LUZ ESPÍRITA
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ALA 18 - Wilson Frungilo Júnior

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:16 am

ALA 18
Wilson Frungilo Júnior

ÍNDICE

I - O personagem
II - Vídeo
III - O livreto
IV - Visões
V - Ala18
VI - Loucura
VII - Tratamento
VIII - Revelação
IX - Espiritismo
X - Mãe Sunta
XI - A reunião
XII - Acusado
XIII - Celestino
XIV - "Luar de Prata"
XV - Final
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:16 am

I - O PERSONAGEM
Caros leitores,
As páginas, a seguir, descrevem acontecimentos dos quais fui protagonista e que ocasionaram mudanças radicais em minha vida, tanto na maneira de viver, como na maneira de pensar e encarar tudo o que acontece comigo ou ao meu redor.
Vivi momentos e descobrimentos, os quais nunca havia imaginado existirem e sei que a maioria das pessoas desconhecem.
Momentos onde passei por toda a gama de sensações, como desejo de liberdade, medo, anseios, tristezas, algumas alegrias, fraternidade, desespero, esperança e revelações, as quais, fizeram-me rever todos os conceitos que, até então, acreditava ou mal conhecia.
Na realidade, não sou escritor e, sim, advogado, apesar de gostar muito de escrever, o que faço sempre, e pensei, até, em passar, ao leitor, esses factos todos, através de um tipo de laudo pormenorizado, que é a minha especialidade; mas uma simples descrição do que me aconteceu não seria tão fiel como a que eu procurei colocar em forma de uma história, onde pude relatar, no devido tempo em que ocorriam, situações que envolviam outros personagens e que tomei conhecimento mais tarde.
O leitor me localizará como o personagem Roberto, que é o meu próprio nome.
Na verdade, também não mudei os nomes dos demais personagens, pois que todos merecem ser citados, por todo o bem que fizeram e continuam realizando após tudo o que passaram.
Espero, com essa história, descrita na terceira pessoa do singular, onde, muitas vezes, intrometo-me, na primeira pessoa, conversando com o leitor, poder levar, às pessoas, elucidações que, tenho certeza, poderão, em muito, ajudá-las em suas vidas, onde tantos acontecimentos infelizes e nefastos poderão ser evitados se conhecerem as causas e, principalmente, a maneira de poder controlar impulsos outros que tanto colaboram para isso.
Devo confessar que nunca tive muitos problemas na vida tais como financeiros, profissionais e, até mesmo, de saúde, pois, sempre fui muito saudável, desde criança.
Nasci no seio de uma família muito abastada, herdando de meus falecidos pais, juntamente com mais dois irmãos, mais velhos, uma poderosa rede de magazines espalhados por toda a capital do Estado e em algumas cidades do interior.
Hoje, meus irmãos gerenciam, de maneira bastante eficiente, e lucrativa, todo esse conglomerado de lojas, do qual participo com um terço do capital, recebendo periodicamente, um bom ganho que me permitiria viver tranquilamente se, porventura, eu não trabalhasse.
Mas, trabalho bastante.
Sempre tive uma grande vocação para o Direito, para o trabalho de fazer prevalecer a Justiça e de tentar fazer com que o certo prevaleça sobre o errado, defendendo desde os mais abastados até os mais humildes e, dos mais complicados aos mais simples casos jurídicos.
É certo que recebi um bom "empurrão" de meu pai para que fosse possível eu começar a trabalhar como advogado em diversos tipos de casos e situações para pequenos e grandes empresários, trabalho, esse, que realizo, juntamente com Jorge, um outro advogado, em um escritório muito bem montado no centro da cidade e, com o qual recebo, também, um razoável rendimento.
Papai sempre investiu, e muito, em sua rede de lojas, junto a grandes atacadistas e, quando percebeu que eu possuía vocação para o Direito e, mesmo, uma certa dose de grande força de vontade em trabalhar nesse mister, não teve muita dificuldade em apresentar-me aos seus amigos, ajeitando, aos poucos, trabalhos bem remunerados para que eu começasse a minha carreira.
Sei o quanto é difícil o começo nessa profissão, mas, apesar de não ter tido quase que nenhuma dificuldade, soube demonstrar, com muito trabalho, o valor de meus conhecimentos e, em pouco tempo, passei a ser muito respeitado nesse campo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:17 am

Iniciei muito moço, ainda, pois contava com apenas vinte e três anos quando, após haver cursado uma Faculdade, adentrei para esse mundo maravilhoso e, muitas vezes, triste da Justiça humana.
Passaram-se, já, quinze anos e muita coisa boa aconteceu em minha vida.
Aos vinte e quatro, conheci uma criatura maravilhosa - Débora - que sempre soube ser, para mim, um incentivo e, confesso, a melhor crítica de meus trabalhos, pois que, apesar de não influir, directamente, neles, sempre foi interessada ouvinte dos casos que eu defendia.
E, foi com ela que me casei aos vinte e sete anos, instalando-nos em confortável casa num dos bairros mais calmos da metrópole.
Momentos de muita felicidade vivemos os dois, juntamente com nossa filhinha Raquel, hoje, com seis anos.
Aliás, nossas famílias sempre viveram em harmonia, tanto nos tempos de nossos pais, como, actualmente, onde o relacionamento entre meus irmãos e suas esposas e nossa pequena família, chega a ser motivo de admiração para todos que nos conhecem.
Também, nunca tive horário nem lugar certo para trabalhar, pois costumo trazer serviços para casa, onde, às vezes, fico vários dias estudando determinado assunto e, outros tantos, em cartórios e fóruns da cidade.
Mas o meu hobby predilecto é perambular pela cidade, nos fins de semana, filmando as pessoas e acontecimentos do dia-a-dia, com uma câmara de videoteipe, com a qual mantenho certa afinidade e desenvoltura, escolhendo, sempre, ângulos que mostrem os factos como eles, realmente, estão ocorrendo, sem exagerar muito no uso de seus recursos; enfim, minhas filmagens, apesar de não serem uma obra de arte, possuem o que se pode chamar de fiel arquivo de imagens por mim escolhidas para perpetuar certos lances da vida humana.
Estou, sempre, usando-a, quer gravando momentos alegres de minha família, principalmente de minha filhinha, em comemorações de seus aniversários, festinhas da escola, passeios, como, também, cenas do quotidiano, boas ou más, as quais, às vezes, utilizo como tema pois, como já disse, gosto de escrever artigos, apesar de nunca ter tido coragem de mostrá-los a ninguém.
E, foi com uma câmara dessas, na mão, que tudo começou a desencadear-se como uma avalanche de acontecimentos e fatos que eu não conseguia entender e que levou-me a passar por momentos que, se hoje, agradeço ter ocorrido comigo, afigurou-se-me, na época, um pesadelo que parecia nunca mais ter fim.
E a história que passo, agora, a narrar, vai mostrar, aos leitores, como, eu, Roberto, aprendi verdades que, apesar de já serem conhecidas e já terem sido transmitidas por outras pessoas, colocam-me na obrigação de ajudá-las nesse mister de divulgação de acontecimentos que, desconhecidos para um grande número de pessoas, existem e influenciam, sobremaneira, suas vidas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:17 am

