LUZ ESPÍRITA
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Estudando "Nosso Lar" - Inácio Ferreira /Carlos A. Baccelli

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:26 am

Estudando "Nosso Lar"
Carlos A. Baccelli

Inácio Ferreira

PREFÁCIO

No pórtico desta obra, tão singela quanto as demais de nossa lavra, rendemos o nosso tributo a André Luiz, pelo extraordinário legado que, a partir de "Nosso Lar", através do médium Chico Xavier, o seu laborioso espírito transmitiu aos homens na Terra, descortinando as veredas do Mundo Espiritual a quantos se interessam por mais amplo conhecimento da Verdade além da morte.
A contribuição de André Luiz ao Espiritismo, ele que sempre foi amigo e admirador de Allan Kardec, na identidade do humanitário Dr. Antoine Demeure, que o próprio Codificador, nas páginas da "Revue Spirite", considerou o "Cura d'Ars da Medicina", é sem precedentes na história da literatura espiritualista de todos os tempos.
Acompanhando a movimentação da Falange do Espírito da Verdade, na reencarnação de dezenas e dezenas de companheiros que deveriam continuar secundando o trabalho de Allan Kardec, o Dr. Demeure renasceu na roupagem física do Dr. Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, missionário da Medicina no Brasil, impregnando-se de nossa cultura e psicologia, a fim de que, outra vez fora do corpo, constatando por si mesmo, em nível de maior transcendência, as realidades da Vida Imperecível, pudesse cooperar com o Mestre lionês no desdobramento da tarefa que lhe foi directamente confiada pelo Cristo!
Na certeza de que, fazendo tais esclarecimentos, apenas cumprimos com o dever que nos cabe, consoante permissão das Esferas Superiores, rogamos ao Senhor que nos conserve em sua paz e nos possibilite continuar a seu serviço, hoje e sempre.

INÁCIO FERREIRA

Uberaba (MG), Io de maio de 2009.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:26 am

ÍNDICE
PREFÁCIO 07
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:28 am

Capítulo 1
Domingas, Manoel Roberto e eu nos mantínhamos em animada conversação.
Esses entendimentos de além túmulo, levados a efeito de maneira informal, entre as inúmeras actividades que nos absorvem, auxiliam nossa melhor compreensão da vida que nos rodeia.
Já tive oportunidade de dizer que nem os próprios espíritas, enquanto no corpo material, conseguem fazer ideia mais próxima da realidade do que, afinal, nos seja a existência neste Outro Lado.
— Dr. Inácio - comentou Domingas -, isto aqui ainda é humano demais!...
— Aliás - respondi -, como deve ser!
O que esperávamos de nós mesmos?
Deixamos o corpo na exacta condição espiritual em que nos encontramos.
Não existe milagre de transformação...
O Mundo Espiritual não é mágico, como muitos supõem.
— Pois eu, Doutor - disse Manoel -, alimentava a esperança de que a sobrevivência, por si só, nos livrasse de muitas mazelas; a Domingas está coberta de razão: isto aqui ainda é humano demais!...
Talvez, por este motivo, os nossos irmãos encarnados estejam com dificuldade para assimilar as novas informações que lhes chegam, através dos canais da mediunidade.
— Precisamos, porém - considerei -, fazer justiça à literatura de Chico Xavier:
as informações referidas por você, desde muito, estão lá!
O pessoal é que não tem tido "olhos de ler"...
— Neste sentido, penitencio-me - aparteou Domingas.
Eu procurava ler muito, Doutor, mas a minha cabeça não dava, não comportava tanta luz, não sei...
A verdade é que não conseguia penetrar no espírito da letra!
Lia, assimilava algo, mas não com profundidade.
Quando chegava a pegar um livro, eu já estava de cabeça cansada e, por vezes, acabava cochilando.
— Domingas - falou Manoel -, em matéria de pegar livro espírita para ler, comigo eram dez tentativas e onze desistências...
— E não era por falta de eu insistir com você para que lesse, não é, Manoel?
Recordo-me de que chegava a ser inconveniente.
— O senhor, de facto, me azucrinava muito para que lesse e, admito, mais devia ter me azucrinado.
Perdi a conta dos livros que o senhor me doava, livros que eu mal conseguia abrir para lhe dar uma satisfação do conteúdo das primeiras páginas.
Para mim, estar trabalhando na caridade era mais do que suficiente para me garantir...
— Manoel, você sabe que, por vezes, eu também pensava assim? - endossou Domingas.
— Estar no exercício da mediunidade e praticar o bem aliviavam a minha consciência, no que tange à minha falta de empenho para aumentar o meu cabedal de conhecimentos doutrinários.
— A coisa não é bem assim - comentei.
— E lógico que a vivência da Mensagem é importante, mas como mais bem vivenciá-la, se a desconhecemos em sua amplitude?
Não podemos nos esquecer das palavras de Jesus:
"Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará..."
Conhecimento gradativo pressupõe gradativa libertação, concordam? Ou seja:
haveremos de nos libertar na exacta medida dos conhecimentos adquiridos!
— Se eu tivesse lido um pouco mais...
- ensaiou Manoel o argumento, sendo logo interceptado por mim.
— O se, por aqui, não vale!
A oportunidade não valorizada conspira contra os nossos anseios de felicidade.
Agora, paciência!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:28 am

O esforço que, em favor de nós mesmos, não despendemos no mundo está a nos esperar, neste Outro Lado, em cada gota de suor a ser derramada.
— Quando nos reconhecemos vivos para cá do sepulcro, esta, a meu ver, é a mais difícil das constatações! - exclamou Domingas.
— A alegria de nos reconhecermos em plena imortalidade contrasta com a nossa realidade íntima - realidade que o simples ato de morrer não altera em absolutamente nada.
— Dr. Inácio - solicitou-me Manoel -, apenas a título de ilustração, ocorre ao senhor a lembrança de alguma informação que os nossos Instrutores tenham nos transmitido...
— Você se refere, por exemplo, a algo que esteja nos livros da lavra de Chico Xavier? - perguntei.
— Sim, a uma revelação importante que um deles contenha e sobre a qual pouco se comenta...
— "Nosso Lar"! - sugeriu Domingas.
— Trata-se, sem dúvida, de uma das obras mais lidas dentre todas. Depois da Codificação, é o nosso maior best-seller...
— Exacto - concordou o antigo Enfermeiro-Chefe, vivamente interessado.
Depois de reflectir rapidamente, levantei-me e, caminhando na direcção de estante próxima, peguei um exemplar de "Nosso Lar".
— Logo aqui, no primeiro capítulo, há uma informação curiosíssima - disse, abrindo o livro que, tantas vezes, consultara para as minhas palestras.
Confesso a vocês que somente há bem pouco tempo eu consegui percebê-la...
— Antes de desencarnar? - indagou-me Domingas.
— Infelizmente, não.
Trata-se de uma frase que ficou, digamos, tão "escondida" entre as outras, que, sem uma leitura muito atenta, o leitor mais apressado não a notará.
Quando encarnado, eu também não lhe dei a devida importância.
Deixem-me localizá-la...
Percorrendo, com o indicador, os últimos parágrafos do referido volume, deparei-me com a sentença que encerra um mundo de ensinamentos, induzindo-nos a um sem-número de reflexões sobre a natureza do corpo espiritual e às reais condições de sobrevivência do espírito, após a ocorrência do desenlace.
— Pronto, aqui está! - exclamei.
Digo-lhes que, em minha longa trajectória terrestre, nunca ouvi ou li sobre o assunto a menor referência.
E, com voz pausada, comecei a ler todo o parágrafo, com o intuito de pedir a Domingas e a Manoel que identificassem o trecho que colocaria em destaque:
"Enfim, como a flor de estufa, não suportava agora o clima das realidades eternas.
Não desenvolvera os germes divinos que o Senhor da Vida colocara em minha alma.
Sufocara-os, criminosamente, no desejo incontido de bem estar.
Não adestrara órgãos para a vida nova.
Era justo, pois, que aí despertasse à maneira de aleijado que, restituído ao rio infinito da eternidade, não pudesse acompanhar senão compulsoriamente a carreira incessante das águas; ou como mendigo infeliz que, exausto em pleno deserto, perambula à mercê de impetuosos tufões".
— Algo lhes soou, assim, diferente aos ouvidos? - indaguei.
Você, Manoel, o que achou?
— Que André Luiz escreve muito bem - respondeu sorrindo.
— Ah, mesmo depois de morto, você é um caso quase perdido - retruquei caçoando do companheiro.
E você, Domingas, o que me diz?
— Achei interessante ele se comparar a uma "flor de estufa"...
— Mais nada?
— Confesso que não; talvez eu precise forçar a cabeça um pouco mais...
Depois da desencarnação, não voltei a reler a obra e, se pensei em "Nosso Lar", foi na cidade e não no livro!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:28 am

