LUZ ESPÍRITA
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Experiência Mística e Espiritismo / Edelso Júnior

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 10:37 am

Experiência Mística e Espiritismo
Edelso Júnior


SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
RECOMENDAÇÕES
MISTICISMO

I – Origem do termo
II – Mística no Antigo e no Novo Testamento
III – Descrever e entender a mística
IV – O misticismo na Europa e Allan Kardec
VI – A Escola de Aprendizes do Evangelho


APRESENTAÇÃO
Edelso Júnior ao escolher a Editora Aliança para o lançamento de sua nova pesquisa Experiência Mística e Espiritismo nos dá muita alegria e orgulho, pois o tema foi objecto de controvérsias e desentendimentos no passado pelos estudiosos da doutrina espírita.
O autor já havia confiado à Editora Aliança diversos outros trabalhos relacionados ao final deste opúsculo. Esta obra lança novas luzes levando a uma melhor compreensão das experiências místicas.
Inicia especificando o significado do termo, fazendo uma síntese da mística em nossa tradição judaico-cristã. Após descrever o entendimento da mística e contextualizá-la na Europa aborda o papel de Kardec e toda sua obra no tema.
Culmina sua pesquisa orientando como uma escola iniciática, como a Escola de Aprendizes do Evangelho, pode auxiliar a conduzir um grupo de adeptos a uma experiência mística.
Enfim, acreditamos que o leitor irá apreciar a leitura deste opúsculo, pequeno na sua extensão, mas enorme e profundo nos conceitos analisados.
Boa Leitura!
São Paulo, setembro de 2020
Editora Aliança Experiência Mística e Espiritismo
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 10:37 am

PREFÁCIO
Mais do que penetrar no aspecto histórico da questão da Mística, o trabalho do nosso amigo Edelso vai à raiz do processo de desenvolvimento do ser humano.
É inerente ao ser a busca da compreensão da sua existência e do seu propósito. Portanto, espera-se que desperte em si uma capacidade de ver o espaço sagrado, como elemento para o processo da vida real, a vida invisível e seu modo de transformação como ser.
Por isso, este trabalho, que inicia visitando as raízes históricas da questão, acaba resultando em reflexão importante sobre nossa postura – nós, dirigentes e expositores da Escola de Aprendizes do Evangelho – como elementos que contribuem para a preservação dos valores essenciais desta escola de iniciação espiritual.
Entendemos também que há uma certa dose de ousadia necessária, ao revisitar os trechos da Codificação de Allan Kardec, em que a expressão misticismo encontra-se destacada como factor a ser evitado em muitas actividades para a pesquisa e o desenvolvimento da Doutrina Espírita.
Edelso trata a questão com a devida clareza, descrevendo o desafio do codificador para comunicar-se com a mentalidade racionalista positivista predominante em sua época, de maneira a divulgar, esclarecer e multiplicar as consequências do Espiritismo para o bem da humanidade.
Desta forma, entendemos, em nosso tempo, a vivência da mística como força despertadora do melhor do ser, em busca da sua elevação rumo às potências divinas, que dele esperam a força de transformação na caminhada evolutiva.
Em nosso modo de ver, adoptou-se aqui um caminho equilibrado para conciliar os textos de Kardec com a proposta espiritual transformadora das escolas de iniciação, que dependem da verdadeira mística, para sua existência.
Também é necessário fazer um apelo à consciência dos dirigentes e expositores, como responsáveis pela preservação dos factores necessários para que a Escola de Aprendizes alcance suas elevadas finalidades, neste momento de desafios espirituais, em que o ambiente religioso e o ambiente vulgar têm os seus limites diluídos.
Isso pode apresentar um esforço a mais na consecução dos objectivos de cada aula do nosso programa. Portanto, mais do que nunca, é importante relembrar a todos nós, responsáveis por essa caminhada espiritual: a atenção, o cuidado, a autodisciplina e a dedicação ao processo são cada vez mais necessários para que possamos entregar, à obra colectiva do bem, nossa modesta contribuição.
Muito farão os dirigentes e expositores ao começarem por si mesmos o processo de valorização desta experiência espiritual em suas vidas. Só assim torna-se natural compartilhar esta forma de ser e de viver com os alunos no ambiente da escola. Mais do que falar, é necessário viver. Mais do que pregar, necessário ser bom exemplo, fiel e verdadeiro.
O esforço nesse processo é algo que nos oferece a oportunidade de contribuir. Nossa consciência deve sinalizar que estamos nos esforçando ao máximo. Este é o conceito elevado da perfeição, segundo a proposta do Criador: darmos o máximo de nós mesmos.
Não nos omitirmos possibilita alcançar o nível que podemos atingir. Não nos contentemos com algo inferior em nós mesmos. Temos sempre as condições e o dever de fazer mais, então façamos mais.
As leis da vida não nos exigirão mais do que podemos fazer, porém cobrarão rigorosamente um milímetro a menos Experiência Mística e Espiritismo do que nossa consciência e nossa condição indicam que somos capazes.
Nosso esforço ao respeitar o ambiente místico em nossas realizações espirituais, a partir do nosso exemplo e da nossa boa vontade são factores importantíssimos para o êxito das Escolas de Aprendizes do Evangelho.
Com certeza, assim como foi para cada um de nós, como pessoas que trilharam este caminho de iniciação e que encontraram o seu ponto de transformação. Costumamos apelar para poderosa imagem da conversão de Paulo de Tarso, às portas de Damasco, como símbolo de nosso processo de elevação, contrariando todas as tendências inferiores.
Portanto, utilizemos os recursos, os conhecimentos e, acima de tudo, a força vigorosa do mundo espiritual, através de sua influência invisível em nossas realizações, para que possamos contribuir em plenitude com a transformação da vida, a começar de nossas vidas.
Que este trabalho seja uma pequena, mas poderosa, mola propulsora de incentivo ao cumprimento de nosso dever espiritual.

Eduardo Miyashiro
Director Geral da Aliança
Setembro de 2020
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RECOMENDAÇÕES
“Claro e instigante. Desmistifica a Mística e ajuda a inserir este processo de busca de Deus em nosso quotidiano, mostrando como faz parte da história do homem, das religiões e do nosso crescimento e necessidade de evolução.”
Cida Vasconcelos. Centro Espírita Renovar. Aliança Espírita Evangélica, regional SP/Centro.

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“Ler esse opúsculo faz com que não tenhamos medo de fazer esse silencioso mergulho interior na busca de nossos compromissos espirituais. Encontrar connosco, é encontrar a centelha de Deus que existe em nós.”
Vera Lúcia Bento. Centro Espírita Jardim das Oliveiras. Aliança Espírita Evangélica, regional Litoral/Sul.

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“É a espiritualidade presente em nosso quotidiano, lugar onde acontece a nossa conexão com Deus em uma experiência directa. Essa abordagem mostra uma leitura que inquieta e desafia o leitor a compreender melhor a mística, pensando como quem a pensou, como quem a viveu, reconhecendo a importância da força íntima, das indagações e das reflexões.”
Antonieta Faccas. Centro Espírita Aprendizes do Evangelho. Aliança Espírita Evangélica, regional Litoral/Centro.

* * *
“Este pequeno opúsculo nos dá a oportunidade de compreender um pouco mais a importância da experiência mística em nossas próprias vidas e do ambiente místico em nossas turmas de EAE. A transição do texto entre os conceitos ocidentais e orientais da mística nos ajuda a fazer uma ponte entre as diversas crenças e visões religiosas, proporcionando a reflexão sobre nós e como recebemos as influências do meio onde estamos inseridos.”
Denis Orth. Núcleo Espírita de Evangelização Francisco de Assis. Aliança Espírita Evangélica, regional Sorocaba.

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“Tema necessário para o acontecimento das aulas das Escolas de Aprendizes do Evangelho, onde poderemos nos tornar sensíveis às vibrações mais subtis do plano espiritual, através da prática constante e consciente de interiorização.
Oferece-nos a possibilidade de expansão para um tempo além do da escola e para os ambientes onde vivemos o nosso quotidiano.”

