa entre as suas e levando-as aos lábios, ele acrescentou:
- Vamos esquecer todo o mal que nos aconteceu e partir para uma nova vida.
Tínhamos tantos planos, tantos sonhos...
Vamos recomeçar, só que longe da minha família.
Você estava com a razão ao ter reservas em relação a eles.
Devia tê-la escutado e ficado em Paris.
Teríamos evitado todo esse sofrimento...
Emílie fitou o marido com olhar melancólico:
- Ricardo, Ricardo...
- O que foi? Não pode me perdoar?
Por favor, perdoe-me e esqueçamos tudo.
Quero você de volta, Emílie.
- Não é isso, Ricardo.
No início fiquei muito triste com você, devo confessar.
Mas depois de tudo o que vivi e aprendi, não posso guardar mágoa ou ressentimento, nem mesmo de sua mãe.
- Minha mãe agiu de maneira inaceitável.
Ela não podia, não tinha o direito de manipular as pessoas para obter seus desejos.
Isso é detestável. É inadmissível.
Eu não posso perdoá-la!
- Concordo que a conduta de dona Isabel é absolutamente reprovável.
E talvez tenha dificuldade em ficar frente a frente com ela, porém não devo e não vou odiá-la.
A bem da verdade, no fundo, sua mãe me fez um grande favor.
- Agora você me assusta. Está estranha...
Ricardo se afastou um pouco e olhou-a detidamente.
Emílie sorriu e disse:
- Mudei os cabelos, não percebeu?
- Percebi que estava muito diferente.
Ficou bem com essa cor, e o corte também me agradou.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Ricardo sorriu, acariciando os cabelos de Emílie:
- No entanto, há algo mais em você que está diferente.
Emílie se levantou e caminhou em silêncio até a porta que dava para o jardim de inverno.
Depois voltou-se para o marido:
- Muita coisa mudou desde que nos vimos pela última vez, Ricardo.
Passei por experiências marcantes desde então.
- Eu sei, querida, foi tudo muito intenso.
- Intenso demais, Ricardo, muito além do que qualquer um pudesse supor.
Na verdade, os acontecimentos dos últimos meses transformaram minha vida e a maneira como a enxergava.
Eu mudei, Ricardo.
Passei a entender melhor o que se passava comigo.
Aprendi a perceber melhor as pessoas que estão minha volta e reconhecer-lhes as necessidades e os sentimentos.
Não é mais possível, para mim, ignorar certas realidades.
- Que está falando, Emílie?
Ela olhava o marido com ternura.
Estava indecisa: continuava ou aguardava outro momento?
Disse apenas:
- Acho que devemos conversar um pouco mais antes de eu ir com você para o hotel.
Precisa saber tudo o que se passou comigo...
Ricardo colocou o dedo em seus lábios, impedindo-a de prosseguir.
- Não importa o que tenha ocorrido com você, o quanto tenha mudado, suas experiências, nada me importa.
Cíntia precisa de você, e quero que venha comigo agora mesmo.
Mais tarde conversaremos sobre o que quiser...
Depois, Emílie, se você me perdoa, como disse, e se não guarda ressentimento de minha mãe - o que me surpreende, pois eu próprio sinto muita raiva pelo que ela nos fez sofrer -, tanto melhor.
Vamos passar uma borracha no que aconteceu e recuperar o tempo perdido.
Emílie sorriu e tocou com suavidade o rosto de Ricardo:
- Também quero seguir com minha vida, mas não posso apagar o passado como você sugere.
Na verdade, o passado me ensinou multo e terei de recordá-lo por muito tempo.
- Então relembre o aprendizado, não os factos dolorosos.
Agora, Emílie, pegue suas coisas e vamos. Cíntia nos espera.
Sobrepondo-se à indecisão, a expectativa de rever a filha a fazia esquecer de tudo o mais.
Por fim, disse:
- Ainda acho que deveríamos conversar uma pouco mais antes...
- Não quero ficar longe de você nem mais um minuto.
Emílie, por favor, pegue as suas coisas e vamos embora.
- Calma, Ricardo, preciso falar com Miguel e com outros amigos que vieram de longe para celebrar comigo a reconquista da liberdade.
Não posso simplesmente deixá-los assim.
- No entanto, há algo mais em você que está diferente.
Emílie se levantou e caminhou em silêncio até a porta que dava para o jardim de inverno.
Depois voltou-se para o marido:
- Muita coisa mudou desde que nos vimos pela última vez, Ricardo.
Passei por experiências marcantes desde então.
- Eu sei, querida, foi tudo muito intenso.
- Intenso demais, Ricardo, muito além do que qualquer um pudesse supor.
Na verdade, os acontecimentos dos últimos meses transformaram minha vida e a maneira como a enxergava.
Eu mudei, Ricardo.
Passei a entender melhor o que se passava comigo.
Aprendi a perceber melhor as pessoas que estão minha volta e reconhecer-lhes as necessidades e os sentimentos.
Não é mais possível, para mim, ignorar certas realidades.
- Que está falando, Emílie?
Ela olhava o marido com ternura.
Estava indecisa: continuava ou aguardava outro momento?
Disse apenas:
- Acho que devemos conversar um pouco mais antes de eu ir com você para o hotel.
Precisa saber tudo o que se passou comigo...
Ricardo colocou o dedo em seus lábios, impedindo-a de prosseguir.
- Não importa o que tenha ocorrido com você, o quanto tenha mudado, suas experiências, nada me importa.
Cíntia precisa de você, e quero que venha comigo agora mesmo.
Mais tarde conversaremos sobre o que quiser...
Depois, Emílie, se você me perdoa, como disse, e se não guarda ressentimento de minha mãe - o que me surpreende, pois eu próprio sinto muita raiva pelo que ela nos fez sofrer -, tanto melhor.
Vamos passar uma borracha no que aconteceu e recuperar o tempo perdido.
Emílie sorriu e tocou com suavidade o rosto de Ricardo:
- Também quero seguir com minha vida, mas não posso apagar o passado como você sugere.
Na verdade, o passado me ensinou multo e terei de recordá-lo por muito tempo.
- Então relembre o aprendizado, não os factos dolorosos.
Agora, Emílie, pegue suas coisas e vamos. Cíntia nos espera.