— Prestem atenção - pedi, colocando a frase em evidência:
"Não adestrara órgãos para a vida nova!"
— Meu Deus! - admirou-se Domingas de imediato, como se, naquele instante, fizesse preciosa descoberta.
— Adestrar órgãos para a vida nova! - repetiu Manoel com ênfase.
— Doutor, o que isto significa? - perguntou a abnegada irmã.
Eu nunca ouvi qualquer menção a respeito?
— Significa, literalmente, o que quer dizer mesmo: que o perispírito, ou corpo espiritual, é dotado de órgãos!
— Bem, hoje sei disto, mas...
— Eu e muita gente, Doutor, quando na Terra, não tínhamos a menor noção do que os médicos chamam de...
Como é mesmo a palavra?
— Fisiologia!
— Sim, da fisiologia do corpo espiritual!
— Em minhas elucubrações, Manoel - acentuou Domingas com seu bom humor -, chegava a supor que o perispírito fosse de... isopor!
Engraçado é que a gente vive repetindo que o corpo de carne é cópia do corpo espiritual, mas, não sei por que cargas d'água temos dificuldade para concebê-lo.
Ora, se o corpo físico se forma a partir do que os cientistas consideram como "modelo organizador biológico"...
Não é isto, Dr. Inácio?...
— Correto!
— A rigor, determinado órgão de natureza física não pode existir sem a sua contraparte espiritual!
— Como existem pessoas que, como eu o fazia, evitam pensar mais objectivamente na consistência, ou, em outras palavras, na humanidade do corpo espiritual - concluiu Manoel.
— O problema - disse Domingas - é que, em minha opinião, elas têm medo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:28 am

CAPÍTULO 02
Medo?! - inquiriu Manoel Roberto.
Em que sentido?
— Alimentando a ilusão de que tudo lhes possa ser mais fácil, não querem enfrentar a realidade.
— A Domingas tem razão - concordei.
— Não nos esqueçamos de que, milenarmente, somos dominados por uma cultura religiosa equivocada:
a ideia de se alcançar o Céu pelo menor esforço...
— Por pura arrependimento de última hora!
— Exactamente, Manoel - falei.
Os próprios adeptos da Doutrina, muitos deles - e gente considerada intelectual -, se recusam a admitir a Vida além da morte sem alterações de vulto, na expectativa de que venham a se deparar com um Mundo Espiritual próximo do que imaginam e não do que efectivamente ele é.
— Por este motivo, Doutor! - perguntou Domingas -, as suas obras mediúnicas têm sido combatidas, não acha?
— Em parte - respondi.
Sinceramente, não considero as minhas obras tão relevantes assim...
O pessoal está me supervalorizando.
— Modéstia sua, Doutor.
Os seus livros têm incomodado...
— Talvez pela linguagem utilizada, o meu jeito espontâneo de ser - não consigo ser o Inácio que muitos querem que eu seja!
— Não é só pela linguagem, não! - observou a confreira.
O problema é que o senhor é directo no que diz:
não efectua rodeios com a palavra.
— E diz o que muitos não querem! - exclamou Manoel.
— Ora, não me bajulem, que eu vou acabar acreditando!...
Ainda sou susceptível à vaidade!
Por favor, falem mal, mas não me incensem.
Deus me livre de elogios!
— Não, Doutor, não se trata de elogio; as suas obras, de facto, são provocativas, induzem a pensar...
— Deixemos de lado este assunto - solicitei - e voltemos a André Luiz.
O que vocês me dizem desta frase:
"Não adestrara órgãos para a vida nova?"
— E não adestramos mesmo, Doutor - enfatizou a querida irmã.
Vejamos o meu caso, no que tange ao estômago somente:
por vezes, ainda sinto uma fome!...
Tenho que me controlar para não atacar as panelas... da Terra!
Não fosse o relativo esclarecimento que possuo, estaria vampirizando os inveterados comedores de carne apimentada!
Eu e Manoel sorrimos da franqueza de Domingas que, para fazer bom humor, às últimas palavras pronunciadas, lambera os beiços, como se estivesse degustando uma coxa de frango ou um pedaço de picanha assada.
Após breve intervalo, Manoel Roberto testemunhou:
— Confesso que, de minha parte, não adestrei órgãos sexuais...
Não preciso dizer mais. Ou preciso?
Amenizando o honesto depoimento do companheiro, retruquei:
— Não enveredemos por este campo, do qual poucos, ou melhor, pouquíssimos escapam.
Permaneçamos na periferia, Manoel.
Não ataquemos o ponto central da questão.
— Está certo. Então não adestrei os pulmões...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:28 am

— Tabagismo?
Ora, eu fazendo a sua defesa e você me atacando...
Está vendo, Domingas, como são os amigos?
— Doutor, mas eu também fui viciado...
Não consegui fumar tanto quanto o senhor, que desencarnou mais tarde do que eu...
— Domingas, você viu?!
Com um amigo igual ao Manoel, quem precisa de inimigos, nem?...
Enquanto ela sorria, voltei a falar sério:
— Eu não sei onde era mais difícil respirar, para mim:
se no corpo, com os pulmões atacados pelo enfisema, ou se na atmosfera rarefeita do Plano Espiritual!
Estando lá, eu queria respirar aqui; estando aqui, eu queria respirar lá...
Dos Dois Lados da Vida, o ar me faltava!
Tornei a efectuar ligeira pausa, argumentando em seguida:
— Mas, segundo creio, André Luiz vai mais fundo na questão:
ele está se referindo à nossa falta de preparo interior - em outras palavras, à nossa vida mental.
— Sim, é isto - concordaram os dois em uníssono.
— Afinal de contas - retrucou Domingas -, não é o que entra pela boca que faz mal.
Certo, Doutor?
— Desde que você não tome um copo de veneno!
— Quero me referir ao espírito, como Jesus se referiu.
— Ah, sim! Então o raciocínio é válido.
De facto, o que sai pela boca é bem mais prejudicial do que aquilo que entra...
E, por este prisma, chegamos ao ponto:
olhos, ouvidos e boca!
— Doutor - pediu Manoel -, detalhe para nós.
— Tem gente que não come igual a Domingas comia e não fuma como fumávamos eu e você, certo?
— Sem dúvida.
— Mas, por outro lado, é maledicente e concentra sentidos no que é exclusivamente físico.
Gente que só fala no mal, que só enxerga o mal e só escuta o mal!
Gente que não se esforça para entrar em sintonia com o aspecto positivo das coisas...
— Nossa! - exclamou Domingas.
A coisa é muito mais profunda do que possamos imaginar - essa história de adestrar órgãos para a vida nova. Se for assim...
— Se for assim, não: você sabe que é assim!
Aliás, a Sabedoria de Jesus é fantástica.
Sei que, fazendo o elogio do Mestre, estou "chovendo no molhado", mas, a cada dia, me surpreendo com tudo o que está no Evangelho, cujas lições de vida eterna podem ser aplicadas ao entendimento de todas as coisas.
E puxando pela memória, citei:
— "Se a vossa mão ou o vosso pé vos é objecto de escândalo, cortai-os e lançai-os longe de vós; melhor será para vós que entreis na vida tendo um só pé ou uma só mão, do que terdes dois e serdes lançados no fogo eterno.
Se vosso olho vos é objecto de escândalo, arrancai-o e lançai-o longe de vós; melhor para vós será que entreis na vida tendo um só olho, do que terdes dois e serdes precipitados no fogo do inferno".
— Doutor, que interessante! - voltou a exclamar Domingas.
Eu nunca havia ligado um assunto a outro.
— Nem eu - disse por minha vez.
— Como?!
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:29 am

