LUZ ESPÍRITA
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O que é a Doutrina

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 01, 2012 10:08 am

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Sabe-se que os Espíritos, por força da diferença existente em suas capacidades, estão longe de estar individualmente na posse de toda a verdade;
que nem a todos é dado penetrar certos mistérios;

que seu saber é proporcional à sua depuração;
que os Espíritos vulgares não sabem mais que os homens e até menos que certos homens;

que entre eles, como entre estes, há presunçosos e pseudo-sábios, que crêem saber o que não sabem, sistemáticos que tomam suas verdades;
enfim, que os Espíritos de ordem mais elevada, os que estão completamente desmaterializados, são os únicos despojados das ideias e preconceitos terrenos.


Mas sabe-se, também, que os Espíritos enganadores não tem escrúpulo em esconder-se sob nomes de empréstimo, para fazerem aceitas as suas utopias.

Disso resulta que, para tudo quanto esteja fora do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um pode obter tem um carácter individual sem autenticidade.

Que devem ser consideradas como opinião pessoais de tal ou qual Espírito, e que seria imprudente aceitá-las e promulgá-las levianamente como verdades absolutas.

O primeiro controle é, sem sombra de dúvida, o da razão, à qual é preciso submeter, sem excepção, tudo quanto vem dos Espíritos.

Toda teoria em manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos que se possuem, por mais respeitável que seja a sua assinatura, deve ser rejeitada.

Mas esse controle é incompleto em muitos casos, por força da insuficiência das luzes de certas pessoas e da tendência de muitos a tomar seu próprio julgamento por único árbitro da verdade.

Em tal caso, que fazem os homens que não tem absoluta confiança em si próprios?

Seguem a opinião do maior número e a opinião da maioria é o seu guia.
Assim deve ser a respeito do ensino dos Espíritos, que nos fornecem, eles próprios, os seus meios.

A concordância no ensino dos Espíritos é, pois, o melhor controle, mas ainda é preciso que ocorra em certas condições.
A menos segura de todas é quando um médium interroga, ele próprio, a vários Espíritos sobre um ponto duvidoso.

É evidente que se estiver sob o império de uma obsessão e se tratar com um Espírito enganador, este lhe pode dizer a mesma coisa com nomes diversos.
Também não há garantia suficiente na conformidade obtida pelo médiuns de um mesmo centro, pois podem sofrer a mesma influência.

A única séria garantia está na concordância que exista entre as revelações espontâneas, feitas por grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em diversas regiões.

Compreende-se que aqui não se trata de comunicações relativas a interesses secundários, mas do que se liga aos princípios da mesmos da doutrina.

Prova a experiência que quando um princípio novo deve ter a sua solução, é ensinado espontaneamente em diversos ponto ao mesmo tempo e de maneira, senão na forma, ao menos no fundo.

Se, pois, a um Espírito agrada formular um sistema excêntrico, baseado em suas próprias ideias e fora da verdade, podemos estar certos que o sistema ficará circunscrito e cairá ante a humanidade das instruções dadas por toda a parte, como já houve vários exemplos.

É essa unanimidade que faz caírem todos os sistemas parciais, nascidos na origem do Espiritismo, quando cada um explicava os fenómenos à sua maneira e antes que fossem conhecidas as leis que regem as relações entre o mundo visível e o invisível.

Tal a base em que nos apoiamos quando formulamos um princípio da doutrina.

Não o damos como verdadeiro por ser conforme as nossas ideias;
não nos colocamos absolutamente como árbitro supremo da verdade e a ninguém dizemos:
"Crede nisto porque o dizemos".

Nossa opinião, aos nossos olhos, não passa de opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa, desde que não somos mais infalível que qualquer outro.
Também não é porque um princípio nos é ensinado que para nós é a verdade, mas porque recebeu a sanção da concordância.

Esse controle universal é uma garantia para a futura unidade do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias.

É aí que, no futuro, será procurado o critério da verdade.
O que fez o sucesso da doutrina formulada no Livro dos Espíritos e no Livro dos Médiuns é que por toda parte cada um pode receber dos Espíritos, directamente, a confirmação do que eles encerram.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 01, 2012 10:09 am

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Se, de todos os lados, os Espíritos tivessem vindo contradizê-los, de há muito esses livros teriam tido a sorte de todas as concepções fantásticas.

O próprio apoio da imprensa não os teria salvo do naufrágio, ao passo que, privados desse apoio, nem por isto deixaram de fazer um caminho rápido, porque tiveram o dos Espíritos, cuja boa vontade compensou com sobra a má vontade dos homens.

Assim será com todas as ideias emanadas dos Espíritos ou dos homens que não puderem suportar a prova do controle, cujo poder ninguém poderá contestar.

Suponhamos, pois, que apraza a certos Espíritos ditar, sob um título qualquer, um livro em sentido contrário.

Suponhamos mesmo que, numa intenção hostil, e visando desacreditar a doutrina, a malevolência suscitasse comunicações apócrifas.

Que influência poderiam ter esses escritos, se são desmentidos de todos os lados pelos Espíritos?

É da adesão destes últimos que seria necessário assegurar-se, antes de lançar um sistema em seu nome.
Do sistema de um só ao de todos há uma distância da unidade ao infinito.

Que podem mesmo todos os argumentos dos detractores sobre a opinião das massas, quando milhão de vozes amigas, partidas do espaço, vem de todos os pontos do globo e no seio de cada família, os bater na brecha?

Sob esse ponto a experiência já não confirmou a teoria?
Em que se tornaram todas as publicações que se diziam vir aniquilar o Espiritismo?

Qual a que lhe deteve a marcha?

Até hoje a questão não tinha sido encarada sob este ponto de vista, sem dúvida um dos mais sérios.

Cada um contou consigo, mas não com os Espíritos.

Ressalta de tudo isto uma verdade capital:
é que quem quer que quisesse atravessar-se contra a corrente das ideias estabelecidas e sancionadas, poderia bem causar uma pequena perturbação local e momentânea, mas nunca dominar o conjunto, mesmo no presente e, ainda menos, no futuro.

Ressalta, ainda, que as instruções dadas pelos Espíritos sobre pontos da doutrina ainda não elucidados, não poderia constituir lei, enquanto ficassem isoladas.

Consequentemente, não devem ser aceitas senão com todas as reservas e a título de informação.
Daí a necessidade de dar à sua publicação a maior prudência.

E, no caso se julgasse dever publicá-las, importa não as apresentar senão como opiniões individuais, mais ou menos prováveis, mas tendo, em todo o caso, necessidade de confirmação.

É essa confirmação que se deve esperar, antes de apresentar um princípio como verdade absoluta, se não quiser ser acusado de leviandade ou de irreflectida credulidade.

Em suas revelações, os Espíritos superiores procedem com extrema sabedoria.

Só gradativamente abordam as grandes questões da doutrina, à medida que a inteligência se torna apta a compreender verdades de uma ordem mais elevada, e que circunstâncias propícias para a emissão de uma ideia nova.

Eis porque, desde o começo, não disseram tudo e ainda hoje não o disseram, jamais cedendo à impaciência de criaturas muito apressadas, que querem colher os frutos antes de sua maturidade.

Seria, pois, supérfluo querer precipitar o tempo marcado a cada coisa pela Providência, porque então os Espíritos realmente sérios positivamente recusam o seu concurso;
mas os Espíritos levianos, pouco se incomodando com a verdade, a tudo respondem.

É por isso que, sobre todas as questões prematuras, sempre há respostas contraditórias.
Os princípios acima não são fruto de uma teoria pessoal, mas a consequência forçosa das condições em que se manifestam os Espíritos.

É evidente que se um Espírito diz uma coisa de um lado, enquanto milhões dizem o contrário alhures, a presunção de verdade não pode estar com aquele que é o único ou mais ou menos de sua opinião.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 01, 2012 10:10 am

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Ora, pretender ser o único a ter razão contra todos seria tão ilógico da parte de um Espírito quanto da parte de um homem.
Os Espíritos verdadeiramente sábios, se não se sentem suficientemente esclarecidos sobre uma questão, jamais a resolvem de maneira absoluta.

Declaram não a tratar senão de seu ponto de vista, e aconselham mesmo a esperar-se a sua confirmação.

Por mais bela, justa e grande que seja uma ideia, é impossível que, desde o começo, alie todas as opiniões.

Os conflitos daí resultantes são consequência inevitável do movimento que se opera.
São mesmo necessários para melhor destacar a verdade, e é útil que ocorram no começo, para que as ideias falsas sejam mais prontamente desgastadas.

Os espíritas que concebessem alguns temores devem, pois, ficar perfeitamente seguros.
Todas as pretensões isoladas cairão pela força das coisas, ante o grande e poderoso critérium de controle universal.

Não é à opinião de um homem que se aliarão, é a voz unânime dos Espíritos.

Não é um homem, nem nós mais que outro, que fundará a ortodoxia espírita;
também não é um Espírito vindo impor-se a quem quer que seja:
é a universalidade dos Espíritos, comunicando-se em toda a terra, por ordem de Deus.


Aí está o carácter essencial da doutrina espírita.
Aí está a sua força e a sua autoridade.
Deus quis que a sua lei se assentasse numa base inabalável, e, por isso, não a assentou sobre a cabeça frágil de um só.

É perante esse poderoso areópago, que nem conhece grupelhos, nem as rivalidades invejosas, nem seitas ou nações, que virão quebrar-se todas as oposições, todas as ambições, todas as pretensões à supremacia individual;
que nós mesmos nos quebraríamos se quiséssemos substituir os seus soberanos desígnios por nossas próprias ideias;
ele é o único que resolverá todas as questões litigiosas, que fará calarem-se as dissidências e dará ou não razão a quem de direito.

Ante esse imponente acordo de todas as vozes do céu, que pode a opinião de um homem ou de um Espírito?

Menos que a gota d’água que se perde no oceano, menos que a voz da criança, abafada pela tempestade.

A opinião universal, eis, então, o juiz supremo, o que se pronuncia em última instância.

Ela se forma de todas as opiniões individuais.
Se uma delas for verdadeira, terá apenas o seu peso relativo na balança.

Se for falsa, não pode triunfar sobre todas as outras.
Neste imenso concurso os indivíduos se apagam, e aí está um novo cheque para o orgulho humano.

Esse conjunto harmonioso já se desenha.
Ora, este século não passará sem que resplandeça em todo o seu brilho, de maneira a fixar todas as incertezas.