Sobrepondo-se à indecisão, a expectativa de rever a filha a fazia esquecer de tudo o mais.
Por fim, disse:
- Ainda acho que deveríamos conversar uma pouco mais antes...
- Não quero ficar longe de você nem mais um minuto.
Emílie, por favor, pegue as suas coisas e vamos embora.
- Calma, Ricardo, preciso falar com Miguel e com outros amigos que vieram de longe para celebrar comigo a reconquista da liberdade.
Não posso simplesmente deixá-los assim.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Ricardo calou-se, contrariado.
Depois, esforçou-se para dizer, com meio sorriso nos lábios:
- De quanto tempo precisa?
Dez minutos, trinta minutos?
Estarei no carro.
Diante da insistência dele, Emílie aquiesceu, puxando-o pela mão:
- Não precisa esperar no carro.
Quero que conheça Miguel, Sara e todos os meus amigos.
Um tanto constrangido, Ricardo deixou-se conduzir por Emílie, que o apresentou a Miguel e aos outros.
Depois de curta conversa ele se despediu, dizendo à esposa que a aguardaria na carruagem.
Emílie despediu-se dos amigos com melancolia.
Sentia-se dividida entre a família e os companheiros de ideal.
Por fim, já à porta, confidenciou a Miguel:
- Vou com o coração apertado.
Estou confusa, não sei como explicar...
O facto é que sinto uma grande distância entre mim e Ricardo.
Tenho medo, Miguel.
- Não tema, Emílie.
Não pode se esconder da vida.
Precisa desatar cada um dos nós que a amarram ao passado e seguir com intrepidez pelo caminho que a conduz ao futuro luminoso.
Desate os nós, um a um, com paciência e perseverança.
Estarei sempre aqui, para o que for necessário.
Você é querida por todos nós.
Vá com Deus, minha filha, e confie Nele.
Emílie sorriu, um pouco mais encorajada, beijou-o suavemente na face e disse:
- Obrigada por tudo, Miguel.
Deus o abençoe pelo que tem feito por todos os que sofrem.
Não sei o que seria de mim sem sua ajuda.
Não sei o que teria sido de Lucrécia e Jairo sem seu amparo.
Obrigada, Miguel, obrigada...
Ela não pôde continuar.
Miguel enxugou-lhe as lágrimas e afirmou:
- Não tem de me agradecer, Emílie.
Estamos todos a serviço de nosso Mestre Jesus.
E é a Ele que temos tudo a agradecer.
Emílie sorriu.
Depois, esforçou-se para dizer, com meio sorriso nos lábios:
- De quanto tempo precisa?
Dez minutos, trinta minutos?
Estarei no carro.
Diante da insistência dele, Emílie aquiesceu, puxando-o pela mão:
- Não precisa esperar no carro.
Quero que conheça Miguel, Sara e todos os meus amigos.
Um tanto constrangido, Ricardo deixou-se conduzir por Emílie, que o apresentou a Miguel e aos outros.
Depois de curta conversa ele se despediu, dizendo à esposa que a aguardaria na carruagem.
Emílie despediu-se dos amigos com melancolia.
Sentia-se dividida entre a família e os companheiros de ideal.
Por fim, já à porta, confidenciou a Miguel:
- Vou com o coração apertado.
Estou confusa, não sei como explicar...
O facto é que sinto uma grande distância entre mim e Ricardo.
Tenho medo, Miguel.
- Não tema, Emílie.
Não pode se esconder da vida.
Precisa desatar cada um dos nós que a amarram ao passado e seguir com intrepidez pelo caminho que a conduz ao futuro luminoso.
Desate os nós, um a um, com paciência e perseverança.
Estarei sempre aqui, para o que for necessário.
Você é querida por todos nós.
Vá com Deus, minha filha, e confie Nele.
Emílie sorriu, um pouco mais encorajada, beijou-o suavemente na face e disse:
- Obrigada por tudo, Miguel.
Deus o abençoe pelo que tem feito por todos os que sofrem.
Não sei o que seria de mim sem sua ajuda.
Não sei o que teria sido de Lucrécia e Jairo sem seu amparo.
Obrigada, Miguel, obrigada...
Ela não pôde continuar.
Miguel enxugou-lhe as lágrimas e afirmou:
- Não tem de me agradecer, Emílie.
Estamos todos a serviço de nosso Mestre Jesus.
E é a Ele que temos tudo a agradecer.
Emílie sorriu.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Sabia que seria inútil insistir no agradecimento ao amigo e apenas disse:
- Que nosso Mestre, a quem você tanto ama, o abençoe.
Desceu as escadas procurando conter o pranto e entrou na carruagem ao lado do marido.
O carro partiu e ela ficou a observar a figura de Miguel, que aos poucos sumiu de sua visão.
Ricardo a abraçou e beijou apaixonadamente.
Entretanto, apesar da saudade e do carinho que nutria por ele, não conseguia retribuir-lhe na mesma intensidade.
Sentindo a esposa estranha, afastou-se e fitou-a, dizendo:
- Deve estar muito cansada, não, Emílie?
Pobrezinha... tanto sofrimento... tanta luta... - e aconchegou-a ao peito.
Venha, querida, descanse.
Vou cuidar de você e encontrar um modo de compensá-la pelo que sofreu.
Emílie abrigou-se nos braços fortes de Ricardo.
Entretanto, estava longe de sentir-se feliz como imaginara.
Enquanto a carruagem seguia, Emílie escutava o relato do marido acerca dos acontecimentos.
Então pediu-lhe que falasse mais sobre a filha.
Ricardo se empolgou falando de Cíntia e se emocionou ao mencionar os planos que tinha para o futuro da família.
Omitiu o facto de a menina ter sido enviada ao convento, ressaltando apenas o quanto ela se sentira infeliz com a ausência da mãe.
Emílie procurava acalmar a angústia que lhe tinha na alma dedicando toda a atenção às informações sobre a filha.
Quando a carruagem parou em frente ao hotel, ela quase não podia respirar, tal sua ansiedade.
Com o coração acelerado e sem poder disfarçar a emoção, tinha as mãos geladas e trémulas.
Ricardo a ajudou a descer e foi com esforço que conseguiram atravessar a multidão e chegar à porta de entrada.