II - VÍDEO
No quarto do casal, Débora, ainda deitada, espreguiça-se, dolentemente, enquanto Roberto termina de abotoar a camisa e colocar uma leve blusa de lã.
Apanha, então, a pequena filmadora de videoteipe, examina se está carregada com fita e aproxima-se da esposa para despedir-se, beijando-Ihe, carinhosamente, a testa.
- Durma, mais um pouco, querida.
Perto de meio-dia virei buscá-la para almoçarmos naquele restaurante de que você tanto gosta.
- No Recanto, Roberto?
Adoro ir lá com você.
- Eu também gosto muito daquele lugar.
Além do que, a comida é muito boa.
- Deliciosa! Sabe, Roberto... já estou com saudades de Raquel.
- Também estou.
Mas, tenho certeza de que ela deve estar se divertindo muito na casa de Ciro.
Você sabe como meu irmão e Dalva a adoram.
- Sei e estou tranquila mas... é que ficar longe de Raquel... parece uma eternidade...
- Amanhã, ela estará de volta.
Pense, apenas, que ela está se divertindo muito.
Se quiser, pode telefonar-lhe.
- Mas, é para já.
Riem com a exagerada saudade que já estão sentindo pela filha que, na noite anterior havia ido para a casa de Ciro, irmão de Roberto, apenas para passar o domingo em companhia do casal.
- Você vai levar a câmara?
- vou. Quero aproveitar a minha ida ao apartamento de Jorge, onde devo apanhar uns papéis, para filmar uma passeata organizada pelo pessoal da Vila Mendes.
Talvez eu consiga alguma boa matéria com eles.
Acho muito importante essa reivindicação que estão organizando, pois, afinal de contas, não acho justo o que está acontecendo com eles.
- É... a Justina me contou...
- Ela, como todos os demais, mora lá, pagou, com sacrifício, o terreno, onde, com mais sacrifício, ainda, construiu sua casa e, agora, querem privá-los do direito de ter um lugar para morar e viver.
Tenham a santa paciência, não é mesmo?
Eu vou escrever sobre isso.
Talvez, agora, tenha coragem de publicar, alguma coisa, na Revista dos Advogados.
- Acho que você faz muito bem.
Já tomou seu café?
- Ainda não. Será que a Justina já preparou?
- Não sei...
Oh, mas que cabeça!
Dei folga para ela neste domingo. vou descer e preparar para você.
- Não precisa, querida.
Como alguma coisa no centro da cidade.
- Não, não. vou preparar e vamos tomá-lo juntos.
Débora veste um robe e desce, abraçada, com Roberto até a cozinha.
Após preparar o café e colocar a mesa, Débora senta-se à frente do marido.
- E o Jorge, como está ele?
Faz tempo que não o vejo, e Deise, também, nunca mais a vi.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:17 am

- O Jorge está cada dia mais problemático, com um humor horrível, nervoso, agitado.
Em sua mente, tudo o que lhe acontece não está bom, por melhor que seja e põe a culpa em todo mundo.
Nunca está contente com nada.
Percebo que ele está à beira de uma estafa.
Sinto pena da Deise que vive, constantemente, desculpando-o perante as outras pessoas.
- com você, também, ele tem se mostrado agressivo?
- Comigo não.
Mas, também, devo ser a única pessoa em quem ele não descarrega seu pessimismo e de quem ele aceita alguns conselhos ou sugestões.
Por algumas vezes ele chegou a confessar-me que percebe estar errado em agir dessa forma, mas que não consegue se controlar, mesmo tomando, diariamente, calmantes fortíssimos que já não lhe fazem mais efeito algum.
- E por que ele não procura um analista, ou coisa desse tipo?
- Ele já tentou muitas sessões de análise mas não lhe adiantou nada.
Diz não acreditar mais nesse tipo de tratamento.
Tentei convencê-lo que isso leva tempo, que muitas pessoas chegam a frequentar essas sessões por mais de um ano ou até mais. Jorge é muito teimoso.
Você sabe que ele nunca tirou férias, não é?
- Falando em férias, Roberto... - brinca, sorrindo, Débora.
- Eu lhe prometi e vou cumprir.
Em setembro, vamos viajar e você está incumbida de organizar tudo.
Os peruanos terão o privilégio de admirar a mulher mais linda da face deste planeta.
Débora, radiante, dá volta à mesa, enlaça o marido pelo pescoço, beijando-o, demoradamente e exclama:
- Machu Pichu!...
Sempre sonhei em conhecer esse lugar.
Estou tão contente, meu bem.
Vamos filmar tudo e tirar muitas fotos.
E Raquel?
- Vamos levá-la.
Já está na hora dela começara conhecer lugares e pessoas diferentes.
Também acho que...
Ei, quem está aí? - pergunta Roberto olhando em direcção do vitrô da sala de jantar, onde viu um vulto, parecendo espreitá-los.
Desvencilha-se do abraço da esposa e corre até a porta envidraçada, abrindo-a e saindo para um dos jardins da casa, onde existe um gramado com piscina, algumas poucas árvores e um vestuário, que Roberto adentra com certo cuidado, pois o vulto que ele vira somente poderia ter se escondido ali.
Mas procura em vão.
- Não é possível, Débora.
Ele, praticamente, desapareceu.
- De quem você está falando, Roberto?
Não estou entendendo...
- Vi alguém nos espreitando por este vitrô e, agora, esse alguém sumiu, diluiu-se no ar.
- Bem... se, realmente, havia alguém aqui, ele pode ter pulado o muro em direcção a algum dos nossos vizinhos.
Vamos entrar, fechar a porta e telefonar para o Luís e o Nelson, para que eles tomem cuidado.
Acho, até, que deveríamos chamar a polícia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:17 am

