LUZ ESPÍRITA
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TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo - Irmão José /Carlos A. Baccelli

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 21, 2018 11:05 am

TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo
Carlos A. Baccellli

Irmão José

TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo
A única referência histórica sobre Tecla, a jovem mártir, convertida por Paulo ao Cristianismo, está contida nas páginas da obra de Eusébio de Cesareia, em "História Eclesiástica", sob quase anónimo registo a respeito de seu testemunho de fé, nos primeiros tempos do Evangelho na Terra.
Aliás, diga-se, poucos foram os nomes de mulheres cristãs que o respeitável historiador teve oportunidade de fazer figurar na galeria de quantos, por amor ao Cristo, se entregaram ao sacrifício extremo, nas perseguições que, infelizmente, perduraram por cerca de trezentos anos, com o insano intuito de sufocar a Mensagem Cristã.
Contudo, ao lado dos homens que não hesitavam em confessar-se seguidores do Nazareno, pagando elevado tributo pela coragem no campo da fé, incontáveis foram as mulheres, de todas as idades, inclusive crianças, que, perecendo nos circos onde foram martirizadas, em actos de violência inimagináveis, concorreram para que o sacrifício do Senhor não fosse vão.
Escrevendo sobre alguns episódios da vida extraordinária de Tecla de Icónio, não tivemos outro propósito que não fosse o de fazer justiça ao seu heroísmo, que, até hoje, no mundo inteiro, segue inspirando milhares de almas que, a partir de si mesmas, se decidem a cooperar com Jesus na construção do Reino Divino para toda Humanidade.
Temos consciência das limitações desta narrativa e, por isto, rogamos escusas a nossos leitores, informando que, para efectuá-la, tivemos de recorrer aos arquivos falhos da própria memória, de vez que, conforme se poderá facilmente constatar, a vida da grande Mártir supera as expectativas que se possam fazer em torno das linhas despretensiosas que aqui deixamos consignadas, em torno de sua biografia.
Preferindo esperar que, através das singelas páginas deste livro, a missão que Tecla desempenhou nos primórdios do Cristianismo fale por si mesma, acreditamos ter colaborado para que os exemplos de alguns vultos cristãos dos primeiros séculos continuem a ser resgatados de seu quase esquecimento histórico, continuando a inspirar, na actualidade, quantos anseiam por melhor servir Àquele que nos é e sempre será Caminho, Verdade e Vida!