Maria J. Ribeiro. Grupo Espírita de Aprendizado Evangélico, Aliança Espírita Evangélica, regional Litoral/Centro.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 10:39 am

MISTICISMO

I – Origem do termo
A capacidade que o homem foi desenvolvendo no cultivo de suas tradições religiosas, na busca pelo contacto com suas divindades, com Espíritos tribais, com anjos da guarda ou com guias espirituais, segundo cada tradição, é uma marca muito profunda que caracteriza o desenvolvimento humano.
Uma das formas que o homem encontrou, e que por uma dessas “coincidências”, acabou sendo executada em praticamente todas as tradições espirituais do planeta, foi a capacidade de penetrar o silêncio interior. Talvez o homem tenha descoberto que essa interiorização silenciosa traga os mesmos resultados que a natureza, quando se refaz após o descanso da noite.
Esse é o pensamento de Thomas Merton1 quando afirma que o tempo, de que a natureza precisa durante as noites, é justamente para ela revigorar-se. Essa experiência, que se encontra em diversas propostas espirituais, é o que se chama misticismo. Assunto difícil, polémico, mas ao mesmo tempo de abordagem muito rica pela beleza que vai trazendo, conforme nos aprofundamos em suas características. Misticismo é uma dessas palavras que podem ser interpretada de diversas formas por causa do sentido polissémico que carrega.
A prece é uma dessas formas que o homem místico encontrou para refazer-se de suas agruras e do desgaste natural de uma vida de muita luta e sofrimento. Por ser uma acção que está inserida em praticamente todas as propostas religiosas, torna-se um fenómeno universal. Essa conexão que existe entre os homens religiosos por meio da prece, é uma das formas de integrar as personalidades em uma única proposta de ligação com sua essência e/ou com um ser superior.
Esse ser pode ter diversas formas de compreensão dentro de cada proposta, mas, em todas elas, a busca é justamente por uma proximidade com Ele, que, segundo algumas tradições, é o Criador de tudo e de todas as coisas, ou seja, Deus.
Quando se fala de experiência mística talvez o que para muitos é apenas fantasia, alienação, ou mesmo algum tipo de patologia, e não se pode, é claro, descartar nenhuma dessas hipóteses em algumas delas, individuais ou colectivas, elas podem se tornar um instrumento de grande utilidade para determinados tipos de indivíduos que estão buscando uma conexão maior consigo mesmo e com o sagrado. Podemos ver nas tradições monoteístas, ou seja, nas religiões que nasceram do tronco abraâmico (judaísmo, cristianismo e islamismo), que a prece como meio de comunicação com o sagrado ganha força e torna-se um instrumento poderoso de conexão transcendental, segundo a interpretação de cada uma dessas tradições.
A interiorização silenciosa que se faz no momento de uma prece, traduz uma possibilidade ímpar na comunicação com o mundo espiritual, passando a ser visto de forma diferente em alguns pontos, de acordo com a tradição. Mas algo deve ser ressaltado: a prece, neste caso englobando as três tradições religiosas monoteístas, torna-se um lugar comum. Não de espaço geográfico, mas de espaço espiritual, intencional, no coração e na mente de cada praticante, e isso viabiliza uma conexão não só com o sagrado, mas com os adeptos das diversas tradições espirituais do planeta.
No mundo ocidental, a primeira ideia sobre mística vem da Grécia Antiga. O termo mística, vem do adjectivo grego mystikós, que deriva dos verbos myo (fechar os olhos e a boca), myeo (aprofundar nos mistérios). Na Grécia Antiga, místico era o iniciado nas escolas dos mistérios, cujo objectivo era o contacto com o divino. O filósofo Platão concebeu a mística dentro do espectro da contemplação, fruto da elevação da alma em direcção a Deus. O neoplatonismo reforça a ligação com o divino por meio do desprendimento do mundo material para conquistar o conhecimento que está no mundo interno do iniciado que faz sua busca até Deus.
Três importantes escolas de mistérios existiram na Grécia Antiga:
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Mistério de Elêusis – cidade – os iniciados buscavam essa cidade para promover iniciações que os elevassem espiritualmente;
Mistérios Dionisíacos – escola que usava rituais selvagens, primitivos e alguns que iam contra as normas de convívio sociais; e,
Mistérios do Orismo – buscavam as experiências espirituais por meio de jejuns prolongados.
De qualquer forma, seja qual for o rito, ou a escola de mistério, a experiência mística na Grécia tinha o objectivo de levar o iniciado a aproximar-se do divino, e o fechar os lábios e os olhos era a expressão do silêncio, do guardar em segredo uma informação que a maioria das pessoas não estava preparada para receber.

1 Thomas Merton: Monge trapista, escritor e poeta francês do século XX. Experiência Mística e Espiritismo
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 10:40 am

II – Mística no Antigo e no Novo Testamento
Podemos acompanhar na história que esse sentido encontrou derivação entre os judeus enquanto dominados por Roma, bem como no cristianismo. Vemos então, na cultura que herda os conceitos judaico-cristãos, o místico relacionado à leitura e à interpretação de toda a simbologia e alegoria dos textos considerados sagrados, ou seja, a Bíblia.
O que se nota, ao adentrar nos textos bíblicos, é que não se encontra mystikós como adjectivo (designando qualidade de substantivo) e nem o místico como substantivo. Vamos ver, na Bíblia, especificamente o Antigo Testamento apresentando alguns de seus derivados como “mysterion”, proveniente da raiz mystikós, que pode significar um segredo entre as pessoas.
Por isso, no processo de interpretação, do desvendar de toda a alegoria da simbologia bíblica, o que está oculto só pode ser revelado por quem Deus escolher.
No Novo Testamento, por exemplo, vemos em Paulo de Tarso, que formatou o cristianismo como doutrina, que o mistério é essa revelação entre Deus e Jesus actuando no mundo para salvar a humanidade. Sendo assim, não sabemos o que pode acontecer quando Deus quer algo de nós. Por isso, dentro do cristianismo, o mistério ganha qualidade de algo que está oculto e somente poderá ser revelado quando Deus, na figura de Jesus, determina, sendo uma acção oculta, sem o nosso conhecimento; portanto, um ‘Mistério”. E, na mensagem do Apocalipse de João, teremos o mistério no sentido escatológico2, ou seja, os eventos futuros estão todos nas mãos de Deus, que os revela apenas para algumas pessoas específicas que carregam o dom de receber a revelação.
Esse era um período em que a maioria das pessoas que seguiam o cristianismo não sabiam de fato o que estava acontecendo em termos espirituais, a não ser que era necessário, uma mudança no coração e na mente dos cristãos.
A teologia, que vai se desenvolver durante a construção da Igreja Católica, especificamente nos três primeiros séculos, vai encontrar na Patrística3 o sentido místico, dividido em três aspectos importantes, que formam sua unidade em plano sequencial e cronológico no estudo:

1- Sentido Bíblico: neste ponto,
leva-se em consideração a leitura dos textos considerados sagrados (Novo Testamento) não dentro de seu conteúdo histórico, mas sim espiritual, como verdadeiro tratado divino, e para isso realçam a figura do Cristo divinizado;

2- Sentido litúrgico: o Cristo está actuando
de forma oculta na vida das pessoas de fé por meio dos sacramentos da Igreja;

3- Sentido espiritual: é o conhecimento
espiritual adquirido por meio da prece, da meditação e da interpretação de profundidade em busca do sagrado, de Deus. Independe do ambiente.
O Renascimento Cultural, nascido na Itália, no século XIV, vai modicando esse cenário da mística, dando um sentido não mais focado na questão do mistério como algo inatingível ao “simples mortal”, mas reforçando o conceito de uma experiência íntima com Deus, com o Cristo, por meio da prece ou mesmo da meditação.
Com isso, a experiência mística dentro do cristianismo ganha a sede, a busca incessante de experimentar Deus nas mais diversas formas de interiorização.
Vale também ressaltar que, durante toda a Idade Média, os diversos sentidos que se dava à mística vão alimentando correntes, movimentos de espiritualização voltados às diversas experiências que só enriqueceram o tema. A questão é que o termo místico ou mística somente foi usado a partir do século XVII, após os desdobramentos do Renascimento Cultural e o surgimento do Iluminismo. Antes disso, os místicos eram conhecidos como contemplativos ou espirituais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 10:40 am