Considero muito perigoso o que você fez, saindo correndo para o jardim.
E se fosse algum assaltante e estivesse armado?
- Você tem razão.
Roberto liga para os vizinhos e para a Central de Polícia, onde possui um comandante amigo.
- Fique tranquilo, Roberto.
Já mandei passar um rádio para a patrulha que estiver mais próxima de sua casa.
Dentro de alguns minutos estarão por aí.
- Eu lhe agradeço, Raul.
Sei que, nessas alturas, o larápio já deve estar longe, mas, sempre é bom se prevenir.
Em minha casa garanto que ele não está, mas temo pelos vizinhos.
- Você tem toda razão e, além do mais, a polícia é para isso.
Um bom domingo para você.
- Para você, também, Raul e, muito obrigado.
Desejo-lhe que esse seu plantão de hoje seja bastante calmo.
- Tomara, pois o dia está apenas começando.
Até qualquer dia, e disponha.
- Agradeço-lhe mais uma vez.
Até logo. - despede-se Roberto, desligando o telefone.
- Pronto, querida.
Está tudo sob controle.
Fique com a casa fechada e telefone para Raquel.
Diga-lhe que, à noite, iremos buscá-la.
Eu vou sair, pois, senão, ficará tarde.
- Você vai com o carro?
- vou. Depois de meio-dia, virei apanhá-la.
Débora acompanha o marido até a porta e tranca-a.
Roberto sempre sentiu prazer em dirigir pela cidade, apesar do grande movimento do trânsito e dos constantes congestionamentos, quase que diários.
Gosta de observar as pessoas indo e vindo, cada qual com seus problemas, suas alegrias, suas tristezas e isso, quase sempre, lhe fornece precioso material para escrever alguma coisa.
Ama essa cidade grande, apesar de todos os seus desajustes, de todas as suas enchentes, da sujeira que existe pelas ruas, de seus criminosos, que são tantos, pois considera que tudo isso é superado pelo povo trabalhador e sofrido que encontra, a todo instante, sempre apressado e carregando, sobre os ombros, toda a grandeza dessa metrópole.
E essa análise, essas observações, essa colecta de material, para seus artigos que, talvez, um dia, tenha a coragem de tornar público, é realizada com muita facilidade por Roberto, pois que ele não tem a pressa desse povo, não tem horários rígidos a cumprir.
Sua missão, nos fins de semana, é apenas a de observar e escrever.
E realiza-se com seu passatempo, apesar de dar-lhe a real e devida importância.
Jorge não estava em seu apartamento e Roberto foi encontrá-lo, informado por Deise, sua esposa, na banca de jornais da esquina.
- Você passou em casa, Roberto?
- Acabei de vir de lá.
Atrasei-me um pouco porque houve um pequeno problema antes de sair.
Roberto conta, então, a Jorge tudo o que aconteceu após o café da manhã.
- Esta cidade não tem mais jeito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:18 am

Acho que a polícia e a justiça são muito brandas com esses marginais.
Deveria haver pena de morte para essa corja de bandidos.
Você não acha?
- Sempre discutimos isso e você sabe qual a minha opinião a esse respeito.
Não acredito que a pena de morte vá resolver esse problema.
Além do mais, você já pensou se uma pessoa for condenada injustamente?
E o mais importante, Jorge, é que acho que não temos o direito de tirar a vida de ninguém.
Somente Deus tem esse direito.
Jorge dá uma sonora gargalhada.
- Você está falando como um padre, Roberto.
Você, por acaso, segue alguma religião?
Que eu saiba você não tem religião nenhuma.
- Posso não ir à igreja e conhecer muito pouco sobre religiões; aliás, nunca liguei para isso; mas acredito numa força superior, sei lá, um Deus.
Nisso eu acredito.
- Pois eu acho que você está falando como um velho - retruca Jorge, rindo.
Cuidado, heim?
Roberto acaba caindo na risada, também.
- Você veio buscar aqueles documentos, não é?
Olhe, desculpe-me, mas esqueci de trazê-los para casa.
Poderia ter telefonado, avisando-o, mas esta minha memória... você a conhece... mas, amanhã, darei um jeito de mandar entregá-los.
Telefone para mim, por favor.
- Não tem problema, não, Jorge.
Eu ia passar por aqui, de qualquer maneira.
- Onde você está indo com essa câmara?
- Você sabe que ando sempre com ela a tiracolo e quero aproveitar para filmar e colher alguns dados sobre uma passeata de protesto de pessoas da Vila Mendes.
Minha empregada, a Justina, mora lá e acho que devo escrever alguma coisa a respeito e, talvez, até publicar.
Você deve estar a par do que está acontecendo com aquele pequeno bairro.
- Não só estou, como acho que você não deveria se meter com essa história.
Aquele bairro vai ter que desaparecer pois seus moradores compraram os terrenos de uma firma fantasma que não detinha a propriedade do lugar e, agora, o verdadeiro proprietário apareceu e quer instalar, lá, uma grande metalúrgica.
E esse homem tem força, poder e muita Influência.
Além do que, ele se propôs, espontaneamente, a Indemnizar aquelas famílias e ele nem precisa fazer isso.
- Que indemnização, Jorge?
O que ele vai pagar não dá para comprar nem um terreno, quanto mais para construir outra casa.
- Mas, Roberto, ele não precisaria pagar nada.
Está fazendo isso porque quer.
- Tudo bem, Jorge, tudo bem.
Vamos deixá-lo de lado, mas, alguém tem que fazer alguma coisa.
- Fazer o quê?
- Sei lá... o que sei é que não é possível pessoas serem burladas, dessa maneira, gastar tudo o que economizaram durante uma vida inteira e ver de repente, tudo destruído, tudo perdido.
Não dá para se conformar com isso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:18 am