Irmão José
Uberaba - MG, no Natal de 2013.
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Índice
1 - Icónio
2 - Em Casa de Onesíforo
3 - Tecla
4 - A "Casa do Caminho"
5 - Sementeira
6 - A Conversão
7 - Tecla Cristã
8 - Paulo em Listra
9 - Diante do Procônsul
10 - Condenada à Fogueira
11 - Testemunhos de Fé
12 - Primeira Mulher a Pregar o Evangelho
13 - Com Paulo e Barnabé
14 -"Casa do Pão"
15 - Rumo a Jerusalém
16 - Tecla e Simão Pedro
17 - A Mulher e o Evangelho
18 - Novas Lutas
19 - Tecla e Maria de Nazaré
20 - Diálogo Inesquecível
21 - Tamar, a Filha Adoptiva
22 - Estêvão
23 - De Atália a Jerusalém
24 - "Actos de Paulo e Tecla"
25 - Viagem Missionária
26 - Em Tróade e Filipos
27 - Em Atenas
28 - Morte de Pedro e Paulo
29 - Últimos Dias
30 - No Mundo Espiritual
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1 - Icónio
A cidade de Icónio, ou Konya, hoje uma das mais progressistas da Turquia, próxima das cidades de Listra e Derbe, foi, em remoto passado, um dos palcos onde grandes lutas foram travadas pela implantação do Cristianismo na Terra.
Sucessivamente, esteve ela sob o domínio dos frígios, do licônios, dos capadócios, dos gálatas e, por último, dos romanos, que a fizeram localizar no sul de sua Província da Galácia.
O seu nome, segundo a Mitologia, deveu-se à vitória de Perseu contra um dragão, sendo que os seus habitantes, a fim de homenageá-lo, lhe edificaram um obelisco, ou ícone.
Em sua primeira viagem missionária, na pregação da Boa Nova, em companhia de Barnabé, após ter sido expulso de Antioquia de Pisídia, Paulo visitou-a, deparando-se nela com entranhado culto aos deuses e grande degradação de ordem moral.
Isso se deu logo após João Marcos, sobrinho de Barnabé (José de Chipre), ter-se separado do tio e do próprio Paulo, deliberando voltar a Jerusalém.
Icónio, nos primeiros lustros da Era Cristã, era uma cidade predominantemente povoada por gregos e judeus, estabelecendo-se entre eles acirrada disputa no campo religioso, de vez que os gregos, também escravizados pelos romanos, não haviam abdicado da idolatria, à qual se opunha o fanatismo do povo judeu.
Interessante é que os romanos mostravam-se condescendentes com os gregos, de quem haviam adoptado a cultura, inclusive a de natureza anímica, mas não com os descendentes de Abraão, Isaac e Jacob, que pugnavam pela existência de um Deus único.
Em Icónio, como, aliás, em toda a Judeia e também no Egipto, travava-se ferrenha conflagração que, desde o patriarca Abraão e o faraó Akhenáton, fora deflagrada pela ideia monoteísta, em oposição ao politeísmo, aliás, zelosamente defendido pela casta sacerdotal predominante.
Tanto entre os judeus quanto entre os egípcios, a crença em um Deus único era causa de conflitos e derramamentos de sangue.
Evidentemente, ambos, Abraão e Akhenáton, também chamado Ámenhotep, eram espíritos provenientes do sistema planetário de Capela, na Constelação do Cocheiro, que, exilados na Terra, trouxeram consigo considerável concepção mais avançada a respeito do Criador de Todas as Coisas.
Os judeus primitivos, influenciados pelos assírios e caldeus, adoravam diversos deuses, como a Tamuz, do qual o deus Baal, que motivou o profeta Elias a enfrentar os seus sacerdotes no Monte Carmelo, é uma das manifestações.
No Egipto, Tamuz era conhecido como Amon, a quem o faraó monoteísta fez destronar, introduzindo o culto a Áton, o que lhe rendeu ferrenha oposição dos prioritários sacerdotes de Ámon, porque, desde os primórdios, o poder religioso se traduzia por poder de ordem divina e humana, com inevitável ingerência no campo político...
Akhenáton, que era poeta, chegou, inclusive, a compor hinos de glorificação a Áton, que ele comparava ao esplendor do Sol:
"Bela é a tua aurora no horizonte do céu, Ó vivo Áton, Começo da Vida!
Quando te levantas no Oriente,
Enches todas as terras com a tua beleza".
É, infelizmente, certo que o ousado e tenaz reformador religioso e político jamais venceria a terrível oposição defendida pelas castas sacerdotais, senão do próprio povo egípcio.
Então, insuportável reinar em Tânis, transferiu-se, com a esposa - a bela Nefertite -, em resistência, para Mênfis, onde se deu por vencido...
Esse mesmo movimento, orquestrado pelas Leis Divinas, no sentido de impulsionar o progresso espiritual da Humanidade, se verificaria em outras partes do Orbe, como na Pérsia, com Zoroastro, ou Zaratustra, que, igualmente, encarnou com a missão de proclamar a crença em Mazda, o Senhor da Luz!
A verdade, porém, é que os espíritos capelinos, entre os habitantes primários do Planeta, sempre intuíram a existência de um Ser Supremo, porque, mesmo entre os deuses do Olimpo, Zeus sobressaía de todos os seus pares, que, segundo a Mitologia, não passavam de seus coadjuvantes na tutela do destino dos homens...
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Escolhendo doze Apóstolos, o Senhor, referindo-se a Deus na condição de Pai que "está no Céu", transferia o Olimpo para as mais remotas e transcendentes Dimensões do Universo, crença que, gradativamente, evoluiria para a concepção monista dos tempos atuais, à qual Ele próprio não deixou de se referir, quando, em várias oportunidades, afirmou que "o Reino de Deus está no coração de cada um".
Não obstante, voltemos a Icónio.
Na praça central da cidade, que, naquela tarde ensolarada, regurgitava, podemos testemunhar mais um dos muitos embates entre gregos e judeus, os quais, praticamente, não passavam um único dia sem digladiarem, moral e fisicamente, por conta de suas crenças religiosas.
Embora o luminoso advento de Sócrates e Platão, no século IV antes de Cristo, combatendo o antropomorfismo, os dois grandes sábios, no máximo, haviam logrado que, no Areópago, se introduzisse um nicho destinado ao Deus Desconhecido, ao qual Paulo, visitando Atenas, teria oportunidade de se referir, em seu ponderável pronunciamento.
Por esse motivo e outros, Allan Kardec, de maneira inspirada, haveria de considerá-los como Precursores da Ideia Cristã e do Espiritismo.
— Zeus é o Senhor Supremo do Céu! - bradava em alta voz um grego que se inflamara, ante a provocação que um judeu lhe fizera.
Poseidon e Hades, seus irmãos, cuidam do Mundo Oceânico e do Mundo Infernal!
Esta é a nossa Trindade Universal!
Não sejam tolos!...
— Idiota! - retrucava o judeu, com as mãos crispadas.
— Jeová é o Senhor dos Exércitos!
Ele nos libertou da Servidão do Egipto e, durante quarenta anos, nos guiou à Terra Prometida...
Vocês são estrangeiros aqui!
Fora! Fora!
Este lugar nos pertence!
Não o dividiremos com vocês!...
— Para fazê-los escravos dos romanos! - provocou outro grego, arrancando sorrisos da multidão.
O Rei de vocês, ao que dizem, foi morto numa cruz como malfeitor...
A libertá-Lo, vocês próprios preferiram conceder liberdade a tal Barrabás, que vivia assaltando as caravanas e espoliando as viúvas!...
— Ele não era e não é nosso Rei! - redarguiu um segundo judeu, prestes a se lançar sobre quem o desafiava.
O Messias, anunciado pelos nossos mais iminentes profetas, ainda está para vir...
Ele, sim, nos libertará e engrandecerá de vez!
Somos o povo escolhido!
Deus é um só!
Vocês são idólatras e pecadores, destinados ao Vale de Hinom!
Porcos imundos!...
— Vocês tentaram destruir o templo de Artemis, irmã gémea de Febo!
Não aceitaremos tal violência...
Os próprios romanos adoram todos os nossos deuses, mudando orgulhosamente seus nomes! E vocês?!
Jeová, um Senhor dos Exércitos que dizem ter aparecido num monte que, nem em altura e majestade, se compara ao Olimpo, cujo topo se perde por entre as nuvens...
Mal terminara de alardear estas últimas palavras ofensivas, o grego que assim os insultara recebeu na fronte uma violenta pedrada, que o fez rodopiar e cair por terra, com o sangue a esguichar na poeira.
Num átimo, a confusão se generalizou, deixando ao fim um saldo de três mortos e dezenas de feridos, sendo necessário que, uma vez mais, os soldados romanos sediados em Icónio interviessem com enérgico rigor.
Além de se defrontarem com os gregos, os judeus, constantemente - fosse nas ruas ou no singelo prédio em que haviam improvisado uma sinagoga - altercavam mesmo entre si, dividindo-se entre os seguidores de Moisés e os do Cristo, o qual, até então, para esmagadora maioria, realmente não passava de alguém que merecera morrer crucificado.
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Em Icónio, portanto, na época a que nos reportamos, praticamente, não existiam cristãos absolutamente convictos, que, ainda em pequeno número, se concentravam em Jerusalém e algumas aldeias, como Betsaida e Cafarnaum e outras às margens do Rio Jordão e do Mar da Galileia. Corriam notícias de que alguns seguidores do "Caminho" estavam sendo perseguidos, e na cidade muitos comentavam o que acontecera a Estêvão, morto por apedrejamento, como o primeiro mártir cristão.
Enquanto alguns presos eram conduzidos à cadeia por soldados, o comandante do destacamento, como que a dizer impropérios, ia falando em voz alta à multidão que não se dispersava:
— Roma está sendo excessivamente tolerante com essa gente fanática...
Não há um só dia em que não tenhamos de sair para apaziguarmos os ânimos exaltados dos judeus!
Perto desses selvagens, os gregos nos dão menos trabalho!...
Melhor que passássemos todos a fio da espada e acabássemos de vez com esses loucos!...
E acrescentava, indignado:
— Esse povo não pensa em outra coisa, senão em seu Deus, que dizem ser o Deus Verdadeiro!
Ora, por Júpiter, tenho comigo que o Imperador ainda há de se arrepender de tanta tolerância!...
Porém, quando a noite caía, Icónio, praticamente, se transformava em nova versão de Sodoma e Gomorra, com homens e mulheres se embriagando, entregues a perversões e promiscuidades de toda espécie.
Parte humilde e trabalhadora da população vivia com medo e, assim que começava a escurecer, trancava-se dentro de casa, porque acontecia muitas crianças e adolescentes serem raptados e vendidos como escravos, nunca mais sendo vistos pela família.
Os seus desvios de conduta no campo da libertinagem eram tão arraigados, que, mesmo após muitos deles terem se convertido ao Evangelho, Paulo necessitou escrever-lhes de forma veemente, como se encontra registrado em sua Carta aos Gálatas, capítulo 3, versículo 1 a 3:
"Ó gálatas insensatos!
Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?
Quero apenas saber isto de vós:
recebestes o Espírito pelas obras da Lei, ou pela pregação da Fé?
Sois assim tão insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais agora vos aperfeiçoando na Carne?"
Icónio estava na rota da primeira peregrinação missionária de Paulo, o ex-Doutor de Tarso, que se deu no ano 45 da Era Cristã.
Em companhia de Barnabé e João Marcos, aquele que seria o jovem Evangelista Marcos, filho de Maria Marcos, irmã do primeiro, eles seguiram, inicialmente, à Ilha de Chipre, onde foram recebidos com grande alegria pelos moradores, os quais tinham Barnabé em alta estima.
Ali, sem maiores problemas, eles efectuaram as suas pregações, partindo, após, para Perga e Panfília, na direcção de Antioquia, na Pisídia.
João Marcos, no entanto, ainda adolescente de 14 anos, desalentado ante as muitas dificuldades que encontravam, passando fome e frio, deliberara voltar a Jerusalém, deixando que Paulo e seu tio, um tanto decepcionados, continuassem sem ele ao encontro de maiores testemunhos.
A viagem, apenas cumprida parcialmente, não haveria, porém, de lhe ser inútil, porque, durante todo o percurso, o jovem os escutava falarem a respeito dos feitos e das lições do Cristo, que, então, apenas verbalmente se propagavam.
Em compensação, muito significariam, por fornecer-lhe subsídios para, mais tarde, redigir as suas preciosas anotações, a se completarem com os depoimentos de Simão Pedro.
Em Antioquia, comparecendo anonimamente à sinagoga, quando um dos chefes lhes franqueou a palavra, Paulo levantou-se e, conforme se pode ler, de maneira sucinta, em "Atos dos Apóstolos", capítulo 13, versículos 16 a 41, falou com a eloquência de outrora, que aprendera de Gamaliel, seu antigo mestre no Sinédrio:
"Varões israelitas, e vós outros que também temeis a Deus, ouvi:
O Deus deste povo de Israel escolheu nossos pais e exaltou o povo durante sua peregrinação na terra do Egipto, donde os tirou com braços poderosos; e suportou-lhes os maus costumes por cerca de quarenta anos no deserto; e, havendo destruído sete nações na terra de Canaã, deu-lhes esta terra por herança, vencidos cerca de quatrocentos e cinquenta anos.
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Depois disto, lhes deu juízes até o profeta Samuel.
Então eles pediram um rei, e Deus lhes deparou Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim, e isto pelo espaço de quarenta anos.
E, tendo tirado a este, levantou-lhes o rei Davi, do qual também, dando testemunho, disse:
Achei a Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade.
Da descendência deste, conforme a promessa, trouxe Deus a Israel o Salvador, que é Jesus..."
Com o seu extraordinário poder de síntese e a lógica irrefutável de seu pensamento, o Grande Converso, profundo conhecedor das Escrituras, apresentava a Jesus na condição do Messias que o povo de Israel não queria aceitar.
Nenhum dos Doze se fizera mais talhado do que ele para a missão, que o próprio Senhor lhe designara às portas de Damasco.
Dificilmente, outro espírito, em que pese à sua intolerância religiosa como rabino, haveria de se haver tão bem na tarefa para a qual Paulo, certamente, nascera predestinado.
Acreditamos que até mesmo a perseguição que fez desencadear contra os cristãos, dando início a trezentos anos de martírios inenarráveis, serviu para lhe formar o espírito, cravando-lhe um "espinho na carne" da própria consciência culpada, que assim o impelia a se doar sempre e cada vez mais a Jesus Cristo, ao ponto de dizer:
"... já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim..."!
O êxito que Paulo e Barnabé obtiveram naquele sábado na sinagoga de Antioquia não passou do prenúncio dos testemunhos que os aguardavam adiante, de vez que, no sábado seguinte, quase toda a cidade comparecera para ouvi-los falar, o que despertou a inveja dos judeus conservadores.
Acontece que, "cheios do Espírito Santo", ambos, durante a semana, haviam realizado diversas curas, inclusive a de uma senhora cega de nome Sara, que, desde menina, nunca enxergara a luz do dia, e de um menino que não conseguia andar, a não ser se arrastando penosamente, utilizando a suas mãos como se pés fossem.
Sentindo-se assim desprestigiados, os judeus que comandavam a sinagoga começaram a espalhar que Paulo e Barnabé, a serviço de Roma, não passavam de espiões, que ali estavam para descobrir e denunciar quem demonstrasse simpatia pelo Crucificado.
Semelhante artimanha não lhes foi difícil conceber, porque, afinal de contas, a figura de Paulo ainda não conseguira sobrepujar de todo a figura de Saulo, o orgulhoso doutor da lei, que, praticamente, era o mentor da perseguição contra os seguidores do Nazareno.
Enquanto os gentios de todas as partes, ávidos de esperança numa vida melhor, hauriam profundo consolo nas palavras de Paulo e Barnabé, predispondo-se à aceitação do Cristo, os judeus, de espírito endurecido, começaram a instigar "as mulheres piedosas de alta posição e os principais da cidade" contra eles, fazendo com que corressem risco de vida.
Fazendo-lhes ameaças públicas e veladas, eles os expulsaram de seu território.
— Não se aborreça, Paulo! - confortou Barnabé o amigo que não se deixava abater tão facilmente.
Pelo menos, nos foi concedido falar na sinagoga...
Muitos sequer tinham ouvido falar a respeito de Jesus!
Não podemos pretender que as sementes plantadas floresçam assim tão depressa...
Simão costuma dizer que o Senhor sempre repetia que o Reino de Deus não vem com visível aparência!
Pressinto que teremos grandes lutas pela frente, e elas estão apenas começando...
— Não estou triste - respondia o Apóstolo das Gentes, enxugando as lágrimas que lhes escorriam dos olhos - pelas humilhações que sofremos, ou por termos sido expulsos como se fôssemos leprosos...
Aborreço-me ao pensar que, de certa maneira, sou o culpado por tudo, pois fora eu a insistir com o Sinédrio para que considerasse os seguidores de Jesus na condição de hereges!
— Todos nós erramos - prosseguia Barnabé, dizendo.
Muitos dos profetas, nossos pais, a pretexto de defenderem a Lei, ordenaram que muitos fossem mortos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 21, 2018 11:06 am