— Ocorreu-me agora, Domingas, neste momento, a vinculação do que escreveu André Luiz, no texto mencionado, com as palavras de Jesus.
— E o senhor ainda vive apregoando que não é médium!
— Médium de receber espíritos, assim como você recebia e recebe, não sou!
Mas, por outro lado, devo admitir que a inspiração não possa provir do nada: alguém deve perder o seu tempo comigo, soprando-me estas coisas...
De minha cabeça é que tais ideias não nascem!
Manoel, que silenciara, comentou:
— Pelo que estou deduzindo, a gente tem que procurar entrar quase sem corpo no Mundo Espiritual; tem que deixar tudo lá embaixo: olhos, ouvidos, boca...
— Estômago! - mencionou Domingas a sua parte sensível.
— Genitália, pulmões...
— Mais uma vez, permitam-me citar Jesus, na extraordinária Parábola do Festim de Bodas - apenas um trecho:
"Entrou, em seguida, o rei para ver os que estavam à mesa, e, dando com um homem que não vestia a túnica nupcial, disse-lhe:
Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem guardou silêncio.
— Então, disse o rei à sua gente:
Atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores:
aí é que haverá prantos e ranger de dentes; — porquanto, muitos há chamados, mas poucos escolhidos."
— Qual é a interpretação? - indagou Domingas com vivo interesse.
— Salvo melhor juízo - considerei -, a túnica nupcial é o perispírito: sem que ele se nos mostre translúcido, etéreo, compatível com as dimensões espirituais que almejamos atingir, não participaremos do festim, ou seja, da vida fora da matéria densa - seremos, naturalmente, lançados às trevas exteriores...
— Às trevas exteriores?! - interrogou Manoel.
— A reencarnação! A bênção do recomeço!...
Relendo a primeira frase do parágrafo já referido na obra "Nosso Lar"
- "Enfim, como a flor de estufa, não suportava agora o clima das realidades eternas" -, prossegui:
— Muitos espíritos reencarnam por sua absoluta incapacidade de adaptação às Regiões Espirituais superiores à Crosta.
Atentemos para o depoimento do preclaro autor espiritual, destacando as palavras suportar e clima:
"... não suportava agora o clima das realidades eternas".
— Eu já tinha ouvido falar em quem não suporta o clima excessivamente quente ou frio...
— Pois é, Domingas, existe também a questão do clima espiritual.
Estamos por aqui, porque não suportamos estar acima - não temos perispírito para tanto!
Em outras palavras, não somos dotados de pulmões para respirar em dimensões tão rarefeitas.
A nossa túnica nupcial, por enquanto, é de baixa qualidade, entretecida com saco de aniagem, daquele mais grosseiro de acondicionar batatas...
— Quer dizer, então, Doutor - inquiriu Manoel com inteligência -, que toda a nossa luta evolutiva é pela tessitura de um corpo espiritual compatível com a natureza do próprio espírito?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:29 am

CAPÍTULO 03
Correcto, Manoel - respondi, dando seguimento ao diálogo.
— Há um trecho de "O Evangelho Segundo o Espiritismo" que sempre me chamou a atenção.
Eu o lia e relia, mais bem tentando entendê-lo.
Se vocês me permitem...
— Claro, Doutor - respondeu Domingas.
— Leia-o para nós.
— Está aqui no Capítulo VI, "O Cristo Consolador", numa mensagem de O Espírito de Verdade:
"Bebei na Fonte viva do amor e preparai-vos, cativos da vida, a lançar-vos um dia, livres e alegres, no seio d'Aquele que vos criou fracos para vos tornar perfectíveis e que quer modeleis vós mesmos a vossa maleável argila, afim de serdes os artífices da vossa imortalidade".
— Interessante - aduziu a companheira.
— Eu também nunca entendia muito bem esta parte:
"... a Jim de serdes os artífices da vossa imortalidade!"
— Como se imortais não fôssemos, não é?! - considerou Manoel, indo ao cerne da questão.
— O homem, por sua dupla natureza, física e extrafísica, ou seja, por seu corpo material e espiritual, é, ao mesmo tempo, mortal e imortal.
Deixem-me clarear um pouco mais o raciocínio, a fim de que não paire qualquer dúvida.
Concatenando ideias, continuei.
— Em nossa própria essência, é óbvio, somos imortais - ninguém morre!
Todavia, enquanto não alcançarmos a perfeição, todos estaremos sujeitos à Lei da Reencarnação:
em outras palavras, a sucessivos renascimentos e mortes...
— O homem morrerá, até que não necessite mais renascer num corpo perecível, é isto?
— É isto, Manoel - concordei. — Criados simples e ignorantes, a matéria é o nosso cadinho evolutivo; em contacto com ela é que desenvolvemos as qualidades que herdamos de Deus...
— Ah! - aparteou Domingas -, foi o que André Luiz quis dizer quando ditou:
"Não desenvolvera os germes divinos que o Senhor da Vida colocara em minh'alma".
— Exactamente. Sem morrer, sucessivas vezes, não entraremos na posse de nossa verdadeira imortalidade.
— Para deixar de morrer, precisamos morrer...
É como se fosse um processo de decantação espiritual!
— A sua analogia é óptima! É isto mesmo.
Agora, respondendo ao Manoel, toda a nossa luta, de facto, é pela construção de um corpo espiritual adequado à nossa natureza.
Estamos à procura de nossa identidade original.
Buscamos definitiva integração com Deus!
— O espírito aperfeiçoa a matéria e, consequentemente, é aperfeiçoado por ela.
—Filosoficamente e antropologicamente correto! - gracejei.
— Por favor, Doutor - devolveu Domingas com bom humor -, não comece a falar grego, que eu mal entendo o nosso português caipira, falado lá no interior de Minas Gerais...
— Pois é, minha cara - acrescentei suspirando -, a caminhada é longa e árdua.
Não há favorecimentos ilícitos.
O espírito deve transpor a imensa escada da Evolução, degrau a degrau.
Daí a constatação de que, embora desencarnados, continuamos, fora do corpo, tão humanos quanto éramos.
Deixamos tão-somente um dos muitos invólucros que nos revestem...
— E assim mesmo, não de maneira definitiva.
— Ainda não! Para alguns poucos que desencarnam, doravante, a Vida passa a ser daqui para cima...
— E para nós, Doutor, que fazemos parte da generalidade?
— Para nós - brinquei -, principalmente para vocês dois, grudados às sensações da matéria e presos a tantas paixões, a Vida ainda é daqui para baixo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg maio 21, 2018 10:29 am

Domingas e Manoel sorriram.
— Vocês ainda não deram tudo o que podiam em contribuição ao aperfeiçoamento da espécie!
Depois de algum tempinho aqui, na Vida Espiritual, reencarnarão, levando consigo diminutas modificações genéticas para o corpo, que se aperfeiçoa com extrema lentidão.
Apanhando o conteúdo filosófico e antropológico de minhas palavras, perguntou Domingas:
— Doutor, pelo que deduzo, neste Outro Lado igualmente se pode "adequar órgãos"?
— Perfeitamente - respondi, elucidando.
— Quanto maior for o tempo de permanência do espírito no Mundo Espiritual, sob a influência do meio em que passa a viver transitoriamente, maior será a sua possibilidade de imprimir transformações de natureza genética ao futuro corpo carnal que ocupará.
— Que interessante! - exclamou Manoel.
— Coloque interessante nisto - replicou a companheira, efectuando rápidas anotações num pedaço de papel.
É tão interessante, que não quero esquecer!
— Doutor, fale mais um pouco sobre o assunto - solicitou o devotado amigo.
— Vocês concordam que, com a desencarnação, os nossos hábitos vêm, gradativamente, se modificando?
— E como!
— Alimentação diferente, mais leve, embora ainda não seja o maná que caiu do Céu, alimentando o povo hebreu em sua peregrinação pelo deserto...
— A gente tem dormido menos - observou Domingas, quase a bocejar.
— O ar que respiramos é mais rarefeito, quase sem poluentes...
— A água é mais pura!
— Estamos relacionando as influências de carácter externo...
O que me dizem das consideradas de carácter interno?
— Um novo modo de pensar!
- respondeu a autora de "Eu, Espírito Comum".
— Uma nova cultura!
Concepções completamente diversas, no que tange à vida e à morte - emendou Manoel com precisão.
— Todas estas coisas, somadas umas às outras, hábitos e anseios, vão alterando para melhor o nosso acervo genético.
Nos Dois Lados da Vida, de maneira consciente ou inconsciente, o espírito trabalha para ser o "artífice de sua imortalidade"!
— Mas as Trevas trabalham em sentido contrário, não?
— Infelizmente, sim:
conspiram contra a Evolução - concordei.
Nos mais insignificantes pormenores, as Trevas trabalham pela supremacia da matéria sobre o espírito - pelo desarranjo genético que prenda o espírito nas teias da vida material.
— Onde eles concentrariam esforços?
Em que parte do corpo humano?
Seria no estômago?...
— Não, Domingas: é no cérebro, a sede da mente.
Atacam a periferia, mas o objectivo é o centro...
As Trevas querem impedir, a todo custo, os encarnados de pensar!
Por este motivo, os distraem com comida, bebida e sexo...
— Sem mencionarmos as drogas...
— E a falta de fé em Deus!
— Impedindo o homem de "adestrar órgãos", o que acontece?
— A Evolução se detém...
— Não, Manoel, não se detém nunca, todavia a Evolução quase se anula...
Compreenderam? - inquiri aos dois, com receio de que não estivessem me acompanhando as reflexões.
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Estudando "Nosso Lar" - Inácio Ferreira /Carlos A. Baccelli Empty Re: Estudando "Nosso Lar" - Inácio Ferreira /Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:17 am