- Olhe lá o que você vai escrever, Roberto.
Muito cuidado.
- Não se preocupe, Jorge.
Sempre pondero muito antes de tomar uma decisão.
- Sei disso.
- Bem, vou andando.
- Onde vai acontecer esse protesto?
- Aqui, perto, defronte de um edifício onde a imobiliária fantasma tinha seus escritórios.
- vou com você.
Não tenho nada para fazer, mesmo.
- Óptimo, Jorge.
Caminham, então, em direcção ao local onde deverá haver o movimento de protesto.
Vão, animadamente, conversando, quando, já, praticamente, na metade do caminho, atravessando uma pequena praça, vêem um grande movimento na rua e na calçada defronte de um grande edifício de apartamentos.
Uma considerável multidão e alguns carros da polícia e corpo de bombeiros tomam aquele local, onde todos olham para cima, mais precisamente para uma das sacadas, no sexto andar, onde um homem, em pé sobre o parapeito, de um pequeno prédio de oito, ameaça atirar-se numa visível tentativa de suicídio.
Roberto, imediatamente, apanha a câmara e começa a filmar. com a tele-objectiva, procura focalizar, ao máximo, aquela figura humana que gesticula e grita palavras ininteligíveis, não parecendo dar ouvidos ao que um policial tenta lhe dizer, através de um megafone.
Bombeiros preparam-se para esperar a queda do homem com uma grande lona presa a um aro na esperança de amortecer-lhe a queda.
Roberto percebe, através de sua lente, que o homem gesticula para que os bombeiros saiam de baixo.
Não sendo atendido, o homem começa a caminhar sobre o parapeito procurando um outro lugar para atirar-se.
Como o prédio está localizado numa esquina, o quase suicida chega bem no canto e fica olhando para baixo.
Nesse momento, Roberto percebe, pela expressão fisionómica do homem, que ele parece estar prestes a desistir de seu intento.
E não só ele percebe isso, pois, as pessoas, na calçada, já estão dizendo umas para as outras que ele não irá mais pular e começam a gritar:
- Volte para dentro. Desista.
Volte para dentro.
Volte. Volte. Volte - e tudo leva a crer que, realmente, a multidão será atendida, pois, o infeliz começa a descer uma das pernas para dentro da sacada, numa visível desistência de seu intento.
As pessoas começam a respirar mais aliviadas.
É quando, Roberto, através de sua câmara, vê surgir, por detrás, uma figura que ele não consegue ver direito.
Tenta olhar sem a câmara.
Volta, novamente, os olhos para o visor.
E tudo acontece muito rápido.
A figura que apareceu de repente, parecendo meio acinzentada, aproxima-se do homem e passa seu braço por sobre o seu ombro, parecendo conversar com ele.
- Está salvo - pensa Roberto.
Mas eis que o infeliz, parecendo estimulado, novamente, por aquele outro, volta a subir no parapeito e, com sua visível ajuda, atira-se, despencando, vertiginosamente, em direcção à calçada e à morte.
Roberto acompanha a queda e volta a focalizar a sacada, agora, vazia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:18 am

- Ninguém vai prender o homem? - pergunta a Jorge, percebendo que a polícia não se movimenta em direcção ao prédio.
- Que homem, Roberto?
O homem está morto.
- O homem que empurrou aquele infeliz lá de cima.
Eu vi com minha câmara.
- Eu não vi nada.
- Segure aqui.
Roberto, então, passa a câmara para Jorge e sai correndo em direcção aos policiais, sem tirar os olhos da saída do prédio, temendo que o assassino fuja.
Percebe que algumas pessoas estão entrando mas não vê ninguém saindo.
- Sargento, por favor.
Talvez ninguém tenha percebido, mas alguém empurrou aquele homem.
Eu vi tudo e ele ainda deve estar lá no prédio.
- Você viu o quê?!
Alguém empurrou o homem?
- Sim. Tenho certeza.
Olhe, sou advogado e estava filmando tudo.
A câmara está lá com meu amigo.
Posso provar.
Mas não percam tempo.
O assassino pode fugir.
- Eu não vi nada e não tirei os olhos daquela sacada, mas se o senhor diz que até filmou tudo, vamos averiguar.
Imediatamente, o policial, que parece ser o superior ali, arregimenta todos os outros e, com ordens rápidas adentram o prédio, deixando vigias na porta do edifício.
Roberto fica na calçada, aguardando e, ao mesmo tempo dando explicações e relatando o que viu a muitas outras pessoas que juram não ter visto nada, mas que parecem acreditar no que ele fala, principalmente, pelo facto dele ser advogado e ter filmado tudo.
Enquanto isso, os policiais percorrem todos os andares do prédio, batendo de porta em porta para certificarem-se de que nenhum estranho refugiou-se em um dos apartamentos, já que, no do suicida, não havia ninguém.
Após quarenta minutos de exaustiva busca, a polícia convoca os moradores para reunirem-se no saguão do prédio.
Quando todos ali já estão, forma-se uma verdadeira confusão.
Muitos dos moradores haviam estado fora de seus apartamentos, na calçada ou na praça, na hora do suicídio e já haviam voltado para dentro.
Outros, acompanharam, bem de perto, o acontecido, pois eram vizinhos com sacadas contíguas e não se conformam, agora, quando um dos policiais começa a anotar os nomes de todos como eventuais suspeitos do pretenso crime, já que não encontraram ninguém estranho no prédio e diz que eles serão chamados a depor.
- Mas isso é o cúmulo.
Nunca, em toda minha vida entrei em uma delegacia - reclama um dos moradores.
- Eu estou sabendo o que aconteceu - diz outro.
Foi um advogado quem inventou toda essa história.
Só que ninguém viu o homem ser empurrado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Fev 01, 2020 11:18 am

