LUZ ESPÍRITA
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Críticas aos “Cépticos”

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 21, 2013 9:04 pm

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Para mais detalhes sobre Krieg e suas acções veja estes links – http://www.voicenet.com/~eric/dennis.html – http://www.voicenet.com/~eric/dennis4.html – http://www.csicop.org/si/9707/krieg.html – O último site é um artigo sobre o assunto que apareceu na edição de julho/agosto da Skeptical Inquirer.)

Uma causa apropriada, eu sinto, deve:
Ser sua importância auto-evidente e não precisar de justificação aos olhos da opinião pública.
• Ser algo que os cépticos disponíveis tenham habilidade/conhecimento para falar com conhecimento de causa.
• Ser algo em que os cépticos disponíveis possam fazer a diferença


Se a causa seleccionada preencher estes parâmetros então o objectivo final do activismo céptico pode ser alcançado.

Este objectivo final deve ser Fazendo Diferença Enquanto Envia uma Mensagem!
Às vezes os cépticos escolhem causas onde eles não encontram estes objectivos.

Nestes casos, acabam parecendo tolos e seus esforços podem ser realmente contraproducentes.

Para dar um exemplo negativo, recentemente CSICOP, um proeminente grupo céptico, decidiu produzir um press-release indicando que o filem de ficção científica e aventura Arquivo-X minava a crença das pessoas na ciência e era perigosa para a sociedade.

Aplicando os objectivos e parâmetros acima a esta questão:
A afirmação não parece se justificar aos olhos da opinião pública.

Poucas pessoas leigas fora do cepticismo vêem o filme Arquivo-X como perigoso para a ciência e a educação.

Muitos leigos acham a ideia humorística ou tola e, a seus olhos, a credibilidade do CSICOP declina imediatamente.

Não só o CSICOP parecia não ter conhecimento sobre o assunto, como o press-release tinha sido claramente escrito antes do lançamento do filme.

É improvável que qualquer dos autores do texto tenham visto o filme em questão.

Finalmente, este press-release não fez muito de qualquer maneira, porque a despeito das críticas medíocres, o filme fez bastante dinheiro para que produtor anuncie breve planos para uma sequência.

De facto, não tenho certeza do que o CSICOP esperava que conseguir com este press-release.

Mesmo entre Web sites céptica e listas de discussão poucas pessoas expressaram concordância ou apoio ao texto, e muitas criticaram.

Muitos cépticos, de facto, são fãs de Arquivo-X (eu inclusive – nota do tradutor).

Eu concluo, pelas razões apresentadas acima, que o press-release do CSICOP condenando Arquivo-X é exactamente o tipo de acção que cépticos devem evitar.

Um cínico poderia perguntar não somente por que CSICOP produziu este press-release, mas por que não estão trabalhando com problemas reais?

Uma simples revista das acções e eventos actuais revelam um largo espectro de eventos e problemas onde as habilidades especiais, conhecimento e perspectivas cépticas poderiam ser de grande ajuda.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 22, 2013 9:46 pm

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Alguns melhores alvos para activismo céptico podem ser:
Fraudes de negócios.

Isto pode incluir exemplos como Ponzi

(Ponzi foi um comerciante italiano que inventou e aplicou no mercado americano entre 1919 e 1920, um esquema em que as pessoas investiam dinheiro para receber juros enormes.

Usando o dinheiro de novos investidores para pagar antigos, ele nunca investiu um centavo e arrematou milhões.

Foi preso no final, quando ficou claro que ele não poderia pagar a todos que investiram
– nota do tradutor) ou Pirâmides onde simples cálculos matemáticos mostram que o esquema está destinado a falhar.

A cura do câncer Quaker

Nós vivemos em uma época em que as assim chamadas “medicinas alternativas” estão se tornando largamente aceitas.

A distinção entre terapias alternativas e quaker é frequentemente perdida e muitos membros da população ficam vulneráveis.

Disputas em acusações de protecção/falsidade sobre crianças

Embora muito emocionalmente desgastante, a quantidade de pseudo-ciências e irracionalidade neste campo, é difícil imaginar isso, até que estes comecem a explorar o estado do actual sistema de protecção e a jogar com a mente das pessoas que trabalham nele.

Outra coisa vem à mente. Repetindo os factores chave, em minha opinião, antes que um grupo céptico publicamente devote grande atenção e esforço a uma causa:
Ser sua importância auto-evidente e não precisar de justificação aos olhos da opinião pública.

• Ser algo que os cépticos disponíveis tenham habilidade/conhecimento para falar com conhecimento de causa.

• Ser algo em que os cépticos disponíveis possam fazer a diferença

Provavelmente não há nada mais contraproducente para a boa imagem publica dos cépticos do que ver alguns auto intitulados cépticos atirando sem precisão contra algum alvo sobre o qual ele conhece pouco e sobre o qual poucas pessoas ligam de qualquer modo.

Eu poderia sugerir aos meus companheiros cépticos um novo termo para essas pessoas? “Demónios do banheiro”.

5. E sobre alegações paranormais?
Ou
“Quem você vai chamar?”

Cépticos têm tradicionalmente gasto muito tempo e energia enfocando alegações paranormais.

De facto, um interesse em alegações paranormais foi uma das coisas que primeiro me interessou no cepticismo.

Por muitas razões, acredito que cépticos, devem, de uma forma limitada e cuidadosa, continuar com a tradição de estudo de alegações paranormais e afins.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 22, 2013 9:47 pm

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Uma vez que umas poucas alegações paranormais são imediatamente perigosas, e meu tema neste artigo é que o cepticismo é um método de autodefesa intelectual, sinto que o uso principal das investigações de alegações paranormais por cépticos é promover a consciência e o conhecimento das técnicas do cepticismo.

Uma boa alegação paranormal é maravilhosamente bem servida para isso.

Deixe-me explicar as razões que eu penso devemos continuar a olhar em muitas das alegações paranormais.

Uma boa alegação é uma real catalisadora de atenção.
O público está muito interessado em alegações paranormais.
Este interesse pode, e deve, ser utilizado para ensinar habilidades de pensamento crítico.

Uma boa alegação é boa ferramenta de ensino.
Quando usada como ferramenta de ensino, uma boa alegação paranormal pode se uma valiosa ajuda em apresentar ideias cépticas e habilidades de pensamento crítico para muitas pessoas que de outra forma não mostrariam interesse nisso.

Uma boa alegação é um dramático exemplo de cepticismo em acção.
Esta é a razão porque especialistas em determinado campo geralmente não aceitam a realidade de fenómenos paranormais.

Quando olhado com cuidado eles usualmente tem uma explicação racional esperando para ser encontrada.
Entretanto temos que manter alegações paranormais em perspectiva.

Não é uma meta realística assumir que a análise frequente de alegações paranormais de modo céptico tornará 100% das pessoas racionais.

De facto, é improvável que um único campo de alegações paranormais tenha encontrado a extinção a partir da caça pelos cépticos de seus casos individuais.

Nós podemos, pelo menos, fazer a triagem.

Por exemplo, embora tivéssemos diferenças no passado, o céptico Joe Nickell escreveu um livro (e alguns textos curtos) apresentando argumentos muito convincentes que o assim chamado manto de Turim é um boato (hoax).

Depois de expor estes argumentos é difícil compreender que qualquer um que os ouça continue a acreditar que o manto é a real mortalha fúnebre de Cristo transformada através de um milagre.

Contudo fica claro para qualquer um que tenha olhado com cuidado uma livraria como a Barnes and Noble depois disso, estes argumentos, convincentes como são, não tiveram o menor peso na publicação de livros afirmando que o manto é, de facto, real.

É evidente que um argumento convincente, neste caso, teve apenas um pequeno impacto, na melhor das hipóteses, sobre a propagação da alegação.

Parafraseando Abraham Lincoln, “você pode convencer todas as pessoas algum tempo.
E pode convencer algumas pessoas todo o tempo.
Mas você não pode convencer todas as pessoas todo o tempo”.


E cépticos precisam aprender isso e aceitá-lo.

Se não podemos destruir todas as alegações paranormais em todo lugar, então isto não deve ser estabelecido como objectivo final real ou pressuposto.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 22, 2013 9:47 pm

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Algum tempo atrás, o Inquiring Skeptics of Upper New York, o grupo céptico local, foi visitado por uma folclorista que estudava grupos cépticos de forma académica.