— Com clareza.
— Meu Deus, como é extensa a luta! - redarguiu Domingas.
— De fato, mas não podemos desanimar; precisamos continuar dando combate aos nossos hábitos perniciosos, inclusive proporcionando à mente um novo repasto...
— Quando na Terra, a não ser de raro em raro, a gente não pensa nisto.
— Vejamos a importância do Espiritismo em nossas vidas - acentuei.
A Doutrina representa um avanço extraordinário para a Humanidade, pois, ensejando ao espírito semelhante conscientização enquanto ainda no corpo de carne, ela o equipa para a luta que não mais deve ser postergada.
O Espiritismo é uma nova cultura, com revolucionária proposta de renovação.
O espírita, em maior estágio de lucidez, passa a combater a si mesmo em todas as frentes de batalha.
— A ser comedido em tudo, não é?
— No que tange a mim, digo-lhes que não consegui apenas no que diz respeito ao hábito de fumar...
O cigarro me impregnava o corpo de toxinas que, caindo na circulação sanguínea, me eclipsava o cérebro:
o prejuízo não foi só para os pulmões, não!
— Neste sentido, as Trevas me pegavam era pelo estômago - confessou Domingas.
— Com as minhas muitas arrobas, eu vivia sonolenta...
— Comigo - disse Manoel -, foi em quase todas as áreas, que não vêm ao caso mencionar.
Silenciamos por instantes, e a estimada confreira exclamou, pensativa:
— Ora, como uma simples lição de "Nosso Lar" nos levou tão longe!
— Você imaginou, então, o que dizer, se estudássemos o livro inteiro?
— É verdade, Manoel.
E, virando-se para mim, propôs:
— Dr. Inácio, por que não criamos aqui um círculo de estudos em torno da obra?
O senhor poderia participar connosco.
Sei de suas muitas ocupações, mas a iniciativa haveria de nos ser extremamente útil.
E, depois, as lições estudadas poderiam ser repassadas aos nossos irmãos lá embaixo...
O que acha? Diga que sim! - insistiu.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:17 am

CAPÍTULO 04
Domingas, eu não sou nenhuma autoridade em Doutrina, felizmente - respondi com sinceridade.
E, conforme sabe, para tantos doutores da lei reencarnados em nossos arraiais, eu não passo de espírito mistificador...
— Doutor - contra-argumentou a companheira -, eu prefiro aprender com um mistificador assim a fazê-lo com um fariseu como eles!
— Eu também! - fez coro Manoel Roberto, pressionando-me.
— Bem - ponderei, anuindo -, concordo, desde, porém, que vocês igualmente convençam o Odilon a participar.
Não devo assumir sozinho tamanha responsabilidade!
— Hoje mesmo, voltando ao "Liceu", conversarei com ele e tenho certeza de que o Instrutor responderá positivamente.
— Como você pretende fazer que seja o círculo de estudos? - questionei.
— Mais ou menos como nas reuniões na União da Mocidade, no Centro Espírita "Uberabense", que o senhor coordenava aos sábados, recorda-se?
— Como poderia não me recordar daqueles tempos áureos?! - redargui, saudoso de nossas antigas tertúlias doutrinárias.
— De fato, Doutor - aparteou Manoel Roberto -, que reuniões inesquecíveis! Encontros memoráveis eram aqueles!
— Não convide muita gente, por favor.
Façamos algo mais íntimo, com a participação de, no máximo, uma dúzia de interessados.
— Pode deixar comigo - prometeu a dinâmica confreira.
— E que seja informal - acrescentei.
— Sou avesso a reuniões espíritas cheias das convenções do mundo.
Que seja bem simples, como este bate-papo que estamos mantendo.
Creio, inclusive, que assim o aproveitamento será maior.
E espero não ter que comparecer de paletó e gravata, pois aí eu simplesmente não irei!
— Estou pensando, Doutor, em montar um painel simulando um diálogo numa sala de visitas.
O que acha da ideia?
— A princípio, interessante.
Evitaremos palestras cansativas.
— Colocaremos algumas cadeiras...
— No mesmo nível das demais - nada de palco, certo?
Eu não quero estar no centro de nada - absolutamente nada!
— O senhor manda...
— Não, estou pedindo!
A minha vaidade é um monstro adormecido; sei que, ao menor descuido, ele despertará e me engolirá inteirinho...
— Além do Dr. Odilon Fernandes, o senhor gostaria da participação de mais alguém?
— Se a Modesta puder, gostarei muitíssimo - sugeri.
— Falaremos também a ela, não é, Manoel?
— Sem dúvida.
— Outra coisa: o livro "Nosso Lar" é constituído de 50 capítulos; impossível que esgotemos todos os assuntos que neles são abordados...
Comentaremos apenas alguns tópicos de certos capítulos, tendo o cuidado de que a reunião não exceda hora e meia...
— Pode deixar:
90 minutos cronometrados!
— Mais do que isto, o pessoal irá dormir, além do que, temos outros compromissos.
— Estou calculando três meses de estudo, em dias alternados, salvo alguma eventualidade que nos leve a cancelar esta ou aquela reunião.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:17 am

— No entanto - frisei -, procuraremos ser disciplinados.
Despedimo-nos ali e, com o seu entusiasmo contagiante, Domingas saiu com as suas passadas largas, determinada a colocar o projecto em funcionamento.
Assim que a irmã se retirou, Manoel falou comigo:
— Doutor, precisamos resolver aquele problema...
— Que problema? - indaguei.
O do Saul?...
— Não está tendo jeito.
Todas as tentativas já foram esgotadas com ele!
Já lhe demos todas as oportunidades.
A única saída agora...
— É a demissão!
— Não temos alternativa.
Ele continua fazendo intrigas com todo o mundo...
— Sim, senhor! - retruquei.
Se me falassem em intriga depois da morte, em fofocas no Mundo Espiritual, eu não acreditaria!
Que coisa! E partindo de um homem velho, com a cabeça branca.
Já perdi a conta das vezes que conversei com ele...
— Com a última, há vinte dias, nove vezes, Doutor!
— O Divino Senhor há de me perdoar - murmurei -, mas o "setenta vezes sete" está difícil com ele...
Acho que vou ficar devendo ao Evangelho!
— Posso chamá-lo? - perguntou Manoel, sempre atento ao bom andamento das actividades no Hospital.
— Pode.
Não demorou muito e aquele homem quase da minha idade estava diante de mim como uma ovelha inocente.
— Como vai, Saul? - saudei-o, procurando puxar conversa.
— Mal, Doutor, mal...
— Qual o motivo?
— Eu sei que já vieram enredar de mim para o senhor, de novo.
E, com olhos súplices, tentando uma vez mais me sensibilizar, falou:
— Doutor, eu sou um homem de bem...
— Não fala mal de ninguém!
— Absolutamente!
Eu sou um homem muito sistemático; a educação que a minha mãe me deu...
— Saul - pedi -, não coloque a sua santa mãezinha nisto.
Conversemos nós dois, de homem para homem.
Sinceramente, eu não sei mais o que faço com você...
— Aí, está vendo?
Eu não falei que vieram fofocar de mim para o senhor?
— Você está perturbando a tranquilidade do Hospital.
— Doutor, eu não minto.
Alguma coisinha que eu possa ter falado é tudo verdade.
E, revelando a sua estranha patologia, aproximou-se, dizendo:
— Aquela moça, de facto, fica lá, flertando com todo o mundo, dando confiança até para homem casado.
E o João Carlos, que o senhor colocou para trabalhar no jardim, não faz nada:
eu já o peguei cochilando duas vezes.
Conhece o Aparecido?
Pois é, ele anda falando do senhor pelas costas...
Eu, não. Eu o defendo!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:18 am