Porque, daqui para a frente vozes poderosas terão recebido a missão de se fazer ouvir para aliar os homens sob a mesma bandeira, desde que o campo seja suficientemente trabalhado.

Enquanto espera, aquele que flutuasse entre dois sistemas opostos, pode observar em que sentido se forma a opinião geral;
é o índice certo do sentido no qual se pronuncia a maioria dos Espíritos sobre os diversos pontos em que se comunicam.

É um sinal não menos certo de qual dos dois sistemas triunfará.

§.§.§- O-canto-da-ave
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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Da Comunhão do pensamento

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 02, 2012 10:09 am

Revista Espírita, dezembro de 1864

A PROPÓSITO DA COMEMORAÇÃO DOS MORTOS


A Sociedade Espírita de Paris reuniu-se especialmente, pela primeira vez, a 2 de novembro de 1864, visando a oferecer uma piedosa lembrança a seus falecidos colegas e irmãos espíritas.

Naquela ocasião o Sr. Allan Kardec desenvolveu o princípio da comunhão do pensamento, no discurso seguinte:

Caros irmãos e irmãs espíritas,

Estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aqueles dos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia, para continuar as relações de afeição e de fraternidade, que existiam entre eles e nós, enquanto vivos, e para chamar para eles as bondades do Todo-Poderoso.

Mas, porque nos reunirmos?
Porque nos desviarmos de nossas ocupações?
Não pode cada um fazer em particular aquilo que nos propomos fazer em comum?

Não o faz cada um pelos seus?
Não o pode fazer diariamente todos os dias e à cada hora?
Qual, então, a utilidade de assim se reunir num dia determinado?


É sobre este ponto, senhores, que me proponho apresentar-vos algumas considerações.

O favor com que a ideia desta reunião foi acolhida é a primeira resposta a essas diversas questões.
Ela é o índice da necessidade que experimentamos ao nos acharmos juntos numa comunhão de pensamentos.

Comunhão de pensamentos!
Compreendemos bem todo o alcance desta expressão?


É permitido duvidá-lo, pelo menos do maior número.
O Espiritismo, que nos explica tantas coisas pelas leis que revela, ainda vem explicar a causa, os efeitos e a força dessa situação de espírito.

Comunhão de pensamento quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de aspiração.

Ninguém pode desconhecer que o pensamento é uma força.
É, porém, uma força puramente moral e abstracta?
Não: do contrário não se explicariam certos efeitos do pensamento e, ainda menos, da comunhão de pensamento.

Para compreendê-lo é preciso conhecer as propriedades e a acção dos elemento que constituem nessa essência espiritual, e é o Espiritismo que no-las ensina.

O pensamento é o atributo característico do ser espiritual;
é ele que distingue o espírito da matéria;
sem o pensamento o espírito não seria espírito.


A vontade não é um atributo especial do espírito;
é o pensamento chegado a um certo grau de energia;
é o pensamento transformado em força motriz.


É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido.
Mas se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam!

O pensamento age sobre os fluídos ambientes, como o som sobre o ar;
esses fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som.

Pode, pois, dizer-se com toda a verdade que há nesses fluidos ondas e raios de pensamento que se cruzam sem se confundir, como há no ar ondas e raios sonoros.

Uma assembleia é um foco onde irradiam pensamentos diversos;
é como uma orquestra, um coro de pensamentos onde cada um produz a sua nota.

Disto resulta uma porção de correntes e de eflúvios fluídicos dos quais cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 02, 2012 10:11 am

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Mas, assim como há raios sonoros harmónicos ou discordantes.

Se o conjunto for harmónico a impressão é agradável;
se for discordante, a impressão será penosa.

Ora, por isto, é necessário que o pensamento seja formulado em palavras;
a radiação fluídica não deixa de existir, quer seja, ou não expressa.

Se todas forem benevolentes, todos os assistentes experimentarão um verdadeiro bem-estar, sentir-se-ão à vontade;
mas se se misturarem pensamentos maus, produzirão o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido.

Tal é a causa do sentimento de satisfação que se experimenta numa reunião simpática;
aí como que reina uma atmosfera salubre, onde se respira à vontade;
daí se sai reconfortado, porque aí nos impregnamos de eflúvios salutares.


Assim também se explicam a ansiedade, o mal-estar indefinível dos meios antipáticos, onde pensamentos malévolos provocam, por assim dizer, correntes fluídicas mal-sãs.

A comunhão de pensamentos produz, pois, uma espécie de efeito físico que age sobre o moral.
Só o Espiritismo poderia fazê-lo compreender.

O homem o sente instintivamente, desde que procura as reuniões onde sabe encontrar essa comunhão;
nessas reuniões homogéneas e simpáticas, colhe novas forças morais;
poderia dizer-se que aí recupera pelos alimentos as perdas do corpo material.


Essas considerações, senhores e caros irmãos, parecem nos afastar do objectivo principal de nossa reunião e, contudo, elas para aqui nos conduzem directamente.

As reuniões que têm por objecto a comemoração dos mortos repousam na comunhão de pensamentos.
Para compreender a sua utilidade, era necessário bem definir a natureza e os efeitos desta comunhão.

Para a explicação das coisas espirituais, por vezes me sirvo de comparações muito materiais e, talvez mesmo, um tanto forçadas, que nem sempre devem ser tomadas ao pé da letra.

Mas é procedendo por analogia, do conhecido para o desconhecido, que chegamos a nos dar conta, ao menos aproximadamente, do que escapa aos nossos sentidos;
é tais comparações que a doutrina espírita deve, em grande parte, ter sido facilmente compreendida, mestiço pelas mais vulgares inteligências, ao passo que se eu tivesse ficado nas abstracções da filosofia metafísica, ainda hoje ela não teria sido partilhada senão de algumas inteligências de escol.

Ora, desde o princípio, importava que ela fosse aceita pelas massas, porque a opinião das massas exerce uma pressão que acaba fazendo lei e triunfando das oposições mais tenazes.

Eis por que me esforcei em simplificá-la e torná-la clara, a fim de a pôr ao alcance de todos, com o risco de a fazer contestada por certa gente quanto ao título de filosofia, por que não é bastante abstracta e saiu do nevoeiro da metafísica clássica.

Aos efeitos que acabo de descrever, tocante a comunhão de pensamentos junta-se um outro, que é sua consequência natural, e que importa não perder de vista:
é a força que adquire o pensamento, ou a vontade, pelo conjunto dos pensamentos ou vontades reunidas.

Sendo a vontade uma força activa, essa força é multiplicada pelo número de vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número de braços.

Estabelecido este ponto, concebe-se que nas relações que se estabelecem entre os homens e os Espíritos haja, numa reunião onde reine perfeita comunhão de pensamentos, uma força atractiva ou repulsiva, que nem sempre possui a criatura isolada.

Se, até o presente, as reuniões muito numerosas são menos favoráveis, é pela dificuldade de obter uma perfeita homogeneidade de pensamentos, e que se deve à imperfeição da natureza humana na terra.

Quanto mais numerosas as reuniões, mais aí se mesclam elementos heterogéneos, que paralisam a acção dos bons elementos, e que são como os grãos de areia numa engrenagem.

Assim não é nos mundos mais avançados e tal estado de coisas mudará na terra, à medida que os homens se tornarem melhores.

Para os Espíritas, a comunhão dos pensamentos tem um resultado ainda mais especial.
Temos visto o efeito desta comunhão de homem a homem.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 02, 2012 10:12 am

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O Espiritismo nos prova que ele não é menor dos homens aos Espíritos, e reciprocamente.

Com efeito, se o pensamento colectivo adquire força pelo número, um conjunto de pensamentos idênticos, tendo o bem por objectivo, terá mais força para neutralizar a acção dos maus Espíritos.

Também vemos que a táctica destes últimos é levar à divisão e ao isolamento.
Sozinho, um homem pode sucumbir, ao passo que se sua vontade for corroborada por outras vontades, ele poderá resistir, conforme o axioma:
A união faz a força, axioma verdadeiro, tanto no moral quanto no físico.

Por outro lado, se a acção dos Espíritos malévolos pode ser paralisada por um pensamento comum, é evidente que a dos bons Espíritos será ajudada;
sua influência salutar não encontrará obstáculos;
seus eflúvios fluídicos, não sendo detidos por correntes contrárias, espalhar-se-ão sobre todos os assistentes, precisamente porque todos os terão atraído pelo pensamento, não cada um em proveito pessoal, mas em proveito de todos, conforme a lei da caridade.


Descerão sobre eles como em línguas de fogo, para nos servirmos de uma admirável imagem do Evangelho.

Assim, pela comunhão de pensamentos, os homens se assistem entre si e, ao mesmo tempo, assistem os Espíritos e são por estes assistidos.

As relações do mundo visível e do mundo invisível não são mais individuais, são colectivas e, por isto mesmo, mais poderosas em proveito das massas, como no do indivíduos.

Numa palavra, estabelece a solidariedade, que é a base da fraternidade.

Ninguém trabalha para si só, mas para todos;
e trabalhando para todos, cada um aí encontra a sua parte.
É o que o egoísmo não compreende.

Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos;
é aí, com efeito, que podem e devem exercer toda a sua força, porque o objectivo deve ser o desligamento do pensamento do domínio da matéria.

Infelizmente a maioria se afasta deste princípio, à medida que tornam a religião uma questão de forma.
Disto resulta que cada um, fazendo seu dever consistir na realização da forma, se julga quites com Deus e com os homens, desde que praticou uma formula.

Resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por conta própria e, na maioria das vezes, sem nenhum sentimento de confraternidade, em relação aos outros assistentes:
isola-se em meio à multidão e só pensa no céu para si próprio.

Certamente não era assim que o entendia Jesus, quando disse:
Quando estiverdes diversos, reunidos em meu nome, eu estarei em vosso meio.

Reunidos em meu nome, isto é, com um pensamento comum.
Mas não se pode estar reunido em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, a sua doutrina.

Ora, qual é o princípio fundamental da doutrina de Jesus?
A caridade em pensamentos, palavras e acção.

Os egoístas e os orgulhosos mentem quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discípulos.

Tocados por esses abusos e desvios, algumas pessoas negam a utilidade das assembleias religiosas e, consequentemente, dos edifício a elas consagrados.