O indivíduo místico é justamente a pessoa que faz um mergulho interior, no silêncio, e com isso vence as barreiras da consciência, penetrando muitas vezes em estados mais profundos da mente, conectando uma realidade que, para quem não a vive, é nada mais que imaginação. Para quem vive o mergulho interior, abre-se um leque de possibilidades de contacto real e transcendente. Na experiência mística de profundidade, o indivíduo conecta-se de tal forma consigo mesmo e com tudo o que está além da vida material, que passa a viver uma relação bastante dinâmica com o “outro lado”, expandindo suas possibilidades de aprofundar sua relação com seu semelhante em uma relação de alteridade. Isso não quer dizer que todo místico tem essa expansão dinâmica de forma profunda logo nas primeiras experiências e também não quer dizer que as diferenças desaparecem durante os episódios místicos. Alguns nem chegam a passar de uma experiência fugidia, sem nenhuma profundidade. A experiência mística é única e intransferível, mesmo dentro de segmentos religiosos distintos, como no caso de doutrinas monoteístas, pois, embora o tronco abraâmico as aproximem, existem de forma inegável e muito enriquecedora as singularidades de cada uma delas. Essa diversidade religiosa, mesmo as que não estão dentro do campo da tradição abraâmica, é extremamente positiva para um mundo cheio de necessidades diferentes no campo da religiosidade, da espiritualidade e de experiências culturais diversas.
Mas porque o místico que atinge esse grau de profundidade na experiência passa a ter uma relação de empatia com seus semelhantes, sejam eles de qual tradição for? Porque a experiência mística de profundidade tem mostrado uma conexão muito forte com aspectos mais importantes na relação humana, e a religião é uma dessas necessidades inerentes ao homem, que pode facilitar a interacção, a comunicação entre os povos. Ainda que as diferenças no campo doutrinário se evidenciem, as necessidades de conexão entre todos numa relação amistosa, amigável e muitas vezes complementar, pois o planeta é de todos, torna-se uma necessidade premente.
Há algo que nos chama a atenção. Estudando a vida dos místicos da cristandade, deparamo-nos com uma característica fundamental entre eles: o despojamento. Sim, a renúncia aos diversos apelos da vida material, no que diz respeito à
ambição, ao luxo. Os místicos desenvolvem um forte desprendimento da vida material, dedicando-se a projectos espirituais que beneficiam o próximo.
Aliás, essa é uma marca muito forte em uma das passagens do Novo Testamento, em Marcos 10:17-22, que relata a experiência do jovem rico que procura Jesus para saber o que deveria fazer para conquistar a vida eterna. Embora as orientações de Jesus sobre seguir os mandamentos da lei não apresentassem nenhum espanto ao jovem, pois ele afirmava segui-los, Jesus convida-o a vender seus bens, e o resultado dessa negociação era destiná-los aos pobres, renunciar a tudo, tomar sua cruz e segui-lo. Mas o jovem não estava disposto a chegar a esse nível de despojamento.
Mas é no Apocalipse de João que veremos a mística mais evidente, pois há duas características importantes em sua vida: o despojamento e a entrega. Por isso João passa a viver de forma atemporal dentro de suas visões impregnadas de simbologias.
Ainda que o termo misticismo tenha alguns pontos de vista bem diferentes entre suas várias interpretações, o que fica bem claro tanto na mística cristã, quanto na judaica, na islâmica, ou mesmo na budista é que, a experiência não é algo alienante, segregacional da realidade. O misticismo dessas vertentes religiosas é um misticismo de presença marcante no dia a dia. É um olhar para o transcendente, mas sem perder a ligação com o imanente. É a aspiração ao céu, mas sem perder a ligação com a Terra. A interiorização, seja por meio de uma prece ou de estados meditativos utilizando técnicas específicas mais avançadas, é uma forma para os que se familiarizam mais com esse termo de conexão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 10:40 am

Logicamente existem as experiências que não atingem a profundidade necessária para marcar profundamente o adepto, mas os que conseguem o grau necessário de interiorização e desprendimento espaço-temporal relatam coisas que, para os cépticos, entram na conta de delírio, surto esquizofrénico ou paranóide, e têm suas vidas transformadas de forma muito acentuada. Essa transformação apresenta um nível de comunicação positiva com o mundo, passando a relacionar-se melhor e de forma mais produtiva com seu semelhante porque o contacto com o transcendente coloca o místico em contacto com uma realidade que o posiciona diante do universo, ou seja, uma célula, uma engrenagem importante para fazer funcionar a máquina que governa o mundo. Sendo assim, não pode funcionar de forma egoísta, isolada, pois, além de saber, ele também passa a sentir que é parte deste todo. Isso é o que legitima a experiência que vai além do intelecto, do racional. É o sentir em si mesmo, o pulsar de toda a máquina universal. Com isso, em vez de sentir-se isolado do todo, ele adquire a conscientização de que, fazendo parte, deve contribuir para o bom funcionamento da máquina.
Uma das personalidades mais marcantes da tradição cristão-católica é, sem dúvida, Santa Teresa d’Ávila. Seu legado místico, ainda pouco divulgado, é um exemplo de que misticismo, alienação e actividade inoperante não combinam de jeito nenhum. Sua vida foi uma obra inspiradora para os que desejam a busca espiritual pelos caminhos da experiência mística operante.
“Teresa não nasceu rezando mas aprendeu a rezar, e fez da oração a ‘arte de amar’. Vai repetindo para si mesma e para os outros que a oração ‘não consiste em muito pensar mas sim em muito amar’. Esta novidade por ela trazida para a prática e a orientação da vida espiritual influenciará toda a mística cristã, daí em diante. Nela, inteligência e afectos se unem profundamente e, onde não chegam intuição e inteligência, sempre chega o amor. É clássica a definição de Teresa sobre a oração: ‘Para mim a oração é um tanto de amizade com Aquele que sabemos que nos ama’. Teresa vê na oração não um intimismo, tampouco uma fuga do compromisso com o mundo, mas sim uma porta que se abre para entrar no ‘castelo interior da nossa alma onde está o Rei, sua Majestade’.”4
Quando se trata de Teresa, a santa, ou mesmo quando se trata da experiência mística no ambiente cristã-católico, é perceptível que o fenómeno traz a marca de uma espécie de passividade, ou seja, a oração e a meditação são uma porta de acesso à experiência, mas não necessariamente uma técnica.
É um estar à disposição para o acontecimento. É um fenómeno de expectativa passiva. Por isso ela afirmava que devemos deixar a oração de lado para ajudar alguém que necessita.
Uma clara demonstração do que seja a fé operante nos predispõe a conviver com os necessitados do corpo e da alma.
Teresa não entendia, segundo os mais estudiosos de sua vida, como poderia uma fé estar associada apenas a um processo de exclusão da vida social, ao isolamento eterno.
Santa Teresa d’Ávila, é, na tradição cristã, um grande exemplo da mística produtiva e de seu verdadeiro sentido.
Segundo seus posicionamentos, o resultado mais produtivo da experiência mística é o amor ao outro.
Na vida de vários místicos da tradição cristã-católica, temos diversas experiências como as que ela viveu. Francisco de Assis, um dos místicos mais famosos do catolicismo, um Espírito que dedicou sua vida ao próximo de forma inegavelmente exemplar, sendo um renunciante do mundo, espécie de asceta mendicante, opção que nos parece fora de cogitação para uma sociedade inteira, também deu exemplos de um misticismo operante. Buscava seus momentos de solidão, como um verdadeiro yogue cristão. Seus processos meditativos e sua experiência como o primeiro estigmatizado5 de que se tem história na humanidade, coloca-o no rol dos missionários católicos que transcenderam a religião, ou melhor, a instituição da qual fazia parte.
Tanto Santa Teresa quanto Francisco de Assis, vamos verificar que a experiência mística, com todo o seu conteúdo impactante, emocional e de maravilhamento, é o que provoca a aproximação a Deus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 10:41 am

A experiência mística, nesses dois grandes vultos da cristandade, como também em outros, não os fixou no fenómeno em si, no maravilhamento, na contemplação, no isolamento do mundo, mas sim, funcionou como um incentivo para continuarem na obra exterior, no contacto com o sofrimento humano.
Sendo um transporte afectivo de compreensão espiritual, a mística deve ser entendida apenas como um dos caminhos para Deus, e isso não afasta a pessoa da sociedade, mas a insere no mundo, livre das amarras institucionais, ainda que o místico esteja a elas vinculado.
A compreensão da experiência mística em seu verdadeiro sentido de conduzir uma pessoa a aproximar-se de Deus só pode ser vivida se o observador abdicar de conceitos prévios, incompletos, preconceituosos sobre o tema; se romper com as limitações do termo, entendendo os contextos históricos e a própria polissemia das expressões.
É uma vivência singular, atemporal e pluricultural, buscando manifestar Deus, e não o descrever. Descrever o Absoluto é estar diante Dele, é estar em sua presença. Não somos capazes dessa façanha, por isso Deus é tratado como mistério em algumas tradições espirituais.
O que é muito comum na história é ver que boa parte desses místicos promoveram grandes transformações no pensamento religioso contemporâneo, e para isso acontecer, muitos deles abriram mão de suas liberdades, sendo reprimidos pelas próprias instituições de que faziam parte. É o caso de Santa Teresa, por exemplo.
Portanto, dentro da mística cristã-católica, nos dias de hoje, podemos notar os teólogos, filósofos e pensadores desse assunto afirmarem que todos podem buscar a Deus por meio da mística. Entendem que a experiência mística não é a experiência apenas de pessoas escolhidas por Deus, o que, aliás, é um termo bastante fora de contexto nos dias de hoje. Quando abrimos as portas da mente para o entendimento dessas questões, paramos de interpretar, de forma pejorativa, o assunto como um mistério.
Esse conceito de mistério como algo inatingível foi mantido pela tradição dogmática da Igreja, mas entre seus mais experientes místicos, a questão era muito mais fluida. O que fica bastante claro, quando conhecemos a história das tradições espirituais (e o cristianismo faz parte disso), é que o Evangelho de Jesus é obra essencialmente iniciática e mística. Portanto, Evangelho sem iniciação, ou seja, sem prática, é conteúdo improdutivo, e iniciação sem mística é obra morta, fria, sem conteúdo emocional, sem desprendimento de si mesmo.
Muitas propostas religiosas se apercebem da experiência mística, que é interpretada de formas diferentes; porém, uma experiência não pode jamais se propor a ser melhor ou superior à outra, pois para cada adepto existe uma forma diferente de vivência, pois isso está fortemente relacionado com sua construção psicológica, arquetípica.
O momento que estamos vivenciando, ou seja, o século XXI, é de muita informação, de muita riqueza cultural, mas também de muita intolerância religiosa. Quando uma religião passa a comportar-se como detentora exclusiva da verdade, querendo limitar cada vez mais a participação de outras experiências espirituais, ao ponto de pretender extingui-las, comete um ato de intolerância. A troca de ideias, de experiências, não é só bem-vinda, mas necessária. A dificuldade maior está na intenção de seus participantes, de seus líderes em poder compreender essa necessidade, e não somente em aceitá-la, mas em senti-la necessária, pois a aceitação ainda é um limite que precisa ser superado. O “aceitar” ainda significa que eu estou num processo de tolerância – o que já é um avanço – porque sou melhor, superior, generoso, e isso pode não funcionar muito bem para o avanço nas relações humanas por meio dos intercâmbios culturais. Ainda que existam práticas que necessitam ser superadas, isto deve ser feito de forma conjunta, por meio do desprendimento e da experiência. Por isso as propostas ecuménicas, a participação em conjunto em benefício da humanidade são uma porta que se abre para o exercício da alteridade, levando não só à cooperação mútua, mas à convivência fraterna entre todos.
A experiência da interiorização, do silêncio meditativo, quando alcançados níveis profundos, revelam pelos sentidos do místico a grandiosidade de um mundo, de um universo ainda muito distante da compreensão das massas. Isso traz uma resposta imediata ao místico: que sua vida é apenas uma pequena, mas bem pequena parcela da expressão divina neste universo desconhecido, e que a grandiosidade do arquitecto de tudo isso é tamanha e totalmente coberta, ainda, de “mistérios”, que nós nem poderíamos imaginar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 10:41 am