Muitos curiosos, repórteres e populares se aglomeravam diante do prédio.
Entre a gritaria e o assédio do povo, Emílie e Ricardo alcançaram o saguão.
Emílie, com o número do quarto onde Cíntia a aguardava, no quinto andar, não se deteve um só minuto:
entregou ao marido a valise que trazia e subiu as escadas correndo.
Assim que chegou no corredor do quinto andar, apertou ainda mais o passo.
Uma porta se abriu e Cíntia correu ao encontro da mãe.
As duas se abraçaram e não controlaram as lágrimas:
- Eu sabia, mãe, eu sabia que você não tinha feito nada...
Emílie não tinha condição de responder.
As lágrimas desciam-lhe pela face e, embora tentasse conter-se, a emoção a impedia de dizer à filha tudo o que pensara durante aqueles meses de exílio.
Cíntia continuava:
- Senti tanto sua falta, mãe...
- Eu sei... Eu também senti - por fim Emílie balbuciou.
- Que nosso Mestre, a quem você tanto ama, o abençoe.
Desceu as escadas procurando conter o pranto e entrou na carruagem ao lado do marido.
O carro partiu e ela ficou a observar a figura de Miguel, que aos poucos sumiu de sua visão.
Ricardo a abraçou e beijou apaixonadamente.
Entretanto, apesar da saudade e do carinho que nutria por ele, não conseguia retribuir-lhe na mesma intensidade.
Sentindo a esposa estranha, afastou-se e fitou-a, dizendo:
- Deve estar muito cansada, não, Emílie?
Pobrezinha... tanto sofrimento... tanta luta... - e aconchegou-a ao peito.
Venha, querida, descanse.
Vou cuidar de você e encontrar um modo de compensá-la pelo que sofreu.
Emílie abrigou-se nos braços fortes de Ricardo.
Entretanto, estava longe de sentir-se feliz como imaginara.
Enquanto a carruagem seguia, Emílie escutava o relato do marido acerca dos acontecimentos.
Então pediu-lhe que falasse mais sobre a filha.
Ricardo se empolgou falando de Cíntia e se emocionou ao mencionar os planos que tinha para o futuro da família.
Omitiu o facto de a menina ter sido enviada ao convento, ressaltando apenas o quanto ela se sentira infeliz com a ausência da mãe.
Emílie procurava acalmar a angústia que lhe tinha na alma dedicando toda a atenção às informações sobre a filha.
Quando a carruagem parou em frente ao hotel, ela quase não podia respirar, tal sua ansiedade.
Com o coração acelerado e sem poder disfarçar a emoção, tinha as mãos geladas e trémulas.
Ricardo a ajudou a descer e foi com esforço que conseguiram atravessar a multidão e chegar à porta de entrada.
Muitos curiosos, repórteres e populares se aglomeravam diante do prédio.
Entre a gritaria e o assédio do povo, Emílie e Ricardo alcançaram o saguão.
Emílie, com o número do quarto onde Cíntia a aguardava, no quinto andar, não se deteve um só minuto:
entregou ao marido a valise que trazia e subiu as escadas correndo.
Assim que chegou no corredor do quinto andar, apertou ainda mais o passo.
Uma porta se abriu e Cíntia correu ao encontro da mãe.
As duas se abraçaram e não controlaram as lágrimas:
- Eu sabia, mãe, eu sabia que você não tinha feito nada...
Emílie não tinha condição de responder.
As lágrimas desciam-lhe pela face e, embora tentasse conter-se, a emoção a impedia de dizer à filha tudo o que pensara durante aqueles meses de exílio.
Cíntia continuava:
- Senti tanto sua falta, mãe...
- Eu sei... Eu também senti - por fim Emílie balbuciou.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Cíntia colocou as mãozinhas no rosto da mãe e, limpando as lágrimas que caíam, disse:
- Você está diferente, mãe, está mais bonita do que antes...
Seu cabelo ficou lindo, escuro e mais curto.
Apertando ainda mais o abraço, Emílie respondeu:
- Você gostou mesmo, filha?
- Muito!
- Então vou deixá-lo assim para sempre...
- Gosto de você de qualquer jeito, mãe - afirmou a menina, sorrindo.
Emílie e Cíntia permaneceram sentadas no chão do corredor, sob os olhares pasmados de outros hóspedes, até que Ricardo subiu e as levou para o quarto.
Os três passaram longo tempo em alegre e descontraída conversação.
Cíntia queria saber tudo o que acontecera com a mãe e, a despeito de sentir desconforto com as minúcias das experiências vividas pela esposa, Ricardo sorria, esforçando-se por encarar tudo com naturalidade.
Cíntia, por sua vez, também contou à mãe o que fizera em sua ausência, demonstrando carinho especial pelas tardes em que visitara o orfanato com Fernando.
Emílie se interessou muito pelas actividades da filha no orfanato e lhe garantiu que iriam juntas ver as crianças, logo que tudo estivesse mais organizado em suas vidas.
Já era tarde da noite quando finalmente Cíntia adormeceu vencida pelo cansaço.
Emílie colocou-a na cama e a observava com ternura, quando Ricardo, puxando-a pelas mãos, pediu:
- Precisamos conversar Emílie.
- Não podemos falar amanhã, Ricardo?
Estou cansada...
- Acho melhor conversarmos enquanto Cíntia dorme.
Emílie se sentou na poltrona e, sorrindo, deixou que ele começasse:
- Querida, compreendo que passou por experiências estranhas e muito impressionantes.
Da mesma forma, entendo que queira dedicar tempo a Cíntia e fazer tudo por ela.
Sei quanto a ama. Porém há coisas que não são adequadas para nossa filha.
- Por exemplo...
- Por exemplo, falar desses fenómenos sobrenaturais que você viveu.
É evidente que estava sob forte pressão emocional e tudo pode ter sido fruto desse estado.
Ele fez uma pausa e Emílie permaneceu calada, olhando séria para o marido, que prosseguiu:
- Outra coisa:
não gostaria de ver as duas enfiadas no orfanato.
Fernando está preso, e é uma fraude.
Não as quero envolvidas em nada que se relacione com ele.
Esse homem prejudicou sua vida!
Acho até que deveriam fechar esse orfanato e acabar de vez com essa iniciativa ridícula de um padre de mentira!