“Porque vocês não são tão dogmáticos quanto o pessoal de Buffalo?” ela perguntou?

Nós pensamos algum tempo e então várias pessoas presentes disseram um nome.
Dentro de nosso grupo há um indivíduo que acredita em muitos fenómenos paranormais, incluindo que UFOs são naves espaciais.

Ele assiste reuniões do ISUNY regularmente e tem feito isso desde o início de nossa organização.

Nós nunca tivemos certeza de como lidar com ele.
(um companheiro do CSICOP chegou a recomendar que o expulsássemos, mas nós sabíamos que não era o que desejávamos fazer).

Bem, tem sido assim há muitos anos, e a despeito do brilhantismo de nossos argumentos e o incrível tamanho de nossa biblioteca, ele ainda permanece não convencido.

Por outro lado, eu penso que nós, os participantes do ISUNY, lentamente compreendemos que se não podemos nem convencer este único individuo de nossos ensinamentos, nós não vamos convencer o mundo.

Temos de encontrar um novo propósito.

6. Más alegações paranormais
Ou
“Ãn..... O faremos agora?

Na secção anterior eu fiz frequente referencia a “boas alegações paranormais”.
Foi intencional.
Existem boas e más alegações paranormais.

Como grupos cépticos devemos evitar as más alegações paranormais a todo custo.
Não se aproxime delas. Você terá apenas prejuízo.
Deixe-me apresentar alguns poucos exemplos de “má alegação paranormal”.

O abduzido por OVNIS local.

Em nossa região vive um proeminente abduzido por OVNIS.
Ele recebe muita atenção, incluindo artigos na (já extinta) OMNI magazine, um perfil na (agora cancelada) Sightings, e uma menção nominal (crítica claro) no livro de Carl Sagan “O Mundo Assombrado pelos Demónios”.

Ele é, como alega, o único possuidor de um legítimo dispositivo de monitorização alienígena e este artefacto está sendo estudado por um físico do MIT.

Contudo nós recusamos em duas ocasiões que ele falasse para nosso grupo céptico local. Porquê?

Alguns poderiam argumentar que um procedimento mais apropriado seria permitir que ele falasse, e então gentilmente argumentar, procurando por furos em suas alegações de modo que todos pudessem perceber.

Mas, de novo, não é isso que consideramos apropriado fazer.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 23, 2013 9:41 pm

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O homem em questão, que alega ter sido abduzido por OVNIS, tem um histórico de problemas mentais incluindo internamento contra sua vontade.

Seu passado inclui registo de ter vivido na rua, problemas maritais e de ficar sobre influência de álcool em momentos impróprios.

O alegado implante parece ter sido colocado em seu pénis, um local embaraçoso para discutir, anos atrás.
Estudos concluíram que é provavelmente uma fibra de algodão que penetrou na uretra de algum modo e desenvolveu uma cápsula de colágeno.

Conversas anteriores com o homem em outros grupos cépticos tem incluído alguns relatos bizarros como a afirmação que poderia apresentar provas irrefutáveis de vida extraterrestre apenas se uma de suas ex-esposas permitisse que ele fosse em casa recuperar alguns de seus pertences abandonados lá.

Ele é bastante orgulhoso do facto de uma companhia de seguro contra abduções de OVNIS ter declarado seu caso “genuíno” e prometido pagar a ele um milhão de dólares, exactamente como o combinado, mesmo que o pagamento se dê na taxa de um dólar ao ano.

Ele, aparentemente, tira grande conforto de sua identificação como abduzido por OVNIS e apesar de alegar que sua vida foi destruída por esse incidente e é responsável por todos os problemas listados acima, ele fala sobre a experiência sempre que possível.

Contudo nós recusamos sua oferta de conversar por duas vezes.

Resumindo, os participantes do ISUNY sentiram que a causa da preservação da lógica e da razão não iria avançar notavelmente pelo ataque a este indivíduo ou a seu sistema de crenças.

E do ponto de vista de relações públicas seria provavelmente um desastre.
Se criticássemos suas crenças pareceríamos valentões. Se não, pareceríamos tolos.

E, afinal, sempre haveria a sensação que escolhemos para criticar pessoas com aparentes problemas de dogmatismo para representar os crentes em OVNIS.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 23, 2013 9:42 pm

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A Mulher Solitária

Algum tempo atrás, eu estava em contacto por carta com uma mulher em outro estado.

Ela desejava informação, de um razoavelmente conhecido céptico, sobre coincidências e “paralelismo psíquico”.

Ela afirmava estar tentando explicar um poder paranormal que ela possuía.

Naturalmente eu fiquei intrigado e perguntei por mais detalhes.

Tornando a história curta, devido a problemas de saúde, esta mulher de 50 e poucos anos não tinha tido relacionamentos românticos por virtualmente 20 anos.

Ela, aparentemente, vivia sozinha.
Ela desenvolveu a crença que ela e outro individuo foram “almas gémeas” e tinham se conhecido em uma vida passada.

Em toda parte ela se lembrava desse homem e via nessas lembranças como incidentes significantes.
Ela descrevia isso como “um paralelismo psíquico e muito mais que meras coincidências”.

Ela tinha sonhos com ele e acreditava que esses sonhos poderiam reflectir incidentes que ocorreram com eles no passado.

Havia outros incidentes também.
A explicação óbvia, claramente, é a obsessão causada pela solidão devido a trágicas circunstâncias.

Quando eu, com o maior tacto possível, sugeri que eram coincidências e que talvez ela devesse parar de pensar nele como uma “alma gémea”, ela respondeu que existiam coisas demais de que ela se lembrava dele e que não poderia ser coincidência e ele deveria ser uma “alma gema”.

Ela conclui que a ciência e a razão não podiam oferecer uma explicação e que ela deveria procurar por si mesma.
(Para registo, ela não havia feito qualquer esforço para encontrar a pessoas, recusando-se a identificá-lo, mas afirmando que ele estava perto geograficamente dela. Eu suspeito que ele poderia ser algum tipo de celebridade).

Claramente, não havia nada a ser ganho ao perseguir esta comovente afirmação ou atacar as crenças desta mulher em uma troca de cartas.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Out 23, 2013 9:42 pm

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O Paciente de Doença Mental

Há algum tempo eu tenho recebido correspondência de um paciente mental que acredita poder dar forma ao tempo e espaço com o “extraordinário poder de sua mente”.

Ele deseja que seus poderes sejam testados.
Ele não pode, entretanto, especificar o que exactamente ele pode fazer e recusa-se a responder sobre de que maneira específica estes poderes podem ser testados cientificamente.

Eu fui informado que este é um problema comum em pacientes de doença mental que tiram grande conforto em ilusões envolvendo grandes, mas escondidos, poderes.

Melhor que terem esse conforto ameaçado, eles mantém as ilusões mantendo os “poderes” vagos e além da compreensão de meros mortais como eu.

Por que eu lhe dei atenção em primeiro lugar?
Eu cometi o erro de sugerir que ele poderia ter uma melhor chance testando seus “poderes” se enviasse com suas cartas um laudo de saúde mental.

Minha intenção com esta sugestão era enviar uma pessoa claramente doente para um tratamento.

Ao invés disso, eu consegui um “correspondente” e ele, como requisitado, incluiu um laudo “claro” de saúde mental de seu psiquiatra e terapeuta indicando que ele tinha sido cuidado por muitos anos e que eles consideravam aceitável que ele “perseguisse seus interesses no paranormal”.

Eu tenho ouvido relatos similares de outros grupos cépticos, notavelmente os cépticos Australianos. Evitar pacientes mentais como objectos de debates paranormais!

Você terá pouco a ganhar, excepto embaraço!

Todas essas “más afirmações” envolvem pessoas com óbvios problemas.

É relativamente comum que pessoas com problemas desenvolvam ilusões em certos padrões e procurem por cépticos.
Se isto acontecer com você, tome uma decisão madura – esconda-se ou fuja da cidade!

Quando lidando com pessoas com problemas e crenças ilusórias aqui estão os muitos e graves riscos reais que corre:

Você pode ultrapassar sua base de conhecimento.
É muito tentador oferecer o diagnóstico de possível problema psiquiátrico ou alegar “propensão à fantasia”.
Raramente, se tanto, cépticos tem acesso ao tipo de informação ou educação que permita esse conhecimento especializado.