Esses limites que parecem ser propositais, são necessários para que o ser humano entenda que tudo deve ser feito com muita cautela e paciência no campo da conquista espiritual, no campo da vida. A descoberta gradativa do Absoluto dentro do que é permitido é uma forma de estímulo ao progresso. Ainda que toda a realidade esteja diante de nossos olhos, não a alcançaríamos, pois a verdade eterna é como uma casca de cebola, que precisa ser retirada uma de cada vez. Ainda que nossa experiência mística nos revele uma parte da grandiosa criação do universo, estaríamos submetidos aos limites intelectuais, culturais e emocionais para analisar a percepção da experiência. Podemos notar que a experiência de alguns místicos nesse campo já é suficiente para levá-los ao êxtase, a uma felicidade inenarrável. Que dirá o contacto com algo maior?
A experiência mística como tantas outras experiências humanas, pode ser muito difícil de ser compreendida por quem não a vive. Não se trata de uma teoria. Ela é real e bem concreta para quem a experimenta, para quem a sente. Ela não pode ser construída de forma intelectual, como nós estamos fazendo aqui tentando, num esforço inaudito transmitir em palavras, embora a inteligência e o intelecto possam ser usados para sua compreensão. Ela é, ao mesmo tempo, teoria e prática para o místico. É o acesso ao conhecimento pela sua vivência. Dessa forma, o místico passa a transmitir conhecimento, não de forma teórica, mas sim por ter experimentado tudo, e por isso passa a ser uma autoridade no assunto. Não precisou criar primeiramente tratados, fazer cálculos. Ele teve a experiência.
As tradições religiosas têm sido verdadeiros celeiros de experiências místicas. Se considerarmos as primeiras tradições monoteístas que resultaram do tronco abraâmico como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, teremos exemplos de diversas personalidades que a história nos revelou. A fonte de alimentação dessas tradições é a crença no Deus Único e sua acção sobre a vida humana na Terra de forma bastante directa.
Abrimos um espaço neste ponto para uma abordagem no pensamento de dois luminares do esoterismo islâmico: o sufismo. Foram eles, o poeta, jurista e teólogo sui Jalal ud-Dim Rumi (1207-1273) e Ibn Arabi (1165-1240), místico, poeta e filósofo sui Rumi foi um místico de grande sensibilidade na história islâmica e sua obra ecoa até hoje na cultura ocidental. É dele esta pérola do pensamento místico islâmico exarado em sua obra A dança da alma:
“Se você não me achar em você, nunca me achará, pois tenho estado contigo, desde o início de mim.”
Rumi afirmava que não podemos nos relacionar directamente com Deus. Para isso, torna-se necessário um suporte teofânico – manifestação de Deus em algum lugar ou pessoa.
Com essa sustentação teofânica, a conexão com o Absoluto torna-se viável dentro de certas medidas.
Em Rumi, entendemos que antes de buscarmos a Deus, Ele já nos procurou desde o princípio de tudo, ou seja, a história de Deus já é, antes mesmo de a nossa começar.
Na mística de Ibn Arabi, veremos que nesse universo múltiplo, Deus representa a verdadeira Realidade existente.
Todo o resto é, na verdade, uma expressão dessa Realidade única; portanto, relativa.
Na trajectória dos conhecimentos espirituais que se desenvolveram na humanidade, eles eram divididos em esotéricos e exotéricos.
O exotérico com “x” representa a orientação que desenvolvemos por meio de manuais, de sistemas elaborados e metodizados para disciplinar as pessoas. Alguém elaborou um sistema com um mapa seguro para as práticas espirituais que podem conectar as pessoas com suas divindades. As religiões estão repletas desses exemplos.
O conhecimento esotérico com “s” se refere ao iniciado que já seguiu as normas traçadas pelos manuais, pelos mapas, mas, em um determinado momento, ele se torna livre dessas normas para conquistar um conhecimento espiritual de profundidade, sem desconsiderar as normas que o fizeram quem ele é. Contudo, a maturidade espiritual que conquistou lhe permite interiorizar-se mais ainda nos conhecimentos, pelo processo da intuição, mas, repetimos, dentro das regras e das normas que aprendeu a respeitar.
As certezas doutrinárias, como propostas únicas para o desenvolvimento da percepção de Deus, são substituídas pela vivência expansiva, de maturidade espiritual aberta para um processo que tem vários caminhos. Por isso, o fundamentalismo não entra nessas experiências.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:48 pm

Um exemplo claro disso é o método das cinco fases do Desenvolvimento Mediúnico, proposto por Edgard Armond.
Com essa metodologia, Armond disseca as fases do transe mediúnico para preparar os médiuns que estão iniciando suas experiências mediúnicas. Por meio de uma metodologia didáctica, os Espíritos promovem um envolvimento com o médium por fases, com o intuito de treinar sua sensibilidade, permitindo ao médium diferenciar as entidades espirituais pela condição vibratória causada pela aproximação e pela
presença. Obedecendo a essas cinco fases, que são realizadas por diversas vezes durante o curso de médiuns, o médium consegue apurar sua sensibilidade e aprende a defender-se de possíveis ataques ou intenções de Espíritos maléficos ou simplesmente doentes.
Mas a questão aqui que nos interessa mais é que, após esses exercícios constantes para apurar a sensibilidade do médium, o momento do transe mediúnico acontece de uma só vez em fracção de segundos. Ou seja, quando o médium já venceu as fases preliminares do aprendizado, realizado de forma metódica e gradual, o fenómeno começa a superar essa fase pela dinâmica em que ele ocorre com o médium já acostumado ao processo. É nesse sentido que funciona a dinâmica da experiência mística. Ocorre justamente quando a entrega ao processo se realiza por completo, sem, contudo, deixar de lado o aspecto do aprendizado, da organização segura.
Na mística, o que ocorre é uma ampliação de alguns conceitos que aparentemente estão fora das regras, mas a verdade é que a mística de aprofundamento espiritual vai eliminando aquelas zonas de conforto das certezas doutrinárias como caminhos únicos, como propostas únicas ao encontro de percepção da Unidade. Essas vão sendo substituídas pela vivência expansiva de uma maturidade espiritual aberta a um processo que tem vários caminhos.
Esse é um dos motivos de o fundamentalismo religioso não entrar nessas experiências.
A aproximação de Deus pela mística só é possível quando não abdicamos da experiência da vida material, mas a vivemos em todos os níveis aceitáveis, porém sempre buscando o equilíbrio, para que o imanente possibilite a experiência do transcendente.
Além dessas experiências relacionadas às escolas de tradição judaico-cristã, poderemos também avaliar outras possibilidades, que mostram uma experiência que se diferencia delas pelo método. Nas escolas judaico-cristãs, a experiência mística costuma carregar a marca da passividade, porém não é um monopólio delas. O hinduísmo e suas vertentes indianas desenvolveram muito bem essa mística, e isso fica muito evidenciado nas diversas escolas que nasceram na própria Índia, mas que também ultrapassaram os limites territoriais asiáticos e vieram para a Europa e para a América, seja na forma de um esoterismo complexo, seja na popularização da escola de Sidharta Gautama, o budismo. A metodologia desenvolvida por essas vertentes de espiritualidade demonstra completo domínio sobre técnicas milenares, que foram passadas nos séculos sequentes até chegarem ao que temos hoje espalhados por todo o mundo ocidental em forma de cursos e escolas esotéricas. As tradições africanas também são lembradas pela difusão de experiências muito ricas com a mística no desenvolvimento de suas tradições espirituais. O Candomblé e, mais tarde, a Umbanda, ambas as raízes já no Brasil desde a chegada dos negros escravizados, realizavam e realizam rituais específicos para levar seus adeptos ao êxtase espiritual, alçando-os ao mundo astral sob a forma de um contacto mais directo por meio de fenómenos extáticos, mostrando pleno domínio da prática.
O esoterismo desenvolve diversas técnicas de desdobramentos espirituais que podem facilitar o contacto com o mundo espiritual por meio do desprendimento da alma de seu corpo. Algumas escolas esotéricas na Europa do final do século XIX usavam até alucinogénios para isso. No Brasil, temos a experiência com o Santo Daime, uma mistura de raízes que, quando consumidas após sua fervura, levam seus adeptos a experiências místicas muito intensas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:49 pm

Mas o que fica claro para uma experiência mística de profundidade é a não polarização dos sentidos, ou seja, nem a transcendência demasiada, nem a imanência demasiada. Nem a fixação no êxtase provocado, no maravilhamento da experiência, nem a total fixação no mundo material, esperando manifestações que a lógica e a razão possam definir.
O sufismo, nesse quesito, ajuda bastante seus adeptos no processo de desprendimento de si mesmos e de penetração no mundo místico, entendendo o papel do homem no processo evolutivo.
Segundo o sufismo, o homem está consumido pelo automatismo da vida, e isso não o permite estar consciente de si mesmo. Essa é a condição de adormecimento em que boa parte da humanidade se encontra, embora o homem pense que quer, que deseja e que tem plena consciência de si mesmo.