Emílie fitou o marido, profundamente entristecida.
Ouvindo-o, percebia com nitidez o abismo que havia entre eles.
Reflectiu que Ricardo não poderia compreendê-la nem aceitá-la.
Agora pertenciam a mundos diferentes.
- Você está diferente, mãe, está mais bonita do que antes...
Seu cabelo ficou lindo, escuro e mais curto.
Apertando ainda mais o abraço, Emílie respondeu:
- Você gostou mesmo, filha?
- Muito!
- Então vou deixá-lo assim para sempre...
- Gosto de você de qualquer jeito, mãe - afirmou a menina, sorrindo.
Emílie e Cíntia permaneceram sentadas no chão do corredor, sob os olhares pasmados de outros hóspedes, até que Ricardo subiu e as levou para o quarto.
Os três passaram longo tempo em alegre e descontraída conversação.
Cíntia queria saber tudo o que acontecera com a mãe e, a despeito de sentir desconforto com as minúcias das experiências vividas pela esposa, Ricardo sorria, esforçando-se por encarar tudo com naturalidade.
Cíntia, por sua vez, também contou à mãe o que fizera em sua ausência, demonstrando carinho especial pelas tardes em que visitara o orfanato com Fernando.
Emílie se interessou muito pelas actividades da filha no orfanato e lhe garantiu que iriam juntas ver as crianças, logo que tudo estivesse mais organizado em suas vidas.
Já era tarde da noite quando finalmente Cíntia adormeceu vencida pelo cansaço.
Emílie colocou-a na cama e a observava com ternura, quando Ricardo, puxando-a pelas mãos, pediu:
- Precisamos conversar Emílie.
- Não podemos falar amanhã, Ricardo?
Estou cansada...
- Acho melhor conversarmos enquanto Cíntia dorme.
Emílie se sentou na poltrona e, sorrindo, deixou que ele começasse:
- Querida, compreendo que passou por experiências estranhas e muito impressionantes.
Da mesma forma, entendo que queira dedicar tempo a Cíntia e fazer tudo por ela.
Sei quanto a ama. Porém há coisas que não são adequadas para nossa filha.
- Por exemplo...
- Por exemplo, falar desses fenómenos sobrenaturais que você viveu.
É evidente que estava sob forte pressão emocional e tudo pode ter sido fruto desse estado.
Ele fez uma pausa e Emílie permaneceu calada, olhando séria para o marido, que prosseguiu:
- Outra coisa:
não gostaria de ver as duas enfiadas no orfanato.
Fernando está preso, e é uma fraude.
Não as quero envolvidas em nada que se relacione com ele.
Esse homem prejudicou sua vida!
Acho até que deveriam fechar esse orfanato e acabar de vez com essa iniciativa ridícula de um padre de mentira!
Emílie fitou o marido, profundamente entristecida.
Ouvindo-o, percebia com nitidez o abismo que havia entre eles.
Reflectiu que Ricardo não poderia compreendê-la nem aceitá-la.
Agora pertenciam a mundos diferentes.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Quando ele silenciou, ela perguntou:
- E o que é que as crianças órfãs têm a ver com os desencontros de Fernando, ou com os problemas que porventura ele tenha criado?
Que culpa tem elas?
Deveriam ser abandonadas por causa do erro de outrem?
Ligeiramente desconcertado, ele disse:
- Não, claro que não, acho que devem ser transferidas para outro orfanato, mais estruturado.
- Entendo.
Ele se ajoelhou aos pés da esposa e, segurando suas mãos, disse:
- Emílie, minha doce e querida Emílie, vamos apagar tudo o que vivemos nesses últimos e terríveis meses, vamos esquecer tudo.
Comecemos de onde paramos, antes de...
- Antes do que, Ricardo?
A que ponto de nossa vida você gostaria de retroceder?
Ele se levantou, caminhou até a janela e, virando-se, falou:
- Quero ser feliz com você, Emílie.
Fizemos tantos planos...
Tivemos tantos sonhos juntos...
Quero que eles se realizem, só isso.
Emílie insistiu:
- Diga-me, Ricardo, a que ponto gostaria de retomar?
- Quando nos conhecemos tudo prometia ser maravilhoso.
- E foi, Ricardo. Mas não podemos interromper a vida.
Ela é dinâmica e se renova todos os dias.
Hoje já não somos o que fomos ontem e amanhã seremos diferentes.
Tudo se transforma, muda enfim, progride.
Não podemos impedir o progresso. É a lei da vida.
Ricardo estava sério e atento.
Emílie continuou:
- As experiências que eu vivi transformaram minha vida, e não posso fingir que não aconteceram.
- Não peço isso.
Sei que você amadureceu através delas.
- É muito mais do que isso, Ricardo, não percebe?
- Percebo que a amo, Emílie, que quero construir tudo aquilo que sonhamos e desejamos.
Quero ter outros filhos com você, fortalecer nossa família...
- E a sua família?
O semblante de Ricardo se fechou, deixando transparecer a irritação que o rumo da conversa lhe causava.
- Esqueçamos minha família.
Vou comprar uma casa para nós em outro lugar qualquer que você prefira.
Diga-me, onde quer morar?
Qual casa deseja ter?
- E o que é que as crianças órfãs têm a ver com os desencontros de Fernando, ou com os problemas que porventura ele tenha criado?
Que culpa tem elas?
Deveriam ser abandonadas por causa do erro de outrem?
Ligeiramente desconcertado, ele disse:
- Não, claro que não, acho que devem ser transferidas para outro orfanato, mais estruturado.
- Entendo.
Ele se ajoelhou aos pés da esposa e, segurando suas mãos, disse:
- Emílie, minha doce e querida Emílie, vamos apagar tudo o que vivemos nesses últimos e terríveis meses, vamos esquecer tudo.
Comecemos de onde paramos, antes de...
- Antes do que, Ricardo?
A que ponto de nossa vida você gostaria de retroceder?
Ele se levantou, caminhou até a janela e, virando-se, falou:
- Quero ser feliz com você, Emílie.
Fizemos tantos planos...
Tivemos tantos sonhos juntos...
Quero que eles se realizem, só isso.
Emílie insistiu:
- Diga-me, Ricardo, a que ponto gostaria de retomar?