Você pode ser processado.
Se você chamar um maluco de maluco ou um doido de doido ou mesmo um esquizofrénico de esquizofrénico então advogados virão para cima de você, a menos que possa manter as afirmações acima!

Você pode facilmente parecer um valentão.
Por que chamar um doido de doido se ele obviamente está se comportando como doido?


Adicionalmente, falando genericamente, não é seu problema se outra pessoa está agindo como doido.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 24, 2013 10:00 pm

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Escolher pessoas com problemas raramente é admirado, mesmo se cépticos estão agindo assim para provar que a pessoa em questão não veio realmente de Júpiter (ou qualquer outro lugar!).

Muitas reivindicações envolvem directamente indivíduos com problemas reais.
Não as escolha. É um mau Karma.

Somente sorria e lembre-se que a) a vida se complica para todos nós uma vez ou outra e b) em algumas culturas doentes mentais são encaradas como bênçãos de Deus.

Imagine-se como membro de uma dessas culturas.
Não obstante, doentes mentais e pessoas com problemas emocionais não são abençoadas para cépticos e grupos cépticos.

Ao contrário, são situações sem vencedores.
Evite situações sem vencedores.

Tente manter distância de confusão ou pessoas doentes que acreditam terem poderes além de sua compreensão.

Você será mais feliz se o fizer.
(Eles podem, depois de tudo, pensar em você estando em um campo de cereais).

Sorria. Esta é uma boa vida.

E lembre-se, eu argumentei que se você não pode e não deve tentar explicar todas as alegações paranormais, é bom ser selectivo.

Mas se você for pressionado e forçado a oferecer uma explicação, para uma pessoa com problemas e suas alegações irracionais, lembre-se desta frase de Carl Sagan.

Memorize e repita quando necessário.
“Claramente há algo sobre isso. E é fascinante.

Mas a questão que devemos responder é, isto está vindo do espaço exterior
(ou de outro mundo) ou está vindo deste espaço (ou de nosso mundo)?”

Então sorria sabiamente. Não continue sua explicação.

Apenas sorria e balance a cabeça como se estivesse ponderando, todo sabedoria e conhecimento.

Não mencione qualquer doença mental.
Não coloque seu anel “Descodificador Escalar de Tendências de Personalidade Fantasiosas”.

Sorria, balance a cabeça, olhe sabia e compassivamente.
Vá para casa e se congratule pelo trabalho bem feito.

Seja amável com essas pessoas.
Mesmo Sagan, apesar de tudo, ouviu vozes de mortos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 24, 2013 10:01 pm

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Todos nós ficamos estranhos às vezes.

7. Cepticismo como técnica de autodefesa intelectual – Algumas vantagens escondidas.
Ou
“Quer dizer que eu realmente não preciso afirmar que estou salvando o mundo?”

Neste artigo eu tenho apresentado uma perspectiva simples do cepticismo.

Minha sugestão inicial é que nós paremos de tentar pensar no cepticismo como uma filosofia e simplesmente ao tratemos como uma técnica com alcance e utilidades limitadas.

Especificamente, sugeri que olhássemos o cepticismo como uma técnica de autodefesa intelectual.
Eu espero que se tentarmos fazer as coisas desse modo então o cepticismo se tornará aerodinâmico e simplificado de muitos modos.

No momento, cepticismo, de modo discutível, frequentemente parece abarcar mais do que pode lidar e acaba parecendo algumas vezes um apanhado de pequenas peças de várias filosofias, doutrinas e ciências.

Um dos pontos-chave é que nós diminuamos a ênfase em alegações paranormais como se fosse início e fim de todo cepticismo.
Isto pode ser controverso.

Primeiro de tudo, sinto que isto já está acontecendo, de modo que minha sugestão é simplesmente que reconheçamos e o direccionemos.

Em segundo lugar, frequentemente parece haver uma certa insegurança entre alguns dos cépticos mais proeminentes em se envolver com o cepticismo.

Algumas vezes, isto parece que se alegações são feitas de modo que o futuro da humanidade está em perigo e só pode ser preservado se conduzirmos uma sistemática refutação de toda e qualquer casa mal-assombrada ou avistamento de OVNIS.

Uma de minhas esperanças é que se as recomendações deste artigo forem seguidas, então esta aparente insegurança e justificações grandiosas se reduzam.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Out 24, 2013 10:01 pm

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Se compreendermos as limitações do cepticismo, vendo-o como técnica e não filosofia então nós poderemos esperançosamente acomodar diferentes pontos de vista filosóficos mais facilmente.

Cepticismo, como um “ismo”, tem estado em débito com o trabalho de muitos filósofos.

Infelizmente, parece as vezes, que quando essas filosofias são trazidas para as discussões cépticas é para saber se são ou não relevantes.

Porque cépticos não podem permitir que se desenvolvam filosofias pessoais de uma maneira diversa e natural?
Porque qualquer filosofia é necessária se o que todos nós praticamos é uma técnica de autodefesa intelectual?


Uma das controvérsias subjacentes do movimento céptico é justamente que tipo de filosofia ele pretende ser.

Outra controvérsia deste tipo no cepticismo é sobre quem somos nós, que aspiramos ao cepticismo?

Há uma ambivalência nas publicações cépticas.
Algumas afirmam que o cepticismo e o pensamento crítico devem ser praticados por todas as pessoas.
Outras parecem ver o cepticismo como algo que deve ser cuidadosamente manuseado por uma elite para as massas.

Eu estou advogando claramente uma posição populista para o pensamento crítico.

Sinto que se encaramos o cepticismo como uma técnica de autodefesa intelectual então nós temos a obrigação de tentar mostrar o valor destas técnicas a uma larga parcela da população.

§.§.§- O-canto-da-ave
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 25, 2013 9:35 pm

Ficção e Cepticismo
Gustavo Bernardo, publicado em KRAUSE, Gustavo Bernardo (org).

Literatura e cepticismo. São Paulo: Annablume, 2005
Reprodução gentilmente autorizada
Se vou falar sobre ficção, preciso distingui-la bem da realidade, para não promover ilusões ou mesmo alucinações.

A distinção usual é a de que o mundo da ficção contém muitas incertezas perigosas, enquanto o mundo da realidade contém as certezas de que precisamos para continuar vivendo.

Entretanto, essa distinção talvez seja não apenas insuficiente, como inteiramente equivocada.

Levanto a hipótese contrária à da distinção usual:
o mundo da realidade é que conteria as incertezas mais perigosas, enquanto que o mundo da ficção conteria as certezas de que precisamos para sobreviver.

No mundo considerado real, dizemos que as leis da gravitação universal são aquelas enunciadas por Isaac Newton.

No mesmo mundo, consideramos verdadeiro que Napoleão tenha sido morto em Santa Helena em 5 de maio de 1821.

Contudo, cientistas e historiadores mantêm a mente aberta para admitir formulação diversa da gravitação ou nova data para a morte de Napoleão, caso novas evidências ou novos documentos provem o contrário do que se sabia até então.

Não é absolutamente seguro que a gravitação se comporte como Newton enunciou, nem que Napoleão tenha falecido naquela data e naquele local.

Isso quer dizer que nem a Ciência nem muito menos a História podem ser consideradas exactas, como pregam nossas divisões escolares:
enquanto a primeira, na melhor das hipóteses, nos aproxima da realidade, sem nunca se poder calcular a percentagem dessa aproximação, a segunda conta como o passado poderia ter acontecido, quiçá, através de narrativas que se apresentam, também na melhor das hipóteses, atravessadas por lacunas importantes.

No mundo da ficção, no entanto, há certezas inquestionáveis, como por exemplo as de que Sherlock Holmes era solteiro, de que Anna Karenina se matou, de que Hamlet não chegou a se casar com Ofélia, e ainda de que a identidade secreta do Super-Homem é o jornalista Clark Kent.

Sherlock Holmes não pode ter sido de modo algum casado ou viúvo, Anna Karenina não pode ter morrido de morte natural e Hamlet não pode ter casado com Ofélia e com ela vivido feliz para sempre, assim como o Super-Homem não pode ser Jimmy Olsen.