Mas é possível ao homem acordar desse adormecimento?
A pergunta, na verdade, não é essa, mas sim se o homem deseja acordar, se deseja despertar.

Nesse processo todo, quem poderia ajudá-lo a despertar?
Um mestre, uma escola, um ensinamento.
A dificuldade desse despertar é justamente porque o homem vive entre o passado e o futuro, mas quase nunca no presente.
O que colabora muito com esse estado de adormecimento é a quantidade de atracções, de distracções que são oferecidas pela sociedade de consumo. Um bombardeio de imagens e sons, de apelos de todo o tipo tirando todo o foco principal da vida humana. Essas distracções levam o homem a comportamentos comprometedores.
Neste ponto, a experiência mística oferece ao homem uma possibilidade de centrar sua atenção e de buscar essa presença, essa consciência em suas actividades.

2 Segundo a teologia e a filosofia trata-se de eventos da história que retratam o fim do mundo.
3 Primeiro período da filosofia medieval que abrange o século V até o século VII. Movimento dos padres da Igreja que objectivava unir a fé e a razão como forma de proteger a Igreja das heresias.
4 Teixeira, Faustino, No Limiar do Mistério, Mística e Religião, 2004. São Paulo: Paulinas, 47p.Experiência Mística e Espiritismo
5 Na tradição cristã, os estigmas são as marcas das chagas do Cristo apresentadas nos corpos de alguns místicos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:49 pm

III – Descrever e entender a mística
Como se pôde perceber, a experiência mística é subjectiva, não racional.
Sendo assim, como, então, é possível escrever algo sobre um tema que exige muito mais o sentir do que o falar?
Essa é, de facto, uma limitação do assunto.
A questão é que a experiência mística em si não é possível compartilhar, pela sua singularidade. O que podemos é tentar apresentá-la pela linguagem escrita ou falada. É uma tentativa de tornar visível uma experiência completamente vivida na alma, ou seja, no íntimo. Ao descrevê-las, não se pode deixar de fora o contexto de cada uma delas e o momento histórico e cultural em que são vividas. Portanto, é uma pálida tentativa de gerar uma expectativa, um deslumbramento, um desejo de vivê-las.
Podemos usar como exemplo o sabor de um alimento, a sensação de bem-estar que nos causam determinadas pessoas, ou mesmo a descrição da beleza.
Falar do sabor de um alimento, por mais que se apresentem argumentos, expressões, descrições maravilhosas, nunca chegará nem perto da sensação de experimentá-lo.
Descrever a beleza física de alguém, de um pôr do sol, será sempre algo muito frustrante, embora muitas pessoas consigam encontrar expressões muito ricas, mas esse também será um episódio que não conseguirá nos dar a real noção da experiência pessoal.
Com a mística é a mesma situação.
Por isso, convertem-se a beleza e o encantamento dessas experiências em verbo, e transforma-se em adjectivo aquilo que caracteriza essas experiências.
A linguagem da experiência mística será quase sempre recheada de descrições exageradas e muitas controvérsias em suas sensações, pois o misto de alegria, tensão, felicidade, júbilo e tristeza poderão acompanhar o místico em sua viagem em busca de Deus.

Então, o entendimento da mística pode ser realizado por duas vias:
a? Despertar pela curiosidade, pela vontade de realizar, por justamente sentir que falta algo dentro de si, e o conhecimento sobre a mística pela descrição de experiências pode estimular o indivíduo a vivê-la.
b) Partir para o método experimental por meio de práticas, de técnicas específicas dentro dos diversos segmentos religiosos.
Na primeira via, é importante que a pessoa que vai em busca de textos, de material sobre a mística esteja ciente de que, para entender a mística, é necessário pensar como quem pensou, como quem viveu a mística.
Nenhum místico pode dizer o que realmente sente, vivencia com sua experiência, a não ser conceitos gerais como bem-estar, euforia, êxtase, maravilhamento, encantamento pela busca incessante.
Contudo, a tentativa, por parte de uma pessoa, de transmitir a outra sua experiência mística só será frutífera se, de facto, suas experiências forem reais.
A mística não se opõe à razão. Ela vai além da racionalidade que conhecemos, vai além dos conceitos de razão que esta humanidade desenvolveu.
O facto de algo não ter encontrado definições não significa que não existam, que não sejam reais, pois há sentimentos que não conseguimos definir, mas nem por isso eles não são reais. Sentimento também é uma forma de conhecimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:50 pm

IV – O misticismo na Europa e Allan Kardec
O conceito de mística que apresentamos até agora não encontra respaldo na obra de Allan Kardec. Precisamos, contudo, contextualizar o assunto e verificar como era abordado durante o século XIX na Europa para entendermos como Kardec via essa questão. Para isso, faremos algumas incursões no passado.
Do século XII ao XVII, a teologia era a matéria de maior destaque nas universidades da Europa.
Não podemos esquecer que as universidades nasceram dentro da igreja católica.
A mística era um tema desenvolvido dentro da igreja e deveria ser colocado ao lado da física. Assim pensavam os jesuítas, por exemplo. Era uma área da teologia que estudava os textos sagrados, cuja ideia era a de se conectar a Deus.
Os que buscavam a experiência com o divino, por meio da contemplação, do contacto por meio das meditações, das leituras sacras, entre os séculos XII e XVI, na Europa, eram conhecidos como contemplativos ou espirituais, e não místicos. O termo místico como alguém que desenvolve experiências de elevação espiritual para manter um contacto com o sagrado, surge somente no século XVI, e já no XVII estava consolidado.
Após a consolidação do vocábulo, os místicos que buscavam uma verdadeira conexão com Deus adquirem respeito e admiração, mas também rejeição por parte daqueles que não acreditavam nessas experiências e os colocavam na conta de supersticiosos, infantis e até charlatães.
Mesmo nas universidades, os místicos eram essas pessoas que buscavam uma relação com o divino por meio de uma prática de desenvolvimento espiritual, de libertação da alma das materialidades da vida.
Veneração de uns e rejeição de outros, esses eram os sentimentos alimentados em plena intelectualidade da vida universitária iluminista europeia.
A partir do século XII, começaram a surgir novas ordens religiosas fora do ambiente monástico, controlado pela igreja católica de forma directa. As beguinas – ordem feminina – eram uma dessas ordens que buscavam a santificação por meio de práticas de oração e auxílio aos pobres fora dos muros da ordem. Nessas práticas, a experiência mística se destacava em muitas de suas integrantes, que passaram a contar suas experiências por meio de textos e poemas. Mais tarde, em pleno século XVI, intelectuais que não pertenciam ao clero católico também passaram a buscar a experiência mística. Passou a ser uma prática independente da instituição católica romana, e isso não foi visto com bons olhos por ela. Ficava evidente que não havia mais a necessidade de a igreja católica ser a única a intermediar essa relação entre o homem e Deus. Esse tipo de comportamento, em pleno século XVI, com a Europa vivendo a efervescência das políticas eclesiásticas em oposição aos movimentos culturais do Renascimento e logo em seguida do Iluminismo, não era uma prática considerada segura nem isenta de críticas e de condenações por parte da igreja romana.
Essa oposição da própria igreja católica fortaleceu outro oponente nessa questão, que foi o movimento iluminista e, na sequência, o Positivismo de August Comte.
Toda a racionalidade do Ocidente e seu tecnicismo pós-Iluminismo marcaram profundamente o desenvolvimento deste lado do hemisfério. Na verdade, a lógica e a racionalidade definem o desenvolvimento ocidental.
A mística, de certa forma, juntamente com outras práticas propagadas pela religião foram grandes contestadores deste perfil racionalista ocidental.
Foram os limites do racionalismo científico que levaram parte dos intelectuais mais sensíveis e menos dogmáticos às experiências místicas. Eles não tinham a intenção de excluir a razão de seus estudos, de suas práticas, mas queriam justamente ir além da razão. Embora alguns místicos fizessem oposição à razão, essa não era uma prática de todos eles.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:50 pm