Sargento, o senhor vai acreditar num homem que nem conhece?
Garanto que ele nem está mais lá fora.
Tenho certeza de que ele criou toda essa confusão e agora deve estar se divertindo com tudo isto.
- Também acho.
Você tem toda a razão - aparta um senhor de meia-idade.
Pergunte a todos que estavam lá.
Não houve crime algum.
O homem pulou porque quis.
O senhor, mesmo, seu guarda, foi testemunha disso.
- Vamos sair e arrancar a verdade da boca desse cara safado.
Vamos, pessoal - grita um sujeito atarracado.
- Calma, minha gente - pede o policial.
Não quero saber de mais encrenca por hoje.
- Ele não disse que filmou tudo?
Vamos assistir ao filme.
Ele, realmente, filmou o que aconteceu, seu guarda?
Ele estava com uma filmadora nas mãos? - pergunta uma velha.
- Bem... realmente... não.
Ele disse que havia deixado a câmara com um amigo.
- Vocês estão vendo? - replica o grandalhão.
Garanto que nem filmadora ele tinha.
Não vamos perder mais tempo.
Vamos lá, verificar o que ele tem a nos dizer, apesar que tenho certeza de que ele já foi embora.
Nesse momento, o Sargento, percebendo o que poderia acontecer, caso o advogado tivesse mentido, ordena aos guardas que não deixem ninguém sair do prédio, prometendo aos moradores que irá, lá fora, assistir ao filme e que, assim que chegar a uma conclusão, virá ter, novamente, com eles.
- E teremos que ficar, aqui, presos? - berra um senhor magrinho.
- O senhor não tem o direito de nos aprisionar aqui - complementa um outro.
Não somos assassinos e, muito menos suspeitos.
Não posso admitir uma coisa dessas.
Nós vamos sair e agora, mesmo.
Vamos sair, pessoal.
Quero ver a polícia nos segurar.
Somos cidadãos livres e ninguém, neste mundo, pode nos trancafiar em nossa própria casa.
O policial, percebendo, mais uma vez, a gravidade da situação e o perigo, até, de um linchamento, tal a força dos ânimos exaltados, age rapidamente, ordenando aos policiais que tentem conter, ao máximo, a saída daquelas pessoas e sai do prédio, à procura do advogado.
Roberto está no mesmo lugar onde conversou com o policial e este corre em sua direcção.
- Moço, você está numa tremenda enrascada.
Venha comigo e rápido.
- Não estou entendendo.
- Não discuta e acompanhe-me.
- Mas... o meu amigo... a minha câmara...
- Esqueça o seu amigo, agora, vamos logo.
Roberto não consegue entender nada do que está acontecendo.
Procura por Jorge que, ainda com a sua câmara, havia ido comprar cigarros num bar, e vê quando este vem caminhando em sua direcção, rapidamente, mas não dá tempo para que ele o alcance.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:15 pm

O amigo, à distância, também não consegue entender porque Roberto entra, rapidamente, com o policial, numa viatura e que abandona o local, com a sirene ligada.
Olha em direcção ao prédio e vê que policiais tentam evitar que as pessoas, que estão lá dentro, saiam para fora.
É, então, que percebe que algo de muito grave deve ter acontecido e resolve sair logo dali e procurar por Roberto.
Pela experiência de anos de profissão, sabe a que Delegacia pertence aquela viatura e, entrando em um táxi, para lá se dirige.
- O que está acontecendo ali, na praça, moço? - pergunta-lhe o taxista.
- Alguém se jogou de um prédio - responde Jorge.
- Mundo louco esse em que vivemos, não, moço?
Jorge não responde.
Fica pensativo, tentando descobrir o que foi que aconteceu.
Realmente, pensa, não tirei os olhos daquela sacada e não vi nenhuma outra pessoa.
Será que o Roberto viu?
Bem ele estava com uma tele-objectiva.
Pode ser...
Mas... porque ele saiu correndo com o policial?
Roberto faz todo o trajecto até a Central de Polícia, bastante surpreso, confuso e, até mesmo, apreensivo.
O Sargento não lhe dirige uma única palavra, recebendo, apenas, uma resposta evasiva quando lhe pergunta o porquê de tudo aquilo.
- O que está acontecendo, Sargento?
Por que o senhor obrigou-me a entrar nesta viatura e, para onde estamos indo?
Fui, apenas, um espectador e a única coisa que fiz foi delatar um crime a que assisti.
Pareceu-me que ninguém tomou conhecimento de que aquele homem foi empurrado.
- Olhe, moço, espero que esteja dizendo a verdade e que, realmente, tenha visto tudo o que disse ter visto, porque, se não, o senhor vai acabar se metendo numa grande trapalhada.
- Mas que trapalhada?
O Sargento silencia e não diz mais nada.
- Por favor, Sargento, sou um advogado bastante íntegro e, até, bastante conhecido e acho que tenho direito a alguma explicação para tudo isso.
- Não se preocupe, moço, pois terá todas as explicações quando chegarmos à Central de Polícia, mas acredito que será o senhor quem terá que dar muitas e muitas outras explicações.
- Estamos indo para a Central?
- Sim. Para a Central de Polícia.
Roberto respira mais aliviado, pois, o comandante daquele Destacamento é Raul, seu amigo, com quem, inclusive, havia conversado de manhã, no episódio que ocorrera em sua casa.
Finalmente, chegam ao destino e Roberto acompanha o Sargento até o interior do prédio, onde o movimento, já é grande naquela hora da manhã.
Enorme burburinho agita o local, com diversos policiais andando de lá para cá, enquanto um bom número de pessoas parecem falar ao mesmo tempo, cada qual querendo reclamar de alguma coisa ou de algum acontecimento, tentando convencer aos atendentes que seus problemas são mais graves que os dos outros que ali estão.
- Sargento, gostaria de falar com o Comandante Raul.
Ele me conhece bastante e, até, somos amigos.
- Você é amigo do Comandante Raul?
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ALA 18 - Wilson Frungilo Júnior Empty Re: ALA 18 - Wilson Frungilo Júnior