Em seu radicalismo, pensam que seria melhor construir hospícios do que templos, visto como o templo de Deus está em toda a parte e em toda a parte pode ser adorado, que cada um pode orar em sua casa e a qualquer hora, ao passo que os pobres, os doentes e os enfermos necessitam de lugar de refúgio.

Mas porque se cometem abusos, porque se afastam do recto caminho, segue-se que não existe o recto caminho e que é mau tudo de que se abusa?
Não, por certo.

Falar assim é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos, que deve ser a essência das assembleias religiosas;
é ignorar as causas que a provocam.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 03, 2012 10:43 am

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Que os materialistas professam semelhantes ideias, compreende-se;
porque, para eles, em tudo fazem abstracção da vida espiritual;
mas da parte dos espiritualistas e, melhor ainda, dos Espíritas, seria insensatez.


O isolamento religioso, como o isolamento social, conduz ao egoísmo.

Que alguns homens sejam bastante fortes por si mesmos, fartamente dotados pelo coração, para que sua fé e caridade não necessitem ser aquecidas num foco comum, é possível.

Mas não é assim com as massas, a que falta um estimulante, sem o qual poderiam deixar-se tomar pela indiferença.

Além disso qual o homem que poderá dizer-se bastante esclarecido para nada ter que aprender no tocante aos interesses futuros?
Bastante perfeito para prescindir dos conselhos para a vida presente?

Será sempre capaz de instruir-se por si mesmo?

Não.

A maioria necessita de ensinamentos directos em matéria de religião e moral, como em matéria de ciência.
Sem contradita, tais ensinos podem ser dados em toda a parte, sob a abóbada do céu, como sob a de um templo.

Mas, por que os homens não haveriam de ter lugares especiais para as coisas celestes, como os têm para as terrenas?
Porque não teriam assembleias religiosas, como têm assembleias políticas, científicas e industriais?


Isto impede as fundações em beneficio dos infelizes.
Dizemos, ainda mais, que quando os homens compreenderem melhor seus interesses do céu, haverá menos gente nos hospícios.

Falando de maneira geral e sem alusão a nenhum culto, se as assembleias religiosas muitas vezes se afastaram de seu objectivo principal, que é a comunhão fraterna do pensamento;
se o ensino que aí é dado nem sempre seguiu o movimento progressivo da humanidade, é que os homens não cumprem todos os progressos ao mesmo tempo;
o que não fazem num período, fazem em outro;

à medida que se esclarecem, vêem as lacunas existentes em suas instituições, e as preenchem;
compreendem que o que era bom numa época, em relação ao grau de civilização, torna-se insuficiente numa etapa mais adiantada, e restabelecem o nível.


Sabemos que o Espiritismo é a grande alavanca do progresso em todas as coisas;
ele marca uma era de renovação.

Saibamos, pois, esperar, e não peçamos a uma época mais do que ela pode dar.
Como as plantas, é preciso que as ideias amadureçam para colher os frutos.

Saibamos, além disso, fazer as necessárias concessões às épocas de transição, porque nada na natureza se opera de maneira brusca e instantânea.

Em razão do motivo que hoje nos reúne, senhores e caros irmãos, julguei oportuno aproveitar a circunstância para desenvolver o princípio da comunhão de pensamentos, do ponto de vista do Espiritismo.

Sendo o nosso objectivo unirmo-nos em intenção para oferecer, em comum, um testemunho particular de simpatia aos nossos irmãos falecidos, poderia ser útil chamar nossa atenção para as vantagens da reunião.

Graças ao Espiritismo, compreendemos a força e os efeitos do pensamento colectivo;
podemos melhor explicar-nos o sentimento de bem-estar que se experimenta num meio homogéneo e simpático;

mas, igualmente, sabemos que o mesmo se dá com os Espíritos, porque eles sabem receber os eflúvios de todos os pensamentos benevolentes, que para eles se elevam, como uma nuvem de perfume.


Os que são felizes experimentam a maior alegria neste concerto harmonioso;
os que sofrem sentem com isto o maior alívio.

Cada um de nós, em particular, ora de preferência por aqueles que o interessam ou que mais estima.
Façamos que aqui todos tenham sua parte nas preces dirigidas a Deus.

§.§.§- O-canto-da-ave
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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Da apreensão da morte

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 03, 2012 10:44 am

Revista Espírita, fevereiro de 1865

O homem, seja qual for o degrau da escola a que pertença, desde o estado selvagem, tem o sentimento inato do futuro.

Diz-lhe a intuição que a morte não é a última palavra da existência e que aqueles que lamentamos não estão perdidos sem retorno.
A crença no futuro é intuitiva e infinitamente mais geral que a no nada.

Como é, pois, que, entre os que crêem na imortalidade da alma, ainda se encontra tanto apego às coisas da terra, e tão grande apreensão da morte?

A apreensão da morte é efeito da sabedoria da Providência, e uma consequência do instinto de conservação comum a todos os, seres vivos.

Ela é necessária enquanto o homem não for bastante esclarecido quanto às condições da vida futura, como contrapeso ao arrastamento que, sem esse freio o levaria a deixar prematuramente a vida terrestre, e a negligenciar o trabalho daqui, que deve servir para o seu adiantamento.

É por isto que, nos povos primitivos, o futuro não passa de vaga intuição, mais tarde simples esperança, enfim mais tarde uma certeza, mas ainda contrabalançada por um secreto apego à vida corporal.

À medida que o homem melhor compreende a vida futura, diminui a apreensão da morte;
mas, ao mesmo tempo, melhor compreendendo sua missão na terra, espera seu fim com mais calma, resignação e sem medo.

A certeza da vida futura dá um outro curso às suas ideias, outro objectivo a seus trabalhos;
antes de ter esta certeza, só trabalha para o presente;
com esta certeza trabalha em vista do futuro, sem negligenciar o presente, porque sabe que seu futuro depende da direcção, mais ou menos boa, que der ao presente.


A certeza de reencontrar os amigos após a morte, de continuar as relações que teve na terra, de não perder o fruto de nenhum trabalho, de crescer incessantemente em inteligência e em perfeição, lhe dá paciência para esperar e coragem para suportar as momentâneas fadigas da vida terrena.

A solidariedade que vê estabelecer-se entre os mortos e os vivos lhe faz compreender a que deve existir entre os vivos;
desde então a fraternidade tem sua razão de ser e a caridade um objectivo no presente e no futuro.

Para libertar-se das apreensões da morte, deve poder encará-la sob seu verdadeiro ponto de vista, isto é, ter penetrar por pensamento no mundo invisível e dele ter feito uma ideia tão exacta quanto possível, o que denota no Espírito encarnado um certo desenvolvimento e uma certa aptidão para se desprender da matéria.

Nos que não são suficientemente avançados, a vida material ainda predomina sobre a vida espiritual.

Ligando-se ao exterior, o homem só vê vida no corpo, ao passo que a vida real está na alma;
estando o corpo privado de vida, aos seus olhos tudo está, perdido e ele se desespera.

Se, em vez de concentrar o pensamento na vestimenta externa, a voltasse para a fonte mesma da vida, sobre a alma, que é o ser real, a tudo sobrevivente, lamentaria menos o corpo, fonte de tantas misérias e tantas dores.

Mas para isto é preciso uma força que o Espírito, só adquire com a maturidade.

A apreensão da morte depende, pois, da insuficiência das noções sobre a vida futura;
mas denota a necessidade de viver, e o medo que a destruição do corpo seja o fim de tudo.

É, assim, provocada pelo secreto desejo da sobrevivência da alma, ainda velada pela incerteza.

A apreensão enfraquece à medida que se forma a certeza;
desaparece quando a certeza é completa.
Eis o lado providencial da questão.

Era sábio não perturbar o homem cuja razão ainda não era bastante forte para suportar a perspectiva, muito positiva e muito sedutora, de um futuro que lhe tivesse feito negligenciar o presente necessário ao seu adiantamento material e intelectual.

Este estado de coisas é alimentado e prolongado por causas puramente humanas, que desaparecerão com o progresso.

A primeira é o aspecto sob o qual é apresentada a vida futura, aspecto que podia bastar a inteligências pouco adiantadas, mas não poderia satisfazer as exigências da razão dos homens que reflectem.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Qui maio 03, 2012 10:44 am

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Dizem eles que desde que lhe apresentam como verdades absolutas princípios contraditados pela lógica e pelos danos positivos da ciência, é que não são verdades.

Daí a incredulidade de alguns e, num grande número, uma crença misturada de dúvida.

A vida futura é para eles uma ideia vaga, ante uma probabilidade que uma certeza absoluta;
crêem nela, quereriam que assim fosse e, mau grado seu, dizem:

Entretanto se não fosse! O presente é positivo.
Para começar ocupemo-nos com ele;
o futuro virá por acréscimo.

E depois, dizem ainda, em definitiva, o que é a alma?
É um ponto, um átomo, uma centelha, uma chama?
Como sente ela? como vê? como percebe?


Para eles a alma não é uma realidade efectiva: é uma abstracção.

Os seres que lhe são caros, reduzidos ao estado de átomos em seu pensamento, estão para eles, por assim dizer, perdidos e aos seus olhos não mais têm as qualidades que os fazia amá-los.

Não compreendem o amor de uma centelha, nem o que se pudesse ter por ela;
e eles próprios ficam satisfeitos por serem transformados em monadas.

Dai a volta ao positivismo da vida terrena, que tem algo de mais substancial.
Considerável é o número dos que são dominados por estas ideias.

Uma outra razão que liga às coisas terrenas os mesmos que acreditam mais firmemente na vida futura se deve à impressão, que conservam, do ensino que lhes foi dado desde a infância.

O quadro que dela faz a religião, força é convir, nem é muito sedutor, nem muito consolador.

De um lado, vêem-se as contorções dos danados, que expiam nas torturas e nas chamas sem fim seus erros de um momento;
para que séculos se sucedam a séculos, sem esperança de abrandamento nem de piedade;
e o que é ainda mais impiedoso, é que o arrependimento é ineficaz.


Por outro lado, as almas lânguidas e sofredoras do purgatório, esperando sua libertarão da boa vontade dos vivos que orarem, ou mandarem orar por elas, e não de seus esforços para progredir.

Estas duas categorias compõem a imensa maioria da população de além-túmulo.
Acima plaina a muito restrita dos eleitos, gozando, durante a eternidade, uma beatitude contemplativa.

Esta eterna inutilidade, sem dúvida preferível ao nada, não deixa de ser de uma fastidiosa monotonia.
Assim, nas pinturas que retratam os bem-aventurados, vêem-se figuras angélicas, mas que antes respiram aborrecimento que a verdadeira felicidade.