O Renascimento Cultural iniciado no século XIV
promoveu uma série de possibilidades no avanço do conhecimento na Europa. Foi nesse contexto que começaram a surgir as ordens secretas, os movimentos esotéricos que iniciaram uma revolução espiritual no Ocidente, ainda que de forma velada, protegendo-se da investida da igreja católica.
Dentro dessas ordens, os místicos puderam desenvolver suas experiências, e a filosofia hermética passou a ser fortemente disseminada entre eles.
O que fica claro para os estudiosos do assunto é que a mística renascentista ficou conhecida como esoterismo. Essa ideia foi duramente combatida pela igreja católica, pois era um conhecimento gerado por meio das experiências místicas de seus membros, em sua maioria intelectuais, com a finalidade de abrir as portas a um campo da espiritualização independente, ou seja, sem a fiscalização da igreja.
A filosofia, ou melhor, os historiadores da filosofia passaram a contestar a participação dos intelectuais místicos nas universidades e, no século XIX, isso fica mais evidente, até que se chegou ao ponto de serem completamente banidas as ideias e os textos de místicos nos bancos académicos, pois foram tratados como supersticiosos e mais alguns adjectivos de menor valor.
A história mostra que abordar espiritualidade nas universidades europeias, logo após o advento do Iluminismo, foi uma prática que sofreu rejeição, pois os místicos, segundo grande parte da intelectualidade positivista europeia, eram os ledores de sorte, os magos que vendiam seus sortilégios em feiras e os fomentadores de práticas supersticiosas. O Positivismo colocou uma pedra nessa questão, banindo místicos ou temas relacionados à religião e à espiritualidade da academia, da mesma forma que baniram a teologia.
Poderemos ver que, com o fortalecimento das ideias académicas em tratar a teologia e a mística como propostas de menor valor e não mais dentro de parâmetros racionais em pleno século XVIII, os textos dos intelectuais místicos iam sendo ignorados do debate até que, no século XIX, já estavam completamente fora do âmbito académico.
Autores como Karl Marx (1818-1883), Friedrich Nietzsche (1844-1900), Sigmund Freud (1856-1939) e outros foram grandes fomentadores desse materialismo, que acabou se fortalecendo nos meios académicos europeus.
Com o surgimento do Espiritismo, em 1857, vemos um comportamento por parte de seu fundador, ou codificador, como muitos gostam de dizer completamente aberto para o mundo, expondo suas ideias, suas pesquisas sobre a manifestação dos Espíritos na vida material. Seu trabalho foi tão impactante que desde o início transformou-se em livros.
Porém, a obra de Allan Kardec, ao contrário do que muitos pregam, não é obra de fácil entendimento em todos os aspectos que abrange. Existem questões fundamentais para se conseguir estudar uma obra tão vasta, tão grandiosa quanto a que Kardec deixou para a humanidade.
O trabalho de Kardec começa já dentro de uma certa característica de desconstrução do racionalismo materialista, que também foi alimentado dentro do protestantismo e reforçado na ciência positivista, levando em consideração a metodologia para pesquisar os fenómenos espirituais que ocorriam na Europa, pois o clima era científico e, se algo surgisse de proposta espiritual que não tivesse a chancela da metodologia de pesquisa, não sobreviveria ao sistema materialista académico e seria, tal qual a teologia e o esoterismo renascentista, completamente desprezado.
Acreditamos que a compreensão da doutrina espírita deve obedecer a alguns critérios que vamos destacar:
1º - O conteúdo da obra – sua característica temática em cada publicação, as informações que estão sendo comunicadas e seus objectivos.

2º - O texto na obra – a maneira de comunicar o conteúdo, que é do século XIX. Escrita por um intelectual usando de vocabulário não popular. Fica evidenciado, em todas as obras, a personalidade de Allan Kardec, que em vários momentos, discorda ou complementa algumas informações dos Espíritos comunicantes e orientadores das respectivas obras. Isso o torna um dos autores de toda a obra.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:51 pm

3º - A obra em relação às demais obras da codificação – quais as conexões existentes entre uma obra e outra.
Quais assuntos são desmembrados e ampliados. Há divergência de conceitos entre elas?

4º - A obra no momento da Terceira Revelação – qual a relevância de cada obra dentro da importância da Terceira Revelação. Exemplo de O Livro dos Médiuns, condutor de orientação segura sobre a mediunidade, explicando, de forma detalhada, o processo de comunicação espiritual por meio dos médiuns e, com isso, reforçando a confiabilidade do Espiritismo como Revelação; e O Evangelho segundo o Espiritismo, evidenciando o carácter de religiosidade da Doutrina.

5º - Os avanços do conhecimento – a ciência da época de Kardec aos dias atuais; os conceitos da psicologia e a forma como era tratada a questão da mente no século XIX e como é tratada nos dias de hoje, após a “descoberta” do inconsciente por Sigmund Freud (1856-1939), Henri Bergson (1859-1941) e Carl Gustav Jung (1875-1961).
Nesse caso, ao Brasil, como maior país espírita do mundo, coube a tarefa de popularizar o Espiritismo. Nesse quesito, a história do movimento espírita brasileiro está recheada de personalidades importantes. Destacamos, porém três figuras que foram decisivas, mas sem qualquer demérito às outras: Bezerra de Menezes, Chico Xavier e Edgard Armond.
O Espiritismo, como uma ciência de observação e uma doutrina filosófica, não usou, em sua metodologia de tratamento para as questões que envolviam as manifestações espirituais, as mesmas ferramentas das religiões que o antecederam, muitas delas com suas experiências místicas bastante acentuadas.
Em primeiro momento, devemos entender que o conceito de misticismo que Kardec adopta é o mesmo que as universidades e a ciência positivista adotaram no século XIX, ou seja, o de experiências estranhas ao controle de uma metodologia racional, de manifestações esdrúxulas e supersticiosas, de comportamentos relacionados a pessoas com imaginação bastante fantasiosa e, muitas vezes, doentia, o que, de facto, caracterizava alguns comportamentos nessa época.
Isso está evidenciado em vários trechos de sua obra.

Se não, vejamos:
A Génese – 1868
Introdução
“Antes de entrarmos em matéria, pareceu-nos necessário definir os papéis respectivos dos Espíritos e dos homens na
elaboração da nova doutrina. Essas considerações preliminares, que a escoimam de toda a ideia de misticismo...”

O Evangelho segundo o Espiritismo – 1864
Capítulo XXI
Falsos Cristos e Falsos Profetas
Item 10 – Os falsos profetas da erraticidade “Em geral, desconfiai das comunicações que trazem um carácter de misticismo e de singularidade, ou que prescrevem cerimónias e actos extravagantes. Há sempre, nesses casos, motivo de suspeição.”
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:52 pm

Revista Espírita – 1864
Novembro – O Espiritismo é uma Ciência Positiva
“Eis um facto capital, senhores, que deve ser proclamado bem alto. Não, o Espiritismo não é uma concepção individual, um produto da imaginação; não é uma teoria, um sistema inventado para a necessidade de uma causa; tem sua fonte nos fatos da própria Natureza, em fatos positivos, que se produzem a cada instante sob os nossos olhos, mas cuja origem não se suspeitava. É, pois, resultado da observação; numa palavra, uma ciência: a ciência das relações entre o mundo visível e o mundo invisível; ciência ainda imperfeita, mas que se completa todos os dias por novos estudos e que, tende certeza, ocupará o seu lugar ao lado das ciências positivas. Digo positivas, porque toda ciência que repousa sobre fatos é uma ciência positiva, e não puramente especulativa.
(...)
Considerando desta maneira, o Espiritismo perde o carácter de misticismo que lhe censuram os detractores, justamente aqueles que menos o conhecem. Não é mais a ciência do maravilhoso e do sobrenatural ressuscitada: é o domínio da natureza enriquecida por uma lei nova e fecunda, uma prova a mais do poder e da sabedoria do Criador; são, enfim, os limites recuados dos conhecimentos humanos.”

Revista Espírita – 1868
Março – Comentário sobre o Messias do Espiritismo, item 4
“Parece que algumas pessoas temeram que a qualificação de messias espalhasse sobre a doutrina um verniz de misticismo.
Para quem conhece a Doutrina, ela é, de ponta a outra, um protesto contra o misticismo, pois tende a reconduzir todas as crenças para o terreno positivo das leis na Natureza. Mas, entre os que não a conhecem, há pessoas para as quais tudo o que sai da humanidade tangível é místico. Não temos que nos preocupar com sua opinião.”

O que é o Espiritismo - 1859
Capítulo I, 2º diálogo: Fenómenos espíritas simulados “Só a malevolência e uma rematada má-fé puderam confundir o Espiritismo com a magia e a feitiçaria, quando aquele repudia o fim, as práticas, as fórmulas e as palavras místicas destas. Alguns chegaram mesmo a comparar as reuniões espíritas às assembleias do sabbat, nas quais se espera o soar da meia noite, para que os fantasmas apareçam.”