Posso negar que Jesus fosse filho de Deus ou até pôr em dúvida sua existência histórica, mas convivo com outras pessoas que crêem em Jesus como o filho de Deus, ou que afirmam que ele de facto viveu e pregou nos anos iniciais da Era Comum.

Eu respeito essas pessoas, porque não tenho certeza nem de uma coisa nem da outra – mas não posso respeitar da mesma maneira quem afirme que Hamlet teve três filhos com Ofélia ou que o Super-Homem seria, na verdade, Lois Lane.

Para Umberto Eco, os textos ficcionais, à diferença do mundo e ainda quando ambíguos, explicitam uma margem muito clara de certeza, conduzindo-nos a um paradoxo interessante:
a ficção desrealiza o real para criar um novo real mais seguro, portanto “mais real”, do que aquele que se encontrava no ponto de partida.[1]

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 25, 2013 9:35 pm

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Se prestarmos atenção na nossa vida quotidiana, tantas vezes a ficção se mostra mais real do que o real.
Leio sobre a morte eterna de Antígona e me comovo por inteiro, como talvez não o faça quando morre uma pessoa da minha estima.

Se morre alguém que existe de verdade e quero muito, demoro muito a realizar, isto é, a tornar real esta morte, quer porque preciso cuidar do velório e de outras pessoas que também estão sofrendo, quer porque ainda não suporto realizar a própria realidade.

Se quem morre, todavia, é o personagem daquele livro em que embarquei suspendendo toda a descrença prévia, posso realizar a dor tão completamente que chego a fingir que é dor a dor que deveras sinto:
vivo essa morte, se entendem o paradoxo, como se fosse mais real, ou seja, mais intensa, do que uma morte “real”.

Pode-se visualizar bem semelhante paradoxo no quadro de René Magritte, “A ponte de Heráclito”, pintado em 1935.

Na imagem, a ponte supostamente real como que se interrompe no ar, ao tocar na névoa, não conduzindo quem a atravesse, ou quem esteja admirando o quadro, a lugar algum.

O reflexo da ponte na água do rio, porém, mostra uma ponte completa, atravessando o rio.
Temos certeza da imagem da ponte, mas não temos qualquer certeza da ponte ela mesma.

Temos certeza do reflexo, do sintoma, da consequência, mas não podemos ter qualquer certeza da coisa que provoca o reflexo, da doença que gera o sintoma, da causa que produz a consequência.

Como se trata da ponte de Heráclito, segundo o título que lhe deu o pintor, podemos ainda dizer que essa ponte incerta atravessa o rio que nos banhamos e no qual nunca somos os mesmos que fomos no primeiro banho, assim como o rio nunca é mais o mesmo, ou seja:
trata-se de um rio que a rigor não existe, atravessado por uma ponte que a rigor também não existe, pintado por um pintor que a rigor não existiu e observado por espectadores que, a rigor e igualmente, não existem.

Em palavras directas: a rigor, não existimos.

http://www.ceticismoaberto.com/imagens4/magritte_heraclito.jpg

Esta conversa, então, entra no terreno rico, mas perturbador, das aporias.

O campo da teoria da literatura é rico em aporias ou raciocínios aporéticos, por conta da dificuldade de se chegar a certezas demonstráveis.

Uma aporia indica ou a dificuldade insuperável de um raciocínio, ou o conflito resultante da igualdade de raciocínios opostos entre si.

O adjectivo “aporético” refere-se ou a tudo o que não tem solução à vista, ou ao acto de se valorizar mais o exame de um problema do que sua resolução.

Fazem parte do campo semântico de “aporia” as palavras “incerteza” e “impasse”.[2]

A questão da origem do ser, por exemplo, é uma aporia:
como toda origem supõe o ser, nem aquela nem este podem ser explicados.[3]

A emergência das aporias ocorre menos por indigência teórica do que pelo carácter intrínseco dessa teoria:
há nela uma ambiguidade dilemática que a constitui.

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Críticas aos “Cépticos” - Página 10 Empty Re: Críticas aos “Cépticos”

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Out 25, 2013 9:35 pm

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Para dar conta da ambiguidade, dos dilemas e das aporias, isto é, para lidar com a colisão entre as certezas da ficção e as incertezas da realidade, preciso pedir ajuda aos cépticos.

Mas quem seriam os cépticos?

Respondo provisoriamente, distinguindo-os de dogmáticos e niilistas:
enquanto os dogmáticos têm certeza de que só eles sabem alguma coisa e os niilistas têm certeza de que não se pode ter certeza de nada, os cépticos duvidam de que se possa ter certeza de alguma coisa;
enquanto os dogmáticos já acharam a resposta e os niilistas já pararam de procurar, a dúvida dos cépticos os leva a continuar procurando a verdade.


Por isso, os cépticos também são chamados de “zetéticos”, que significa: “procuradores”.

Ao desconfiar de dogmas, verdades definitivas ou afirmações peremptórias, os cépticos se mantêm em constante estado de incerteza e investigação intelectual.

Entre dogmáticos do “sim”, filósofos sistemáticos e crentes em geral, e dogmáticos do “não”, niilistas e apocalípticos, a opção dos cépticos é pelo “talvez”, pelo “pode ser que sim, pode ser que não”.

Uma pedagogia céptica orienta os alunos a fugirem das sentenças categóricas, recorrendo a termos suspensivos como “talvez”; esses termos também funcionam como traços de cautela académica.

Seu uso instaura uma dúvida interna ao pensamento, promovendo desse modo diálogo igualmente interno ao texto.

Se as ideias debatem entre si, adiando o máximo possível a conclusão, o leitor desse tipo de texto se sente parte do diálogo, e não um sujeito intimado a concordar com ou a discordar de determinada opinião.

Para Roland Barthes, no entanto, termos suspensivos e moralizadores não afectam a arrogância original de quem fala, uma vez que a escrita é no fundamental assertiva, logo, mais vale aceitar o facto estóica e tragicamente.[4]

Se o talvez é apenas um truque tal qual o plural de falsa modéstia, ele está certo;
mas, se a língua em verdade nos fala, o recurso constante à suspensão linguística pode, apenas pode, gravar um ponto de interrogação no interior do discurso e do pensamento, suspendendo as certezas e valorizando a interminabilidade da busca.

Para o mesmo Barthes, “não há outra saída para a arrogância a não ser a suspensão da interpretação, do sentido”.[5]

Na literatura, suspende-se não apenas o sentido como a própria identidade do escritor, primeiro, e do leitor, depois, através da perspectiva fictícia dos personagens.

A dúvida, fruto da suspensão do juízo, se encontra na origem da filosofia ocidental, ou seja, no cepticismo antigo.

Pirro, provavelmente o inaugurador dessa maneira de pensar, nasceu antes de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Usando os termos gregos, podemos esboçar o seguinte esquema do trajecto céptico:
zétesis - diaphonía - isosthenia - epoché - afasia - ataraxia - adiaphoria.

Zétesis é a busca pela verdade, que não termina.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 26, 2013 10:18 pm

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Essa busca leva o céptico a encontrar não a verdade mas sim a diafonia, isto é, o conflito insolúvel entre as diferentes teorias e os diferentes buscadores da verdade.

O conflito leva o céptico a concluir pela isostenia, ou seja, pela equipolência das teorias: não há como decidir qual delas deteria a verdade.

Em consequência, o céptico precisa acautelar-se, suspendendo seu juízo sobre os acontecimentos e as ideias:
a suspensão do juízo é precisamente a epoché, que funciona como a chave desse trajecto.

Se, por cautela, suspende o juízo, o céptico também se recusa a se pronunciar, essa recusa constituindo a afasia.
Nesse momento, ele se aproxima da ataraxia, isto é, da tranquilidade intelectual garantida pela indiferença, isto é, pela adiaforia.

Essa ataraxia não é bem “conquistada”, mas ela como que “acontece” sem ser esperada, como destaca José Raimundo Maia Neto, em seu livro capital sobre o cepticismo de Machado de Assis.[6]

Por isso, o objectivo do céptico seria menos a apátheia – apatia – do que a praótes – brandura, suavidade.[7]

Podemos explicar melhor a epoché não exactamente como suspensão do juízo, mas sim como “suspensão do assentimento”.

Na verdade, o céptico, se não pára de duvidar, não pára de pensar.
A epoché implica antes a afasia, como recusa a se pronunciar categoricamente sobre isto ou aquilo, do que a recusa a pensar.