Por ordem do próprio Moisés, num só dia, três mil idólatras foram mortos...
Com todo o respeito, não seriam eles nossos irmãos?!
Não nos ensinou o Senhor a amarmos mesmo nossos inimigos?!...
— Todavia - insistia Paulo -, em minha consciência, eu não encontro justificativa para o que fiz...
— À excepção de Jesus Cristo, eu não conheço nenhum homem virtuoso que assim tenha saído do ventre de sua mãe!
— Você t em razão, Barnabé - retrucava o companheiro de viagem -, e preciso dizer-lhe que o que Gamaliel significou para mim no Judaísmo você está significando no Evangelho!
Sem você, eu não conseguiria empreender esta viagem...
— Quem me dera! Eu tenho quase o dobro de sua idade e não consigo lhe acompanhar os passos...
Por vezes, falta-me o fôlego, e sinto o coração bater descompassado em meu peito.
Tenho orado a Deus para que me fortaleça!
Paulo, a fim de mais bem servir aos propósitos do Senhor, eu gostaria de ter o seu corpo robusto...
— E, com o mesmo propósito, eu gostaria de ter a robustez de seu espírito!...
Assim dialogando, fosse sob a luz das estrelas ou sob o sol causticante das estradas quase abandonadas, parando muito pouco para descansarem e comerem, é que os dois amigos puderam, por fim, chegar a Icónio, cidade que distava 140 quilómetros de Antioquia.
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2 - Em Casa de Onesíforo
Em Icónio, Paulo e Barnabé, extremamente exaustos, foram bater à porta da casa de Onesíforo, um recém-convertido que lhes fora indicado por um amigo comum.
A viagem, sem dúvida, lhes estava sendo proveitosa, em promissora semeadura, mas os ânimos contra os adeptos do "Caminho", logo conhecidos como "cristãos", se mostravam cada vez mais exaltados.
É que as legiões trevosas intuíam os adversários do Cristo para o perigo que o seu Evangelho representava, em seus propósitos de libertação espiritual da Humanidade escravizada às Sombras.
Não há outra maneira de se explicar o ódio encarniçado que se passou a votar aos seguidores do Nazareno, incapazes de erguer a mão para se defender do menor ataque.
Eles, quase sempre, eram constituídos de homens e mulheres extremamente simples, pobres e doentes, que não representavam ameaça para ninguém.
Onesíforo havia sido um escravo que, tornando-se cristão, por ter curado a filha do homem a quem servia, por intercessão da mãe da menina, que aparecera com estranhas manchas violáceas no corpo, ganhara a liberdade, passando, então, a morar com a família numa pequena casa que lhe fora presenteada pelo genitor da pequena.
Os três, evidentemente, não se conheciam, mas Paulo, portando carta de recomendação de Ibraim, para quem o ex-rabino trabalhara como tecelão em Antioquia, apresentou-se a Onesíforo, a fim de que este os hospedasse em sua casa.
Barnabé, igualmente, mostrara-lhe carta escrita por Eustáquio, a quem o antigo escravo conhecia pessoalmente.
Convém sempre destacar que ambos, Paulo e Barnabé, procuravam, aonde chegavam, não ser pesados a ninguém, sendo uma de suas primeiras iniciativas encontrarem trabalho com que pudessem garantir a própria sobrevivência, na conquista do pão de cada dia.
À época, devido ao grande fanatismo que imperava em toda a Judeia e, de resto, no mundo todo, era muito grande o número de exploradores, que, valendo-se da ignorância e da superstição, extorquiam dinheiro do povo.
Quando eles atravessaram a Ilha de Chipre, chegando a Pafos, tiveram que se defrontar com um judeu, mágico e falso profeta, de nome Barjesus, que, segundo Lucas anotou no capítulo 13 de "Atos dos Apóstolos", estava a explorar um Procônsul de nome Sérgio Paulo, que havia muito padecia de insidiosa enfermidade.
Barjesus, também chamado Elimas, era, sem dúvida, um médium vinculado a espíritos infelizes, que, servindo-se de suas faculdades mediúnicas, manipulavam o povo com suas mentiras.
Sabendo que os dois pregadores do Evangelho haviam chegado a Pafos, o Procônsul, com o intuito de lhes ouvir a palavra, mandou chamá-los, o que, de imediato, provocou inveja ao mágico.
Este episódio, em riqueza de detalhes, é narrado por Emmanuel, no livro "Paulo e Estêvão", de sua lavra espiritual.
Ouvindo Paulo, que sempre se fazia acompanhar de Barnabé, o Procônsul passou a se interessar por Jesus e, através da cura espiritual que assim obtém, reconquista a saúde do corpo debilitado, comprometendo-se a fundar uma igreja em Pafos.
Desprestigiado, Elimas encoleriza-se e, diante do Procônsul o qual, de imediato, se desfaz de seus serviços, enfrenta a Paulo e Barnabé, acusando-os de poderosos feiticeiros, que, certamente, haviam aprendido a arte de ludibriar com mestres desconhecidos...
— O nosso único Mestre - rebateu Paulo com firmeza - é Jesus Cristo, que nos recomenda "darmos de graça o que de graça recebemos"...
Não vivemos a expensas da fé!
A diferença entre nós está em nossas mãos - falou diante do Procônsul atento, mostrando, com Barnabé, as mãos feridas pelo trabalho rústico.
— Mostre-nos as suas mãos, para que lhe conheçamos o coração! - insistira Barnabé.
Algo hesitante, mas sob o severo olhar do Procônsul, Elimas estendeu as mãos espalmadas, que não exibiam uma única calosidade advinda de algum trabalho de ordem material.
Desde muito, o falso profeta vivia de explorar a boa-fé das pessoas, administrando-lhes poções que apenas lhes proporcionavam melhora aparente de paliativos.
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Paulo que, até aquele momento, buscara se controlar emocionalmente, tomado de profunda indignação, disse a Elimas as palavras que se encontram registradas no citado capítulo de "Atos dos Apóstolos", versículos 10 a 13:
"Ó filho do Diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor?
Pois agora eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o Sol por algum tempo.
No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão.
Então o Procônsul, vendo o que sucedera, creu, maravilhado com a doutrina do Senhor".
Onesíforo, que morava com a esposa e dois filhos, abraçou os dois companheiros e, com imensa alegria, os convidou a entrar, dizendo:
— Vocês chegaram na hora do jantar...
Não reparem na sua pobreza, mas venham participar de nossa mesa!
Teremos imensa alegria em dividir com vocês tudo que temos!...
— A mesa do Senhor é sempre farta de bênçãos! - exclamou Barnabé, que sempre fazia questão de se colocar um passo atrás do amigo de viagem.
Num simples pedaço de pão, Ele pode multiplicar as nossas forças ao infinito!...
A gratidão de Paulo à hospitalidade e amizade de Onesíforo ficaria imortalizada na sua Segunda Epístola a Timóteo, no capítulo 1, versículos 16 a 18, escrita no cárcere:
"Conceda o Senhor misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me deu ânimo e nunca se envergonhou das minhas cadeias.
Antes, tendo ele chegado a Roma, me procurou solicitamente até me encontrar.
O Senhor lhe conceda, naquele dia, achar misericórdia da parte do Senhor.
E tu sabes, melhor do que eu, quantos serviços me prestou ele em Éfeso".
A conversa naquela casa, na qual se fundaria a primeira igreja cristã em Icónio, estendeu-se até a alta madrugada.
Onesíforo e sua família escutavam com atenção as notícias de Jerusalém, em torno de Jesus Cristo, que, em verdade, estavam repercutindo longe, até mesmo na Capital do Império.
Comentava-se, inclusive, que Tibério César, o Imperador, se havia deixado tomar de simpatia por Jesus, mormente após ter lido o que, a respeito dele, lhe escrevera o Senador Públio Lêntulus, sendo o sublime texto denominado "Retrato de Jesus".
— Diante do que me relatam - ponderava Onesíforo -, não resta dúvida de que Jesus de Nazaré, filho de José e Maria, é o Messias anunciado pelos profetas de nosso povo.
Tudo que Isaías escreveu a seu respeito veio a se confirmar...
E citava de memória um trecho das Escrituras:
"Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.
Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
Mas ele foi trespassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados".
— Deveremos, então - indagou a esposa de Onesíforo, de nome Ester -, esperar que sejamos libertados do jugo dos romanos...
Moisés nos libertou da escravidão do Egipto, e o Cristo nos libertará da escravidão de Roma - é isto?!
Ah!, como anseio que os meus filhos cresçam livres!...
Barnabé, sorrindo, pousou a destra sobre a cabeça de um dos filhos de Onesíforo e Ester, respondendo:
— A libertação que o Cristo nos oferece transcende a libertação das algemas com que Roma nos subjuga!
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TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo - Irmão José /Carlos A. Baccelli Empty Re: TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo - Irmão José /Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 21, 2018 11:07 am

Da forma com que Ele nos liberta, ninguém nunca mais poderá nos escravizar, porque o Messias não veio a nós para libertar corpos que, naturalmente, haverão de se libertar com a morte.
Ele veio para que, através do conhecimento da Verdade, nos emancipemos das cadeias da ignorância que nos retêm o espírito!...
— Todavia - perquiriu Onesíforo, que conhecera dupla escravidão -, não nos será lícito esperar que sejamos uma nação livre?
Eu também tenho esperanças de que meus filhos e netos...
— Irmão - redarguiu Barnabé, que, inclusive na palavra, raramente se antecipava a Paulo -, o homem não é escravo senão de si mesmo...
Quem nos poderá colocar peias ao pensamento?!
Quem nos conseguirá impedir de ser o que somos em nosso interior?!
O Cristo nos ensinou que somente é verdadeiramente livre aquele que ama a quem o odeia...
— Trata-se de uma doutrina maravilhosa, no entanto - observou Onesíforo -, creio que não seja para todos...
Amar os que nos escravizam e os que nos perseguem e caluniam?!...
— Tive oportunidade de ler - elucidou Barnabé - algumas palavras que Levi escreveu dos ensinamentos que o Senhor transmitia aos Discípulos, justamente falando sobre o amor que também devemos aos inimigos:
"Aprendestes que foi dito:
'Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos.'
Eu, porém, vos digo:
'Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos.
Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?
Não procedem assim também os publicanos?
Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros?
Não fazem outro tanto os pagãos?."
Dos olhos de Onesíforo e Ester escorriam abundantes lágrimas.
— Meu Deus - exclamou o ex-escravo - será que teremos forças para atender a tão altas recomendações?!...
E Ele ainda nos recomenda - emendou Paulo:
- "Aprendestes que foi dito:
olho por olho e dente por dente.
— Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhes apresenteis também a outra..."
— Papai - surpreendeu-nos Alexandre, filho de Onesíforo, um garotinho de apenas nove anos de idade -, Jesus é o Rei do Céu!
0 seu trono deve ficar entre as estrelas e o seu carro deve ser o Sol...
Nem o próprio Imperador pode se comparar a Ele em poder e grandeza!
Ele veio nos libertar...
Como somos felizes, papai!
A bondade Dele há de se estender à Terra inteira!...
Ester abriu os olhos, admirada, porque, segundo ela, Alexandre era de conversar muito pouco e, por este motivo, todos supunham que ele até padecesse de surdez.
— Não! - exclamou Barnabé, que, minutos antes, tocara com a destra a cabeça do garoto.
Este menino está cheio do Espírito Santo!
Por intermédio dele, as Vozes do Céu estão conversando connosco!
Não está escrito:
"Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor"?!
Assim, naquela noite memorável, conforme dissemos, fundara-se a primeira igreja cristã de Icónio, cujos alicerces, ao longo dos séculos, haveriam de resistir às arremetidas das Sombras.
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TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo - Irmão José /Carlos A. Baccelli Empty Re: TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo - Irmão José /Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:02 am