- Quando nos conhecemos tudo prometia ser maravilhoso.
- E foi, Ricardo. Mas não podemos interromper a vida.
Ela é dinâmica e se renova todos os dias.
Hoje já não somos o que fomos ontem e amanhã seremos diferentes.
Tudo se transforma, muda enfim, progride.
Não podemos impedir o progresso. É a lei da vida.
Ricardo estava sério e atento.
Emílie continuou:
- As experiências que eu vivi transformaram minha vida, e não posso fingir que não aconteceram.
- Não peço isso.
Sei que você amadureceu através delas.
- É muito mais do que isso, Ricardo, não percebe?
- Percebo que a amo, Emílie, que quero construir tudo aquilo que sonhamos e desejamos.
Quero ter outros filhos com você, fortalecer nossa família...
- E a sua família?
O semblante de Ricardo se fechou, deixando transparecer a irritação que o rumo da conversa lhe causava.
- Esqueçamos minha família.
Vou comprar uma casa para nós em outro lugar qualquer que você prefira.
Diga-me, onde quer morar?
Qual casa deseja ter?
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Desta vez, vamos fazer tudo como você desejar.
Admito que errei ao insistir que vivêssemos perto de meus familiares.
Sei que eles não a aceitaram e isso a magoou muito, reconheço.
Emílie, sei que errei, por isso peço que recomecemos.
Sei que não vai mais querer ver minha família...
- Não é propriamente isso que me preocupa.
- Então o que é?
Ela o fitou longamente, buscando as palavras para prosseguir:
- Não sei se você vai me querer como sou, ou melhor, como me reconheci depois de tudo o que houve.
Eu mudei, Ricardo, descobri muitas coisas e factos a meu respeito que dão novo significado e outra direcção à minha vida.
E não sei se você vai me aceitar como sou agora.
- Daremos um jeito, vamos encontrar a maneira...
- E concordará que eu vá com Cíntia ao orfanato?
- O que tem uma coisa a ver com a outra?
Dessa vez foi Emílie que se ergueu e suspirou fundo enquanto caminhava, dizendo:
- Vê como é difícil nos compreendermos?
O que é importante para mim pode não ter interesse algum para você.
Como vamos conviver assim?
- Encontraremos um modo, mas você não precisa ir ao orfanato...
- Não é só o orfanato, é tudo.
Meus hábitos agora são diferentes, minhas aspirações também.
- Não quer mais ser minha esposa?
Encontrou outra pessoa, apaixonou-se e não quer me contar, é isso?
É esse tal Miguel? Vocês se envolveram?
- Não é nada disso, Ricardo.
Claro que quero continuar a ser sua esposa, amo você.
Quero minha família, com certeza, porém...
Hoje existem outras coisas importantes para mim.
Tão importantes quanto você e Cíntia.
Ricardo ameaçou responder, quando a menina apareceu na sala, pedindo:
- Vem dormir comigo, mãe?
Faz tanto tempo que não dormimos juntas...
Abraçando-a com ternura, Emílie olhou para Ricardo e disse:
- Claro, querida.
Seu pai e eu temos muito que conversar, mas faremos isso mais tarde, não é, Ricardo?
- Sem dúvida. Vão descansar.
As duas merecem.
Emílie sorriu agradecida e acompanhou a filha até a cama.
Admito que errei ao insistir que vivêssemos perto de meus familiares.
Sei que eles não a aceitaram e isso a magoou muito, reconheço.
Emílie, sei que errei, por isso peço que recomecemos.
Sei que não vai mais querer ver minha família...
- Não é propriamente isso que me preocupa.
- Então o que é?
Ela o fitou longamente, buscando as palavras para prosseguir:
- Não sei se você vai me querer como sou, ou melhor, como me reconheci depois de tudo o que houve.
Eu mudei, Ricardo, descobri muitas coisas e factos a meu respeito que dão novo significado e outra direcção à minha vida.
E não sei se você vai me aceitar como sou agora.
- Daremos um jeito, vamos encontrar a maneira...
- E concordará que eu vá com Cíntia ao orfanato?
- O que tem uma coisa a ver com a outra?
Dessa vez foi Emílie que se ergueu e suspirou fundo enquanto caminhava, dizendo:
- Vê como é difícil nos compreendermos?
O que é importante para mim pode não ter interesse algum para você.
Como vamos conviver assim?
- Encontraremos um modo, mas você não precisa ir ao orfanato...
- Não é só o orfanato, é tudo.
Meus hábitos agora são diferentes, minhas aspirações também.
- Não quer mais ser minha esposa?
Encontrou outra pessoa, apaixonou-se e não quer me contar, é isso?
É esse tal Miguel? Vocês se envolveram?
- Não é nada disso, Ricardo.
Claro que quero continuar a ser sua esposa, amo você.
Quero minha família, com certeza, porém...
Hoje existem outras coisas importantes para mim.
Tão importantes quanto você e Cíntia.
Ricardo ameaçou responder, quando a menina apareceu na sala, pedindo:
- Vem dormir comigo, mãe?
Faz tanto tempo que não dormimos juntas...
Abraçando-a com ternura, Emílie olhou para Ricardo e disse:
- Claro, querida.
Seu pai e eu temos muito que conversar, mas faremos isso mais tarde, não é, Ricardo?
- Sem dúvida. Vão descansar.
As duas merecem.
Emílie sorriu agradecida e acompanhou a filha até a cama.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Aconchegando Cíntia em seu abraço, tentou conciliar o sono, no entanto, não conseguia.
De quando em quando olhava o rosto tranquilo da filha, dormindo ao seu lado, e então repetia baixinho:
- Obrigada, meu Deus, obrigada por ter outra vez minha filha ao meu lado...
Os dias que se seguiram foram de alegria e prazer.
Emílie desfrutava a companhia doce e amorosa de Cíntia, pela qual tanto ansiara.
De Ricardo recebia cuidados constantes e mimos diários.
Ele, que se sentia culpado e indirectamente responsável pelas dolorosas experiências vividas pela esposa, desdobrava-se em gentilezas.
Nunca antes fora tão preocupado e dedicado para com a esposa.
Encheu-a de presentes caros:
roupas, jóias, livros, quadros e outros objectos de arte, embora Emílie insistisse que ele não lhe desse nada, intimamente apreciava o bem-estar e o estilo devida que voltava a ter.