Mas ele, Doutor, diz que o senhor é muito exigente, que tem os seus protegidos aqui dentro, como o Manoel Roberto e tantos outros.
— Saul, meu filho - tentei interceptá-lo.
— Não sou um homem maledicente, mas o que quer que eu faça, se vejo e ouço as coisas?
Tem um enfermeiro, o Benedito, ele não é espírita nada:
finge que é para agradar ao senhor.
Outro dia, o peguei falando que não acredita em Reencarnação...
O senhor tem que abrir os olhos com essa gente; poucos aqui são de confiança...
E a Catarina, então?
Eu já a vi maltratando uma das internas...
O homem fazia com a língua na boca o que uma metralhadora não faria nas mãos de um guerrilheiro: ninguém estava escapando daquele cerrado tiroteio...
Doutor, outro dia, quando andava por um dos corredores...
— Alto lá! - solicitei.
Saul, por favor, sente-se, fique calado e escute o que vou lhe dizer.
Das duas, uma: ou você aceita continuar no Hospital, mas na condição de paciente, ou eu vou mandá-lo embora hoje, agora, neste exacto momento!
— Doutor!
— Você está doente!
Você sabia que a maledicência é uma doença?
— Mas eu...
— Meu filho, eu não posso continuar com você aqui assim.
O nosso pessoal ainda não está tão imune, que consiga ignorá-lo.
Isto aqui é uma sucursal da Terra, mas não é mais a Terra.
Não estamos mais envergando aquele corpo cheio de gordura...
Será que você não compreende?
Não lhe passa pela cabeça que precisamos modificar valores?
Você é imortal, Saul!
Quer renascer como?
Mudo ou na prova da idiotia, incapaz de sequer articular um pensamento?
É o que vai acontecer a você.
— Doutor, eu...
— Você está doente! - enfatizei, interrompendo-o.
Pare de fazer intrigas!
Isto é o Mundo Espiritual!
Você não tem o direito de continuar sendo tão humano assim!
Você é espírito, entendeu?
Espírito liberto do corpo material...
— Sei disto, mas isto aqui não é o Céu!
Aqui, com raras excepções, todo o mundo continua errando, comendo arroz com feijão...
Para mim, estamos apenas no outro lado da Terra e não no Outro Lado da Vida.
— Você "tem razão, mas vai preso, assim mesmo" - disse-lhe, recordando velho ditado terrestre.
Considere-se demitido de suas funções no Hospital.
Aqui, eu não admito fofocas de espécie alguma.
Chega, que você já foi longe demais!
Saul abaixou a cabeça e, então, perguntei:
— Você quer se tratar?
Quer ser meu paciente?
— Se o senhor acha que eu preciso, aceito, desde que seja o meu médico.
E, olhando para os lados, a ver se ninguém o escutava, falou-me em tom de confidência:
— O Dr. Fulano de Tal (declinou nome e sobrenome do médico) não gosta de trabalhar:
ele só sabe preencher papelada... Já lhe disseram isto?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:18 am

CAPÍTULO 05
N o outro dia, logo de manhã, recebia a simpática visita de Modesta.
— Olá, Inácio! Como vai? - saudou-me, descontraída.
— Na luta que a morte não interrompeu, graças a Deus!
— A Domingas me falou sobre o projecto para estudarmos "Nosso Lar".
Que beleza! Hão-de ser reuniões muito proveitosas.
Sentando-se numa poltrona próxima, observou:
— Engraçado, você se lembra de que lhe manifestava a vontade que eu tinha de estudar mais a fundo a referida obra?
— E claro. Eu também, diversas vezes, ensaiei fazê-lo, mas sempre me embaraçava.
— Ora, você não tinha tempo para nada; não sei como é que conseguia realizar tanto...
Só de arranjar cabeça para ouvir tanta gente!
— O curioso, Modesta, é que o estudo desse livro, mesmo aqui, no ambiente em que ele foi escrito, ou seja, no Mundo Espiritual, há de nos ser muito útil.
A ideia de Domingas foi muito boa!
— Concordo. Qual nos acontecia na Terra, vivemos aqui sem muita noção de eternidade, não?
Como você próprio costuma dizer, isto aqui ainda é muito humano.
— A rigor, nós é que continuamos os mesmos.
Estamos meio sem saber o que fazer com a própria imortalidade.
— Agora é que estamos acordando, não?
Quanto tempo dormindo, meu Deus!
Sem o conhecimento do Espiritismo, eu não sei o que seria de mim...
— Provavelmente, continuaria dormindo, Modesta.
— Nossa! O Mundo Espiritual para muita gente morta é como se não existisse.
Difícil de acreditar! Só agora estou mais bem compreendendo aqueles espíritos...
— Aquele pessoal, Modesta, aquele povo - vamos nos habituar a falar assim.
Quando falamos "espírito", é como se não estivéssemos falando de nós mesmos; fica aquela sensação de estarmos nos referindo a uma entidade à parte...
— Você tem razão.
E reformulou a frase:
— Só agora estou mais bem compreendendo aquele pessoal que ia conversar connosco nas sessões de desobsessão - aquela gente que não sabia que estava morta...
Que coisa, um espírito não saber que está morto!
Ignorar que voltou para o seu próprio meio...
Confesso a você que isto sempre me intrigou muito.
Como médium, Inácio, eu sentia toda aquela dúvida do espírito...
— O problema, Modesta, é a ideia que sustentávamos de um Plano Espiritual muito acima.
Pausei por instantes e, pegando um papel sobre a mesa, li em voz alta:
"Tendes de reconhecer, primeiramente, que o Além não é uma região, e sim um estado imperceptível para a vossa potencialidade sensorial (destaquei).
E entendereis que igualmente nós somos ainda relativos, sem nenhum característico absoluto, irmãos de vossa posição espiritual, em caminho para as outras realizações e conquistas, como vós outros."
— Que achado! - exclamou.
Quem é o autor? Você?
— Quem me dera! - respondi.
É de Emmanuel, através do lápis abençoado de Chico Xavier.
— Quando ele escreveu isto? Sabe-se?
— No dia 2 de abril de 1938!
A mensagem, na íntegra, está inserida num livro recentemente lançado, sob o título "Um Amor, Muitas Vidas".
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:18 am

— Inácio! Esta é a melhor definição de Mundo Espiritual que já ouvi.
Repita, por favor, o trecho a que você deu ênfase ao ler.
— "... o Além não é uma região, e sim um estado imperceptível para a vossa potencialidade sensorial"!
— Isto é conceito da Física mais avançada, do que denominaram de "Física Quântica"!
— Exactamente, Modesta.
O Além, não sendo uma região, não está aqui, lá e nem tampouco alhures...
— Não; está em toda parte!
— Eis no que se nos resumem Plano Material e Plano Espiritual.
— É uma questão de percepção.
Não temos sentidos apurados para perceber o que transcende...
Dá, por exemplo, para que os nossos irmãos lá embaixo entendam que nós, os desencarnados, estamos rodeados por outro Plano Espiritual?
— Para a maioria, devo reconhecer que se trata de exercício mental um tanto complexo.
— Na desencarnação, não existe radicalismo: estamos vendo isto aqui todos os dias.
Numa escala, por exemplo, de cem centímetros - um metro de comprimento -, desencarnar é saltar de um centímetro para outro...
— Se bem que, às vezes, se pode evoluir em progressão geométrica, não?
— Sim, caminhar de dois em dois ou de três em três centímetros, mas isto raramente acontece.
Impossível caminhar pulando estágios!
O que pode ocorrer é o aproveitamento integral desta ou daquela experiência reencarnatória, conduzindo o espírito a outros patamares evolutivos.
Aqui, Modesta, também podemos aplicar o ensinamento de Jesus:
"... àquele que já tem, mais se lhe dará e ele ficará na abundância"!
— Traduza para mim.
— É simples: quanto mais se aprende, maior é a possibilidade de se aprender!
— Ou seja: sobre o alicerce se constroem as paredes...
— E sobre as paredes, o telhado!
— Porém, se faltam alicerce e paredes...
— Tudo está para ser feito!
— Desconfio que eu seja terra rasa, Inácio.
— Sem o Espiritismo, sim, nós seríamos - eu e você - terra rasa, mas, com o conhecimento espírita, algum alicercezinho nós já somos.
Ainda não dá para levantar paredes, mas...
— Inácio, eu me lembro de você citar uma frase de D. Maria João de Deus, semelhante a esta de Emmanuel. Qual é?
— Ah, sim! Está em "Cartas de Uma Morta", escrito em 1935, também de autoria mediúnica de Chico Xavier:
"A vida é o eterno fenómeno dos jogos vibratórios..."
— O estado vibratório da matéria é que, na verdade, a torna mais ou menos etérea, não?
— Correto. Está lá em "O Livro dos Espíritos", na resposta dada à questão 22:
"Mas a matéria existe em estados que não conheceis.
Ela pode ser, por exemplo, tão etérea e subtil, que não produza nenhuma impressão nos vossos sentidos; entretanto será sempre matéria, embora não o seja para vós."
— É, antes de falar de qualquer coisa, acreditando-se na posse da verdade absoluta, o homem precisa estudar muito.
— Principalmente nós, os espíritas, Modesta, que detemos um conhecimento superficial da Doutrina.
— Sem o exercício da reflexão...
— Apegados ao sentido literal da palavra!
— Precisamos, pois, compreender, como você costuma dizer, que, dentro de pouco tempo, estar ou deixarmos de estar encarnados será apenas uma questão de um pouco mais ou um pouco menos de matéria.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:18 am