Entrementes, nos dias seguintes, proveniente de Antioquia, chegara a Icónio, um israelita que participara da expulsão de Paulo e Barnabé da cidade.
Procurando os judeus na sinagoga, ele começou a inflamá-los contra os dois, que, então, já tendo começado a sua pregação pública, se faziam admirados por quantos tinham oportunidade de ouvi-los.
A multidão que acorria era tão grande, que foi preciso os gentios interessados nas pregações dos apóstolos lhes oferecerem um espaço em mais amplo salão.
Praticamente, todas as tardes, antes que escurecesse totalmente, logo terminadas as actividades profissionais do dia, os dois se dirigiam para o local de suas pregações, anunciando que Jesus Cristo era o Messias, aquele de quem João, o Batista, havia dito:
Eu vos baptizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar.
Ele vos baptizará com o Espírito Santo e com fogo".
Em quase todas as tardes-noites de pregação, em meio à multidão, irrompiam estranhas vozes que procuravam contradizê-los, contestando a palavra lúcida dos dois Apóstolos.
Eram os espíritos desafectos da Luz, que, do Outro Lado da Vida, não concediam trégua aos cristãos da primeira hora do Evangelho na Terra.
Eles, que, em ousadia sem tamanho, haviam se confrontado com o próprio Senhor, como no episódio da "tentação no deserto", se esgueiravam nas Sombras além da morte, lutando para impedir a propagação da Boa Nova.
Numa dessas reuniões, uma mulher, conhecida mendiga em Icónio, que vivia dizendo impropérios pelas ruas da cidade, caiu em transe e, completamente transfigurada, começou a desafiá-los com voz masculina.
— Mentirosos! Calem-se! - vociferava o espírito.
Vocês são aproveitadores...
Eu os conheço!
E, dirigindo-se a Paulo, acusava:
— Você é um assassino...
Com que autoridade vem falar a respeito do Crucificado, você que, até ontem, apenas conheceu o poder e a luxúria!
Agora está arrependido do que mandou fazer e do que fez?!
Todo o sangue derramado por sua causa faria transbordar o próprio Poço de Jacó...
Ante a humilhante acusação, Paulo, naquela tarde, sentiu-se baquear, porque, afinal de contas, a consciência pelos erros cometidos outrora lhe tomava contas todos os dias.
Barnabé, percebendo que o amigo hesitara, ele, que zelava por Paulo com interesse paternal, não correspondendo à verdade o que cogitam os historiadores a respeito de possível rompimento entre ambos, levantou-se e, envolvido por forças de ordem superior, respondeu com serenidade:
— Meu irmão, o Cristo não veio para curar os sãos, mas, sim, os enfermos!
Todos nós temos necessidade de sua misericórdia e de seu amor!
"Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado", e este, segundo creio, não é o seu caso e o de nenhum de nós outros!
Eu próprio, eis que me confesso de público, tenho muitos erros a serem ressarcidos...
— Velho nojento! - gritava o espírito através da mulher que ninguém ousara conter e sequer tocar, porque era crença corrente entre eles que, se alguém tocasse um médium quando este estivesse em transe, o espírito que o tomava se passaria para ele, ficando a atormentá-lo.
— Cale-se, seu bruxo!
Quantas vezes terá esvaziado você o cálice do prazer?!
Agora, que se aproxima da morte, arrepende-se?!
Hipócrita! Tenha coragem de, pelo menos, ser quem sempre foi!...
— Sob as bênçãos de Jesus Cristo - redarguia o Discípulo -, não sou mais o cego que sempre fui, pois conheço muito bem os erros pelos quais haverei de pagar...
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TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo - Irmão José /Carlos A. Baccelli Empty Re: TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo - Irmão José /Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:02 am

Eu também não recalcitrarei contra os aguilhões! - emendou, recordando-se das palavras do Converso de Damasco, no inesquecível diálogo que ele manteve com o Sublime Ressurecto no deserto escaldante.
O Senhor afirmou que tinha vindo à Terra, em procura das ovelhas perdidas da casa de Israel, e você, meu irmão, qual nos acontece, também é uma delas!
Regresse connosco ao Aprisco Divino!
Regresse, enquanto é tempo, e liberte-se da Geena em que se encontra!...
A mulher soltou terrível grito e, caindo, começou a convulsionar, permanecendo no meio do círculo humano que em torno dela se fez.
Então, na companhia de Paulo, Barnabé se aproximou da pobre mendiga e ambos impuseram-lhe as mãos à altura da cabeça, livrando-a daquela insidiosa obsessão, que, desde muito, fazia com que passasse por louca nas ruas de Icónio.
As opiniões em torno deles se dividiram, sendo que "uns eram pelos judeus, outros pelos apóstolos".
Onesíforo, que os hospedava em sua casa, fora ameaçado pelos judeus, inclusive pelos que eram seus fregueses e lhe garantiam a sobrevivência, adquirindo os queijos de leite de cabra, que, em companhia da esposa e dos filhos, ele confeccionava, além do azeite que comercializava.
— A minha casa não mais me pertence - dizia ele com firmeza.
Aqui, agora, o hóspede sou eu!
Paulo e Barnabé nela permanecerão pelo tempo que quiserem...
— Isso mesmo, papai! - incentivou-o o pequeno Alexandre, que, mais tarde, ainda adolescente, se transformaria num dos principais nomes do Cristianismo, passando a ser conhecido por Alexandre de Jesus.
Contudo, semanas mais tarde, grave acontecimento viria provocar a fuga de Paulo e Barnabé, que, às escondidas, deixariam Icónio, em direcção à Listra, prosseguindo, intimoratos, na tarefa de fazer com que o Evangelho fosse levado aos gentios.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:02 am

3 - Tecla
Secundando a missão que, dos Dois Lados da Vida, o Cristo viera desempenhar na Terra, na evangelização da Humanidade encarnada e desencarnada, vários espíritos se candidataram a nova existência no mundo.
Desde muitos séculos antes de seu nascimento, espíritos de todos os níveis evolutivos se espalharam por todo o Orbe considerado civilizado, anunciando-Lhe a chegada.
Das Gálias à Galileia, os seus precursores, revezando-se no corpo, foram se sucedendo, revolvendo a terra dos corações para que, sobre elas, o Divino Semeador lançasse as sementes de seu Amor e de sua Sabedoria.
Esses espíritos, em maioria, não haviam feito a sua evolução no Planeta, posto que os seus habitantes primitivos, com raríssimas excepções, ainda não se mostravam aptos para tão elevada tarefa de cunho espiritual.
Provenientes de outras Esferas, principalmente do sistema planetário de Capela, eles haviam sido convocados ao transcendente labor, que, ao mesmo tempo, lhes serviria de resgate aos erros cometidos em experiências vivenciadas noutras moradas da Casa do Pai.
Espíritos, por exemplo, como Hermes, no Egipto; Zoroastro, na Pérsia; Confúcio e Lao Tsé, na China; Sócrates e Platão, na Grécia; Siddártha Gautama, na índia; e tantos outros, como Abraão e Moisés, Elias e Daniel, na Judeia, pertenciam a outros domicílios espirituais.
Dentre esses espíritos, precursores do Cristianismo na Terra, ou seus contemporâneos ou, ainda, mesmo seus herdeiros, destaca-se a extraordinária figura de Tecla, filha única de Mésimo e Teóclia, eminente casal da cidade de Icónio.
O seu pai, Mésimo, homem de várias propriedades, também possuía vasta biblioteca, que fazia questão de exibir aos visitantes, sem que, no entanto, se dispusesse a ler os preciosos volumes de sua colecção, ao lado dos quais, em destaque, perfilavam inúmeros manuscritos dos sábios gregos, que ele fazia questão de adquirir daqueles que os comercializavam na clandestinidade.
Desde que Roma invadira a Grécia, a partir do ano 146 a.C., a cultura grega se viu espoliada em sua fabulosa riqueza literária, sendo que, infelizmente, muitos livros foram simplesmente incinerados pelos seus incultos conquistadores!
Aos tempos atuais, infelizmente, dos sábios gregos que antecederam Sócrates, considerado o Pai da Filosofia, ou seja, dos chamados pré-socráticos, não chegaram mais que alguns poucos fragmentos, que, não obstante, falam de seus vastos conhecimentos em quase todas as áreas do saber humano.
Estamos nos referindo, principalmente, aos que pertenciam à Escola de Mileto e de Abdera, como Tales e Anaximandro, Leucipo e Demócrito, sem que, contudo, esqueçamos um Heráclito de Éfeso e um Pitágoras de Samos.
Quando o Cristo foi crucificado, Tecla não deveria ter mais que cinco anos de idade e, praticamente, fora alfabetizada entre os livros da rica biblioteca de seu pai, passando a adolescência e juventude a ler os poetas gregos e mesmo os latinos, bem como as obras de Platão, que haveriam de influenciar os Pais da Igreja, notadamente Orígenes, no que tange à crença na Reencarnação, "proibida" pelo I Concílio de Constantinopla, em 553, mediante exigência da Imperatriz Teodora ao esposo, Justiniano, Imperador do Oriente.
Tecla crescia indiferente às coisas do mundo, afastada das outras crianças, que, em maioria, apenas se preocupavam com os folguedos próprios da idade, divertindo-se com fantoches e balanços, quando não com pandorgas e jogos de damas e xadrez.
Muito introspectiva, não raro, entretinha-se com a mãe em longos diálogos, crivando-a de perguntas, porque os deuses cultuados em imagens dentro de casa contrastavam com o que, gradativamente, vinha aprendendo nos livros de Filosofia aos quais se afeiçoara.
— Mãezinha - perguntava ela -, Sócrates e Platão nos dão a entender que existe um único deus...
Este pensamento foi uma das causas da morte de Sócrates, a quem os juízes obrigaram beber cicuta.
Eu também não consigo entender a existência de muitos deuses, pois os nossos profetas afirmaram que o Deus de Abraão era superior a todos os demais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:02 am