Esse estado nem satisfaz as aspirações, nem a ideia instintiva do progresso, o único que parece compatível com a felicidade absoluta.

Tem-se dificuldade de conceber que o selvagem ignorante, obtuso no sentido moral, só porque recebeu o baptismo, esteja no mesmo nível que o que chegou ao mais alto grau da ciência e da moralidade prática, após longos anos de trabalho.

É ainda menos concebível que o menino, morto em tenra idade, antes de ter consciência de si mesmo e de seus actos, goze dos mesmos privilégios, pelo só facto de uma cerimónia, na qual sua vontade não tomou parte.

Esses pensamentos não deixam de agitar os mais fervorosos, por pouco que reflictam.

O trabalho progressivo que a gente realiza na terra nada valendo para a felicidade futura, a facilidade com a qual crêem adquirir essa felicidade por meio de algumas práticas exteriores, a mesma possibilidade de a comprar com dinheiro, sem reforma séria do carácter e dos hábitos, deixam aos prazeres do mundo todo o seu valor.

Mais de um crente diz no seu foro íntimo que, desde que seu futuro está assegurado pela prática de certas fórmulas, ou por dons póstumos, que de nada o privam, seria supérfluo impor-se sacrifícios ou um aborrecimento qualquer em proveito de outrem, desde que se pode fazer sua salvação cada um trabalhando para si.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 04, 2012 10:51 am

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Certamente tal não é o pensamento de todos, pois há grandes e belas excepções;
mas não se pode dissimular que não seja o do maior número, sobretudo das massas pouco esclarecidas e que a ideia feita das condições para ser feliz no outro mundo não entretém ligação com os bens deste e, por conseguinte, o egoísmo.

Ajuntemos a isto que tudo, nos costumes, concorre para fazer lamentar a vida terrestre e temer a passagem da terra ao céu.
A morte não é cercada senão de cerimónias lúgubres, que aterram mais do que provocam esperanças.

Se se representa a morte, é sempre sob o aspecto repelente, e jamais como um sono de transição;
todos os seus emblemas lembram a destruição do corpo e o mostram horrível e descarnado;
nenhum simboliza a alma se desprendendo radiosa de seus laços terrenos.

A partida para esse mundo mais feliz não é acompanhada senão pelas lamentações dos sobreviventes, como se acontecesse a maior desgraça aos que se vão.

Dizem-lhe um eterno adeus, corno se se não mais devesse vê-los;
o que se lamenta por eles são os gozos daqui de baixo, como se não devessem achá-los maiores.

Que desgraça, dizem, morrer quando se é moço, rico, feliz e se tem pela frente um brilhante futuro!
A ideia de uma situação mais feliz apenas aflora ao pensamento, porque não tem raízes.
Tudo, pois, concorre para inspirar o pavor da morte em vez de fazer nascer a esperança.

O homem levará muito tempo para desfazer, sem dúvida, desses preconceitos, mas lá chegará à medida que se firmar a sua fé e que fizer uma ideia mais sã da vida espiritual.

A doutrina espírita muda inteiramente a maneira de encarar o futuro.

A vida futura não é mais uma hipótese, é uma realidade;
o estado das almas após a morte não é mais um sistema, mas um resultado da observação.

O véu está levantado; o mundo invisível nos aparece em toda a sua realidade prática.
Não foram os homens que descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever sua situação.

Nós aí os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases da felicidade e da desgraça;
nós assistimos a todas as peripécias da vida de além-túmulo.

Aí está para os Espíritas a causa da calma com que encaram a morte, da serenidade de seus últimos instantes na terra.

O que os sustém não é só a esperança, é a certeza;
eles sabem que a vida futura é apenas a continuação da vida presente em melhores condições, e a esperam com a mesma confiança com que esperam o nascer do sol, após uma noite de tempestade.

Os motivos desta confiança estão nos factos de que são testemunhas, e no acordo desses factos com a lógica, a justiça e a bondade de Deus, e as aspirações íntimas do homem.

Além disso, a crença vulgar coloca as almas em regiões apenas acessíveis ao pensamento, onde elas se tornam de certo modo estranhas aos sobreviventes;
a própria Igreja põe entre elas e estes últimos uma barreira intransponível;
declara que toda relação está rompida, toda comunicação impossível.


Se estiverem no inferno, toda esperança de as rever está perdida para sempre, a menos que vá, mesmo para lá;
se estiverem entre os eleitos, estarão todas absorvidas por sua beatitude contemplativa.

Tudo isto põe entre os mortos e os vivos uma tal distância, que se olha a separação como eterna.
Por isto ainda preferem tê-las perto de si, sofredoras na terra, do que as ver partir, mesmo para o céu.

Depois a alma que está no céu é realmente feliz vendo, por exemplo, seu filho, seu pai, sua mãe ou seus amigos queimando-se eternamente?

Para os Espíritas a alma não é mais uma abstracção;
tem um corpo etéreo, que dela faz um ser definido, que o pensamento abarca e concebe;
já é muito para fixar as ideias sobre sua individualidade, suas aptidões e suas percepções.


A lembrança dos que nos são caros repousa sobre algo real.
Não mais são representadas como chamas fugitivas, que nada lembram ao pensamento, mas sob uma forma concreta, que no-las mostra melhor como seres vivos.

Depois, em vez de estarem perdidos nas profundezas do espaço, estão em redor de nós.
O mundo visível e o mundo invisível estão em relações perpétuas e se assistem mutuamente.

Não mais sendo permitida a dúvida sobre o futuro, a apreensão da morte não tem mais razão de ser:
ver-se-á vir com sangue frio, como uma libertação, como a porta da vida, e não a do nada.

§.§.§- O-canto-da-ave
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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Da perpetuidade do Espiritismo

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 04, 2012 10:52 am

Revista Espírita, fevereiro de 1865

Num artigo anterior falamos dos incessantes progressos do Espiritismo.

Serão esses progressos duráveis ou efémeros?
É um meteoro que brilha com luz passageira, como tantas outras coisas?


É o que vamos examinar em poucas palavras.

Se o Espiritismo fosse uma simples teoria, uma escola filosófica fundada numa opinião pessoal, nada garantiria a sua estabilidade, porque poderia agradar hoje e não agradar amanhã;
num dado tempo poderia não estar mais em harmonia com os costumes e o desenvolvimento intelectual e, então, cairia, como todas as coisas velhas, que ficam para trás do movimento;
enfim poderia ser substituído por algo de melhor.


Assim é com todas as concepções humanas, todas as legislações, todas as doutrinas puramente especulativas.

O Espiritismo apresenta-se em condições completamente outras, como tantas vezes temos feito observar.

Repousa sobre um facto, o da comunicação entre o mundo visível e o invisível.
Ora, um facto não pode ser anulado pelo tempo, como uma opinião.
Sem dúvida ainda não é admitido por todos.

Mas que importam as negações de alguns, quando ele é constatado diariamente por milhões de indivíduos, cujo número cresce incessantemente, e que nem são mais tolos, nem mais cegos que outros?

Virá, pois, um momento em que não encontrará mais negadores do que os que há actualmente do movimento da terra.

Quanta oposição não levantou este último facto!
Há quanto tempo faltam aos incrédulos boas razões aparentes para o contestar.

“Como crer, diziam eles, na existência dos antípodas, marchando de cabeça para baixo?

E se a terra gira, como pretendem, como crer que nós mesmos estejamos, de vinte e quatro em vinte e quatro horas, nessa posição incómoda sem nos apercebermos?

Nesse estado, não mais poderíamos ficar ligados à terra senão quiséssemos marchar contra o feto, com os pés no ar, à maneira de moscas.
E depois, que aconteceria aos mares?

Será que a água não se derrama quando se inclina o vaso?
A coisa é simplesmente impossível, portanto é absurda, e Galileu é um louco.”


Entretanto, sendo um facto essa coisa absurda, triunfou de todas as razões contrarias e de todos os anátemas.

Que faltava para admitir a sua possibilidade?
O conhecimento da lei natural sobre a qual ela repousa.

Se Galileu se tivesse contentado com dizer que a terra gira, ainda agora não o acreditariam.
Mas as denegações caíram ante o conhecimento do princípio.

Será o mesmo com o Espiritismo.
Desde que repousa sare um facto material, existente em virtude de uma lei explicada e demonstrada, que lhe tira todo carácter sobrenatural e maravilhoso, é imperecível.

Os que negam a possibilidade das manifestações estão no mesmo caso dos que negaram o movimento da terra.
A maioria nega a causa primeira, isto é, a alma, sua sobrevivência e sua individualidade.

Então não é de surpreender que neguem o efeito.
Julgam pelo simples enunciado do facto, e o declaram absurdo, como outrora declaravam absurda a crença nos antípodas.

Mas, que pode sua opinião contra um fenómeno constatado pela observação e demonstrado por uma lei da natureza?

Sendo o movimento da terra um facto puramente cientifico, sua demonstração não estava ao alcance do vulgo;
foi preciso aceitá-lo sobre a fé nos cientistas.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 04, 2012 10:53 am

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Mas o Espiritismo tem a mais, por si, poder ser constatado por todo o mundo, o que explica sua rápida propagação.

Toda descoberta nova de alguma importância tem consequências mais ou menos graves.
A do movimento da terra e da lei da gravitação, que rege esse movimento as teve e incalculáveis.

A ciência viu abrir-se à sua frente um novo campo de exploração e não se poderiam enumerar todas as descobertas, as invenções e as aplicações que foram sua consequência.

O progresso da ciência acarretou o da indústria, e o progresso da indústria mudou a maneira de viver, os hábitos, numa palavra todas as condições de ser da humanidade.

O conhecimento das relações do mundo visível e do mundo invisível tem consequências ainda mais directas e mais imediatamente práticas, porque está ao alcance de todas os individualidades e do interesse de todos.

Devendo cada homem necessariamente morrer, ninguém pode ser indiferente ao em que se transformará após a morte.
Pela certeza que o Espiritismo dá do futuro, muda a maneira de ver e influi sobre a moralidade.
Abafando o egoísmo, modificará profundamente as relações sociais de indivíduo a indivíduo e de povo a povo.

Muitos reformadores de pensamento generoso formularam doutrinas mais ou menos sedutoras;
mas, em sua maioria, apenas tiveram um sucesso de seita, temporário e circunscrito.