— Sim, de um rearranjo das moléculas atómicas que nos constitui o envoltório externo, na projecção mais material de nós mesmos.
— Você, Inácio, quando quer falar sério...
— Entretanto custa-me - acredite.
Para mim, a Vida é alegria.
Não sei por que o Mundo Espiritual tem que se apresentar aos encarnados com sisudez.
Apenas para satisfazer os que não sabem sorrir?
— Você tem razão.
— O Espiritismo, igualmente, é o reviver da alegria do Evangelho!
Eu não consigo conceber Jesus triste...
Veja: os pássaros cantam, as flores desabrocham ao Sol, as estrelas tremeluzem no firmamento...
Como costumava dizer Chico Xavier, Jesus nasceu com os anjos fazendo serenata no Céu!
Você se recorda da alegria de nosso Chico?
— Como não?! Ele sabia e gostava de sorrir...
— Pois é: a gente quer brincar, e conspiram contra o nosso bom humor, como se aqui, no País dos Mortos, devêssemos viver sorumbáticos, condenados a eterna nostalgia.
Deus me livre de uma sobrevivência assim!
— Sorumbático! - exclamou Modesta.
— Há quanto tempo eu não ouvia alguém pronunciar esta palavra...
— É o mesmo que macambúzio!
Modesta sorriu, observando:
— Inácio, com você ninguém pode!
— Engano seu: Deus pode!
Agora, abaixo Dele, só Jesus Cristo...
— Pretensioso, hem?
— Não; simplesmente, humano...
Será que até o direito de continuar sendo humano querem me cassar?
Eu quero prosseguir sendo assim, e daí?
Qual é a bronca?
— Para mim, você é humanamente divino
— É claro que sou - como você e todo o mundo.
Sendo filhos de Deus, há algo de divino em nossa humanidade!
Sei que nasci para ser anjo, mas, por enquanto, eu não dou conta e... estou muito bem assim, obrigado!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:19 am

CAPÍTULO 06
Uma batida na porta de meu escritório com discrição e, num átimo, eu e Modesta estávamos recebendo a agradável visita do Director do "Liceu da Mediunidade".
— Odilon! - exclamei. — Vamos entrar.
Só podia mesmo ser você, com toda a sua elegância.
Saiba que ninguém bate à porta qual você o faz!
O Manoel, por exemplo, quase derruba tudo aqui!
Ele não bate: esmurra...
— Ora, Doutor - justificou-se, sempre polido -, não exagere.
— O Inácio está certo, Odilon - confirmou Modesta.
Quando ouvi tão suaves pancadas, tive certeza de que era você.
— Foi a sua mediunidade - redarguiu o amigo, mostrando que também sabia gracejar.
Todos sorrimos e ele comentou:
— A Domingas me falou sobre os estudos a respeito de "Nosso Lar".
Participarei com o maior gosto.
Creio mesmo que semelhante inspiração está nos chegando do Alto!
— Do Alto de onde, Odilon? - provoquei.
— Não será aqui, onde estamos situados, o tecto do Universo?
Haverá mais espaço além?...
— Eu sei o que o senhor está querendo dizer - respondeu o Instrutor, repetindo:
O tecto do Universo!
Se fosse, para que um tecto, não é?
— Do que ele nos abrigaria, não é mesmo? - observou Modesta.
— Nada terei a acrescentar sobre o que o senhor disser a respeito dos temas que entrarão em estudo, mas farei questão de participar.
Neste sentido, tomei a liberdade de convidar alguns estagiários do "Liceu".
— Como?! - reagi surpreso, olhando para Modesta.
Eu havia pedido a Domingas que o número não excedesse a uma dúzia de interessados...
Ela, porém, dando mostras de que sabia da "trama", procurou disfarçar discreto sorriso.
— Que diferença faz, Doutor, se forem 12 ou 120? - perguntou Odilon, dando início ao processo de me convencer.
— 120?! Dez vezes mais?!...
— Aos sábados, na "União da Mocidade", o senhor reunia número maior.
— E verdade, Inácio - reforçou-lhe Modesta o argumento:
eram mais de 200 pessoas, beirando as 300, talvez!
— Eu não sou orador, não sou palestrante...
— Será um diálogo!
— Piorou: eu não sou actor...
— Uma conversa informal, como você havia pedido - insistiu a abnegada companheira de inesquecíveis lides.
— Conversa informal com tanta gente escutando?!
— Jovens, Inácio, aprendizes como nós mesmos somos.
— Agora já sei o motivo de vocês dois terem vindo aqui! - falei com cara aborrecida.
Ambos sorriram, trocando olhares de cumplicidade.
— Vocês me armaram uma boa - continuei com a minha rabugice estudada, erguendo-me da cadeira e andando de um lado para outro.
— Perdoe-nos! - solicitou-me Modesta.
— Desde que vocês não tornem noutra - disse, disparando a sorrir por minha vez.
— Danadinho! Você estava fazendo cena?
— Afinal - respondi ante a peça que lhes pregara -, eu tenho que ensaiar, não é?
Mas que a Domingas me deve explicações, isto deve.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:19 am

— Coitada! Ela está se vendo em apuros - defendeu Odilon a pupila.
Muita gente está querendo participar dos estudos sobre o livro "Nosso Lar", que, diga-se de passagem, é mais desconhecido de Cá do que de Lá.
— E a obra é sui generis, pois que tanto fornece notícias do Plano Espiritual para a Terra, quanto da Terra para o Plano Espiritual!
— Muito bem colocado, Modesta - acentuei com a gravidade que o assunto exigia agora.
De facto, "Nosso Lar" é um dos raros livros escritos para os Dois Mundos!
Quase todos em nosso Plano de acção ignoram a realidade do intercâmbio entre desencarnados e encarnados: como que isto é possível e como se processa...
Mediunidade aqui é assunto tão desconhecido quanto na Terra!
— Esta conscientização - falou Odilon com clareza -, na qual precisamos intensificar esforços, é de suma importância para que o espírito, no corpo e fora dele, tome em suas mãos as rédeas do próprio destino.
Para mim, este é o cerne da questão evolutiva, pois, enquanto o homem não souber verdadeiramente quem é, viverá à mercê das circunstâncias.
— Muitos pensam que a desencarnação é fenómeno que, por si só, equaciona os enigmas da existência...
— Ledo engano, Modesta! - aparteei.
— Vejamos: quando vivíamos na Terra, quantas vezes escutamos ironias pela nossa crença na sobrevivência?
As pessoas chegavam, inclusive, a duvidar de nosso bom senso e sanidade mental.
Era de se pensar que a chamada morte solucionasse todos os equívocos e nos desse razão, perante os que nos escarneciam da fé.
Hoje, porém, continuamos a lidar com quem, neste Outro Lado, não admite a realidade da Reencarnação - sequer admite que já tenha vivido na Terra!
Não é de pasmar?...
— Impressiona, sim - respondeu Modesta.
— Vários amigos, sabedores de minha condição de espírita e médium, muitas vezes costumavam me interpelar, dizendo:
— "D. Maria Modesto, uma mulher inteligente qual a senhora, acreditar nessas coisas que o Espiritismo prega?!".
— Quando "Nosso Lar" veio a lume, no começo da década de 40 - o prefácio é de 1943 -, quantos chistes de espíritas em torno da obra!
Você se recorda? - perguntei a Odilon.
— O livro foi questionado durante anos seguidos.
Chico foi rotulado de mistificador; diziam que o co-autor do "Parnaso de Além-Túmulo" andava fascinado.
— Certa vez, recebi uma longa carta de um amigo residente na Espanha que, entre outras coisas, questionava:
— "Como?! Uma cidade no Mundo Espiritual?!
Isto só existe no Brasil..."
E, com base na rivalidade entre Espanha e Portugal, ironizava:
— "Ainda fundada por portugueses?!
O Espiritismo está se destruindo...
Isso não passa de certeira estocada das Trevas contra a Doutrina".
— E, conforme pudemos constatar de experiência própria - elucidou o Instrutor -, o livro não retracta a realidade toda.
— Não - redargui -, está longe disto.
Escrevendo através do próprio Chico, enquanto "Nosso Lar" estava sendo psicografado, o espírito Neio Lúcio considerou:
"O nosso livro é, de facto, um trabalho muito profundo, aparentemente dourado com expressões quase fabulosas!
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Estudando "Nosso Lar" - Inácio Ferreira /Carlos A. Baccelli Empty Re: Estudando "Nosso Lar" - Inácio Ferreira /Carlos A. Baccelli