Esta afasia não subentende incapacidade de falar mas sim reivindicação do direito ao silêncio, em particular em uma época tão barulhenta e tão “endoxal”, isto é, tão movida pela obrigação da opinião.[8]

De acordo com Comte-Sponville, a afasia patológica “é uma prisão que nos encerra no silêncio;
a afasia pirrónica, uma liberdade, que nele nos abre”.[9]

De acordo com Jean-Paul Dumont, “quando um céptico adopta a atitude silenciosa, não está buscando na dúvida um refúgio confortável, ou um meio de evitar o erro.

Ao contrário, só está descrevendo o estado de equilíbrio de sua alma diante de representações incertas e submetidas a forças igualmente contrárias”.[10]

O silêncio céptico não é um silêncio “da boca”, se os cépticos falam como qualquer um, mas sim um silêncio do pensamento e da razão, isto é, do sistema implícito que subjaz a toda filosofia e a toda declaração:
o que se recusa é a fala sistemática e dogmática.

O cepticismo mostra-se como uma espécie de retórica apaixonada pela própria retórica, isto é, pelo prazer de pensar:
discute-se o mundo, suspeitando-se das concepções que o pretendam reger e, ao mesmo tempo, se discute a discussão em si.

Em consequência, o cepticismo apoia-se antes no argumento stricto sensu do que nas evidências que o corroborariam.

O argumento céptico, quando fraco, tende ao niilismo e à auto-contradição, dizendo que não pode compreender nada;
logo, não poderia compreender sequer que não compreende.

O argumento céptico, quando mais forte, se organiza a partir de algumas metáforas geradoras que permitem a aproximação do problema pelas bordas e, por sua vez, mostram a importância da ficção para a filosofia.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 26, 2013 10:19 pm

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Uma dessas metáforas geradoras é a do cérebro em suspensão. Hilary Putnam perguntou:
“como saber se não sou mais que um cérebro numa cuba, recebendo estímulos transmitidos por um cientista louco?”.[11]

Hilary supôs, para efeito de argumentação, que fôssemos cérebros em suspensão num tanque cheio de um líquido pegajoso dentro do laboratório de um cientista maluco.

Por computador, o cientista alimentaria nossas memórias e experiências.

Ora, como saber se não somos esses cérebros monitorados?

Ainda que a suposição pareça mera ficção científica, ela se sustenta:
caso o hipotético cientista tenha sido bem-sucedido, não temos como saber se somos ou não controlados pelo seu computador.[12]

Qualquer semelhança dessa metáfora com o filme The Matrix não é mera coincidência.

Esse filme, assim como Metropolis (1926), Fahrenheit 451 (1967) e Blade runner (1982), produz uma ficção científica que, justamente, desconfia da ciência.

Matrix é uma trilogia (1999, 2002 e 2003), escrita e dirigida pelos irmãos Wachowski, que conta a história do hacker Thomas (ou Neo).

Neo é o Escolhido: the One (anagrama de “Neo”).

Ele encontra Morpheus que, com o nome do paradoxal deus do sono, sugere que a realidade pode mudar através de sonhos:
o nome também remete a morphing, o processo informático que permite a passagem, sem emenda perceptível, de uma realidade a outra (em português já existe, com esse sentido, o neologismo “morfar”).

É Morpheus quem define “real”:
“se você está falando do que pode ser cheirado, provado e visto, então real é simplesmente um sinal eléctrico interpretado por seu cérebro”.[13]
Ele ensina que o mundo conhecido é virtual:
trata-se de uma realidade simulada por computadores.

Toda a vida quotidiana não passaria de uma intrincada rede de ilusões, um mundo-armadilha, a arrogância humana ampliada: the Matrix.

A ideia deriva do panóptico de Jeremy Bentham e toma forma ficcional em 1984, na imagem do big brother criado por Orwell em 1948.

Mas o termo “Matrix” é enunciado pela primeira vez no romance Neuromancer, de William Gibson, publicado, por ironia, no ano de 1984.

No não-espaço da Matrix, o interior de um determinado constructo de dados tem uma dimensão subjectiva ilimitada;
uma calculadora de brinquedo, por exemplo, pode apresentar vários golfos de não-existência.[14]

Antes de Matrix, Bertrand Russell produzira curiosa variante da metáfora do cérebro em suspensão.

Segundo essa variante, o mundo pode ter sido criado há não mais do que cinco minutos e preenchido com uma população que se “lembraria” de passado inteiramente irreal.

A hipótese de Russell é perturbadora, porque nada do que acontece ou do que acontecerá, não podemos recorrer ao que “aconteceu”, pode provar que o mundo não teria sido criado agora há pouco.[15]

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Out 26, 2013 10:19 pm

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Na verdade, a suposição de Putnam, a trilogia dos irmãos Wachowski e a alternativa de Russell são variantes “diabólicas” da hipótese Deus.

Se Deus existe, o que nos garante que Ele não se divirta connosco, como se fosse um ensandecido manipulador de marionetes humanas?

Descartes já imaginara algo parecido, quando pensou na possibilidade de um Génio Maligno que nos iludisse o tempo todo.

O filósofo francês não teve coragem de chamar o seu Génio Maligno de Deus, mas nada no argumento o impedia.

Ditados do tipo “Deus escreve certo por linhas tortas” reforçam essa possibilidade assustadora.

Quando não pretende nos assustar tanto assim, o argumento céptico parte do senso comum de que todos cometemos erros para aplicar uma rasteira no próprio senso comum: se antes cometemos erros, o que garante que não se está a cometer novos erros?
Como saber se as situações presentes se diferenciam das situações anteriores?


Ora, se não há como saber quando se acerta e quando se erra, não há como definir quer o erro, quer o acerto.

O senso comum se apoia na noção de experiência para sustentar suas certezas, recorrendo ao cliché:
“eu sei por experiência própria”.

Por experiência própria, de fato, temos certeza de pelo menos algumas coisas:
de que existimos, de que há dia e noite, da fome.

Mas o apoio na experiência pessoal toma por estabelecido o que ainda estaria em discussão, formulando uma petição de princípio:
é a nossa experiência que nos garante que a nossa experiência é um guia confiável.

Como nada podia ser mais suspeito, na verdade não podemos ter certeza absoluta de nada:
não se podem justificar sequer as crenças mais simples do dia-a-dia.

Semelhante constatação é insuportável, ainda que logicamente sustentável.

Por isso, os argumentos cépticos provocam muita irritação, o que produz outro paradoxo:
os cépticos, procurando a tranquilidade, geram dissensão e controvérsia.

Renato Lessa observou, no ciclo de conferências sobre literatura e cepticismo que organizamos na UERJ, que aqueles que se irritam com os cépticos reivindicam, implícita ou explicitamente, a necessidade do dogmatismo para qualquer postura civilizatória e produtiva, no que não deixam de ter razão:
de facto, sem dogmas não se fundam religiões, filosofias, economias, quaisquer instituições.

Acontece que os cépticos, contrariamente aos militantes das demais filosofias, não pretendem “vencer” os dogmáticos, primeiro porque essa seria uma pretensão vã, segundo porque se vencessem se tornariam justamente o que combatem.

O cepticismo é antes uma espécie de terapia da hybris da razão dogmática e, às vezes, ensandecida.

Lessa também anotou que aqueles que se irritam com os cépticos podem, além de reivindicarem a necessidade do dogmatismo, padecerem de uma doença comum que costuma acometer todos os que dependem de certezas firmes para se sentirem seguros e com alguma identidade:
a ausência de um mínimo de humor.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 27, 2013 11:05 pm

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No entanto, ele deve estar sendo um pouco irónico;
nós não chegaríamos a tanto.

Mas não podemos deixar de notar que as críticas mais duras que se fazem aos cépticos costumam retornar, como bumerangues metafísicos, contra os críticos.

Por exemplo, acusa-se os cépticos de solipsismo, doutrina segundo a qual o eu considera a si mesmo (ipse) o único (solus) a existir.

Um solipsista considera todos os demais entes meras impressões do seu próprio eu isolado no centro do mundo.

Se um céptico é um solipsista, então o que ele nega é nada mais nada menos do que a realidade.

Mas, fora o facto de que o céptico na verdade não nega – ele duvida –, a crítica dá a volta e parece atingir os críticos:
incorre em solipsismo justo aqueles que se apoiam na experiência própria.