Foi assim e assim será sempre com as teorias puramente sistemáticas, porque na terra não é dado ao homem conceber algo de completo e perfeito.

Ao contrário, o Espiritismo, apoiando-se não numa ideia preconcebida, mas em factos patentes, está ao abrigo dessas flutuações e não poderá senão crescer, à medida que os factos forem vulgarizados, melhor conhecidos e melhor compreendidos.

Ora, nenhuma força humana poderia impedir a vulgarização de factos que cada um pode constatar.
Constatados os factos, ninguém poderá impedir as consequências dos mesmos resultantes.

Estas consequências são aqui uma revolução completa nas ideias e na maneira de ver as coisas deste mundo e do outro.
Antes que este século tenha passado ela será realizada.

Mas, dirão, ao lado dos fatos tendes uma teoria, uma doutrina;
quem vos diz que essa teoria não sofrerá variações?
Que em alguns anos a de hoje será a mesma?


Sem dúvida ela pode sofrer modificações em seus detalhes, à vista de novas observações;
mas, uma vez adquirido o princípio, não pode variar e, menos ainda, anular-se;
é o essencial.


Desde Copérnico e Galileu tem-se calculado melhor o movimento da terra e dos astros, mas o facto do movimento ficou com o princípio.

Dissemos que o Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência de observação.
É o que faz a sua força contra os ataques de que é objecto e dá aos seus adeptos uma fé inquebrantável.

Todos os raciocínios que lhe opõem caem diante dos factos, e esses raciocínios têm tanto menos valor aos seus olhos quanto mais os sabem interesseiros.
Em vão se lhe diz que isto não é, ou é outra coisa.

Respondem:
Não podemos negar a evidência.

Ainda quando se tratasse de um só, poderia julgar-se vítima de uma ilusão;
mas quando milhões de indivíduos vêem a mesma coisa, em todos os países, conclui-se logicamente que são os negadores que abusam.

Se os factos espíritas só tivessem como resultado satisfazer a curiosidade, certamente ocasionariam apenas uma preocupação momentânea, como tudo o que é inútil;
mas as consequências que deles decorrem tocam o coração, tornam felizes, satisfazem as aspirações, enchem o vazio cavado pela dúvida, lançam a luz sobre a temível questão do futuro;

ainda mais, neles se vê uma causa poderosa de moralização para a sociedade;
elas têm, pois, um grande interesse.


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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Sex maio 04, 2012 10:53 am

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Ora, a gente não renuncia facilmente ao que é uma fonte de felicidade.
Certamente não é com a perspectiva do nada, nem com a das chamas eternas que arrancarão os Espíritas de sua crença.

O Espiritismo não se afastará da verdade e nada terá a temer das opiniões contraditórias, enquanto sua teoria cientifica e sua doutrina moral forem uma dedução dos factos escrupulosa e conscientemente observados, sem preconceitos nem sistemas preconcebidos.

É diante de uma observação mais completa que todas as teorias prematuras e aventurosas, surgidas na origem dos fenómenos espíritas modernos, caíram e vieram fundir-se na imponente unidade que hoje existe, e contra a qual só se atiram raras individualidades, que diminuem dia a dia.

As lacunas que a teoria actual pode ainda conter encher-se-ão da mesma maneira.

O Espiritismo está longe de haver dito a última palavra, quanto às suas consequências, mas é inamolgável em sua base, porque esta base está assentada nos factos.

Assim, que os Espíritas nada receiem:
o futuro lhes pertence;
que deixem os adversários se debatendo sob o aperto da verdade, que os ofusca, porque toda denegação é impotente contra a evidência que, inevitavelmente, triunfa pela mesma força das coisas.


É uma questão de tempo, e neste século o tempo marcha a passos de gigante, sob o impulso do progresso.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Poder curativo do magnetismo espiritual

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 05, 2012 9:55 am

Revista Espírita, abril de 1865

Em nosso artigo do mês passado sobre o Dr. Demeure, prestamos uma justa homenagem às suas eminentes qualidades como homem e como Espírito.

O facto seguinte é uma prova de sua benevolência, ao mesmo tempo que constata o poder curativo do magnetismo espiritual.

Escrevem-nos de Montauban:

"O Espírito do bom pai Demeure, vindo engrossar o número de nossos amigos invisíveis, que nos cuidam da moral e do físico, quis manifestar-se desde os primeiros dias por um benefício.

A notícia de sua morte ainda não era conhecida dos nossos irmãos de Montauban, quando ele empreendeu espontânea e directamente a cura de um deles por meio do magnetismo espiritual, apenas pela acção fluídica.

Vedes que ele não perdia tempo e continuava como Espírito, assim como dizeis, sua obra de alívio da humanidade sofredora.

Entretanto, há aqui uma importante distinção a fazer.
Certos Espíritos continuam dados às suas ocupações terrenas, sem consciência de seu estado, sempre se julgando vivos.

É próprio das Espíritos pouco adiantados, ao passo que o Sr. Demeure se reconheceu imediatamente e age voluntariamente como Espírito, com a consciência de, neste estado, ter maior força.

Tínhamos ocultado a morte do Sr. Demeure à Sra. G., médium vidente e sonâmbula muito lúcida, para poupar sua extrema sensibilidade.
E o bom doutor, percebendo nosso ponto de vista, sem dúvida tinha evitado manifestar-se a ela.

A 10 de fevereiro último, estávamos reunidos a convite de nossos guias que, diziam eles, queriam aliviar a Sra. G. de um entorse de que sofria cruelmente desde a véspera.

Não sabíamos mais que isto, e estávamos longe de esperar a surpresa que nos preparavam.
Apenas caída em sonambulismo, a dama soltou gritos lancinantes, mostrando o pé.

Eis o que se passava:

A Sra. G. via um Espírito curvado sobre sua perna, mas as suas feições ficavam ocultas.
Operava fricções e massagens, fazendo de vez em quando uma fracção longitudinal sobre a parte doente, absolutamente corno teria feito um médico.

A operação era tão dolorosa que a paciente por vezes vociferava e fazia movimentos desordenados.
Mas a crise não teve longa duração.

Ao cabo de dez minutos todo o traço de entorse havia desaparecido, não mais inflamação, o pé tinha tomado sua aparência normal.
A Sra. G. estava curada.

Quando se pensa que para curar completamente uma afecção deste género, os mais dotados magnetizadores, os mais exercitados, sem falar da medicina oficial, que disto não cura, é necessário um tratamento cuja duração nunca é de menos de trinta e seis horas, consagrando três sessões espiritual, pode bem ser considerada como instantânea, como tanto mais razão, como diz o próprio Espírito numa comunicação que se encontra a seguir, que era de sua parte uma primeira experiência feita visando uma aplicação posterior, em caso de êxito.

Entretanto o Espírito continuava desconhecido do médium e persistia em não mostrar suas feições;
dava mesmo a impressão de querer fugir, quando, de um pulo, nossa doente, que minutos antes não polia dar um passo, se lança no meio da sala para apertar a mão do seu médico espiritual.

Neste momento a Sra. G. solta um grito e cai extenuada:
acabava de reconhecer o Sr. Demeure no Espírito curador.

Durante a síncope recebeu os cuidados dedicados de vários Espíritos simpáticos.

Enfim, readquirida a lucidez sonambúlica, conversou com os Espíritos, trocando fortes apertos de mão, principalmente com o Espírito do doutor, que respondia a seus testemunhos de afeição, penetrando-a de um fluído reparador.

Não é uma cena empolgante e dramática, na qual parecia serem vistas todas as personagens representando seu papel na vida humana?

Não é uma prova entre mil que os Espíritos são seres reais, tendo um corpo e agindo como faziam na terra?


Estávamos felizes por encontrar o nosso amigo espiritualizado, com seu excelente coração e sua delicada solicitude.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 05, 2012 9:55 am

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Em vida ele tinha sido médico do médium; conhecia sua extrema sensibilidade e a tinha conduzido como se sua filha.

Esta prova de identidade dada aqueles a quem o Espírito amava não é tocante e apta para fazer encarar a vida futura sob seu aspecto mais consolador?

Eis a comunicação recebida do Sr. Demeure, no dia seguinte a esta sessão:

"Meus bons amigos, estou ao vosso lado e vos amo sempre como no passado.
Que felicidade poder comunicar-me com os que me são caros!

Como fui feliz, ontem à noite, por me tornar útil e aliviar nosso caro médium vidente!
É uma experiência que me servirá e que porei em prática no futuro, sempre que se apresentar uma ocasião favorável.

Hoje seu filho está muito doente, mas espero que logo o curaremos.
Tudo isto lhe dará coragem para perseverar no estudo do desenvolvimento de sua faculdade.
(O filho da Sra. G. realmente foi curado de uma angina inflamatória, com medicação homeopática, ordenada pelo Espírito).

"Daqui a algum tempo poderemos fornecer-vos ocasião de testemunhar fenómenos que ainda não conheceis, e que serão de grande utilidade para a ciência espírita.

Serei feliz em poder contribuir a essas manifestações, que teria tido tanto prazer de ver quando vivo.
Mas, graças a Deus, hoje as assisto de maneira muito particular e que me prova evidentemente a verdade do que se passa entre vós.

Crede, meus bons amigos, que sinto sempre um verdadeiro prazer em me tornar útil aos meus semelhantes, e os ajudar a propagar estas belas verdades, que devem mudar o mundo, trazendo-o a melhores sentimentos.

Adeus, meus amigos; até a vista".
Antoine Demeure

Não é curioso ver um Espírito, já sábio na terra, como Espírito fazer estudos e experiências para adquiri mais habilidade no alívio de seus semelhantes?

Há nesta confissão uma louvável modéstia que confere o verdadeiro mérito, ao passo que os Espíritos pseudo-sábios geralmente são presunçosos.

O último número da Revista cita uma comunicação do Sr. Demeure, como dada em Montauban a lº de fevereiro.
Foi a 26 de janeiro que ela foi ditada.
Em minha opinião a data tem uma certa importância, porque foi ao dia seguinte à sua morte.

No segundo parágrafo diz ele:
... "Gozo de uma lucidez rara nos Espíritos há pouco desprendidos da matéria."

Com efeito, essa lucidez prova um rápido desprendimento, só peculiar a Espíritos moralmente muito adiantados.

A cura referida acima é um exemplo da ação do magnetismo espiritual puro, sem qualquer mistura do magnetismo humano.
Por vezes os Espíritos se servem de médiuns especiais, como condutores de seu fluído.