Mensagem  Ave sem Ninho Ter maio 22, 2018 10:19 am

É natural Os elementos superiores não possuíam outro meio de trazer ao conhecimento dos leitores uma grande organização espiritual, senão deste modo.
E creiam que as narrativas são pálidas em confronto com o real!".
Sem perceber, já estávamos, Odilon, Modesta e eu, num preâmbulo do estudo a ser efectuado proximamente.
— Permitam-me outro comentário - solicitei, entusiasmado com a obra objecto de nossas atenções.
Na mesma página mediúnica, Neio Lúcio escreveu ao fim de determinado parágrafo:
"Fazemos votos para que o autor chegue ao termo da etapa com o êxito necessário".
Como vocês interpretam estas palavras?
— Ah! - opinou Modesta -, o médium estava sujeito a fracasso no empreendimento...
— Se não a fracasso - disse Odilon-, pelo menos a não lograr uma boa filtragem ou sintonia...
— Como poderia ocorrer a interferência das Trevas, não? - aventei.
— Sem dúvida, Doutor - concordou Odilon de imediato.
Mas, outro factor deve ser levado ainda em consideração.
— Qual?
— O autor espiritual, no caso André Luiz, também poderia falhar no tentame.
— Confesso que não havia pensado nesta hipótese - observei.
— Hipótese que não pode ser descartada, o senhor sabe.
Tanto quanto os médiuns, nós, os autores espirituais, estamos sujeitos a deficiências pessoais.
Afinal, como costuma dizer, não passamos de homens fora do corpo.
— André Luiz nada diz, mas, ante a precisa colocação de Odilon, sou levada a supor que o autor de "Nosso Lar" tenha enfrentado oposições no Mundo Espiritual...
— Quando lá embaixo, Modesta, ninguém pensa nisto:
os nossos companheiros acham que tudo nos é facilitado e que não enfrentamos obstáculo algum no contacto mais estreito com eles.
— Que o espírito pode tudo...
— Isto não é assim!
Só Deus sabe de nosso esforço para descermos, nos conservarmos lá por um bom período de tempo, para nos adequarmos às possibilidades do médium...
— A sua boa vontade e interesse - emendou Odilon.
— A sua crença em nós! - resumiu Modesta.
— Com base no que estamos dizendo, outra coisa que carece de ser desmistificada é a mediunidade, concordam?
— Plenamente - responderam os dois quase ao mesmo tempo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 23, 2018 9:49 am

CAPÍTULO 07
O diálogo entre nós prosseguia interessante.
— O pessoal - comentei - acha que tudo é simples para nós, os desencarnados, não levando em conta as dificuldades com as quais nos defrontamos em nós mesmos para o êxito do intercâmbio mediúnico.
— Inácio - ponderou Modesta -, quando estávamos no corpo, também nos iludíamos a este respeito.
Como médium, demorei a compreender que precisava me colocar em melhores condições de sintonia, o que significava estudar sempre, manter elevado padrão vibratório e comungar ideias e ideais com os nossos Benfeitores...
Para a maioria, o espírito comunicante haveria de suprir as limitações do médium.
— Eis todo o problema, não é Odilon?
— Sem dúvida, Doutor.
Precisamos considerar que, no princípio, a participação intelectual do espírito era razoavelmente maior que a do médium: quase não se dispunha de literatura a respeito que pudesse conscientizar os medianeiros quanto à sua parcela de responsabilidade na tarefa do contacto entre as Duas Dimensões...
Antes da publicação de "0 Livro dos Médiuns", pouco se sabia sobre mediunidade!
— Era algo um tanto misterioso e enigmático, acessível a reduzido número - digamos - de iniciados...
— Mesmo com "O Livro dos Médiuns" - observou Modesta -, toda a abrangência do fenómeno, em seus detalhes e implicações na prática, para mim ainda não estava muito claro.
— Por quê? - perguntei.
— Porque à época da Codificação, conforme sabemos, os médiuns actuavam de maneira mais passiva, mecânica.
— Isso é verdade.
— Posteriormente, como vem gradativamente ocorrendo, os médiuns foram chamados a maior participação - como o Odilon costuma dizer, à parceria mediúnica!
— Permitam-me - solicitei - ser mais claro.
Se eu estiver errado, por favor, Odilon, me corrija.
Para mim, o que aconteceu foi o seguinte: os espíritos, inicialmente, despenderam grande esforço psíquico - realmente, quase que trabalharam sozinhos na tarefa ingente da Codificação.
Os médiuns em geral foram utilizados como eram utilizadas as mesas girantes:
a sua participação intelectual era mínima!
— Todavia isto teve uma razão de ser - elucidou o Instrutor.
É que os Espíritos, envolvidos mais directamente no processo da Codificação, temiam por qualquer interferência do médium - interferência negativa, é claro, deturpando a Revelação.
— Odilon, seja mais claro - pediu Modesta.
— A Ia edição de "O Livro dos Espíritos", que veio a lume em 18 de abril de 1857, era constituída por apenas 501 questões.
E muita gente ignora que não foi psicografada!
;— Não?!
— Foi concebida pela escrita directa!
As irmãs Boudin, Julie e Caroline, as principais médiuns que cooperaram na recepção da Obra, actuaram como médiuns de efeitos físicos e não de psicografia propriamente dita.
— Qual o motivo?
— Os Espíritos Superiores, sob a égide do Espírito da Verdade, pretendiam grafar os princípios básicos da Doutrina sem nenhuma interferência humana.
— O que prova que todo médium interfere animicamente no processo - sentenciei.
— Correto. A participação do médium no processo de recepção é inegável.
Quanto mais de ordem intelectual for o fenómeno, maior a participação do instrumento mediúnico.
— Copiando você - disse -, o animismo é parte integrante do fenómeno mediúnico.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 23, 2018 9:50 am

— O animismo é natural!
A mistificação é que nos deve preocupar, visto que tanto o espírito quanto o médium podem mistificar.
— Muitos espíritas, infelizmente, não sabem a diferença entre animismo e mistificação.
— Concordo. Por este motivo, na tarefa de esclarecer, precisamos falar e escrever com simplicidade. Sejamos objectivos.
— Você se recorda, Inácio, em nossa época? - interferiu Modesta.
O animismo era considerado o grande inimigo da mediunidade!
— Sendo o seu grande coadjuvante!
— No livro "No Mundo Maior", de André Luiz, no capítulo 9 - um verdadeiro Tratado sobre Mediunidade -, falando sobre animismo, Calderaro considera:
"A tese animista é respeitável Partiu de investigadores conscienciosos e sinceros e nasceu para coibir os prováveis abusos da imaginação; entretanto, vem sendo usada cruelmente pela maioria de nossos colaboradores encarnados, que fazem dela um órgão inquisitorial, quando deveria aproveitá-la como elemento educativo, na acção fraterna", (destaquei)
— Que abordagem maravilhosa!
— Calderaro ainda compara o chamado animismo a uma figura da mitologia grega:
"Milhares de companheiros fogem ao trabalho, amedrontados, recuam ante os percalços da iniciação mediúnica, porque o animismo se converteu em Cérbero".
— "Cérbero"? - indagou Modesta.
— Cérbero era um cão de três cabeças, com serpentes envolvidas no pescoço...
Com negros dentes afiados que penetravam até a medula dos ossos, onde injectavam um veneno letal, guardava a entrada dos Infernos e do palácio de Plutão.
— Era manso - chegava a abanar a cauda! - com os que entravam, mas extremamente feroz com quem pretendia escapar - gracejei.
— Mas - observou Odilon - voltemos à participação dos médiuns na Codificação.
As irmãs Baudin, duas adolescentes, apenas pousavam as mãos sobre as bordas de uma cestinha de vime:
foi assim que os Espíritos grafaram os fundamentos da Doutrina - sem participação directa de mão humana!
— As irmãs Baudin - lembrei - e a Srta. Japhet, Ruth Celine Japhet, de apenas 15 anos de idade, que também prestou valiosa colaboração à tarefa encetada por Kardec.
— Sim, foram as três os principais médiuns com que Kardec pôde contar, principalmente na elaboração de "O Livro dos Espíritos".
Concatenando ideias, Odilon continuou:
— Ainda digno de nota foi o facto de Kardec perguntar ao espírito Hahnemann, um dos integrantes da falange do Espírito da Verdade, sobre a conveniência de poder contar com a participação de outro médium que ele designa apenas por uma inicial: a letra B!
Através de Hahnemann, os Espíritos Superiores não concordaram.
Mais tarde, Kardec escreveu de próprio punho:
"B... era um jovem, médium escrevente, muito fácil, mas assistido por um espírito orgulhoso, déspota e arrogante que tomava o nome de Aristo; bajulava nele uma tendência natural ao amor-próprio.
As previsões de Hahnemann se realizaram.
Esse jovem, tendo acreditado encontrar em sua faculdade ima fonte de fortuna, seja pelas consultas médicas, seja pelas invenções e descobertas rendosas, disso não recolheu senão decepções e mistificações.
Algum tempo depois, dele não se ouvia mais falar".
— Que pena! - lamentou Modesta.
— Quantos médiuns assim não se perderam!...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 23, 2018 9:55 am