A experiência de alguém mal pode dar conta da compreensão do que acontece consigo mesmo, não havendo como se compreender a experiência de outrem.

Com muita dificuldade, lembramos de uma dor que sentimos – provavelmente, lembramos apenas da ideia da dor, ou da frase:
“naquele dia eu senti muita dor”.

Por comparação, a dor de qualquer outra pessoa é inconcebível;
mal podemos saber da dor para nós.[16]

Logo, seríamos todos muito mais solipsistas do que gostaríamos de admitir.

A melhor representação literária do solipsismo encontramos no conto de Philip K. Dick, “A cidadezinha”.

No conto, o protagonista Vernon Haskel é um típico funcionário frustrado, morador de uma cidadezinha americana chamada Woodland, e casado com uma mulher que não o compreende e que, ainda por cima, o trai com outro homem bem melhor sucedido, chamado Tyler.

A “cidadezinha” do título, entretanto, não é aquela em que eles moram, mas sim o seu modelo em miniatura que Vernon constrói desde criança a partir de um trem eléctrico de brinquedo que ganhara há anos.

No porão da casa, Vernon põe o boné de maquinista na cabeça e diariamente monta uma miniatura detalhada de todos os prédios, ruas e acidentes da sua própria cidade.

Quando está quase terminando, aos 43 anos de idade, sente-se tão frustrado que começa a destruir os lugares em que o humilharam, a começar pela fábrica em que trabalhava.

No lugar da fábrica, ele monta a miniatura de um prédio que não existe na cidade, o Necrotério.

Eufórico por haver alterado o seu modelo e criado o que não existia antes na realidade que o inspirara, Vernon começa a mudar sua própria vida:
demite-se do emprego.

Quando volta para casa mais cedo, descobre a mulher com o amante, mas parece pouco se importar.

Está com pressa de retornar ao seu porão, colocar o boné de maquinista e refazer, frenética mas caprichosamente, todo o modelo da cidade.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 27, 2013 11:05 pm

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A mulher e o amante o observam, sem entender, até que ele os expulsa do porão.

Lá embaixo, Vernon destrói a loja de vendedores esnobes e, no lugar, coloca um salão e um boliche;
destrói a mansão do vizinho cujo cachorro o mordera, substituindo-a por um parque;
destrói a área dos cortiços e no seu lugar levanta casas pequenas e limpas;

destrói a imensa área industrial, para plantar, com papel verde, uma região campestre;
destrói o prédio em estilo pedante, rococó, da Prefeitura, no seu lugar erigindo um prédio baixo e simples, inspirado no Parthenon.


No letreiro da Prefeitura, em letras minúsculas, ele pinta: “Prefeito: Vernon Haskel”.

Na sala, a esposa está preocupada, mas Tyler, o amante, suspeita que os problemas de ambos estejam prestes a ser resolvidos.

Quando eles escutam um grito na madrugada, descem ao porão e não encontram nem Vernon, nem o modelo.

O porão se encontra vazio.
Tyler pega o carro e, junto com a esposa de Vernon, vai até a delegacia para informar o desaparecimento.

Enquanto dirige, eufórico, explica para a mulher que seu marido havia se tornado parte do próprio mundo substituto que criara – por isso, nunca mais seria encontrado.

Como ele trabalhara a vida inteira naquele modelo, o tornara tão real que passara a fazer parte dele.

Didacticamente, Tyler explica o que teria acontecido:
Levei algum tempo para perceber.
A mente constrói a realidade. Ela a emoldura e a cria.
Todos nós temos uma realidade comum, um sonho comum.

Mas Haskel virou as costas para a nossa realidade comum e criou a sua própria realidade.
E ele tinha uma capacidade única... bem além do que é normal.
Devotou sua vida inteira, todas as suas habilidades para construi-la.
Ele está lá agora.
[17]

No entanto, à medida em que dirige velozmente na cidade silenciosa, na direcção da delegacia, os dois sentem que há algo errado.

Que Vernon tenha sumido, fazia sentido;
mas por que o modelo sumira também?

De repente, a mulher percebe, à direita do carro, um prédio diferente, com a placa “Necrotério”.

Ela soluça de pavor, enquanto o amante continua a dirigir, com as mãos entorpecidas.
Aproximam-se da Prefeitura, agora um prédio baixo, simples – como um templo grego de mármore.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Out 27, 2013 11:05 pm

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Tyler pára o carro, tremendo.
Quando percebe o que vai acontecer, não há mais tempo de fazer nada:
quatro policiais ríspidos, severos e eficientes os cercam e abrem as portas do seu carro.

A “realidade comum” transformara-se na “realidade de um”:
eles é que estavam dentro do modelo, portanto, dentro da realidade de Vernon.

A literatura põe sob suspeição a realidade; por isso, a refaz.

O poeta resolve os dilemas do solipsismo e da dor, própria e alheia, entendendo-se tão fingidor que chega a fingir que é dor a dor que deveras sentira, representando melhor sua dor real se e somente se o fizer através de uma simulação que passa a ser vivida como mais real, isto é, mais intensa, do que o real ele mesmo.

Por isso o leitor, na dor lida, diferente da dor escrita, sente bem, não as duas dores que o poeta teve, nem sequer a dor que está lendo, mas apenas uma quinta dor, a qual não será igual à que ele, leitor, teria tido antes da leitura.

Assim, nas calhas de roda, como em um moinho que transforma o trigo em pão, o coração, núcleo mítico da alma, gira, entretendo e enganando a razão, para moer a dor ao transformá-la em verso e, então, lhe emprestar algum sentido.[18]

Nas breves e conhecidas estrofes do poema de Fernando Pessoa, “Autopsicografia”, de uma dor, de um poeta e de um leitor se fazem no mínimo cinco dores, complexificando toda a nossa possibilidade de compreensão da realidade mais imediata – mais dolorida.

Bernardo Soares, heterónimo do poeta português, explicará como é necessário perverter a natureza do sentimento para haver comunicação.

Não há comunicação do que em verdade se sente, mas sim do que no lugar do sentimento se inventa.

A dúvida obriga à mentira, porque a mentira “é tão-somente a noção da existência real dos outros e da necessidade de conformar a essa existência a nossa, que se não pode conformar a ela”.

Por isso, Bernardo Soares iguala fingir a amar:
“amamo-nos todos uns aos outros, e a mentira é o beijo que trocamos”.

A mentira, aqui, é o nome menos nobre da ficção.

Servimo-nos da mentira e da metáfora para nos entendermos uns aos outros, “o que, com a verdade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer”.

Esse entendimento, no entanto, permanece na linha do horizonte, como destaca a comparação de outro heterónimo, Álvaro de Campos:
“compreender é um navio ao longe”.[19]

Porque compreender é um navio ao longe, os argumentos cépticos assumem-se metafóricos:
olham de lado mas com os dois olhos, como se tivessem um rosto cubista.

Talvez apenas por meio de argumentos cépticos as contradições inerentes a qualquer concepção consciente de mundo se revelem e, em consequência, possam ser momentaneamente superadas, sem que resolvam as aporias ou deneguem os enigmas.

Assim como a posição do narrador e do poeta não é soberana, e talvez resida nessa circunstância sua força simbólica, também devemos admitir que a posição do céptico não pode ser soberana, sequer constante.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 28, 2013 11:13 pm

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O que há são perspectivas ambíguas, horizontes de desejos, palavras como sombra das coisas.

Por isso o cepticismo, para Bertrand Russell, é logicamente impecável, mas psicologicamente impossível:
seria frívola e insincera a filosofia que o pretendesse aceitar integralmente.[20]

Não podemos ser cépticos o tempo todo, não podemos ser cépticos sequer na maior parte do tempo.

Segundo Kojève, “o cepticismo só pode tornar-se uma atitude discursiva permanente e universal com a condição de transformar-se em dogmatismo.

Eis porque o cepticismo autêntico só se propõe em certos lugares e em certos momentos, mas não pode impor-se em todos os lugares e em todos os momentos”.
[21]

Pascal já dissera algo bastante semelhante:
“nada fortalece mais o pirronismo do que o facto de haver quem não seja pirrónico.
Se todos o fossem, eles ficariam sem razão”.
[22]

Enquanto as filosofias dogmáticas supõem implicitamente a possibilidade de cada uma ser a única a ter razão, logo, que todos deveriam segui-la, o cepticismo é forçado a abdicar dessa possibilidade e, consequentemente, de qualquer pretensão a hegemonia ou unanimidade.