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:15 pm

- Sim. Pode ter certeza disso e garanto que ele vai ficar muito contente em me receber.
- Qual é o problema, Sargento? - pergunta um dos policiais que tomam depoimento das pessoas.
- Nenhum, Cabo.
Estamos procurando o Raul.
- Ele está em sua sala.
O senhor quer que o chame?
- Não, obrigado.
Vamos até lá.
Por aqui, senhor.
Roberto acompanha o Sargento por alguns corredores e sobe uma escada até o segundo andar.
Já conhece bem o caminho, pois já esteve ali, algumas vezes.
Aprendeu a gostar de Raul e, até, a admirá-lo, pois, além de ser um homem forte da Polícia daquela capital, não se deixou amoldar, como tantos outros, pela forja da violência e do embrutecimento que aquele serviço empresta aos homens.
Enérgico, mas muito humano, sempre teve uma palavra de alento e de esperança para com todos que passaram por sob sua autoridade.
E, se não bastasse isso, conseguiu fazer com que seus homens lhe seguissem esses seus passos, tornando essa Corporação Central, um exemplo e constante alvo de elogios por todos os governantes e autoridades que conhecem o seu trabalho.
Há quem diga, até, que Raul possui tanta influência junto a diversos políticos de renome e de outras tantas autoridades militares, que seu nome já foi, por diversas vezes, cogitado para ocupar altos cargos dentro de sua especialidade.
- Com licença, Comandante.
- À vontade, Sargento.
Pode entrar.
- Comandante, este senhor...
- Roberto!
Entre, meu amigo.
Vamos entrando. Sente-se.
Obrigado, Sargento por acompanhá-lo.
Pode sair.
- É que...
- Acho que o Sargento tem algo a lhe dizer, Comandante.
Raul olha para os dois, sem nada entender.
- Fique, então, Sargento e feche a porta. Sentem-se,
- Bem, Comandante...
Eu não sabia que vocês eram amigos, e...
- Fale, Sargento.
Qual o problema?
- Sargento, - pede Roberto - fale o que aconteceu que eu, também, estou muito curioso.
- Tudo bem.
Eu fui atender a um chamado... um caso de tentativa de suicídio... um homem queria atirar-se de um prédio, como, de facto, atirou-se, mesmo e...
O Sargento, conta, então, tudo o que ocorrera naquela manhã, desde quando fora chamado até o facto de ter de tirar Roberto do local, numa tentativa de protegê-lo contra os ânimos exaltados dos moradores do Edifício, deixando Jorge, e o amigo de Roberto, para trás.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:16 pm

- Vocês vasculharam todo o prédio?
- Tudo, Comandante.
Posso garantir-lhe que, se, realmente, houve alguém que empurrou aquele infeliz daquela sacada, esse alguém só pode ser um dos moradores.
Fizemos uma investigação completa e bem feita e, lá, não havia ninguém que não fosse do prédio.
O Comandante fica pensativo, por alguns momentos.
- Você diz que filmou tudo, Roberto?
- Sim. Filmei todo o acontecimento e posso garantir que havia uma outra pessoa naquela sacada e que foi a causadora da morte daquele homem.
- E como era essa pessoa?
- Bem... não sei precisar direito.
Na verdade, parecia mais um vulto...
Foi interessante.
Não consegui ver bem, mas, tenho certeza de que o filme irá mostrar com mais detalhe e precisão.
- E a filmadora você deixou com o Jorge?
- Sim. Entreguei a ele quando corri em direcção ao Sargento.
O Comandante meneia a cabeça, afirmativamente.
- Escuta, Roberto.
O Jorge não viu nada?
- Ele disse que não.
- Ninguém viu nada, Sargento?
- Como já disse, houve pessoas, moradoras do prédio, que estavam até mais próximas, em outras sacadas e nada viram.
Pelo menos, disseram nada ter visto.
- Muito estranho...
- Tenho certeza absoluta do que vi, Comandante.
Além de ter filmado a cena, cheguei a olhar, a olho nu, para a sacada e, realmente, vi uma outra pessoa.
Voltei os olhos para o visor da câmara e lá estava ela.
Tenho certeza absoluta.
- Muito bem.
Vamos tentar, então, localizar o Jorge e a sua câmara.
Você, mesmo, não quer tentar ligar para ele? - pergunta para Roberto.
- Pode usar este telefone.
- Obrigado.
Roberto liga, então para a casa de Jorge mas este, ainda, não voltou.
Deise promete pedir a ele que entre em contacto com Central.
- Aconteceu alguma coisa, Roberto?
Você parece nervoso.
- Não aconteceu nada, não, Deise.
Coisas de advogado.
Até logo e obrigado.
- Tchau e não se esqueça de dar lembranças à Débora.
Roberto desliga o telefone.
- Onde será que Jorge se meteu?
- Nesse momento, um interfone toca na sala.
- Alô - atende o Sargento.
Quem?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:16 pm

Um tal de Jorge pior falar com o Comandante?
Mande-o subir.
- Jorge está aqui?
- Deve ser - responde o Sargento.
- Se ele estiver com a minha câmara, vocês verão que é verdade.
Alguns instantes depois, batem à porta e Jorge entra com a filmadora de Roberto.
- Jorge, como vai? - cumprimenta-o Raul, levantando.
Indicando-lhe uma cadeira.
- Sente-se.
- Alguém pode explicar-me o que está acontecendo?
O Sargento, aqui, praticamente, arrastou Roberto para cá.
Vim o mais depressa que pude.
- Quis, apenas, tirá-lo de uma encrenca.
- Encrenca? Não estou entendendo.
- Você já vai entender tudo - explica Roberto.
Dê-me a câmara.
Você tem algum aparelho de vídeo, Raul?
- Tenho, sim.
Vamos até a sala de instrução.
Por favor, acompanhem-me.
Os quatro sobem, então para o quarto andar e, um técnico, daquele departamento, coloca o cartucho no aparelho que, acoplado a um projector passa a projectar a cena num grande telão.
Assistem, então, ao dramático acontecimento.
Quando o homem parece ter desistido de seu intento suicida, naquele momento em que começa a descer do parapeito da sacada, Roberto se adianta:
- É aí que vai aparecer a figura que o empurra.
Mas, para pasmo de Roberto, ninguém aparece.
Nem figura estranha, nem vulto, ninguém.
E o homem, completamente sozinho naquela sacada, parece mudar de ideia e, voltando para cima do parapeito, atira-se no espaço vazio.
A câmara acompanha sua queda com a maestria de quem possui muita intimidade com ela para, em seguida tornar a subir filmando o local totalmente vazio!
- Eu não entendo...
Não é possível.
Tenho certeza absoluta, meu Deus!
- Roberto...
- Por favor, projecte, novamente.
O técnico olha para Raul e este endereça-lhe um sinal afirmativo.
A cena volta a ocupar o telão e, mais uma vez, nada acontece.
Não aparece ninguém, além do infeliz suicida.
- Vamos voltar, todos a minha sala - pede Raul.
Por favor.
Roberto, sentado ante o Comandante, o Sargento e o amigo Jorge, não sabe o que dizer mais para tentar convencê-los do que, realmente, vira.
Fica prostrado e extremamente apalermado diante de algo que, além de não entender, não tem a mínima ideia do que os amigos estão pensando dele, nesse momento.
E é Raul quem vem em seu socorro.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:16 pm