Além do mais, ser o centro das atenções despertava nela profunda satisfação, da qual nem se dava conta.
De tudo, o que mais apreciava eram as tardes frias, sentada defronte à lareira, em longas conversas com Cíntia.
Vez por outra, Emílie tentava falar com Ricardo sobre as questões que havia descoberto, entretanto, ao perceber que a conversa ia enveredar por temas espirituais, o marido logo suscitava algum assunto interessante e agradável, atraindo a atenção da esposa para a casa que estavam prestes a comprar, os detalhes da decoração que em breve começariam a escolher e outras amenidades.
Duas semanas já se haviam escoado desde que Emílie deixara a casa de Miguel.
Este, sempre cortês, enviou pequena carta pedindo notícias da amiga, e junto a nova edição da Revista Espírita, que acabara de chegar.
Quando recebeu o bilhete, com cuidado o dobrou e colocou dentro da revista.
Ricardo, ao ver a esposa lendo o bilhete e depois folheando a revista, perguntou:
- Algum admirador?
- Claro que não.
É de Miguel, que sempre se preocupa comigo.
Ricardo se aproximou e, tomando a revista das mãos da esposa, folheou-a indiferente.
Ao devolvê-la, disse:
- Não passam de bobagens, tolices!
Ninguém pode falar com os mortos.
Os que se foram jamais poderão comunicar-se.
Isso tudo é mentira...
Emílie fechou a revista e, apertando-a entre as mãos, interrompeu o marido:
- Ricardo, você realmente não me escuta!
Já disse que nada disso é tolice.
Eu sou a prova, pois senti na pele tudo o que ensina o Espiritismo.
Aliás, graças aos ensinamentos espíritas é que hoje estou aqui.
E foi unicamente pela ajuda que recebi através de adeptos do Espiritismo que pude permanecer viva...
Foi a vez de Ricardo a interromper:
- Está bem, não vamos discutir.
Não quero mais brigar com você.
Se quiser continuar a ler essas coisas, não sou eu quem vai impedir.
De quando em quando olhava o rosto tranquilo da filha, dormindo ao seu lado, e então repetia baixinho:
- Obrigada, meu Deus, obrigada por ter outra vez minha filha ao meu lado...
Os dias que se seguiram foram de alegria e prazer.
Emílie desfrutava a companhia doce e amorosa de Cíntia, pela qual tanto ansiara.
De Ricardo recebia cuidados constantes e mimos diários.
Ele, que se sentia culpado e indirectamente responsável pelas dolorosas experiências vividas pela esposa, desdobrava-se em gentilezas.
Nunca antes fora tão preocupado e dedicado para com a esposa.
Encheu-a de presentes caros:
roupas, jóias, livros, quadros e outros objectos de arte, embora Emílie insistisse que ele não lhe desse nada, intimamente apreciava o bem-estar e o estilo devida que voltava a ter.
Além do mais, ser o centro das atenções despertava nela profunda satisfação, da qual nem se dava conta.
De tudo, o que mais apreciava eram as tardes frias, sentada defronte à lareira, em longas conversas com Cíntia.
Vez por outra, Emílie tentava falar com Ricardo sobre as questões que havia descoberto, entretanto, ao perceber que a conversa ia enveredar por temas espirituais, o marido logo suscitava algum assunto interessante e agradável, atraindo a atenção da esposa para a casa que estavam prestes a comprar, os detalhes da decoração que em breve começariam a escolher e outras amenidades.
Duas semanas já se haviam escoado desde que Emílie deixara a casa de Miguel.
Este, sempre cortês, enviou pequena carta pedindo notícias da amiga, e junto a nova edição da Revista Espírita, que acabara de chegar.
Quando recebeu o bilhete, com cuidado o dobrou e colocou dentro da revista.
Ricardo, ao ver a esposa lendo o bilhete e depois folheando a revista, perguntou:
- Algum admirador?
- Claro que não.
É de Miguel, que sempre se preocupa comigo.
Ricardo se aproximou e, tomando a revista das mãos da esposa, folheou-a indiferente.
Ao devolvê-la, disse:
- Não passam de bobagens, tolices!
Ninguém pode falar com os mortos.
Os que se foram jamais poderão comunicar-se.
Isso tudo é mentira...
Emílie fechou a revista e, apertando-a entre as mãos, interrompeu o marido:
- Ricardo, você realmente não me escuta!
Já disse que nada disso é tolice.
Eu sou a prova, pois senti na pele tudo o que ensina o Espiritismo.
Aliás, graças aos ensinamentos espíritas é que hoje estou aqui.
E foi unicamente pela ajuda que recebi através de adeptos do Espiritismo que pude permanecer viva...
Foi a vez de Ricardo a interromper:
- Está bem, não vamos discutir.
Não quero mais brigar com você.
Se quiser continuar a ler essas coisas, não sou eu quem vai impedir.
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Com o tempo você vai perceber que tudo isso foi apenas fruto das experiências dolorosas que passou.
Tudo psicológico, Emílie, tudo de sua cabeça.
Mas vou deixar que faça o que for melhor para você.
Emílie olhava firme para o esposo, buscando identificar suas reais intenções.
Aproximou-se, beijou-lhe suavemente a face e indagou:
- Então não se incomoda que eu vá até a casa de Miguel, de vez em quando?
- Com que finalidade?
- Ele tem um centro de estudos do Espiritismo e sei que posso ser útil durante essas reuniões.
- Emílie, veja bem o que está pedindo.
Estamos iniciando vida nova.
Você já sofreu tanto...
Teve de se envolver nisso para poder sair de uma situação difícil em que foi colocada.
Agora está livre, pronta para recomeçar.
Temos tudo a nosso favor.
Convenci meu pai a deixar sob minha exclusiva responsabilidade uma das empresas e, assim, não mais precisaremos nos preocupar com o futuro, mesmo o contacto com minha família ficará restrito a reuniões de negócios, até que todas as chagas cicatrizem.
Agora precisa me ajudar.
Se voltar a se envolver com essa... essa... essa heresia, vai ser mais complicado!
Considere que minha família é influente e, embora meu pai concorde em nos deixar seguir nosso rumo, não posso afrontá-lo a toda hora.