— Tecla - respondia-lhe a progenitora -, você ainda é muito menina para andar com essas ideias...
Preocupo-me com você. Tamíride a visita com frequência, mas você não lhe dá importância.
Saiba que o seu pai tem interesse em quem você escolha para seu futuro esposo...
— Ora, mamãe!
Eu não creio que toda mulher tenha nascido para se casar e ter filhos...
Vejamos o exemplo de Safo de Lesbos, que fundou uma escola somente para moças, onde ensinava poesia, música, canto e dança!
— Mas você é a nossa única filha, a esperança de que a nossa família se perpetue.
Você sabe o que o seu pai pensa a respeito, e não devemos contrariá-lo - argumentava Teóclia, que conhecia de perto o génio algo inflexível do marido.
— Não é minha intenção desrespeitar a vontade de meu pai, mas, sinceramente, eu não sinto que nasci para me casar...
Experimento um incontido desejo de aprender mais sobre a Vida.
Intrigam-me, por exemplo, as palavras de Sócrates aos seus jovens discípulos em Atenas, falando a respeito da existência de um deus sobre o qual, até então, ninguém havia ouvido falar.
Segundo consta, no Areópago...
— Ah, filha!
Eu não entendo nada dessas coisas - redarguia a senhora, com preocupação estampada no semblante.
— Prefiro cuidar de colocar a nossa casa em ordem, conforme o seu pai gosta.
A única coisa que imploro aos deuses é pela sua felicidade...
Tecla, embora o cortejo que lhe fazia Tamíride, belo jovem judeu, igualmente único filho de pais muito ricos, preferia a companhia dos livros, que não se cansava de folhear, e de duas virtuosas escravas tessálias, com as quais, pela manhã, costumava passear pelas ruas de Icónio, levando pão para os mendigos.
— Que Deméter, a deusa da fertilidade, a abençoe, minha boa jovem! - agradecia-lhe maltrapilha senhora que Tecla sempre socorria.
Oro aos deuses para que você encontre um bom esposo e tenha muitos filhos!...
— Deseje-me outra coisa, Ana - replicava Tecla a sorrir.
— Eu não pretendo levar a vida de minha mãe... Ultimamente - acrescentava - tenho pensado em fundar uma escola em Icónio, como a que Safo fundou em Lesbos.
Tantas meninas sendo vitimadas pela prostituição!...
Nesse exacto momento, aproximava-se uma garota grávida, que não deveria ter mais que quinze anos de idade.
— Estela! - exclamou Tecla, abraçando-a.
Por onde você andava?!
Nesta semana, eu não consegui vê-la uma única vez...
— Ah, senhora!
Eu tenho estado muito doente, com febre...
De fato, a menina, extremamente pálida, mal estava conseguindo sustentar o corpo em pé.
— Que está acontecendo?! - perguntou Tecla, preocupada.
— A sua roupa está manchada de sangue e o seu rosto, cheio de hematomas...
Que houve, Estela?!...
— Há dias, mesmo estando assim grávida, fui atacada por um homem bêbado que me bateu e ainda me violentou...
Desde então, não mais tenho sentido a criança mexer-se em meu ventre!
Fui falar com os policiais, mas eles não se importaram...
Assim dizendo, frágil como se encontrava, a garota desmaiou, sendo amparada por Tecla e pelas duas servas tessálias.
Providenciando uma carroça, puxada a cavalo, a futura Mártir do Evangelho deliberou levar a adolescente para sua casa, instalando-a no mesmo aposento destinado às escravas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:03 am

Em seguida, pediu a uma delas que chamasse sua mãe, e, depois, fosse atrás de seu professor, que, em Icónio, também acumulava as funções de médico.
— Tecla, minha filha - preocupou-se Teóclia - o seu pai não irá gostar disso...
Você sabe como ele a repreende por essas suas acções junto aos pobres!
E, igualmente, como sempre, irá me culpar...
— Mamãe, mas Estela está morrendo!...
Veja como o seu ventre está inchado!
Ela está ardendo em febre...
Nesse exacto momento, a menina, a qual começara a receber compressas de água fria sobre a fronte, entrou em sucessivas crises convulsivas e, quando o médico chegou, não havia nada mais a ser feito!
Sofrendo irreversível parada cardíaca,
Estela se desprendera do corpo!
— Precisamos sepultá-la - disse a mãe, temendo que o marido chegasse a casa e, indignado com a situação, efectuasse as retaliações que, quando contrariado, já estava habituado a fazer.
O seu cadáver não pode ficar aqui!
O seu pai foi ao mercado e voltará a qualquer momento...
Auxiliado pelo seu preceptor, homem de bom coração, a carroça que servira para transportar a adolescente grávida até à casa de Tecla, que, em comparação a muitas construções de Icónio, era um palacete, serviu para levar embora o cadáver.
— Onde a enterraremos?! - perguntou Zizo, o professor.
— Ela era uma indigente...
Entregando-lhe pequena bolsa com algumas moedas, fruto de suas economias, Tecla lhe disse:
— Isto será mais que suficiente para que ela seja enterrada com dignidade.
Compre-lhe um túmulo e sepulte-a, mas não sem antes lhe preparar o corpo de maneira conveniente...
As servas da Tessália, por ordem de Teóclia, apressavam-se na arrumação do quarto, a fim de que não restasse vestígio que pudesse chamar a atenção de Mésimo, o qual não demorou a adentrar a casa, em companhia do jovem Tamíride, pretendente à mão da filha.
— Tecla! - chamou ele.
Veja quem está aqui!
Tamíride trouxe um presente para você...
De fato, o jovem, que seria herdeiro de uma grande fortuna, trazia nas mãos um delicado embrulho em pano de veludo rosa, contendo em seu interior um lindo camafeu em marfim.
— Trata-se de um presente de noivado - explicou-se, de olhos fixos em Tecla, por quem, verdadeiramente, se mostrava apaixonado.
De noivado informal, claro, porque se você aceitar este meu pedido, faremos uma grande festa...
— Sem dúvida! Sem dúvida! - emendou Mésimo.
Uma das maiores que a cidade já teve!...
E, para quando vocês forem se casar, pretendo convidar até o Governador!
Com as mãos trémulas, a jovem tomou o camafeu e, dando a impressão de que estava emocionada, exclamou com extrema dificuldade:
— É lindo! Deve ter custado muito caro...
— Para mimoseá-la, minha querida, o presente mais caro nada vale! - redarguiu Tamíride, que, além da beleza da moça, lhe admirava a inteligência.
Tecla era alta, esguia, olhos negros e percucientes, com cabelos castanhos escuros e lisos a lhe caírem sobre os ombros.
O seu porte era o de uma dama!
Embora a insistência do pai e da mãe para que provasse carne, alimentava-se frugalmente, preferindo cereais, castanhas e frutos.
Os seus lábios nunca haviam provado uma taça de vinho, e, por toda a vida, assim seria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:03 am

— Então?! - inquiriu o jovem.
Você aceita o meu informal pedido de noivado?...
Ainda abalada com o episódio envolvendo Estela, Tecla fitou a sua mãe e, naquele momento, não ousou desobedecer ao seu pai.
— Aceito - respondeu.
No entanto, peço-lhe, Tamíride, um pouco mais de tempo para oficializarmos o noivado.
Sinto que preciso estar mais segura de mim mesma...
Feliz com a resposta da jovem, que, naquele momento, sequer conseguia raciocinar direito, o moço, depositando-lhe um ósculo na mão que tomara entre as suas, observou, gracejando:
— Desde que não me faça esperar até que nós dois envelheçamos, você terá todo o tempo do mundo!
Porém o que acontecera com Estela ainda mais reforçara em Tecla o desejo de não se casar.
Amava as crianças, pelas quais, sempre que saía pelas ruas da cidade, demonstrava especial carinho, mas o casamento e a maternidade não
estavam em seus planos, porque, sem que nada suspeitasse, havia nascido predestinada a outros compromissos, que, aos poucos, se lhe delineariam.
À noite, quando conseguiu conciliar o sono, alta madrugada, sonhou que estava numa campina verdejante, em paisagem completamente diferente daquela quase totalmente árida de Icónio.
Na companhia de dezenas de outras pessoas que não conhecia, sentia-se extremamente leve, sem lograr em seu entendimento nenhuma explicação para o fenómeno.
De repente, à sua frente, percebeu Estela, que, quase saltitante de alegria, lhe acenava com insistência, chamando-a para o sopé de um monte iluminado, qual se, naquele momento, o Sol estivesse nascendo no horizonte, emprestando-Ihe uma aura de luz.
Sem atinar com semelhante prodígio, sentiu que, ao lado de muitos outros, homens e mulheres, em vez de caminhar, ela simplesmente deslizava!...
A visão de Estela rediviva se desfez, e Tecla, atraída para a figura de alguém no cume do monte, cuja fisionomia não conseguia divisar com nitidez, não sabendo identificar se se tratava de um homem ou de uma mulher, começou a ouvir uma voz dirigida à pequena multidão que ali se congregara.
— Meus irmãos - dizia o elevado espírito - aproxima-se o instante em que todos vós sereis chamados aos mais penosos testemunhos...
Todavia faz-se mister que não deserteis aos compromissos assumidos antes de vossa actual incursão na carne perecível!
Do testemunho individual de cada um de vós dependerá o futuro espiritual de toda a Humanidade!
Sob as bênçãos do Senhor, sois os construtores de um novo tempo, chamados a trabalhar nos alicerces do edifício que, gradativamente, haverá de se levantar...
As vossas lágrimas, não duvidem, serão convertidas em argamassa de luz na edificação do Reino Divino!
Os vossos exemplos de fé sancionarão a força da Mensagem que, ecoando aos quatro cantos da Terra, há de libertar as consciências de todos os homens!
Serão dias extremamente difíceis, porém, diante da felicidade que vos aguarda na Eternidade, dias e séculos nada significam!
Vede! - continuava a voz com serenidade, apontando para outra multidão que se situava num plano um pouco mais alto da planície.
Estes nossos irmãos e irmãs, à espera do renascimento no Orbe Terrestre, haverão de vos suceder no testemunho que ceifará milhares de vidas, porque não podemos almejar outro caminho que não seja o que o próprio Senhor nos traçou com o seu extremo sacrifício no Madeiro Infamante!
Não nos esqueçamos, inclusive, que, antes Dele, todos os profetas foram convocados à árdua luta que se estenderá por milénios sem data, até que, com Ele, alcancemos a vitória definitiva sobre nós mesmos...
Assim como o Senhor não nos deixará sem alimento espiritual que nos robusteça na batalha em que não conheceremos trégua, nunca haveremos de nos sentir sozinhos na Causa, porque, nos diversos campos em que tombaremos vitimados pelos seus ferrenhos opositores, o próprio sangue que vertermos no testemunho da Fé suscitará corajosos companheiros que ombrearão connosco na mística cruzada que empreendemos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:03 am