- Sabe, Roberto, sei como deve estar se sentindo e quero dizer-lhe que acredito, piamente, em você.
Sei que não aconteceu nada do que nos relatou, pois a maior prova está na filmagem que fez, mas, creio, realmente, quando você diz que viu algo.
Essas coisas acontecem com quase todo o mundo.
Agora, se você quer uma explicação, não sei lhe dar.
Poderia, ser, talvez, uma sujeira na lente ou no visor de sua máquina.
Você mesmo disse que não dava para definir, direito, a tal pessoa.
Pode ser, também um pouco de cansaço mental.
Você, pelo que sei, trabalha bastante e é muito preocupado com a sua profissão.
- Também penso assim - apoia Jorge.
- Eu mesmo...
- Escutem, meus amigos.
Não quero insistir, mas... tenho certeza do que vi.
Sei que lhes parece impossível e sei, também, que procuram alguma forma de me desculparem por todo esse transtorno, mas...
Roberto não sabe mais o que falar e apenas meneia a cabeça num claro gesto de desalento e desânimo.
- Roberto, - insiste Raul - por que você não tira umas férias?
- Acho uma óptima ideia - opina Jorge.
Você sabe que pode tirar uns dias quando quiser.
Tenho certeza de que os clientes que você assessora concordarão em que fique parado por alguns dias e, quanto ao serviço do escritório, pode deixar que eu vou dar conta, direitinho.
Na verdade, não tem nada de muito urgente.
- Por favor, não se preocupem assim.
Sinto-me muito bem.
Talvez, tenha visto, mesmo... sei lá... pode ter sido algum reflexo ou, até, alguma sombra... alguma mancha no fundo do olho que, naquele preciso ângulo tenha aparentado alguma outra coisa...
- Bem, pessoal, tenho que voltar ao local do sinistro - interrompe o Sargento.
Preciso dar algumas explicações para os moradores daquele prédio.
Se é que já não o destruíram - complementa, em tom de brincadeira, numa tentativa de quebrar o gelo daquele ambiente.
- Eu sinto muito por tudo, Sargento, mas...
- Não se preocupe, moço.
Já vi tanta coisa nessa minha carreira, que nada mais me afecta.
E, além do mais, acredito em suas palavras e na sua honestidade.
Não se preocupe mais e procure esquecer tudo isso.
- Obrigado pela sua compreensão e, por favor, peça desculpas, em meu nome àqueles moradores.
- Pode ficar tranquilo.
Quando eu disser a eles que ninguém é mais suspeito de nada e que não precisam prestar depoimento algum, tenho certeza de que se esquecerão bem rápido de tudo.
Até mais.
- Até qualquer dia.
Bem, Raul, também tenho que ir embora e... sinceramente... não sei mais o que dizer...
- Pois eu sei.
Quero que prometa que irá nos visitar qualquer dia.
Eu e Verónica ficaríamos muito felizes em receber você, Débora e sua filhinha.
E não se esqueça:
férias, rapaz. Férias.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:17 pm

- Vou pensar sobre isso e, quanto à visita, pode ter certeza de que, qualquer dia destes, iremos visitá-los.
Mais uma vez, desculpe-me e espero que tenha um bom dia, aliás, um bom plantão.
Roberto estende a mão para Raul e este, dando a volta à mesa dá-lhe um terno abraço de amigo.
- Você vem comigo, Jorge?
- Não, Roberto. vou ficar mais um pouco.
Quero aproveitar a oportunidade para conversar um pouco com Raul.
E, não se esqueça de ligar-me, amanhã, lembrando-me daqueles documentos.
Roberto retira-se, lentamente, da Central de Polícia.
Tudo lhe parece estranho.
Uma pequena dor nas têmporas o Incomoda e sente-se, profundamente mal com tudo aquilo que lhe aconteceu.
Ainda tem plena convicção de que viu alguém mais naquela sacada, apesar de, agora, não saber precisar bem o que, realmente, enxergou.
O que será que Jorge e Raul estariam pensando dele, nesse momento?
Será que acreditam nele?
Lembra-se, então, do compromisso com Débora, porém, antes de olhar para seu relógio, procura adivinhar que horas seriam.
Não tem a mínima ideia.
Tenta fazer um cálculo mental, mas não consegue.
Só, então olha para o pulso.
Meu Deus! - pensa.
Já são dez hora e trinta minutos.
Corre para o meio-fio e apanha o primeiro táxi que aparece, dirigindo-se para o estacionamento, onde havia deixado seu automóvel.
Afoito, o caminho até sua casa e, para seu espanto, e por raríssima vez, completamente nervoso com o trânsito que lhe parecia, apesar de pequeno, atrapalhar, sobremaneira, sua pequena viagem.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:17 pm