Aí estão os médiuns curadores propriamente ditos, cuja faculdade apresenta graus muito diversos de energia, conforme sua aptidão pessoal, e a natureza dos Espíritos, pelos quais são assistidos.

Conhecemos em Paris uma pessoa há oito meses atingida de exostoses na nuca e no joelho, que lhe causam grandes sofrimentos e a prendem ao leito.

Um de seus jovens amigos, dotado desta preciosa faculdade, lhe deu cuidados pela simples imposição das mãos, durante alguns minutos, sobre a cabeça e pela prece, que o doente acompanhava com fervor edificante.

Este experimentava, no momento, uma crise muito dolorosa, análoga à sentida pela Sra. G., logo seguida de uma calma perfeita.

Então sentia a impressão enérgica de várias mãos, que massageavam e estiravam a perna, que se via alongar-se de 10 a 12 centímetros.

Nele já há uma melhora muito sensível, porque começa a andar;
mas a antiguidade e a gravidade do mal necessariamente tornam a cura mais difícil e demorada que um simples entorse.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb maio 05, 2012 9:56 am

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Fazemos observar que a mediunidade curadora ainda não é apresentada, ao que saibamos, com caracteres de generalidade e de universidade, mas, ao contrário, restrita como aplicação, isto é, que o médium tem uma acção mais poderosa sobre certos indivíduos do que sobre outros, e não cura todas as doenças.

Compreende-se que assim deva ser, quando se conhece o papel capital que representam as afinidades fluídicas em todos os fenómenos de mediunidade.

Algumas pessoas mesmo só o gozam acidentalmente e para um determinado caso.

Seria pois, um erro crer que, por isso que se obteve uma cura, mesmo difícil, podem ser obtidas todas, pela razão que o fluído próprio de certas doenças é refractário ao fluído do médium;
a cura é tanto mais difícil quanto a assimilação dos fluidos se opera naturalmente.

Assim, é surpreendente que algumas pessoas frágeis e delicadas exerçam uma acção poderosa sobre indivíduos fortes e robustos.

Então é que essas pessoas são bons condutores do fluido espiritual, ao passo que homens vigorosos podem ser maus condutores.

Tem seu fluido pessoal, fluido humano, que jamais tem a pureza e o poder reparador do fluido depurado dos bons Espíritos.

De acordo com isto, compreendem-se as causas maiores que se opõem a que a mediunidade curadora se torne uma profissão.

Para dela fazer ocupação, seria preciso ser dotado de uma faculdade universal.
Ora, só Espíritos encarnados da mais elevada ordem poderiam possuí-la nesse grau.

Ter essa presunção, mesmo exercendo-a com desinteresse e por pura filantropia, seria uma prova de orgulho que, por si só, seria um sinal de inferioridade moral.

A verdadeira superioridade é modesta:
faz o bem sem ostentação e apaga-se em vez de procurar o brilho;
o renome vai buscá-la e a descobre, ao passo que o presunçoso corre à busca do renome que muitas vezes lhe escapa.


Jesus dizia aos que havia curado:
"Ide, dai graças a Deus e não o digais a ninguém."
É uma grande lição para os médiuns curadores.

Lembraremos aqui que a mediunidade curadora está exclusivamente na acção fluídica mais ou menos instantânea;
que não deve ser confundida com o magnetismo humano, nem com a faculdade que tem certos médiuns de receber dos Espíritos a indicação de remédios.

Estes últimos são apenas médiuns medicais, como outros são médiuns poetas ou desenhistas.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Cura moral dos encarnados

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 06, 2012 9:58 am

Revista Espírita, julho de 1865

Muitas vezes vêem-se Espíritos de natureza má ceder muito prontamente sob a influência da moralização e se melhorar.
Pode-se agir do mesmo modo sobre os encarnados, mas com muito mais trabalho.

Porque a educação moral dos Espíritos desencarnados é mais fácil que a dos encarnados?

Esta pergunta foi motivada pelo seguinte facto.

Um jovem cego há doze anos tinha sido recolhido por um Espírito dedicado, que tinha empreendido curá-lo pelo magnetismo, pois os Espíritos haviam dito que era possível.

Mas o jovem, em vez de se mostrar reconhecido pela bondade de que era objecto e sem a qual teria ficado sem asilo e sem pão, só teve ingratidão e mau procedimento e deu provas do pior carácter.

Consultado a respeito, respondeu o Espírito de São Luís:

"Esse jovem, como muitos outros, é punido por onde pecou e suporta a pena de sua má conduta.

Sua enfermidade não é incurável, e uma magnetização espiritual, praticada com zelo, devotamento e perseverança, certamente terá êxito, ajudada por um tratamento médico destinado a corrigir seu sangue viciado.

Já haveria uma sensível melhora em sua visão, que ainda não está completamente extinta, se os maus fluídos de que está cercado e saturado não opuseram um obstáculo à penetração dos bons fluídos que, de certo modo, são repelidos.

No estado em que se encontra, a acção magnética será impotente enquanto, por sua vontade e sua melhora, não se desembaraçar desses fluidos perniciosos.

"É, pois, uma cura moral que se deve obter, antes de buscar a cura física.

Um retorno sério sobre si-mesmo é a única coisa que pode tornar eficazes os cuidados de seu magnetizador, que os bons Espíritos procuram ajudar.

Caso contrário, deve esperar-se que perca o pouco de luz que lhe resta e novas e muito terríveis provações que terá de sofrer.

"Agi, pois, sobre ele como fazeis com os maus Espíritos desencarnados, que quereis trazer ao bem.

Ele não está sob uma obsessão:
é sua natureza que é má e, além disso, perverteu-se no meio onde viveu.

Os maus Espíritos que o assediam só são atraídos pela semelhante com o seu-próprio.
À medida que se melhora, eles se afastarão.
Só então a acção magnética terá todo o seu efeito.

Dai-lhe conselhos;
explicai-lhe sua posição;
que várias pessoas sinceras se unam em pensamento para orar, a fim de atrair para ele influências salutares.


Se ele as aproveitar não tardará a lhes experimentar os bons efeitos, porque será recompensado por um mais sensível na sua posição."

Esta instrução nos revela um facto importante, o obstáculo oposto pelo estado moral, em certos casos, à cura dos males físicos.

A explicação acima é de uma lógica incontestável, mas não poderia ser compreendida pelos que apenas vêem em toda a parte a acção exclusiva da matéria.

No caso de que se trata, a pura moral do paciente encontrou sérias dificuldades;
foi o que motivou a pergunta acima, proposta na Sociedade Espírita do Paris.

Seis respostas foram obtidas, todas concordando perfeitamente entre si.
Citaremos apenas duas, para evitar repetições inúteis.

Escolhemos aquelas em que a questão é tratada com mais desenvolvimento.

"Como o Espírito desencarnado vê manifestamente o que se passa e os exemplos terríveis da vida, compreende tanto mais rapidamente o que o exortam a crer e a fazer.

Continua...
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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Dom maio 06, 2012 9:58 am

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Por isso não é raro ver Espíritos desencarnados dissertar sabiamente sobre questões que, em vida, estavam longe de as comover.

A adversidade amadurece o pensamento.
Esta expressão é verdadeira sobretudo para as Espíritos desencarnados, que vêem de perto as consequências de sua vida passada.

A despreocupação e a ideia preconcebida, ao contrário, triunfam nos Espíritos encarnados;
as seduções da vida e, até, os seus erros, dão-lhes uma misantropia ou uma indiferença completa pelos homens e pelas coisas divinas.

A carne lhes faz esquecer o Espírito;
uns fundamentalmente honestos, fazem o bem evitando o mal, por amor do bem, mas a vida de sua alma é quase nula;

outros, ao contrário consideram a vida como uma comédia e esquecem seu papel de homens;

outros, enfim, completamente embrutecidos e último degrau da espécie humana, nada vendo além, não pressentindo mesmo nada, entregam-se, como o animal, aos crimes bárbaros e esquecem sua origem.


Assim, uns e outros, pela vida mesma, são arrastados, ao passo que os Espíritos desencarnados vêem, escutam e se arrependem com melhor vontade"
- Lamennais (médium: Sr. A. Didier).

"Quantos problemas e questões a resolver antes que seja realizada a transformação humana conforme as ideias espíritas!
A educação dos Espíritos e dos encarnados, do ponto de vista moral, está neste número.

Os desencarnados estão desembaraçados da carne não mais lhe sofrem as condições inferiores, ao passo que os homens, encadeados numa matéria imperiosa do ponto de vista pessoal, se deixam arrastar pelo estado das provas no qual estão metidos.

É a diferença dessas diversas situações que se deve atribuir a dificuldade que os Espíritos iniciadores e os homens que têm essa missão experimentam para melhorar rapidamente e, por assim dizer, nalgumas semanas, aqueles homens que lhes são confiados.

Ao contrário, os Espíritos aos quais a matéria não mais impõe as suas leis e não mais fornece os meios de satisfazer seus maus apetites, e que, por consequência, não tem mais desejos inconfessáveis, são mais aptos a aceitar os conselhos que lhes são dados.

Talvez respondam com esta pergunta que tem a sua importância:
Porque não escutam os conselhos de seus guias do espaço e esperam os ensinamentos dos homens?

Porque é necessário que os dois mundos visível e invisível, reagem um sobre o outro e que a acção dos humanos seja útil aos que viveram, como a acção da maior parte destes é benéfica aos que vivem entre vós.

E uma dupla corrente, uma dupla acção, igualmente satisfatória para esses dois mundos, que estão unidos por tantos laços.
Eis o que julgo dever responder à pergunta feita por vosso presidente"
- Erasto (médium: Sr. d'Ambel).

§.§.§- O-canto-da-ave
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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Teoria dos sonhos

Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 07, 2012 9:31 am

Revista Espírita, julho de 1865

É verdadeiramente estranho que um fenómeno tão vulgar quanto o dos sonhos tenha sido objecto de tanta indiferença da parte da ciência, e que ainda se esteja a perguntar a causa dessas visões.

Dizer que são produtos da imaginação não é resolver a questão;
é uma dessas palavras com a auxilio da qual querem explicar o que não compreendem e que nada explicam.

Em todo o caso, a imaginação é um produto do entendimento.
Ora, como não se pode admitir entendimento nem imaginação na matéria bruta, é necessário crer que a alma nisto entre para alguma coisa.