O mundo, como nunca se assombrou, haverá de se assombrar ante o silencioso heroísmo de milhares, que, cantando, não temerão ser imolados na glorificação do Amor, que cobre multidão dos pecados!
Nada temais, porquanto a existência humana é extremamente fugaz, e o corpo, transitória vestimenta do espírito, não passa de instrumento para que ele logre a sua Bem-Aventurança Eterna!
Não esqueçais a recomendação do Divino Amigo:
"Bem ditosos sereis, quando os homens vos odiarem e separarem, quando vos tratarem injuriosamente, quando repelirem como mau o vosso nome, por causa do Filho do Homem.
— Rejubilai nesse dia e ficai em transportes de alegria, porque grande recompensa vos está reservada no Céu, visto que era assim que os pais deles tratavam os profetas"
Todos vós fostes chamados para este momento único, não obstante, caberá a cada um de vós ser escolhido pela maneira com que se houver no cumprimento do sagrado dever com que vos compromissastes, empenhando palavra e coração.
E, nesse instante, apontando para outra direcção, onde se podia ver uma estrada que ligava a Terra àquela região espiritual nas proximidades da Crosta, o Emissário prosseguiu:
— Vede! Eis que chegam do Orbe os primeiros mártires que pereceram pela Causa do Evangelho!
Notai como resplandecem em seus corpos espirituais, principalmente, nas feridas que lhes foram abertas pelos seus implacáveis algozes...
Tecla, observando aqueles anónimos combatentes, que, de facto, mais resplandeciam nas partes do corpo que lhes haviam sido mutiladas, como braços, tórax e cabeças, quais se as suas horríveis chagas tivessem sido cicatrizadas por material de sutilíssima luminescência, não conteve as lágrimas e chorou copiosamente.
A guiá-los para os Cimos, como que a descerrar-lhes o caminho que irrompia das sombras do mundo para as claridades sublimes da Grande Altura, vinha Estêvão, que tivera a honra de passar à História como o primeiro mártir cristão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:03 am

4 - A "Casa do Caminho"
Transferindo residência de Tiberiades para Jerusalém, Simão Pedro transformara a sua casa em aconchegante abrigo para os necessitados de todas as procedências.
A construção, inicialmente, não era muito ampla, contudo, com o auxílio de diversos colaboradores, muitos dos quais nutriam anónima simpatia pela mensagem de Jesus, o ex-Pescador, contando com a colaboração directa de Tiago, filho de Alfeu, João e Filipe, de acordo com as carências no campo assistencial, edificava pequenos cómodos, os quais, aos poucos, fizeram com que ela triplicasse em tamanho.
A chamada "Casa dos Apóstolos" erguia-se na periferia da cidade, em bairro extremamente carente, e, entre crianças e adultos, eram muitos os assistidos.
Sem que de nada suspeitasse, Simão, inspirado pelas Forças do Alto, erguera em sua própria residência inexpugnável fortaleza do Cristianismo nascente, que, por longo tempo, passaria a ser o maior ponto de referência espiritual para os seus seguidores.
Pode-se; pois, afirmar que a Caridade foi o berço em que o Cristianismo passou a se desenvolver, o invencível argumento contra o qual todas as vozes discordantes terminavam por se calar.
Enquanto, nas sinagogas, os judeus polemizavam em torno dos textos das Sagradas Escrituras, muitas vezes chegando a se agredirem fisicamente, em defesa de seus pontos de vista, Simão e seus companheiros estendiam mãos generosas aos doentes e famintos, fazendo com que a sua casa tomasse as feições de hospital e de refeitório, do qual ele mesmo e os seus amigos eram os enfermeiros e os cozinheiros.
Que força extraordinária emanaria daquele pequenino núcleo de amor aos semelhantes, que, a cada dia, se transfigurava em ponto central de resistência da fé nascitura, detendo, através de suas invisíveis muralhas, toda e qualquer tentativa de invasão por parte dos ferrenhos adversários da Causa?!
Diariamente, de manhã até ao anoitecer, dezenas de carentes batiam às suas portas generosas, inclusive os chamados "imundos", que eram os leprosos, os quais, de preferência, caminhavam no escuro, para que ninguém lhes notasse as deformidades no corpo e não os apedrejasse, expulsando-os da cidade.
Em certa noite chuvosa, Simão, quando se preparava para repousar por algumas poucas horas, escutou alguém a chamá-lo com insistência.
O dia havia sido extremamente cansativo para ele, e já deitado em seu pobre catre, faltou-lhe ânimo para que se levantasse.
O vento frio como que lhe enrijecia as pernas, e todo o seu corpo estava dolorido.
Na tentativa de conciliar o sono, Simão fechou os olhos, enquanto lá fora aquela voz solitária continuava a chamá-lo num lamento de dor.
Completamente vencido pela exaustão, passou a reflectir que, fosse quem fosse, aquele mendigo poderia esperar até que amanhecesse.
Era mais do que justo se concedesse algum tempo para recompor as energias, pois, afinal, naquela casa, o trabalho de amparo aos desvalidos era cotidiana rotina.
Assim pensando, chegou a cochilar, quando, saindo parcialmente do corpo, foi, em espírito, até à porta de sua residência e, então, vislumbrou, na face daquele pobre rapaz, a face do próprio Senhor, que, ao perceber que Simão não viria para atendê-lo, se retirava debaixo do temporal.
— Senhor, não! - gritou o Apóstolo, tomado de desespero.
— Não vá embora!
Eu já estou indo, Senhor!
Eu já estou indo!
Perdoe-me, mas eu não sabia que era o Senhor!...
Assustado, com o coração em descompasso, Simão ergueu-se e, trémulo, dirigiu-se à porta da casa, onde, de facto, um jovem leproso, apoiado num bordão, estava todo encharcado nos farrapos a cobri-lo.
— Venha, Senhor! Venha! - disse quase a chorar, abraçando o doente que nada pôde entender.
Perdoe-me, perdoe-me!
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:03 am

Eu não lhe reconheci a voz...
Atraído pelo barulho, João, o mais moço dos Apóstolos, igualmente, se havia posto de pé, acorrendo à porta, com o intuito de verificar do que se tratava.
— João, veja! - explicou Simão com os olhos brilhando de felicidade.
É o Mestre, que, mais uma vez, nos veio visitar!
E eu quase não lhe abro a porta de nossa casa!...
Compreendendo que o amigo tivera mais uma de suas costumeiras visões, João, sem nada dizer, auxiliou-o a encaminhar o pobre doente, que tiritava de frio e, com certeza, estava com fome.
— Pedro, pode deixar - disse-lhe João.
Deite-se e descanse um pouco.
Logo estará amanhecendo, e temos muito trabalho à nossa espera!...
— Não! Eu não posso me deitar! - redarguia o Apóstolo em transe.
Como descansar, se o Senhor me chama?! Não!
Eu não vou dormir!
Preciso permanecer vigilante...
Bem que Ele nos havia avisado:
"...ficai vós apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá"!...
Foi preciso que João dissesse a ele que o Senhor também necessitava repousar por alguns instantes, a fim de que se convencesse a voltar para o leito estendido no chão.
No outro dia, mal se haviam apagado as estrelas no firmamento, Simão despertou, notando que a faina habitual começara naquele templo de amor.
João, que não pudera voltar a dormir naquela noite, velara à cabeceira do amigo, o qual, assim que o viu ao seu lado, foi logo contando:
— Esta noite, tive mais um daqueles sonhos...
Não sei dizer se era real ou não.
O Senhor batia à porta e me chamava com insistência...
Imagine, João, outra vez, Ele me pegou dormindo!
Ah, meu Deus! Quando será que sempre permanecerei desperto para Ele!...
— Acalme-se, Simão - confortou-o o terno companheiro, que lhe estendera pequena cuia com um pouco de leite de cabra aquecido.
Não foi sonho o que você teve! De facto, uma vez mais, por seu intermédio, o Senhor nos visitou!
Você se levantou, foi até à porta e colocou para dentro aquele jovem leproso que veio nos pedir socorro...
— Como?! - exclamou o ex-Pescador de Cafarnaum.
Não é possível?!
Tenho absoluta certeza de que era Ele!
Eu o vi e o escutei a me chamar repetidas vezes...
Você se recorda, João, quando adormecemos no Getsémani e Ele se entristeceu connosco, dizendo-nos:
"Então, nem uma hora pudestes vigiar comigo?".
— Sim! E como me recordo! - respondeu com certa tristeza o filho de Zebedeu e Salomé.
Mas, foi o Senhor, Simão, que trouxe este pobre rapaz à nossa casa...
Você o despiu, trocou-lhe a roupa molhada e deu-lhe de comer.
Depois, impôs-lhe as mãos e, demoradamente, pensou as suas feridas!...
Impressionado com o facto, Simão se aproximou do leito do mendigo leproso, e, para espanto seu e de João, notou que as chagas pustulentas praticamente a cobrirem todo o corpo do jovem estavam, a bem dizer, cicatrizadas!
— João! - exclamou o Apóstolo.
Ele está curado!...
Olhando para si mesmo, Efraim, o leproso, percebendo que estava quase limpo das feridas que a hanseníase tinha aberto em seu corpo, tomou as mãos de Simão e começou a beijá-las em sinal de profunda gratidão.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 22, 2018 10:04 am