Por isso, não faz sentido se pensar em uma eventual vitória do cepticismo.

A epoché céptica, porém, não implica distanciamento de todos os valores, sob pena de o céptico se supor um ser fora do mundo e da humanidade.

Diante da guerra no Iraque, de um linchamento no Rio de Janeiro ou do apedrejamento de uma adúltera na África, o céptico muito provavelmente se choca, entendendo os eventos como manifestações de ódios irracionais que não se tem porque aceitar tranquilamente.[23]

A epoché, para o céptico, não implica tolerância total em nome de um suposto respeito relativista aos costumes alheios.

Só que o céptico, ao se indignar, precisa suspeitar igualmente da própria indignação, reconhecendo que a indignação costuma frequentar as vésperas do fanatismo.

Historicamente, o cepticismo são vários:
há o cepticismo académico, pirrónico, efético, fideísta, mitigado, antigo, moderno, moral, religioso.

Mas, grosso modo, podemos agrupar os cepticismos em três grandes momentos históricos:
contemporâneo, renascentista e antigo.

Contemporaneamente, o cepticismo se fortalece a partir da ciência moderna e faz face com o ateísmo;
no final da Idade Média e no Renascimento, o cepticismo foi invocado para, ao contrário, sustentar a fé em detrimento da Razão;
entre os filósofos pré-socráticos, na Grécia antiga, nasceu para reagir ao conflito das filosofias.


Em cada uma destas épocas, porém, o cepticismo é violentamente rejeitado, ora porque contém em si uma contradição interna insuperável, ora porque sua suposta vitória implicaria a derrota dos sistemas filosóficos e das instituições fundadas a partir desses sistemas.

Por isso os ataques tendem a reduzir o céptico àquele que não acredita em nada, àquele que nega a realidade substancial e a existência de princípios morais válidos.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 28, 2013 11:14 pm

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Na linha de defesa, um dos seus principais estudiosos, o filósofo americano Paul Kurtz, adjectiva o cepticismo para melhor sustentá-lo.

Quando defende o cepticismo da acusação de niilismo, Kurtz primeiro aceita parte da acusação, considerando que de fato o céptico pode ir longe demais no seu cepticismo.

Por isso, a primeira frase do seu livro The New Skepticism afirma:
“cepticismo, como todas as coisas, é bom se usado com moderação”.[24]

O cepticismo vale enquanto moderado, ou mitigado, como queria Hume.

A pílula céptica, se tomada em excesso, conduz à dúvida arrogante que acaba por não ser mais dúvida:
adquire-se a certeza de que a realidade não é real.

A pílula céptica é portanto a pílula vermelha que Morpheus ofereceu a Neo em The Matrix.

Se Neo tomasse a pílula azul, acordaria e não se lembraria de nada;
continuaria sua vida virtual seguro de que ela fosse real.

Ele tomou, porém, a pílula vermelha:
you stay in Wonderland. And I’ll show you how deep the rabbit hole goes – “você está no País das Maravilhas.
E eu lhe mostrarei o fundo do buraco do coelho”.

Aludia Morpheus àquele coelho de Lewis Carroll que levou a menina Alice a uma realidade totalmente diferente.

O cepticismo não precisa ser visto como a representação metafísica da impossibilidade de conhecer a realidade última, nem precisa conduzir a impasses epistemológicos que desemboquem no niilismo.

Antes, ele deve ser considerado como uma regra metodológica básica:
sem ela, estamos prontos a despencar na desilusão complacente e, em consequência, no dogmatismo;
com ela, se usada com prudência, avançamos nas fronteiras da investigação e tiramos benefícios para a vida prática.


Para Kurtz, se apossar da Verdade dogmaticamente não difere muito de se apossar da Não-Verdade.

Por isso, a seu “novo cepticismo” ele prefere chamar de skeptical inquiry, expressão que podemos traduzir como “investigação céptica”.[25]

Em termos etimológicos, a expressão de Kurtz parece pleonástica, porque o termo cepticismo deriva do grego sképsis, que significaria “investigação”.

Na verdade, o termo “investigação” é segundo, derivando do sentido primeiro, “observação”.

Sképsis vem de sképtomai, verbo cujo sentido denotativo inclui as noções de “voltar o olhar para”, “olhar atentamente”, “considerar”, “observar”.

O mesmo verbo pode ser usado com os sentidos figurados de “examinar”, “meditar”, “reflectir”.
Logo, o substantivo sképsis significa também “exame”, “reflexão”, “especulação”, “meditação”.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Out 28, 2013 11:14 pm

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Skeptikós, portanto, é aquele que observa, que reflecte, que gosta de examinar – significados praticamente opostos à acepção popular do termo, que entende o céptico como “aquele que não acredita em nada”.[26]

Skeptical inquiry, a expressão de Kurz, mostra-se então conveniente, chamando a atenção para o vínculo perdido entre o cepticismo e a procura da verdade.

A investigação permanente é necessária porque parece ser muito mais difícil descobrir o que a realidade é do que saber o que a realidade não é.

Paul Watzlawick explica a dificuldade através da seguinte metáfora:
o capitão de um navio deve cruzar um estreito de mar durante uma noite de tempestade, mas não conhece a configuração do estreito.

Se o capitão bate contra os recifes e perde seu barco, o naufrágio demonstra, sem sombra de dúvida, que o roteiro escolhido não era o correcto.

Se o capitão passa pelo estreito com o navio, só está demonstrado que o roteiro escolhido não o levou a se chocar com nenhum recife.

O êxito não ensina muito ao capitão sobre a verdadeira configuração do estreito:
ele não tem como saber se esteve, ou não, próximo da catástrofe.

É fácil imaginar que haveria roteiros muito mais seguros.
De certa maneira, o naufrágio é mais pedagógico: ensina onde há recifes.[27]

Watzlawick, em artigo sobre profecias que se auto cumprem, comenta que elas desmontam o pensamento causal tradicional ao acontecerem de modo bem mais constante do que pensamos.

Se alguém supõe que é desprezado e por causa disso se comporta de modo desconfiado, provoca nos que o cercam exactamente o desprezo que supunha.

Os jovens que, em tempos de recessão, abandonam a universidade por acharem que não vão encontrar emprego, acabam arruinando toda possibilidade de uma boa colocação.

Um acto que resulta de uma profecia que se auto cumpre cria primeiro as condições para que se dê o sucesso esperado ou temido, e, nesse sentido, termina por criar a realidade.

O acto resultante não se pode dizer nem verdadeiro nem falso, posto que a situação criada cria junto a verdade consequente.[28]

Podem-se multiplicar exemplos.
O Estado cria impostos sobre taxados, prevendo a sonegação;
sentindo-se lesados, cidadãos honestos sentem-se impelidos a sonegar.

A escola reprime a prática da cola, mas o faz com tanta convicção que torna a cola uma prática usual.

Thomas Szasz e outros críticos da psiquiatria estudaram as muitas formas de construção da loucura e de loucos pelo próprio aparelho psiquiátrico.

Profecias que se auto cumprem são ficções involuntárias.
O padrão já se encontrava em Édipo-Rei, de Sófocles:
cada tentativa do personagem de fugir da profecia o fazia aproximar-se de cumprir a profecia.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 29, 2013 10:12 pm

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Todavia, o destino não precisa nos esmagar, como na tragédia, se tornamos minimamente conscientes as nossas ficções e percebemos um pouco melhor a parte que nos cabe na construção da realidade e, em consequência, do destino.

A postura céptica não desresponsabiliza, mas todo o contrário, já que se faz necessário pensar e agir não a partir de cómodos princípios gerais e totalizantes, mas sim caso a caso, situação por situação.

Renato Lessa, no livro Agonia, aposta e cepticismo, relaciona estreitamente cepticismo a responsabilidade, entendendo que a relevância da indagação e do trabalho filosófico no campo das ciências sociais se dá a partir de um imperativo duplo:
“não desconhecer os fenómenos e objectos da vida ordinária e percebê-los, ao mesmo tempo, como itens contingentes de apenas um dos muitos mundos possíveis”.[29]

Enquanto o primeiro imperativo impede um relativismo de tipo “total” no qual nada possua qualquer valor de referência, o segundo imperativo impede que se reifiquem os fenómenos considerados a partir no primeiro momento.