Se os sonhos ainda são um mistério para a ciência, é que ela se obstinou em fechar os olhos para a causa espiritual.

Procura-se a alma nas dobras do cérebro, enquanto ela se ergue a cada instante à nossa frente, livre e independente, numa porção de fenómenos inexplicáveis só pelas leis da matéria, notadamente nos sonhos, no sonambulismo natural e artificial e na dupla vista à distância.

Não nos fenómenos raros, excepcionais, subtis, que exigem pacientes pesquisas do sábio e do filósofo, mas nos mais vulgares.

Lá está ela, que parece dizer:
Olhai e ver-me-eis;
estou aos vossos olhos e não me vedes;

vistes-me muitas e muitas vezes;
vedes-me todos os dias;

os próprios meninos me vêem;
o sábio e o ignorante, o homem de génio e o ignorante me vêem e não me reconheceis.


Mas há pessoas que parecem temer olhá-la de frente, e ter a prova de sua existência.
Quanto aos que a procuram de boa-fé, até hoje lhes faltou a única chave que lhe poderia ter dado a reconhecer.

Esta chave o Espiritismo acaba de dar pela lei que rege as relações do mundo corporal e do mundo espiritual.
Auxiliado por esta chave é pelas observações sobre que se apoia, ele dá dos sonhos a mais lógica explicação jamais fornecida.

Demonstra que o sonho, o sonambulismo, o êxtase, a dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro, a penetração do pensamento não passam de variantes e graus de um mesmo princípio:
a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria.

A respeito dos sonhos, dá ele conta precisa de todas as variedades que apresentam?

Ainda não:
possuímos o princípio, o que já é muito;
os que podemos explicar pôr-nos-ão na via dos outros;
sem dúvida faltam-nos alguns conhecimentos, que adquiriremos mais tarde.


Não há uma única ciência que, de saída, tenha desenvolvido todas as suas consequências e aplicações;
elas não se podem completar senão por sucessivas observações.

Ora, nascido ontem, o Espiritismo está como a química nas mãos dos Lavoisier e dos Berthoffet, seus primeiros criadores;
estes descobriram as lei fundamentais;
as primeiras balizas fincadas puseram no caminho de novas descobertas.


Entre os sonhos uns há que tem um carácter de tal modo positivo que, racionalmente, não poderiam ser atribuídos a simples jogo da imaginação.

Tais são aqueles nos quais, ao despertar, adquire-se a prova da realidade do que se viu, e em que absolutamente não se pensava.

Os mais difíceis de explicar são os que nos apresentam imagens incoerentes, fantásticas, sem realidade aparente.
Um estudo mais aprofundado do singular fenómeno das criações fluídicas sem dúvida pôr-nos-á no caminho.

Esperando, eis uma teoria que parece permitir um passo no assunto.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 07, 2012 9:32 am

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Não a damos como absoluta, mas como fundada na lógica e podendo ser submetida a estudo.
Ela nos foi dada por um dos nossos melhores médiuns, em estado de sonambulismo muito lúcido, por ocasião do facto seguinte.

Solicitado pela mãe de uma jovem a lhe dar notícias de sua filha, que estava em Lyon, ele a viu deitada e adormecida, e descreveu com exactidão o apartamento em que se achava.

Essa jovem, de dezassete anos, é médium escrevente.
A mãe perguntou se ela tinha aptidão para se tornar médium vidente.

Esperai, disse o sonambulo, é preciso que eu siga o traço de seu Espírito, que neste momento não está no corpo.
Ela está aqui, na villa Ségur na sala onde estamos, atraída pelo vosso pensamento;
ela vos vê e vos escuta.

Para ela é um sonho, do qual não se recordará ao despertar.

Pode-se, acrescenta ele, dividir os sonhos em três categorias caracterizadas pelo grau da lembrança que fica no estado de despreendimento no qual se acha o Espírito.

São:

1º - Os sonhos que são provocados pela acção da matéria e dos sentidos sobre o Espírito, isto é, aqueles em que o organismo representa um papel preponderante pela mais íntima união entre o corpo e o Espírito.
A gente se lembra claramente e, por pouco desenvolvida que seja a memória, dele se conserva uma impressão durável.

2º - Os sonhos que podem ser chamados mistos.
Participam, ao mesmo tempo, da matéria e do Espírito.
O despreendimento é mais completo.
A gente se recorda ao despertar, para o esquecer quase que instantaneamente, a menos que uma particularidade venha despertar a lembrança.

3º - Os sonhos etéreos ou puramente espirituais.
São produtos só do Espírito, que está desprendido da matéria, tanto quanto o pode estar na vida do corpo.

A gente não se recorda, ou resta uma vaga lembrança de que se sonhou.
Nenhuma circunstância poderia trazer à memória os incidentes do sono.

O sonho actual da jovem pertence a esta terceira categoria.
Ela não o recordará.

Foi conduzida aqui por um Espírito muito conhecido do mundo espírita lionês e, mesmo, do mundo espírita europeu - o médium-sonambúlico descreve o Espírito Cárita.

Ele trouxe com o objectivo de que ela conserve senão uma lembrança precisa, um pressentimento do bem que se pode colher de uma crença firme, pura e santa, e do bem que se pode fazer aos outros, fazendo-o a si-próprio.

Ele diz à mãe dela que se ela se lembrasse tão bem em seu estado normal quanto se lembra agora de suas encarnações precedentes, não demoraria muito no estado estacionário em que está.

Porque vê claramente e pode avançar sem hesitação, ao passo que no estado ordinário temos uma venda sobre os olhos.

Ela diz aos assistentes:
"Obrigado por vos terdes ocupado de mim."

Depois beija sua mãe.
Como é feliz! acrescenta o médium, terminando, como é feliz com este sonho, do qual não se recordará, mas que, nem por isso, deixará de lhe deixar uma salutar impressão!

São esses sonhos inconscientes que proporcionam estas sensações indefiníveis de contentamento e de felicidade, de que a gente não se dá conta e que são um antegozo daquilo de que desfrutam os Espíritos felizes.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 07, 2012 9:32 am

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Disto ressalta que o Espírito encarnado pode sofrer transformações que lhe modificam as aptidões.
Um facto que talvez não tenha sido suficientemente observado vem em apoio da teoria acima.

Sabe-se que o esquecimento do sonho é um dos caracteres do sonambulismo.
Ora, do primeiro grau de lucidez, por vezes o Espírito passa a um grau mais elevado, que é diferente do êxtase, e no qual adquire novas ideias e percepções mais subtis.

Saindo deste segundo grau para entrar na primeiro, nem se lembra do que disse, nem do que viu.
Depois, passando deste grau para o de vigília, há novo esquecimento.

Uma coisa a notar é que há lembrança do grau superior para o inferior, ao passo que há esquecimento do grau inferior para o superior.

É, pois, bem evidente que entre os dois estados sonambúlicos, de que acabamos de falar, passa-se algo análogo ao que ocorre no estado de vigília e o primeiro grau de lucidez;
que o que se passa influi sobre as faculdades e as aptidões do Espírito.

Dir-se-ia que do estado de vigília ao primeiro grau o Espírito é despojado de um véu;
que do primeiro ao segundo grau é despojado de um segundo véu.

Nos graus superiores, não mais existindo esses véus, o Espírito vê o que está abaixo e se lembra.

Descendo a escada, os véus se formam sucessivamente e lhe ocultam o que está acima, com o que perde a sua lembrança.
A vontade do magnetizador por vezes pode dissipar esse véu fluídico e dar a lembrança.

Como se vê, há uma grande analogia entre os dois estados sonambúlicos e as diversas categorias de sonhos descritos acima.

Parece-nos mais que provável que, num e noutro caso, o Espírito se ache numa situação idêntica.

Para cada degrau que sobe, eleva-se acima de uma camada de garoa:
sua vista e suas percepções tornam-se mais claras.

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O que é a Doutrina - Página 29 Empty Cura pela magnetização espiritual

Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 08, 2012 9:23 am

Revista Espírita, setembro de 1865

Sem dúvida os leitores se lembram do caso de uma cura quase instantânea de um entorse, operada pelo Espírito do Dr. Demeure, poucos dias após a sua morte e que relatamos na Revista de março último, como a descrição da cena tocante ocorrida na ocasião.

Esse excelente Espírito vem ainda assinalar a sua boa vontade, por uma cura ainda mais maravilhosa, na mesma pessoa.

Eis o que nos escrevem de Montauban, a 14 de julho último:
"O Espírito do Dr. Demeure acaba de dar-nos uma prova de suta solicitude e de seu profundo saber.
Eis em que ocasião.

Na manhã de 26 de maio último, a Sra. Maurel, nosso médium vidente e escrevente mecânico, deu uma queda desastrosa e quebrou o ante-braço, um pouco abaixo do cotovelo.

A fractura complicada por distensões no punho e no cotovelo, estava bem caracterizada pela crepitação dos ossos e inchação, que são os sinais mais certos.

Sob a impressão da primeira emoção produzida pelo acontecimento, os pais da Sra. Maurel iam procurar o primeiro médico que aparecesse quando esta, retendo-os, tomou de um lápis e escreveu mediunicamente, com a mão esquerda:
"Não procureis um médico;
eu me encarrego disto. Demeure".


Então esperaram com confiança.
Conforme as indicações do Espírito, faixas e um aparelho foram imediatamente confeccionados e colocados.
Em seguida foi feita uma magnetização espiritual praticada pelos bons Espíritos que, provisoriamente, ordenaram repouso.

Na noite do mesmo dia, alguns adeptos, convocados pelos Espíritos, reuniram-se em casa da Sra. Maurel que, adormecida por um médium magnetizador, não demorou a entrar em sonambulismo.

Então o Dr. Demeure continuou o tratamento que havia iniciado pela manhã, agindo mecanicamente sobre o braço fracturado, já sem outro recurso aparente além de sua mão esquerda, nossa doente tinha tirado rápido o primeiro aparelho, deixando apenas as faixas, quando se viu insensivelmente e sob a influência da atracção magnética, o membro tomar diversas posições, próprias para facilitar a redução da fractura.

Parecia, então ser objecta de toques inteligentes, sobretudo no ponto onde devia operar-se a soldadura dos ossos;
depois se alongava, sob a acção de tracções longitudinais.

Após alguns instantes dessa magnetização espiritual, a Sra. Maurel procedeu sozinha, à consolidação das faixas e a uma nova aplicação do aparelho, consistente de duas tabuinhas ligadas entre si e ao braço por meio de uma correia.