Efraim, durante muito tempo, se transformaria num dos melhores colaboradores da "Casa do Caminho", oferecendo-se, mais tarde, para acompanhar Filipe nas pregações que ele realizaria na Grécia e na Ásia Menor.
O trabalho dos Apóstolos em favor dos marginalizados de toda espécie, a pouco e pouco, ia causando grande repercussão, fazendo com que os adeptos do Judaísmo se sentissem incomodados.
Praticamente, todas as noites, os Apóstolos se revezavam na pregação pública da Mensagem, e, nessas oportunidades, dezenas de interessados acorriam ao templo humilde, ávidos de conforto espiritual.
Quase todos queriam que Simão os tocasse e ficavam maravilhados quando João, ainda tão moço, fazia uso da palavra, passando a discorrer sobre a Boa Nova.
Embora lhe faltasse a eloquência de orador experiente como Paulo, João sensibilizava os corações, motivando lágrimas da assembleia, detendo-se, de preferência, nas palavras que ele próprio faria constar de suas anotações:
"Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede"!
— Meus irmãos - comentava - o Senhor não apenas multiplicou pães e peixes para a multidão faminta...
Estava lá e eu tudo pude presenciar, quando, tomando de alguns poucos pães e peixes, alimentou uma multidão de mais de cinco mil pessoas, fazendo com que ainda sobrassem doze cestos!
Cheguei a duvidar do que Ele fosse capaz, porque as maravilhas que habitualmente fazia eram de nos fazer imaginar que nós próprios nos alucinávamos...
Contudo, o Senhor não veio ao mundo apenas para alimentar os famintos do corpo, mas, principalmente, os famintos do espírito!
Ele afirmava que tinha vindo em busca das ovelhas perdidas da casa de Israel, ou seja, das ovelhas perdidas do "espírito", porquanto perdidas de Deus e de si mesmas!
Essas ovelhas tresmalhadas somos todos nós, que há tanto tempo esperávamos pela vinda do Messias, e, quando Ele chegou, nós não o reconhecemos.
"Estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam"!
Até mesmo nós duvidamos e até mesmo nós desertamos, no momento de seu testemunho, e não fomos capazes de perseverar com Ele nos instantes finais...
Ele limpou leprosos, fez andar paralíticos, enxergar os cegos, escutar os surdos e ressuscitar os mortos, como foi o caso de Lázaro, o irmão de Marta e Maria, em Betânia, mas as suas Palavras de Vida Eterna são endereçadas ao espírito, que não vai morrer, e não ao corpo, que perecerá.
Por este motivo, todos nós estamos aqui, porque, repetindo as palavras que os nossos pais nos disseram, Ele também nos disse que "não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus", e não resta dúvida de que Deus é que nos falava por intermédio Dele!
A fome espiritual da Humanidade é de todos os tempos...
O Cristo é o maná vivo, que, um dia, caiu do Céu e, durante quarenta anos, saciou a fome de nossos ancestrais que peregrinavam no deserto, à procura da terra de Canaã!...
Visivelmente emocionado, João fez uma pausa, para, logo em seguida, continuar sob a inspiração do Alto:
— Entre nós, talvez, nunca tenha sido tão grande a fome de esperança e de fé...
Somente o Senhor poderá impedir que todos venhamos a perecer à míngua do pão que nos atende às necessidades de sobrevivência íntima, ante as lutas que enfrentamos no mundo!
De que nos valem fartos celeiros, se trazemos a alma vazia?!
Tempos ainda virão, no grande futuro, que mesmo os mais indiferentes à Boa Nova compreenderão a sua necessidade de Jesus Cristo e, depois de muito padecerem, para Ele se voltarão...
Sim, porque apenas o Cristo pode nos estender consolo e coragem!
Vejamos que bastou ao homem um pouco mais de esclarecimento para que começasse a retirar de seus altares os deuses que ele próprio entronizou, porque eles não passam de deuses feitos de pedra, tão insensíveis quanto o mais insensível coração de quem não se compadece de seus semelhantes.
A mensagem do Evangelho nos lança um supremo desafio, que é ode "amarmo-nos uns aos outros como Ele nos amou"!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 23, 2018 9:59 am

Porque muitos não suportaram ouvi-la, como muitos outros, durante longo tempo, não suportarão, o Mestre foi pregado na cruz...
Meus irmãos - continuava João, perpassando um olhar de extrema ternura sobre a plateia, que parecia magnetizada pelas suas palavras - precisamos nos amar e nos amar muito, através do amor que devemos devotar aos nossos semelhantes!
Todos somos irmãos, e, embora nos tenha dito:
"Eu vim para lançar fogo sobre a Terra e bem quisera que já estivesse a arder", o Cristo veio para nos irmanar...
O fogo ao qual Ele se referiu é o fogo do amor, que é luz acesa na alma! Tomara mesmo que esse "fogo" já estivesse a arder em toda parte, inflamando todos os corações!...
Quando terminou de falar, como se ainda prosseguisse em transe, o mais jovem dos Apóstolos caminhou por entre as pessoas do povo, impondo-lhes as abençoadas mãos sobre a fronte, tocando-lhes as feridas e lenindo as suas dores.
Eram homens e mulheres de todas as idades, e crianças esquálidas, exibindo nas faces grande sofrimento, que, ao toque de suas mãos, experimentavam grande conforto.
Em seguida, alguns prestimosos colaboradores passavam com cestos de pão entre eles, deixando que cada um retirasse a sua côdea - a única refeição que, naquele dia, muitos estavam obtendo, de vez que, durante todo o dia, haviam mendigado em vão nas ruas de Jerusalém.
Quando terminavam de distribuir o pão que era confeccionado na própria "Casa do Caminho", os mesmos cooperadores tornavam a passar, mas agora distribuindo canecas com água magnetizada, que chegava a borbulhar ante os olhos de todos.
— Meu pai - aproximando-se de João, disse uma senhora, que trazia pequena criança no colo e outra maior, a que puxava pela mão -, não tenho onde passar a noite com os meus dois filhos...
Desde que o meu marido morreu, fomos enxotados de nossa casa e vivemos vagando pelas ruas...
Há quase dois dias, nada comemos!
A minha filhinha está febril e temo pela sua vida!
Se o senhor nos concedesse um canto onde pudéssemos nos ajeitar...
Por caridade!...
— Entre irmãos - respondeu o Discípulo que Jesus amava - ninguém deve implorar por caridade, porque, para nós, a caridade deve ser simples obrigação.
A casa está repleta de doentes, mas a senhora poderá ficar com os seus filhos na minha cama!
Eu é que me ajeitarei em qualquer lugar...
Não se preocupe! Permaneça connosco pelo tempo que desejar...
Entrementes, ouvindo o que João dissera àquela mãe, Tiago, filho de Alfeu, o mais racional dos Apóstolos, chamou-o em particular e passou a repreendê-lo pelo excesso de generosidade.
— João, você sabe que não suportamos mais...
A nossa dispensa está quase vazia!
Não temos como abrigar todos os pobres de Jerusalém...
Daqui a pouco, seremos nós a mendigarmos o pão de cada dia!...
— E já não estaremos a fazê-lo, meu caro?! - respondia João.
Como poderíamos dizer "não" a uma mãe com os dois filhos menores sem sequer terem onde passar a noite?!
O Senhor proverá...
Não nos esqueçamos de que, em Caná, Ele transformou a água em vinho, e multiplicou pães e peixes para uma multidão...
— Tanto quanto você, eu fui testemunha disso tudo e muito mais.
Acontece, porém, que, agora, o Senhor não está mais aqui connosco - precisamos contar com os nossos próprios recursos.
Diante da necessidade que, diariamente, bate às nossas portas, eles são muito pequenos...
Não me interprete mal, João!...
— Não, sei identificar o seu zelo, Tiago, e, de facto, compreendo que alguém precisa pensar por nós.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 23, 2018 10:00 am

No entanto, até o presente momento, algo nos tem faltado?! - perguntou o Apóstolo, tendo os olhos marejados.
— Não! Nada nos sobra, contudo nada nos falta...
— Oremos, pois, para que assim possa continuar, porque, afinal, para que haveríamos de querer ver a nossa dispensa cheia, com tanta gente passando fome lá fora?!
O que o Senhor nos manda é para ser distribuído, porque Ele nos ensinou a pedir somente o pão de cada dia!...
As actividades da "Casa do Caminho" haviam se encerrado naquela noite, e Tiago, após a conversa que tivera com João, terminou por convidá-lo a dividir consigo o seu próprio grabato.
No outro dia, pela manhã, ambos foram despertados por fortes batidas na porta.
Imaginando que, talvez, se tratasse de mais uma das inspecções periódicas que sofriam por parte dos representantes do Sinédrio, levantaram-se às pressas e foram atender.
Para a sua surpresa, porém, se depararam apenas com uma pequena sacola que, propositadamente, ali havia sido deixada.
Abaixando-se, Tiago pegou-a, e, olhando para João, sempre mais contido em todas as suas reacções, abriu-a com cuidado, percebendo que aquela pequena mas pesada sacola continha substanciosa doação em dinheiro, que daria para que, durante uma semana, eles cobrissem todas as despesas da Instituição!
Ainda com os olhos fitos no jovem Discípulo, que não fez o menor comentário, Tiago não conseguiu conter as lágrimas que lhe saltaram dos olhos e, debruçando-se sobre o ombro de João, chorou copiosamente naquela manhã.
— Não chore, Tiago! - dizia-lhe João, confortando o amigo, que, durante todo o resto do dia, passaria ensimesmado.
— Eu estou chorando de alegria e tristeza - respondeu o companheiro de apostolado.
Choro de alegria por, uma vez mais, constatar que o Senhor não nos abandona...
Mas também choro de tristeza, porque eu tudo daria, João, para que o meu espírito fosse igual ao seu ou ao de Simão ou ainda ao de Filipe!
Ah!, como eu gostaria de ter um pouco menos de cérebro e um pouco mais de coração!...
— Todavia, Tiago - indagou-lhe João inspiradamente - de que nos valeria um corpo que só tivesse coração ou outro que apenas fosse dotado de cérebro?!
O Senhor recomendou, sim, que nos amássemos, mas não se esqueceu de dizer que somente o conhecimento da Verdade nos libertará!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 23, 2018 10:00 am