Temos de serem discretos, sóbrios e conscienciosos, até que toda a situação caia no esquecimento; e daí poderemos, afinal, ocupar de novo o lugar que nos cabe na sociedade.
- Você realmente não compreende.
Ricardo pegou a mão esquerda da esposa e beijou o dedo onde estava a aliança, dizendo:
- Não está feliz?
Vejo nos seus olhos a alegria que sente por estar em paz com nossa filha, com nossos planos para o futuro.
Pode negar?
- Não, Ricardo, não vou mentir para você.
Estou imensamente feliz por tudo o que vem acontecendo.
Ter minha vida de volta era meu maior desejo, mas... não é suficiente.
Abraçando-a apertado, Ricardo encerrou o assunto:
- É claro que não é suficiente!
Precisamos trazer alguns irmãos para Cíntia!
É disso que você sente falta, mais crianças nos trarão maior alegria e encherão nossa casa, e sua vida também!
Quando Emílie tentou esclarecer ao marido o que lhe ia na alma, Ricardo puxou-a para a ante-sala e depositou um molho de chaves em suas mãos:
- Aqui estão, querida: as chaves de nossa casa.
Surpresa, Emílie abriu largo sorriso e perguntou:
- Você conseguiu mesmo aquela casa linda e agradável, fora da cidade?
Ajoelhando-se diante da esposa, ele gracejou:
- Claro! Seu desejo, por menor que seja, é uma ordem, senhora!
Tudo psicológico, Emílie, tudo de sua cabeça.
Mas vou deixar que faça o que for melhor para você.
Emílie olhava firme para o esposo, buscando identificar suas reais intenções.
Aproximou-se, beijou-lhe suavemente a face e indagou:
- Então não se incomoda que eu vá até a casa de Miguel, de vez em quando?
- Com que finalidade?
- Ele tem um centro de estudos do Espiritismo e sei que posso ser útil durante essas reuniões.
- Emílie, veja bem o que está pedindo.
Estamos iniciando vida nova.
Você já sofreu tanto...
Teve de se envolver nisso para poder sair de uma situação difícil em que foi colocada.
Agora está livre, pronta para recomeçar.
Temos tudo a nosso favor.
Convenci meu pai a deixar sob minha exclusiva responsabilidade uma das empresas e, assim, não mais precisaremos nos preocupar com o futuro, mesmo o contacto com minha família ficará restrito a reuniões de negócios, até que todas as chagas cicatrizem.
Agora precisa me ajudar.
Se voltar a se envolver com essa... essa... essa heresia, vai ser mais complicado!
Considere que minha família é influente e, embora meu pai concorde em nos deixar seguir nosso rumo, não posso afrontá-lo a toda hora.
Temos de serem discretos, sóbrios e conscienciosos, até que toda a situação caia no esquecimento; e daí poderemos, afinal, ocupar de novo o lugar que nos cabe na sociedade.
- Você realmente não compreende.
Ricardo pegou a mão esquerda da esposa e beijou o dedo onde estava a aliança, dizendo:
- Não está feliz?
Vejo nos seus olhos a alegria que sente por estar em paz com nossa filha, com nossos planos para o futuro.
Pode negar?
- Não, Ricardo, não vou mentir para você.
Estou imensamente feliz por tudo o que vem acontecendo.
Ter minha vida de volta era meu maior desejo, mas... não é suficiente.
Abraçando-a apertado, Ricardo encerrou o assunto:
- É claro que não é suficiente!
Precisamos trazer alguns irmãos para Cíntia!
É disso que você sente falta, mais crianças nos trarão maior alegria e encherão nossa casa, e sua vida também!
Quando Emílie tentou esclarecer ao marido o que lhe ia na alma, Ricardo puxou-a para a ante-sala e depositou um molho de chaves em suas mãos:
- Aqui estão, querida: as chaves de nossa casa.
Surpresa, Emílie abriu largo sorriso e perguntou:
- Você conseguiu mesmo aquela casa linda e agradável, fora da cidade?
Ajoelhando-se diante da esposa, ele gracejou:
- Claro! Seu desejo, por menor que seja, é uma ordem, senhora!
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Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
Sem coragem de retomar ao assunto que a incomodava, Emílie deixou-se invadir pela satisfação do momento.
Nas semanas que se seguiram, Ricardo manteve a esposa inteiramente ocupada com os preparativos para a mudança, e finalmente entraram os três na casa nova e confortável, decorada ao gosto de Emílie.
Contudo, na primeira noite que passariam na casa, ao se deitar Emílie sentiu um medo inesperado que tirou a alegria de seu coração.
Ricardo notou que a esposa se revirava na cama, sem poder dormir, e perguntou:
- Não está feliz, querida?
- Claro que estou, Ricardo.
- E qual é o problema?
Por que não consegue dormir?
A casa não ficou como você queria?
- Tudo está perfeito.
Você sabe que sempre desejei uma casa assim, num lugar mais tranquilo.
- Então o que a aflige?
Foram as últimas notícias sobre o processo que a perturbaram?
Pois direi ao nosso advogado que não venha mais discutir essas questões connosco.
Pedirei que vá à fábrica e resolverei tudo por lá.
Sei que o assunto ainda a aborrece, tudo é muito recente e deve causar-lhe incómodo, ainda assim, tem de entender que meu pai vai inocentar a própria família.
Emílie permaneceu em silêncio.
Ricardo prosseguiu:
- Não precisa se chatear.
Foi você mesma quem afirmou que não queria vingar-se, que apesar de não poder conviver com eles, não desejava vingança.
- E não desejo.
Que Deus faça a justiça conforme Ele quiser.
Todos pagam pelos seus erros, Ricardo, cedo ou tarde, aqui ou na vida depois da morte, todos...
De repente ela parou e arregalou os olhos, em pânico.
- O que foi, Emílie, o que foi? - perguntou Ricardo, espantado.
- São eles.
- Eles quem? Meus pais?
- Não. Eles. Outra vez!
- Quem, Emílie?
Do que está falando?
- Por favor, não!
- Emílie, o que está havendo?
Emílie encolheu-se na cama, apavorada, enquanto os inimigos espirituais que de há muito a perseguiam se aproximavam.