Considerando, então, os apontamentos de Kardec, o Espiritismo não poderia se basear nas experiências dos místicos, segundo os conceitos que já expusemos aqui. Kardec teve todo um cuidado de não associar as pesquisas mediúnicas e a filosofia que dela decorreu dentro de parâmetros que em sua época estavam na berlinda das instituições académicas e da ciência positivista. Experiências que não poderiam ser comprovadas, analisadas e metodologicamente racionalizadas não poderiam entrar para o arcabouço doutrinário espírita. O outro ponto é que, sendo a mística de profundidade um evento de alto valor, segundo vários de seus pesquisadores e experimentadores, ela não está sob o controle da razão, por justamente ser uma experiência que está além da razão.
Kardec construiu uma proposta de espiritualização baseada em fenómenos que ele podia comprovar, mensurar e muitas vezes controlar por meio das evocações, por exemplo. Nisso não há nada de místico, de fato, pois o fenómeno mediúnico deveria ter uma explicação lógica e racional, pois se não fosse assim, cairia no descrédito.
A proposta de Kardec busca mostrar, com factos, a existência do mundo espiritual e o futuro que nos reserva em seus diversos níveis. Como uma ciência positiva, ela precisa de explicações e fundamentações.
A experiência mística de profundidade, que não tem nada a ver com as designações dos seus opositores do século XIX, não passa pelo controle da razão, pois, para existir, deve superar as especulações da lógica e da razão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:52 pm

Há uma entrega de quem a vivencia dentro das propostas espirituais em que cada uma está inserida, usando de técnicas ou não.
Acreditamos que a experiência mística de profundidade, para Kardec, deveria ser estudada e caracterizada dentro de padrões que, por ventura, ele estabeleceria, para realmente ser entendida de forma lógica e racional.

Mas isso não quer dizer que Kardec não conhecia o assunto, e isso fica evidente neste trecho inserido na Revista Espírita de abril de 1860, onde não há nenhuma contestação por parte dele:
Médium Sr. Colin
“Não fiqueis, pois, por mais tempo agarrados à madeira carcomida do pórtico, e penetrai audaciosamente no santuário celeste, tendo orgulhosamente à mão a bandeira da filosofia moderna, sobre a qual escrevereis sem medo: misticismo, racionalismo. Fazei ecletismo no ecletismo moderno; fazei-o como os Antigos, apoiando-vos sobre a tradição histórica, mística e legendária, mas tendo o cuidado sempre em não sair da revelação, luz que nos faltou a todos em recorrendo às luzes dos Espíritos superiores votados missionariamente à marcha do espirito humano. Esses Espíritos elevados que sejam, não sabem todas as coisas: só Deus as conhece; além disso, de tudo que sabem, não podem tudo revelar. Onde estaria, em que se tornaria, com efeito, o livre arbítrio do homem, sua responsabilidade, e o mérito e o demérito; e, como sanção, o castigo, a recompensa?

Entretanto, posso alinhar o caminho que vos mostro, com alguns princípios fundamentais; escutais, pois, estas coisas:
1º A alma tem o poder de esquivar à matéria;
2º De se elevar bem acima da inteligência;
3º Esse estado é superior à razão;
4º Ele pode colocar o homem em relação com o que escapa às suas faculdades;
5º O homem pode provocá-lo pela prece a Deus, por um esforço constante da vontade, reduzindo, por assim dizer, a alma ao estado de pura essência, privada de actividade sensível e exterior; pela abstracção, em uma palavra, de tudo o que há de diverso, de múltiplo, de indeciso, de turbilhonante, de exterioridade na alma;
6º Existe no eu concreto e complexo do homem uma força completamente ignorada até aqui: procurai-a pois.”
Moisés, Platão, depois Juliano.

Se as pessoas não entenderem que essa mensagem acima inserida, em uma publicação de Kardec e não contestada por ele, é uma proposta para se ampliarem as experiências místicas de profundidade, não no sentido que à época era entendida pelos académicos e opositores, até mesmo do clero, mas sim entendida como uma experiência real, de uma busca pela conexão com Deus, então não adianta ficar tentando explicar o óbvio. Devemos, portanto, fechar nossos ouvidos às críticas de pessoas que nem se deram ao trabalho de estudar ou mesmo de experimentar viver o fenómeno, que é real.
Para Kardec, de fato não existia o misticismo na base dos fenómenos espirituais, mediúnicos. O misticismo, na verdade, está em quem o vivencia, na maneira como ele sente o que está ocorrendo no momento da experiência, e não no objecto em si, que é a elevação da alma, seu desprendimento momentâneo para um voo mais alto nas experiências espirituais, que vão além da razão cartesiana.
A experiência mística é efeito da personalidade do indivíduo, e Kardec, como pesquisador, como cientista do Espírito, em suas diversas possibilidades de manifestações, via a mediunidade como ferramenta de pesquisa, de aferição e de controlo dos fenómenos espirituais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:52 pm

O seu trabalho em um mundo em que a racionalidade iluminista tomava conta e tentava extinguir as manifestações espirituais, que remetem à imortalidade, era realmente o de controlar, aferir e provar. Nada poderia fugir do controle, pelo menos no que dizia respeito aos fundamentos. Embora ele usasse a mediunidade como ferramenta de pesquisa, como veículo para entender a realidade espiritual, não negava que os médiuns pudessem ter experiências místicas.
Ainda que existam pessoas que tentam qualificar as experiências místicas como destituídas de valor, elas sempre existirão, pois são duas realidades e duas linguagens diferentes, e nem todas as pessoas conseguem compreender isso.
Um claro exemplo do que estamos abordando é a educação comum por meio de cursos e escolas e o processo educacional por meio da iniciação. Nesse caso, o primeiro modelo atende e cumpre seu objectivo racional na construção da personalidade em seu aspecto intelectual, mas frequentemente esse processo se inverte, levando o indivíduo a valorizar apenas o intelecto, a razão, e isso constantemente leva aos vícios e deforma a personalidade por meio de comportamentos imorais. O caminho da iniciação é o caminho do auto-conhecimento pela necessidade de trabalhar o sentimento. Nesse caso, boa parte da humanidade só o entende após arrastar existências de muito sofrimento.
Sempre haverá experiências que estarão acima dos conceitos racionais. A iniciação com ambiente místico é uma experiência muito produtiva e aceleradora do processo evolutivo humano.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:53 pm

VI – A Escola de Aprendizes do Evangelho
Vamos, então, depois de toda a abordagem construída anteriormente, definir o que é mística em três pontos:
a? É a disposição religiosa para promover a conexão do homem com Deus;
b? É vivida no interior da alma; e,
c? É uma experiência psicológica e intuitiva.
Se pudermos resumir, diríamos que a mística é a experiência do silêncio.
Ela é exercida de diversas formas. Vamos encontrar místicos que vivem a experiência da conexão com o divino por meio do jejum, da oração, de técnicas respiratórias diversas, de meditações, de cantos, de danças, de hinos e de práticas xamânicas.
Mas dentro da Escola de Aprendizes do Evangelho, como conduzir a turma à uma experiência mística de profundidade?
É importante que dirigentes, secretários e expositores entendam o que é estar presentes.
Presentes? Como assim?
Todos os responsáveis pela condução de uma turma de Escola de Aprendizes do Evangelho são a extensão de tudo o que esta Escola representa.
Nem sempre é importante o que se fala, mas sim a presença correta dentro da turma.
O estar presente nesse caso é o pleno entendimento e a execução das finalidades da Escola.
A presença desses responsáveis na condução da turma é manifestada pelo foco nos objectivos e tudo o que ele representa do processo de evangelização do ser. Para isso, é necessário que a experiência místico-iniciática seja vivida também fora do ambiente da Escola.
O místico, o iniciático exemplificado fora do ambiente da instituição. Ou seja, é a exemplificação que nos torna realmente presentes na condução da turma. Quando conseguimos, no esforço de cada dia, executar os ensinamentos do Evangelho aplicados na Escola de Aprendizes, somos então, uma extensão natural deles e com isso, o estar presente na sala vai além da questão física. Por ressonância natural exalamos espiritualidade no ambiente.
Em sala de aula entender a experiência mística como uma forma de se conectar com Deus, em ligação com a espiritualidade superior; depois, devemos criar esse ambiente seguindo as seguintes sugestões:
1º - Evitar assuntos que não estejam ligados ao processo de espiritualização.
• Manutenção da casa espírita, festas etc. são assuntos que se resolvem fora do ambiente iniciático;
• Usar o ambiente iniciático para resolver problemas e assuntos não pertinentes ao processo de espiritualização é um equívoco.

2º - Valorização do outro, sendo atencioso ao que ele fala.
• Simone Weil (escritora mística francesa do século XX) afirmava que a forma mais pura de espiritualidade é a atenção;
• Acolher o outro, entendendo que o que ele fala é importante, e valorizá-lo;
• A leitura do caderno de temas e as participações nas aulas com opiniões devem ser acompanhadas por todos os integrantes da sala.