— E se perdem todos os dias - completei.
A vaidade, a tentação da fama e a ilusão do poder têm arrasado centenas e centenas de médiuns!
— Quando - prosseguiu o Instrutor - os fundamentos da Doutrina foram transmitidos, já para a 2a edição de "O Livro dos Espíritos", que, em sua versão definitiva, viria a sair no mês março de 1860, os Espíritos consentiram na participação dos médiuns propriamente psicógrafos!
— Trata-se de fato histórico de suma importância, para a nossa melhor compreensão dos mecanismos da mediunidade.
Ao que acabara de dizer, Modesta acrescentou:
— E não deixa de ser um conforto para nós, os médiuns, que, não raro, vivemos nos atormentando com o problema do animismo!
— Todo médium - enfatizou Odilon - influencia na recepção do pensamento dos espíritos que por ele se expressam.
Já não nos preocupa mais semelhante questão.
Preocupa-nos, sim, que essa influência seja positiva; em outras palavras, que o médium, compenetrando-se de sua responsabilidade, coopere na melhor tradução da ideia que o espírito comunicante
deseja transmitir.
— Para tanto - foi a minha vez de perguntar -, o que é mais necessário ao médium?
— Transparência, sinceridade de propósitos, amor à Causa, comprometimento com o Ideal, desejo de servir ao próximo, desinteresse pessoal...
— A lista é extensa - comentei -, porém você não mencionou o preparo intelectual do médium como um dos factores?...
— Está em segundo plano - respondeu Odilon sem pestanejar.
O preparo intelectual do médium, sem o ingrediente da humildade, é uma das principais pedras de tropeço, no que tange à fidelidade ao que o espírito tenciona quando se liga a este ou àquele médium para a realização de um trabalho.
— Diante do exposto, como considerarmos o caso de Chico Xavier?
— E a pergunta que eu estava engatilhando para fazer, Modesta - disse a vibrar de entusiasmo.
— Teria sido ele um médium como os demais?
— O que você sabe a respeito, Odilon?
Chico se enquadraria na condição de médium comum?
Ao que ele dizia, nem sempre operava de maneira inconsciente, logo...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 23, 2018 9:55 am

CAPÍTULO 08
- Não - respondeu o Instrutor -, com todo o respeito aos demais medianeiros, que prestaram ou prestam relevante serviço à Causa, não se pode considerar Chico Xavier na condição de médium comum.
— Você concorda - perguntei em seguida - com a tese de que o seu espírito, antes de reencarnar, esteve com Jesus nas Esferas Resplandecentes?
— Sem dúvida! Além do quê, não se trata apenas de uma tese.
Diversos espíritos com os quais temos mantido contacto afirmam que, quando Allan Kardec deixou o corpo...
— Em 31 de março de 1869.
— Antes que voltasse para completar a Obra que lhe foi directamente confiada, esteve durante 40 anos se preparando para o sublime cometimento.
— De 31 de março de 1869 a 2 de abril de 1910!
— Chico, que, em sã consciência, jamais aceitou ser a reencarnação de Allan Kardec, costumava dizer isto, não é, Inácio? - inquiriu Modesta.
— Sim, ele dizia que, antes de reencarnar, se preparou durante 40 anos no Mundo Espiritual.
Quanto a não aceitar ser a reencarnação do Codificador, é evidente que, em sua humildade, jamais diria que era!
— Aliás - observou Modesta -, temos aí mais uma evidência favorável e não contra.
Se ele, por exemplo, vivesse apregoando que era a reencarnação de Kardec...
— Chico, como aconteceu, desencarnou negando.
Ao contrário de outros que, em aparição meteórica no Movimento, diziam ser ou insinuavam que eram Kardec reencarnado!
— Mas - perguntou Modesta a Odilon -, na acepção da palavra, Kardec não era médium?
— Na acepção de palavra, Kardec era, sim, médium - o maior médium da Codificação!
E elucidou:
— Há um acontecimento, narrado pelo próprio Kardec, sobre o qual poucos meditam.
"Eu morava - diz ele -, nessa época, na Rua dos Mártires, n° 8, 2o andar, nos fundos da casa.
Certa noite, trabalhando em meu gabinete, comecei a ouvir repetidas batidas no tabique que me separava do cómodo vizinho.
A princípio, não lhes dei atenção.
Como, porém, as batidas persistissem com mais força, mudando de lugar, fui examinar minuciosamente os dois lados do tabique, escutei para ver se provinham do outro andar e não descobri nada.
O que havia de particular era que, cada vez que eu ia examinar, o barulho cessava, recomeçando logo que eu me punha a trabalhar novamente".
— Ah!, sabe que este fato sempre me intrigou! - exclamei.
Kardec era médium de efeitos físicos!...
— E de efeitos intelectuais! - completou o Mentor.
Não exercia os seus dons ostensivamente - apenas isto.
— Continue a narrativa, Odilon - solicitou Modesta.
— Na sessão realizada no dia 25 de março de 1856, em casa do Sr. Baudin, a um ano do lançamento de "O Livro dos Espíritos", através de uma das irmãs Baudin, provavelmente Caroline, a mais velha, Kardec entabula interessante diálogo com o Espírito da Verdade, seu guia espiritual.
R - Naturalmente ouvistes o facto que acabei de contar.
Poderíeis dizer-me a causa daquelas batidas que se fizeram ouvir com tanta persistência?
R. - Era o teu espírito familiar.
R - Com que fim batia ele daquele jeito?
R. - Queria comunicar-se contigo.
R - Poderíeis dizer-me quem é ele e o que desejava de mim?
R. - Podes perguntar-lhe tu mesmo, porque ele está aqui.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua maio 23, 2018 9:55 am

(...) R - Ontem, quando dáveis aquelas batidas enquanto eu trabalhava, tínheis alguma coisa de particular a dizer-me?
R. - O que eu tinha a dizer-te refere-se ao trabalho que fazias.
Desagradava-me o que escrevias e eu queria que parasses.
(...) R - Vossa desaprovação era quanto ao capítulo que eu estava escrevendo ou quanto à obra toda?
R. - Quanto ao capítulo de ontem.
Quero que tu mesmo julgues.
Relê esta noite o que escreveste.
Verás teus erros e os corrigirás.
R - Eu mesmo não estava muito satisfeito com aquele capítulo e já o refiz hoje.
Ficou melhor?
R. - Está melhor, mas ainda não está bom.
Lê da terceira à trigésima linha e encontrarás um erro grave".
— Kardec era assistido continuamente!
- sentenciou Modesta com reverência.
Cada linha de sua lavra era supervisionada pelos Espíritos.
Vejamos o cuidado do Mundo Espiritual Superior!
— Detectando uma impropriedade doutrinária, da terceira à trigésima linha do texto, impropriedade que, diga-se de passagem, Kardec já intuíra.
— As faculdades mediúnicas no Codificador - explicou Odilon - convergiam para a intuição.
— Novamente você me faz recordar o que Calderaro diz a André Luiz, no capítulo 9 do livro "No Mundo Maior": "... consideramos que a mediunidade mais estável e mais bela começa, entre os homens, no império da intuição pura"— A tarefa intelectual de Kardec exigia que, do ponto de vista mediúnico, ele se resguardasse tanto quanto possível; todavia, era ele o grande centralizador de toda a movimentação dos Espíritos, que culminou com a Codificação!
— Odilon - indagou Modesta -, você crê que Allan Kardec, ao reencarnar, levou consigo muitas reminiscências do Mundo Espiritual?
Ou seja, que muita coisa do que ele próprio escreveu e ideias que aceitou com facilidade, estivessem em germe em seu espírito?
— Perfeitamente.
— E Chico Xavier também? - sabatinei na sequência.
— É claro - respondeu Odilon, sem titubei-os. — Chico, por assim dizer, reencarnou com a verdade na cabeça e o amor no coração!
— Muito bem colocado - endossei.
— Tanto com Kardec quanto com Chico, os Espíritos tiveram apenas que accionar determinados processos mnemónicos.
Kardec, por exemplo, desde os seus tempos de sacerdote druida, na Gália, admitia a Reencarnação e a Mediunidade, sendo ele mesmo médium!
— Chico, aos 17 de idade...
— Desde os 4 anos, ele conversava com os espíritos, Doutor - corrigiu-me Modesta.
— Sim, mas o que quero dizer é que, aos 17 anos, ainda católico, se converteu ao Espiritismo com a maior espontaneidade, após ter participado da Ia reunião espírita, levada a efeito em sua própria casa, em maio de 1927.
— Interessante: foi também no mês de maio, de 1855, que Kardec participou de sua primeira sessão, na residência da Sra. Plainemaison!
— Kardec estabelece contacto com o Mundo Espiritual através dos espíritos batedores; Chico conhece a Doutrina através dos obsessores que assediavam uma de suas irmãs...
— Desculpem-me, permitam-me concluir o raciocínio que, neste nosso diálogo, considero de suma importância - pediu Odilon, que raramente nos interceptava a palavra.
Francisco Cândido Xavier - aliás, eu não sei se sabem, mas a palavra Francisco significa "pequeno francês"...
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