De facto, a defesa de um relativismo de tipo absoluta é contraditória nos próprios termos, logo, não pode ser formulada sem paradoxo:
se o relativismo é verdadeiro, o próprio relativismo não pode ser verdadeiro.

Na verdade, toda verdade exige algum tipo de medida que, por sua vez, exige algum tipo de acordo prévio.

Mesmo um desacordo, para ser compreendido e equacionado como tal, requer um acordo em algum momento anterior:
ainda que Fulano considere que está frio e Sicrano entenda que está quente, ambos partem de ideias convergentes do que seja “quente” e “frio”, sem o que não poderiam sequer começar a discordar.

Quando absolutizam a própria relatividade, os relativistas se tornam dogmáticos.
Sextus Empiricus já distinguira as atitudes dos absolutistas e dos relativistas da atitude dos cépticos.

Enquanto absolutistas crêem que a verdade seja una e encouraçada, relativistas a afirmam inexistente ou múltipla:
ambos incorrem em erro. Diante da proliferação dessas certezas suspeitas, cabe ao céptico investigar.

O céptico não se pode contentar com a afirmação fácil de que todas as verdades seriam iguais ou equivalentes.[30]

O cronista Luís Fernando Veríssimo procura manter a esperança na política reservando-se o direito a um suporte céptico constante, o que ele defende recorrendo a uma metáfora médica, a do Isordil.

Lamentando o fuzilamento de oposicionistas na ilha de Cuba, o cronista lembra o terror que se seguiu à Revolução Francesa e as decepções sofridas pelos idealistas do mundo todo com os massacres stalinistas.

Conclui que a solução, para quem quer continuar a crer sem se desiludir demais, está em se engajar nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, mas mantendo sempre à mão, como um Isordil, o cepticismo.[31]

Na mesma linha, Alberto Dines critica a euforia do Presidente da República ao final de 2003, afirmando que “o tempo da incerteza não passou, ao contrário do que afiança o chefe da nação no seu papel de Grande Narrador”.

A marca de nosso tempo relaciona-se com o fim das certezas:
indispensável duvidar, disputar, desconfiar, debater.

No seu entender, “cepticismo é o remédio do momento”, retomando o carácter terapêutico da postura céptica.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 29, 2013 10:12 pm

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Os verdadeiramente sábios devem recusar a omnisciência:
“se o Lula salvacionista que ganhou as eleições for substituído por um Lula mais sensível e mais perplexo, ganha o Lula e ganhamos nós”.[32]

O filósofo Hilton Japiassu lembra que no curso da História o dogmatismo – a convicção de deter a verdade associada à necessidade de impô-la aos outros – matou mais do que qualquer outra causa.

Matou-se em nome de Deus, de Alá ou de princípios nazistas.

É preciso recordar Kant, que considerava o dogmatismo a marcha “que segue a razão pura sem ter feito uma crítica prévia de seu poder próprio”.[33]

Nada é tão perigoso quanto a certeza de ter razão, nada causa tanta destruição quanto a obsessão de uma verdade considerada absoluta.

Todos os crimes da história são consequência de algum fanatismo, todos os massacres cometidos por virtude, sempre em nome da religião verdadeira, ou do nacionalismo legítimo, ou da ideologia mais justa.[34]

Não é acidental que movimentos pautados em alegações absolutistas e universalistas respondam às condições de emergência e às imprevisíveis aflições humanas com seu dogmatismo auto-refutador.

Em consequência, acabam respondendo às perspectivas divergentes como se fossem produto de naturezas humanas desviantes, o que logo os autoriza a promoverem cismas, purgações e supressões – no limite, assassinatos e genocídios.[35]

Japiassu raciocina na direcção do cepticismo ao admitir não existir possibilidade de uma realização completa da objectividade porque, se houvesse, nos depararíamos com o caso absurdo, esse sim, de um sujeito objectivo.

A ciência então “perderia sua razão de ser, pois sendo um processo de produção de conhecimentos, perderia sua processualidade e, por conseguinte, deixaria de ser ciência, posto já possuir a verdade em sua objectividade pura e simples”.[36]

Nesse caso, a objectividade pode ser definida como uma ilusão do sujeito de que a objectividade exista sem ele.[37]

A ciência não pode ser objectiva, no sentido absoluto do termo, porque o sujeito que descreve o fenómeno é parte do fenómeno descrito, isto é, o sujeito é condição do objecto.

De acordo com Karl Popper, a provisoriedade das teorias é precisamente a condição de sua cientificidade.

O epistemólogo substituiu o ideal positivista da verificabilidade pela ousada concepção da refutabilidade, ou falsificabilidade.

A preocupação dos cientistas diante de uma teoria deve residir menos na sua sustentação do que na busca corajosa dos pontos negativos.

Contrariamente ao horóscopo que funciona sempre, porque suas previsões são vagas o bastante para se encaixarem em qualquer situação, uma teoria científica não apenas pode não funcionar, como em determinado momento deve não funcionar.

A refutabilidade popperiana é uma espécie de antídoto da teoria científica, impedindo essa teoria de transformar-se em uma retórica fechada em si própria.[38]

A refutação como método, para Japiassu, nega a possibilidade da verdade absoluta, mas isso “não significa negar absolutamente a verdade, o que seria outro tipo de posição dogmática ou de obscurantismo”.[39]

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Out 29, 2013 10:12 pm

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O filósofo considera que “o mundo só é pensado porque nós o pensamos.
Não sabemos se seria pensado nele mesmo. O que podemos saber é que é possível torná-lo inteligível pela Razão”.[40]

Cita a respeito o monge-detective de O nome da rosa, romance de Umberto Eco:
“somente a fé responde a tudo, mas evitando as questões.
Se queres viver o caminho da razão, precisarás aceitar os pontos de interrogação”.
[41]

Para pôr um ponto final nessa conversa, ainda que provisoriamente, poderíamos dizer que a balança da razão contém doses equivalentes de fé (na realidade) e de dúvida (quanto à realidade).

Se essa balança se desequilibra para o lado da fé, o cientificismo ou o fanatismo se levantam para tomar a razão de assalto;
se a balança se desequilibra para o lado da dúvida, a razão fica tomada pela convicção de que os outros e a realidade ou não existem, ou estão contra nós.

Não podemos dispensar certa fé na realidade, mas desde que não se transforme esta fé em algum tipo de certeza dogmática.

Ou seja:
a própria fé, num dos pratos da balança da razão, deve ser alvo da dúvida, no outro prato.

Voltemos ao quadro de René Magritte, “A ponte de Heráclito”.

Na imagem, a ponte real como que se interrompe no ar, ao tocar na névoa, não conduzindo quem a atravesse, ou quem esteja admirando o quadro, a lugar algum.
O reflexo da ponte na água do rio, porém, mostra uma ponte completa, atravessando o rio.

Temos certeza da imagem da ponte, mas não temos qualquer certeza da ponte ela mesma.

Temos certeza do reflexo, do sintoma, da consequência, mas não podemos ter qualquer certeza da coisa que provoca o reflexo, da doença que gera o sintoma, da causa que produz a consequência.

Atravessamos a ponte no mesmo passo em que a inventamos no ar, vendo-a abaixo de nós, no reflexo da água ou da arte.

Sabemos que somos aquele que atravessa a ponte, mas fora disso não sabemos o que somos ou quem somos.

O cogito se mostra insuficiente, nos obrigando a lembrar da sentença cartesiana completa:
dubito ergo sum, vel quod item est, cogito ergo sum – em francês, je doute donc j’existe, ou ce qui est la même chose: je pense donc j’existe; em português, “duvido logo existo, ou o que é o mesmo, penso logo existo”.[42]

Sou porque penso, mas penso porque duvido, uma vez que pensar é simplesmente igual a duvidar.

O terreno do céptico é o terreno da dúvida, onde também se encontra, bem à vontade, a ficção, que por princípio põe sob suspeita a própria realidade.

O céptico, então, permanece nesse terreno da ficção, na posição em que o retratou o haikai de Millôr Fernandes:

O céptico sábio sorri só com um lábio.[43]

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