Nas semanas que se seguiram, Ricardo manteve a esposa inteiramente ocupada com os preparativos para a mudança, e finalmente entraram os três na casa nova e confortável, decorada ao gosto de Emílie.
Contudo, na primeira noite que passariam na casa, ao se deitar Emílie sentiu um medo inesperado que tirou a alegria de seu coração.
Ricardo notou que a esposa se revirava na cama, sem poder dormir, e perguntou:
- Não está feliz, querida?
- Claro que estou, Ricardo.
- E qual é o problema?
Por que não consegue dormir?
A casa não ficou como você queria?
- Tudo está perfeito.
Você sabe que sempre desejei uma casa assim, num lugar mais tranquilo.
- Então o que a aflige?
Foram as últimas notícias sobre o processo que a perturbaram?
Pois direi ao nosso advogado que não venha mais discutir essas questões connosco.
Pedirei que vá à fábrica e resolverei tudo por lá.
Sei que o assunto ainda a aborrece, tudo é muito recente e deve causar-lhe incómodo, ainda assim, tem de entender que meu pai vai inocentar a própria família.
Emílie permaneceu em silêncio.
Ricardo prosseguiu:
- Não precisa se chatear.
Foi você mesma quem afirmou que não queria vingar-se, que apesar de não poder conviver com eles, não desejava vingança.
- E não desejo.
Que Deus faça a justiça conforme Ele quiser.
Todos pagam pelos seus erros, Ricardo, cedo ou tarde, aqui ou na vida depois da morte, todos...
De repente ela parou e arregalou os olhos, em pânico.
- O que foi, Emílie, o que foi? - perguntou Ricardo, espantado.
- São eles.
- Eles quem? Meus pais?
- Não. Eles. Outra vez!
- Quem, Emílie?
Do que está falando?
- Por favor, não!
- Emílie, o que está havendo?
Emílie encolheu-se na cama, apavorada, enquanto os inimigos espirituais que de há muito a perseguiam se aproximavam.
Ave sem Ninho- Mensagens : 126028
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal
Re: Série Lúcius - RENASCER DA ESPERANÇA / Sandra Carneiro
O mais agressivo disse:
- Sábias palavras.
Todos pagam pelos seus erros...
E você não é melhor do que ninguém!
Não pense que vai escapar.
Emílie baixou a cabeça e começou a orar, pedindo ajuda.
Ricardo, assustado, não tinha a menor noção do que se passava.
As entidades se achegavam mais e mais ao rosto de Emílie, uma delas empunhando um cutelo afiado.
A moça, percebendo que cada vez estavam mais perto, não ousava erguer a cabeça e orava sem cessar.
De súbito, deixou de sentir a presença dos espíritos.
Abriu os olhos e viu que haviam desaparecido e que Cíntia estava de pé, na porta do quarto.
Ainda amedrontada, perguntou à filha:
- O que faz aqui, querida?
- Vim ver se precisava de mim.
Emílie notou que da menina resplandecia suave luz.
Ricardo olhava para a esposa muito assustado.
Ao perceber que o marido não via a filha, ela compreendeu que Cíntia não estava ali fisicamente, e sim com seu corpo espiritual.
Então disse:
- Estou bem, querida, pode voltar.
Você já me ajudou, obrigada.
Cíntia retirou-se, obediente, enquanto Ricardo se sentou na beira da cama, aflito:
- Meu Deus, Emílie, o que é isso?
Vai começar tudo de novo?
Todas aquelas crises, aquelas atitudes anormais?
Ainda sob forte impressão, Emílie procurou acalmar-se e disse:
- Preciso ir às reuniões, Ricardo.
Extremamente irritado, ele ergueu a voz:
- De forma alguma!
Não vou permitir que faça parte desses grupos de feitiçaria!
Não quero! Seu lugar é aqui, junto de mim e de Cíntia.
Não admito que fique por aí! Tem responsabilidades.
Tenho feito o melhor que posso, mas parece que você quer sempre mais.
Emílie se calou.
Ajeitou-se na cama e tentou dormir.
Ricardo, sem saber o que fazer, levantou-se e andou pela casa remexendo papéis e caixas, quase até o amanhecer.
Nos dias que se seguiram Emílie passou a ter pensamentos sombrios e receios de todo tipo.
- Sábias palavras.
Todos pagam pelos seus erros...
E você não é melhor do que ninguém!
Não pense que vai escapar.
Emílie baixou a cabeça e começou a orar, pedindo ajuda.
Ricardo, assustado, não tinha a menor noção do que se passava.
As entidades se achegavam mais e mais ao rosto de Emílie, uma delas empunhando um cutelo afiado.
A moça, percebendo que cada vez estavam mais perto, não ousava erguer a cabeça e orava sem cessar.
De súbito, deixou de sentir a presença dos espíritos.
Abriu os olhos e viu que haviam desaparecido e que Cíntia estava de pé, na porta do quarto.
Ainda amedrontada, perguntou à filha:
- O que faz aqui, querida?
- Vim ver se precisava de mim.
Emílie notou que da menina resplandecia suave luz.
Ricardo olhava para a esposa muito assustado.
Ao perceber que o marido não via a filha, ela compreendeu que Cíntia não estava ali fisicamente, e sim com seu corpo espiritual.
Então disse:
- Estou bem, querida, pode voltar.
Você já me ajudou, obrigada.
Cíntia retirou-se, obediente, enquanto Ricardo se sentou na beira da cama, aflito:
- Meu Deus, Emílie, o que é isso?
Vai começar tudo de novo?
Todas aquelas crises, aquelas atitudes anormais?
Ainda sob forte impressão, Emílie procurou acalmar-se e disse:
- Preciso ir às reuniões, Ricardo.
Extremamente irritado, ele ergueu a voz:
- De forma alguma!
Não vou permitir que faça parte desses grupos de feitiçaria!
Não quero! Seu lugar é aqui, junto de mim e de Cíntia.
Não admito que fique por aí! Tem responsabilidades.
Tenho feito o melhor que posso, mas parece que você quer sempre mais.
Emílie se calou.
Ajeitou-se na cama e tentou dormir.
Ricardo, sem saber o que fazer, levantou-se e andou pela casa remexendo papéis e caixas, quase até o amanhecer.
Nos dias que se seguiram Emílie passou a ter pensamentos sombrios e receios de todo tipo.
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