5 - Sementeira
Atentos ao que Jesus recomendara:
"Depois disto, o Senhor designou outros setenta e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar onde ele estava para ir", os Doze Apóstolos, com Matias tendo substituído a Judas Iscariotes, se preocupavam em preparar divulgadores de sua Palavra, sendo que a "Casa do Caminho", em Jerusalém, também se transformara em escola de formação de novos discípulos.
Assim que se sentiam aptos para a difusão da Boa Nova, muitos daqueles mendigos, chamados de "pobres de espírito" pelos judeus, saíam percorrendo as estradas e as mais distantes aldeias, a falarem das excelências do Reino de Deus.
Formados na vivência do amor aos semelhantes, através da prática da Caridade, não se preocupavam em levar bolsa, nem alforje, nem sandálias...
"Quando entrardes numa cidade e ali vos receberem, comei do que vos for oferecido.
Curai os enfermos que nela houver e anunciai-lhes:
A vós outros está próximo o Reino de Deus"
Convertendo-se ao Evangelho, Paulo e Barnabé haviam compreendido isto, principalmente Paulo, que se valia de todos os recursos de sua inteligência na sua propagação. Desde cedo, entendendo que a sua tarefa era de espalhar as sementes da Mensagem Divina, Paulo, que se considerava na condição do gentio que o Senhor buscara às portas de Damasco, quando, justamente, movia implacável perseguição contra os cristãos, a ela se entregou de corpo e alma.
Ele foi um dos maiores incentivadores das letras evangélicas, pedindo que tudo quanto o Senhor havia dito ficasse registrado para a posteridade - foi por influência dele, inclusive, que Marcos, Lucas e o próprio João se animaram a redigir os evangelhos de suas reminiscências.
A única excepção era Mateus, que, logo após a crucificação, tinha se preocupado em anotar em pergaminhos algumas das lições do Senhor que mais o haviam impressionado...
Neste sentido, precisamos fazer justiça a Gamaliel, orientador do ex-doutor de Tarso no Judaísmo, que, além de introduzi-lo na arte da retórica, sempre o incentivava ao exercício da escrita, como sendo a melhor maneira de memorizar as Escrituras.
— Saulo - dizia o preclaro mentor, que, mais tarde, se converteria ao Cristianismo -, até os nossos dias, a Palavra de Deus, ecoando através dos lábios dos Profetas, tem se propagado de maneira verbalizada; por causa disso, muito de seu conteúdo vem se perdendo ou se deturpando, ao longo dos séculos...
O futuro pertence à palavra escrita!
Não nos esqueçamos de que os Dez Mandamentos, recebidos por Moisés, no Sinai, foram grafados a fogo pela graça divina - duas vezes, as Tábuas da Lei foram entregues a Moisés, escritas na pedra, a fim de que se perpetuassem para a Eternidade!
Foi através deste exercício intelectual que Paulo pôde desenvolver a sua capacidade mnemónica e o seu profundo conhecimento das Escrituras.
Portanto, quando sentiu que precisava fazer com que a sua palavra chegasse aonde, evidentemente, não poderia estar, ele não teve dificuldade alguma em escrever as suas famosas Epístolas, cujo conteúdo se mesclava de suas próprias considerações e das que lhe eram inspiradas por Estêvão, o emissário do Cristo sempre presente ao seu lado.
Tecla, a contragosto, aceitara o informal pedido de noivado de Tamíride, que acertara com Mésimo, o seu futuro sogro, que a festa oficial aconteceria em Listra, onde residia com a sua família.
Naquele dia, após o significativo sonho que, à noite, tivera com os mártires cristãos, de coração angustiado, Tecla se refugiou na biblioteca de sua casa, entabulando franca conversação com Zizo, o seu professor.
Aquele camafeu de marfim, que ganhara de Tamíride, mais se assemelhava a uma pedra a lhe pesar sobre o coração.
Ela não amava o rapaz, que, a bem dizer, tinha mais na conta de um amigo de sua família.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 23, 2018 10:00 am

— Mestre - ela perguntava a Zizo, observando o céu azul de pequena sacada -, o que será que nos sucede quando morremos?!
Esta noite, eu tive um sonho, que, para mim, foi muito mais que um sonho...
Estávamos numa campina verdejante, e muita gente chegava da Terra! Todos me pareciam mais vivos do que vivos sempre estiveram...
Tenho profundo respeito pela palavra dos Profetas, a quem o meu avô me ensinava a ler de joelhos, mas não encontro nelas respostas para as minhas indagações...
Não posso dizer isto em voz alta, mas, por vezes, os pensadores gregos me satisfazem mais o espírito que as palavras dos Salmos!...
— Fale baixo, minha menina! - repreendia Zizo.
Se o seu pai ouve o que está dizendo, ele me demitirá a bordoadas!
Ele há de pensar ser eu quem está colocando essas ideias na sua cabeça...
— "Ó Ser bom, Ser misterioso que me criaste, Ser benéfico!
Se existes e se me amas, e eu sei que existes e que me amas, jaze, como desejo, que eu Te conheça"!
Sacia a fome de meu espírito!
Preenche a minha alma vazia!
Tecla, como que se punha a orar, fitando o Sol radiante no firmamento.
— Tecla - confidenciava o professor à sua inquieta pupila -, você sabe que os filósofos gregos admitem a sobrevivência da alma após a morte.
Xenófanes de Cólofon afirmava a existência de "um único deus, o maior entre deuses e homens, nem na figura, nem no pensamento semelhante aos mortais".
Ele dizia que esse deus, que transcende qualquer espécie de forma, "todo inteiro vê, todo inteiro entende, todo inteiro ouve.
E sem esforço move tudo com a força do seu pensamento"!.
— Por vezes - ponderava a jovem - eu penso que, numa outra existência, como nos diz Platão, eu já vivi entre os gregos...
Tenho, por exemplo, grande admiração por Aspásia de Mileto!
— Fale mais baixo, boa criança! - insistia Zizo.
Aspásia, companheira de Péricles, era considerada uma cortesã, porque Péricles, por ter se separado de sua esposa, pelas leis gregas, não podia casar-se com ela.
— E que tem isto?! - inquiria Tecla.
Pelo menos, ela era livre e inteligente, tão inteligente que se fez admirada pelo próprio Sócrates!
Ah!, eu não concordo com a submissão em que nós, mulheres, vivemos em nossa cultura...
Coitada de minha mãe!
Por isso, meu bondoso mestre, eu não quero me casar e vivo na esperança de que o destino tenha algo diferente reservado para mim.
— Os gregos sempre acreditaram na palingenesia, ou seja, na possibilidade de o espírito voltar à Terra inúmeras vezes, inclusive em corpos de animais, por punição - observa o professor, procurando falar cada vez mais baixo.
Jeremias, filho de Hilquias, um dos maiores profetas hebreus, afirmava ter ouvido o próprio Senhor lhe dizer:
"Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci e antes que saísses da madre, te consagrei e te constituí profeta às nações"!...
— Mostre-me, Zizo - pedia Tecla -, mostre-me essas palavras no pergaminho!
Essas palavras, por si, consagram a crença nas muitas vidas, que, aliás, sempre foi unanimidade entre os homens mais sábios.
Ouvi dizer que, no próprio Sinédrio, alguns dos nossos doutores mais eminentes têm especulado a respeito do assunto...
— Eu não tenho comigo as palavras de Jeremias, mas, pessoalmente, já as pude ler e memorizar - explicava-se o preceptor.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jul 23, 2018 10:00 am

Quanto a isso de você ouvir dizer sobre o que algumas de nossas mais altas autoridades especulam é verdade.
Circulam rumores de que um deles, de nome Nicodemos, conversou com certo profeta de Nazaré, que, por sinal, foi condenado à morte na cruz.
Mas este assunto é muito perigoso, porque, segundo estou informado, alguns de seus seguidores também têm sido perseguidos de maneira implacável - perseguidos e igualmente mortos, como ele o foi!
— Como ele se chama?! - perguntou Tecla, profundamente interessada.
Pressinto que tal profeta tem a ver com o sonho que tive esta noite...
— Dizem que ele se chamava Jesus de Nazaré, filho de um carpinteiro de nome José e de uma jovem chamada Maria.
Impressionado com a sua sabedoria (comenta-se que, aos doze anos de idade, ele estava no templo explicando as Escrituras aos sacerdotes), Nicodemos, certa noite, o procurou, perguntando a respeito da doutrina da palingenesia, que também é conhecida por metempsicose.
— Por favor, conte-me, Zizo, tudo quanto você sabe a respeito - solicitou a jovem pupila, que, com novo ânimo, se sentara próximo ao mestre.
— A verdade, Tecla, é que tal crença não é novidade entre nós, pois não apenas Jeremias se referiu ao assunto.
Isaías também disse:
"Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho de vida, e a terra dará à luz os seus mortos"
— E o que o profeta de Nazaré conversou com Nicodemos?! - tornou a jovem que, naquele momento, parecia estar descobrindo um novo sentido para a vida.
— Antes que os escribas e fariseus tramassem contra ele, que, segundo consta, foi traído por um de seus discípulos mais próximos, um homem de nome Judas, com ambições políticas, Nicodemos, que era senador e nele parecia reconhecer um verdadeiro Mestre, perguntou-lhe:
"Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus para nos instruíres como um doutor, porquanto ninguém poderia fazer os prodígios que fazes, se Deus não estivesse com ele"...
Foi quando aquele sábio homem lhe respondeu:
"Em verdade, em verdade, digo-te:
Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo."!
— Mas terá sido este o motivo de sua condenação à morte?! - indagou Tecla.
— Não apenas - elucidou Zizo.
Ele foi condenado por ensinar nas praças públicas, por contrariar certos preceitos da lei e, inclusive, por ressuscitar mortos...
— Que absurdo! - exclamou a prometida de Tamíride, inconformada.
Quase pelo mesmo motivo, Sócrates foi condenado à morte - obrigaram-no a tomar uma taça de cicuta!
Eu não sei como Platão, seu discípulo, não teve a mesma sorte!
— Acontece - observou o preceptor - que, com a condenação de Sócrates à morte, estranhamente, os juízes que o condenaram como que começaram a ser perseguidos por uma espécie de maldição...
Um deles, de nome Meleto, que possuía fama de adivinho, contraiu obscura doença intestinal que o levou à morte em poucos dias.
Zizo pausou por instantes e voltou a falar:
— Isto tudo sem contar que a população de Atenas se revoltou enormemente e fez com que os outros juízes fugissem da cidade.
Sobre os que se levantaram contra Jesus Nazareno, ocorreu a mesma fatalidade.
Herodes, denominado "o Grande", que reinava na Judeia quando do nascimento de Jesus Nazareno, que, por causa de uma profecia a afirmar que um menino recém-nascido haveria de destroná-lo, mandou os seus soldados decapitarem todos os recém-nascidos, foi acometido por uma febre interna, que lhe fez inchar os intestinos e lhe provocava horríveis dores sem alívio.
Ave sem Ninho
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TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo - Irmão José /Carlos A. Baccelli Empty Re: TECLA, A Primeira Mártir do Cristianismo - Irmão José /Carlos A. Baccelli

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