3º - Escutar com o coração, evitando interromper quem fala para opinar, dar conselhos...
• Compaixão, cortesia e hospitalidade representam qualidades de um processo de espiritualização.

4º - Luz suave, música de fundo, silêncio meditativo.
• Leitura de uma página edificante, como da apostila Iniciação, e o silêncio meditativo são fórmulas de realizar a ambientação espiritual seguida da preparação, tranquilizando o Espírito das agruras do dia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:53 pm

5º - Dirigente e aluno devem ter uma relação de confiança.
• O dirigente precisa ter firmeza em suas colocações, segurança nas orientações que traz;
• Dirigente não é pai ou amigo do aluno, ele é o condutor da turma e deve permanecer nesse papel para executar, de forma eficiente e respeitosa, as finalidades da Escola.

6º - Conexão com o plano espiritual por meio de pensamentos e sentimentos elevados.
• É necessário intenção, desprendimento e noção por parte de todos de que esse ambiente é para buscar a espiritualização;
• Isso só se consegue enobrecendo as intenções e purificando os sentimentos.

7º - Preces e vibrações precisam de sinceridade de propósitos.
• A entrega ao plano espiritual, entendendo que a conexão é do coração, não das palavras;
• Esse é um ponto muito decisivo no que diz respeito às nossas intenções, pois, muitas vezes, preces e vibrações são direccionadas a personagens que nos causam oposição de sentimentos.

8º - Ter pleno conhecimento do que se está buscando dentro da Escola.
• O aluno deve saber o que está fazendo na turma, pois, sem essa noção, fica complicado manter sintonia com a turma encarnada e desencarnada;
• Alunos não devem ser conduzidos ao processo como se ele fosse um curso de espiritismo, mas sim um processo de iniciação.

9º - Ambiente sério não significa sem alegria.
• “Um sorriso cabe em qualquer lugar”;
• Ambiente sério não significa que não exista descontracção, mas tudo tem sua hora e contexto;
• Brincadeiras por meio de apelidos e anedotas desrespeitosas são ingredientes para desandar toda a estrutura espiritual da sala.

Esses nove itens são essenciais para a construção de um ambiente místico dentro da sala.
Portanto, o ambiente místico é um ambiente de saturação espiritual, é a formação de uma egrégora que possibilita sentir a espiritualidade actuando em todos, conectada com todos. Não há como sentir a presença dessa espiritualidade se não criarmos o ambiente para isso.
Não podemos esquecer que a finalidade do Espírito é chegar a Deus. Quando estamos dentro de um ambiente místico como o descrito acima, estamos buscando uma conexão com o Pai por meio dos Espíritos amigos que estão sustentando a turma. Vamos verificar que a preparação para as actividades espirituais que Edgard Armond elaborou, começando pela ligação com mentores individuais e na sequência vamos subindo na escala, é para chegarmos a Deus. Armond está reproduzindo, nessa simples preparação, de forma bem objectiva, o processo de evolução do Espírito, desde as experiências mais simples, começando pelo ambiente terreno.
No momento em que estamos em busca de Deus, não há religião, não há rótulos, não há separação do mundo.
Evangelho significa Boa Nova, Notícia Feliz. Então, propostas que trazem uma notícia feliz, uma conexão com Deus, são propostas ligadas ao Cristo.
Muitas das Fraternidades do Espaço trazem experiências muito fortes em culturas diferentes das ocidentais. Todas conectadas com o Cristo.
Quando estamos dentro da experiência de elevação a Deus, por meio de uma preparação que pode nos propiciar uma experiência mística, ou seja, um bem-estar pela presença espiritual, pela elevação dos sentimentos e pela conexão com o Pai, rompemos barreiras institucionais e vamos nos aproximando uns dos outros.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:53 pm

O gráfico acima mostra como seria a experiência mística de profundidade. Podemos notar que, à medida que cada indivíduo com sua proposta religiosa ou não, busca se aproximar de Deus, do Uno, ocorre não só a experiência de senti-lo, mas também de se aproximar e ouvir outros indivíduos que estão buscando a mesma coisa. Quanto mais o indivíduo A se aprofunda na experiência, que pode ser vivida de diversas formas, mais ele está próximo do indivíduo B, e assim vai acontecendo com todos os demais representantes de religiões ou mesmo de indivíduos que não estejam ligados a religião alguma. O ponto de convergência é Deus.
A dificuldade deste, como de todos os outros temas ligados aos processos iniciáticos, não é quem não os compreende, ou mesmo que faz oposição a eles, mas sim quem os compreende mal. Quem não consegue compreendê-los muitas vezes demonstra compreendê-los melhor do que os outros.
Lêem muitas obras, mas não conseguem fazer a conexão com a realidade da experiência místico-iniciática de profundidade, que no fundo é uma proposta de educação do Espírito.
A experiência místico-iniciática é um processo que atua na sensibilidade, na psicologia do indivíduo, e isso é um forte auxiliar para a mudança de comportamentos. Sendo uma proposta de educação do Espírito, a essência desse processo está justamente nas mudanças comportamentais, devido às transformações dos sentimentos que vão ocorrendo durante o processo iniciático. Entendemos que a mudança de ideias não é o suficiente para a transformação do indivíduo. As ideias são mudadas constantemente, já o comportamento não.
O caminho da Escola de Aprendizes do Evangelho, como processo de iniciação com base no Evangelho, leva-nos ao despojamento, ao desprendimento, à busca de Deus por meio de uma aproximação entre todos, e a mística é o elemento de conexão entre o Criador e a criatura.
A mística é voar no vazio, é dar asas para o encontro com Deus. Enquanto não compreendermos isso, continuaremos presos às gaiolas de nossas certezas doutrinárias.
Encerramos esse despretensioso estudo com o pensamento de Edgard Armond sobre o assunto:

Mundo Interno
“O verdadeiro discípulo, mesmo quando envolvido no tumulto da vida ambiente, integra-se, quando necessário, no silêncio interior. Não esbanja palavras para expressar sentimentos e pensamentos, porque os actos melhormente os revelam. Está sempre atento ao seu mundo interior, para que possa ver-se e sentir-se tal qual é, e ver como desperta e cresce a luz interna, o resplendor eterno de Deus em si mesmo, pela eclosão de sentimentos purificados, pelas transformações íntimas que podem surpreender dia por dia.”
Na semeadura I, lição 61

Bibliografias:
As fundações da mística, das origens ao século V.
Tomo I a presença de Deus: uma História da mística cristã ocidental. Bernard MacGinn. 1ª edição. 2012. São Paulo. Loyola.
Experiência Mística e Filosofia na tradição Ocidental. Henrique C. de Lima Vaz. 3ª edição. 2015. São Paulo. Loyola.
Mística – descobrir o espaço interior. Anselm Grün. 3ª edição. 2012. Petrópolis. Editora Vozes.
No limiar do Mistério – Mística e Religião. Faustino Teixeira (organizador). 2004. São Paulo. Paulinas.
Poemas Místicos – Divan de Shams de Tabriz. Jalal ud-Din Rumi. Tradução e introdução José Jorge de Carvalho. 2ª edição. 1996. São Paulo. Attar.
Silêncio – O poder da quietude em um mundo barulhento. Thich Nhat Hanh. Tradução de Rodrigo Peixoto. 1ª edição. 2018. Rio de Janeiro. Harper Collins.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Fev 16, 2024 8:54 pm

Obras de Allan Kardec:
O que é o Espiritismo.
O Livro dos Médiuns.
O Evangelho segundo o Espiritismo.
A Génese.
Revista Espírita de 1864 e 1868.
Obras de Edgard Armond:
Artigo do Jornal O Semeador, abril de 1967.
Na Semeadura I, lição 61.
Enquanto é Tempo.
Verdades e Conceitos II, lição 24.
O Espiritismo e a Próxima Renovação.
Guia do Aprendiz.
Guia do Discípulo.
Vivência do Espiritismo Religioso (artigo de Jacques Conchon)

O autor:
Edelso da Silva Júnior é historiador, professor, escritor, documentarista e produtor de filmes. Nasceu em berço espiritualista. Seus pais eram umbandistas. Conheceu o Espiritismo aos 15 anos, em 1985 através da mocidade espírita do Grupo Socorrista Itaporã, no bairro do Tatu apé, zona leste da cidade de São Paulo. Em 1992, passou a exercer suas actividades espirituais no grupo Espírita Apóstolo Matheus, instituição ligada a Aliança Espírita Evangélica, em São Matheus, também zona leste da capital paulista. É fundador do Grupo Espírita Os Inconfidentes, no Jardim Rodolfo Pirani. Pesquisador do espiritualismo em geral, é palestrante espírita, dirigente de Escola de Aprendizes do Evangelho e Curso de Médiuns. Foi voluntário da área de Divulgação Doutrinária da Aliança Espírita Evangélica, compondo a primeira equipe do programa radiofónico É Hora de Aliança, da Rádio Boa Nova de Guarulhos. Obras de sua autoria:
Lançado em 2004 - DVD.
Lançado em 2011 – DVD. Lançado em 2014 – DVD.
Lançado em 2010 – biografia.

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