Tudo, pois, se havia passado como se um hábil cirurgião tivesse, ele próprio, operado visivelmente.
E, coisa curiosa, ouvia-se durante o trabalho as palavras que, em suador, se escapavam da boca da paciente:
"Não aperte tanto!... Vós me maltratais!... ".

Ela via o Espírito do doutor é era a ele que se dirigia, suplicando poupar sua sensibilidade.
Era, pois, um ser invisível para todos, excepto para ela, que lhe fazia apertar o braço, servindo-se inconscientemente de sua própria mão esquerda.

Qual o papel do médium magnetizador durante esse trabalho?
Aos nossos olhos parecia inactivo;
com a mão direita apoiada na espádua da sonâmbula, contribuía com sua parte para o fenómeno, pela emissão de fluidos necessários à sua realização.

Na noite de 27 para 28, tendo a Sra. Maurel desarranjado o braço, em consequência de uma posição falsa, tomada durante o sono, declarou-se uma febre alta, pela primeira vez.

Era urgente remediar esse estado de coisas.
Assim reuniram-se novamente no dia 28 e, uma vez declarado o sonambulismo foi formada a cadeia magnética, a pedido dos bons Espíritos.

Após diversos passes e manipulações, em tudo como as acima descritas, o braço foi recolocado em bom estado, não sem ter a pobre senhora experimentado dores muito cruéis.

Apesar do novo incidente, o membro já se ressentia do efeito salutar produzido pelas magnetizações anteriores.

O que se segue alias o prova.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 08, 2012 9:23 am

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Momentaneamente desembaraçado das tabuinhas, repousava sobre almofadas, quando de repente se levantou alguns centímetros em posição horizontal e dirigido suavemente para a esquerda e para a direita;
depois baixou obliquamente e foi submetido a uma nova tracção.

A seguir os Espíritos se puseram a girá-lo e tornar a girá-lo em todos os sentidos e de vez em quando, fazendo trabalhar direito as articulações do cotovelo e do punho.

Tais movimentos automáticos imprimidos a um braço fracturado inerte, contrários a todas as leis conhecidas da gravidade e da mecânica, só podiam ser atribuídos à acção fluídica.

Se não tivesse havido a certeza da existência dessa fractura, bem como os gritos dilacerantes dessa pobre senhora, confesso que teria tido muita dificuldade em admitir o facto, um dos mais curiosos que a ciência possa registar.

Assim, posso dizer, com toda a sinceridade, que me sinto feliz por ter testemunhado semelhante fenómeno.

Nos dias 29, 30, 31 e seguintes as magnetizações espirituais sucessivas, acompanhadas de manipulações variadas de mil maneiras trouxeram sua sensível melhora no estado geral de nossa doente.

Diariamente o braço adquiria novas forças.
Sobretudo o dia 31 deve ser assinalado, como marcando o primeiro passo para a convalescença.

Naquela noite dois Espíritos, que se faziam notar pelo brilho de sua radiação, assistiam ao nosso amigo Demeure.

Pareciam dar-lhe conselhos, que este se apressava em por em prática.

Um deles, até, de vez em quando se punha à obra e, por sua suave influência;
produzia sempre um alívio instantâneo.
Pelo fim da noite as tabuinhas foram definitivamente abandonadas e ficaram só as faixas, para sustentar o braço e mantê-lo em determinada posições.

Devo acrescentar que, além disso, um aparelho de suspensão vinha aumentar a solidez do enfaixamento.

Assim, no sexto dia após o acidente e, mau grado a recaída sobrevinda a 27, a fractura estava em tal via de cura, que o emprego dos meios usados pelos médicos durante trinta ou quarenta dias, tinha se tornado inútil.

A 4 de junho, dia fixado pelos bons Espíritos para a redução da fractura complicada de distensões, reunimo-nos à noite.
A Sra. Maurel, apenas em sonambulismo, pôs-se a desenrolar as faixas, ainda enroladas no braço, imprimindo-lhe um movimento de rotação tão rápido que dificilmente o olho seguia os contornos da curva descrita.

A partir desse momento, servira-se do braço como habitualmente.
Estava curada.

No fim da sessão houve uma cena tocante, que merece ser relatada.
Os bons Espíritos, em número de trinta, no começo formavam urna cadeia magnética, paralela à que nós próprios formávamos.

Tendo-se levantado, a Sra. Maurel, pela mão direita, punha-se em comunicação directa, sucessivamente, com cada dois Espíritos, colocada no interior das duas cadeias, recebia a acção benéfica da dupla corrente fluídica enérgica.

Radiosa de satisfação, aproveitava a ocasião para agradecer com efusão o poderoso concurso que tinham prestado à sua cura.
Por sua vez, recebia encorajamento a perseverar no bem.

Terminado isto, ela experimentou suas forças de mil modos;
apresentando o braço aos assistentes, fazia-os tocar nas cicatrizes da soldadura dos ossos;
apertava-lhes a mão com força, indicando com alegria a cura operada pelos bons Espíritos.


Ao despertar, vendo-se livre em todos os movimentos, desfaleceu, dominada por profunda emoção!..."

Quando se foi testemunha de tais factos não se pode deixar de os proclamar alto e bom som, pois merecem atrair a atenção da gente séria.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 08, 2012 9:24 am

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Porque, então no mundo inteligente se encontra tanta resistência em admitir a influência do Espírito sobre a matéria?

Porque se encontram pessoas que crêem na existência e na individualidade do Espírito, mas lhes recusam a possibilidade de se manifestar?


É porque não se dão conta das faculdades físicas do Espírito, que se lhes afigura imaterial de maneira absoluta.

Ao contrário, a experiência demonstra que, por sua própria natureza, ele age directamente sobre os fluidos imponderáveis e, por conseguinte, sobre os fluidos ponderáveis, e mesmo sobre os corpos tangíveis.

Como procede um magnetizador ordinário?
Suponhamos que queira agir, por exemplo, sobre um braço.

Concentra sua atenção sobre esse membro e, por um simples movimento dos dedos, executado à distância e em todos os sentidos, agindo absolutamente como se o contacto da mão fosse real, dirige uma corrente fluídica sobre o ponto desejado.

O Espírito não age diversamente.
Sua acção fluídica se transmite de perispírito a perispírito, e deste ao corpo material.

O estado de sonambulismo facilita consideravelmente essa acção graças ao desprendimento do perispírito, que melhor se identifica com a natureza fluídica do Espírito, e sofre, então, a influência magnética espiritual, elevada ao seu maior poder.

Toda a cidade ocupou-se desta cura, obtida sem auxílio da ciência oficial, e cada um dá o seu palpite.

Uns pretenderam que o braço não se tinha quebrado;
mas a fractura tinha sido bem e devidamente constatada por numerosas testemunhas oculares, entre outras o Dr. D., visitou a doente durante o tratamento.

Outros disseram:
"É muito surpreendente!" e pararam nisto.

Inútil acrescentar que alguns afirmavam que a Sra. Maurel tinha sido curada pelo diabo.
Se ela não estiverem entre mãos profanas, nisso teriam visto um milagre.

Para os espíritas, que se dão conta do fenómeno, aí vêem muito simplesmente a acção de uma força natural, até agora desconhecida, e que o Espiritismo veio revelar aos homens.

Observações:
Se há factos espíritas que, até certo ponto, poderiam ser atribuídos à imaginação, como, por exemplo, os das visões, neste já não seria o mesmo.

A Sra. Maurel não sonhou que tivesse quebrado o braço, como não sonharam diversas pessoas que acompanharam o tratamento;
as dores que sentia não eram alucinação;
sua cura em oito dias não é uma ilusão, pois se serve de seu braço, o facto que no estado actual dos conhecimentos, parece impossível.


Mas não foi assim sempre que se revelaram novas leis?
É a rapidez da cura que vos espanta?

Mas não terá a medicina descoberto inúmeros agentes mais activos do que os que conhecia para apressar certas curas?

Nos últimos tempos não foram achados meios de cicatrizar certas feridas quase que instantaneamente?
Não se encontrou o de activar a vegetação e a frutificação?

Porque não se poderia ter um para activar a soldagem dos ossos?
Então conheceis todos os agentes da natureza?
Deus não tem mais segredos para vós?


Não há mais lógica em negar hoje a possibilidade de uma cura rápida do que havia, no século passado, de negar a possibilidade de fazer nalgumas horas o caminho que se levaram dez dias para percorrer.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 08, 2012 9:24 am

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Direis que este meio não está no codex;
é verdade;
mas antes que a vacina nele fosse inscrita, seu inventor não foi tratado como louco?


Os remédios homeopáticos também lá não se acham, o que não impede que os médicos homeopatas se encontrem em toda a parte e curem.

Aliás, como aqui não se trata de uma preparação farmacêutica, é mais provável que esse meio de cura não figure por muito tempo na ciência oficial.

Dirão, porém, se os médicos vem exercer sua arte depois de mortos, querem fazer concorrência aos médicos vivos;
é bem possível;
entretanto, que estes últimos se garantam;

se eles lhes arrancam algumas praticas, não é para os suplantar, mas para lhes provar que não estão absolutamente mortos, e lhes oferecer o concurso desinteressado aos que quiserem aceitá-lo.


Para melhor fazê-los compreender, mostram-lhes que, em certas circunstâncias, pode-se passar sem eles.

Sempre houve médicos e os haverá sempre;
apenas os que aproveitarem as novidades que lhes trouxerem os desencarnados terão uma grande vantagem sobre os que ficarem para trás.

Os Espíritos vem ajudar o desenvolvimento da ciência humana, e não suprimi-la.

Na cura da Sra. Maurel, um facto que surpreenderá, talvez, ainda mais que a rápida soldura dos ossos, é o movimento do braço fracturado, que parece contrário a todas as leis conhecidas da dinâmica e da gravidade.

Contrário ou não, o facto aí está;
desde que existe, tem uma causa;
desde que se renova, está submetido a uma lei.


Ora, essa lei que o Espiritismo nos vem dar a conhecer pelas propriedades dos fluidos perispiritais.

Aquele braço que, submetido só às leis da gravidade, não podia erguer-se, suponde-o mergulhado num líquido de uma densidade muito maior que a do ar, fracturado como está, uma vez sustido por esse liquido que lhe diminui o peso, poderá aí mover-se sem esforço, e até erguido som o menos esforço.

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