III - O LIVRETO
- O que há com você, Roberto? - pergunta-lhe, Débora, Insistente, pela terceira vez.
- Que é isso, meu bem?
Já lhe disse que não tenho nada.
- Você me parece tão esquisito.
Chegou em casa, lívido,
despenteado, com uma fisionomia estranha e foi, imediatamente tomar um banho.
Você nunca toma banho a essa hora do dia.
E, mesmo, agora... ora, Roberto, eu conheço você...
Vamos, meu bem, diga-me o que está acontecendo.
- Sinceramente, Débora, estou bem.
Apenas senti-me um pouco suado e resolvi banhar-me antes de irmos almoçar, está pronta?
- Tudo bem, não vou perguntar mais.
Mas, que você está iitinho, isso está.
Já estou pronta, sim. Podemos ir.
Então, vamos.
Durante todo o trajecto, Débora fica observando o marido completamente calado e alheio a tudo, limita-se a dirigir.
Parece estar com a mente bem distante dali.
Começa a Se preocupar, mas não diz nada, pois sabe que aquela não é a hora apropriada para perguntas.
Finalmente, chegam ao restaurante, onde o proprietário os recebe, efusivamente, pois já conhece o casal.
- É um grande prazer, para a casa, recebê-los, novamente.
Já faz algum tempo que não nos honram com suas presenças.
- Obrigado, Rafa, você está sendo muito gentil.
Será que aquela mesa, lá no fundo, está desocupada?
- Está, sim, e sei, muito bem, qual.
Sigam-me, por favor.
Roberto e Débora sentam-se e abrem o cardápio.
- Roberto, hoje saio do sério.
Que venha esta bacalhoada, que é a maior delícia do mundo!
- Pois, vamos sair do sério, juntos, e comer até não podermos quase nos levantar da cadeira.
Riem. Débora sente-se, então, mais aliviada em perceber que o marido já está mais descontraído, apesar de ter a certeza de que algo devia ter-lhe acontecido de manhã.
- Você assistiu ao ato de protesto da Vila Mendes?
- Não. Não assisti.
- O que aconteceu?
- Bem... é que encontrei o Jorge e tivemos que... olha, Débora, você sabe que eu nunca menti para você e não é agora que vou fazê-lo... deixe para lá... vamos almoçar, passear e eu lhe prometo que, qualquer hora, eu lhe conto o que aconteceu. Não foi nada de mais e nem de importante, mas, gostaria de não falar nisso, hoje.
- Tudo bem...
- E Raquel?
Você telefonou para ela?
- Puxa, pensei que você não fosse perguntar.
Telefonei, sim. Ela está radiante.
Disse que vai passear no zoológico, mas que está com muitas saudades.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:17 pm

- À noite, iremos buscá-la.
- Você ainda não tocou em seu prato...
- Oh, sim.
É que quando estou com você à minha frente, eu me esqueço de tudo o mais.
- Você é o galanteador mais mentiroso que já conheci.
- Ah! Acabou de confessar que já conheceu outros.
- Ora, Roberto, foi força de expressão.
Você sabe, muito bem, que só conheci você.
Riem. Roberto, agora, sente-se um pouco mais calmo e chega a esquecer-se do que lhe acontecera, voltando a ser como sempre foi: alegre e eterno admirador apaixonado da esposa.
Quanto terminam de almoçar, passeiam por todo o parque, onde se encontra localizado o restaurante.
Caminham, de mãos dadas, durante horas, conversando sobre todos os assuntos que lhes vêm à cabeça.
Sempre gostaram de fazer limo, pois que lhes relaxavam e acalmavam o corpo e o espírito, principalmente, depois de uma semana de muito trabalho e preocupações.
À tardezinha, voltam para casa, tomam um lanche e dirigem-se até a casa de Ciro para buscar Raquel.
- Mamãe! Papai! - grita a menina, quanto vê os pais que entram na casa dos tios e corre em direcção a eles, abraçando-os, pelas pernas.
Roberto ergue a menina e carrega-a no colo, enquanto Débora beija-lhe, repetidas vezes, o alegre e corado rostinho.
Estava morrendo de saudades da menina mais bonita do mundo! - brinca Roberto.
- Divertiu-se bastante, filhinha? - pergunta-lhe Débora.
- Tio Ciro, tia Dalva e eu fomos ver os bichos.
Onde vocês foram ver os bichos?
No zo... zo... onde mesmo, tia?
Todos riem.
- No zoológico, Raquel.
Ela treinou tanto para falar essa palavra para vocês e, agora, acabou esquecendo.
Mais risadas, inclusive da menina que, sentindo-se alvo das atenções, desvencilha-se do pai e faz festas com todos.
- Mas não fiquem parados aí.
Vamos sentar um pouco na sala.
- Só por alguns momentos, irmão - diz Roberto.
Já está tarde e estamos um pouco cansados.
Vocês, também, devem estar e amanhã é segunda-feira.
- Que nada, Roberto.
Ainda é cedo.
Sente-se, um pouco. vou buscar alguma coisa para comermos.
- Não precisa se incomodar, Ciro.
- Pois, faço questão.
O que você prefere?
Não precisa me dizer, vou buscar o que você mais gosta.
- Está bem.
Nesse momento, enquanto Ciro dirige-se inicialmente até o bar, em um canto da enorme sala de sua residência,
Roberto passeia pelo cómodo e passa defronte da porta interna da biblioteca do irmão.
Esta encontra-se ligeiramente aberta e Roberto vê alguém, lá dentro, sentado à escrivaninha e olhando, fixamente para ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:17 pm

Trata-se de um homem de rosto bastante desfigurado.
Roberto assusta-se e violento arrepio percorre-lhe todo o corpo, enquanto um zumbido lhe toma os ouvidos, parecendo atordoar-lhe os sentidos.
Sua visão modifica-se e passa a ver somente aquele ser horrendo, sentado, pois, à sua volta, tudo escurece.
Essa visão acontece de maneira rapidíssima.
No mesmo momento em que vê a grotesca figura, pergunta ao irmão que já está ao seu lado oferecendo-lhe um prato com castanhas de caju:
- Quem é esse homem, Ciro?
Volta-se, então, para mostrar-lhe de quem está falando e, qual a sua surpresa em não ver mais ninguém à escrivaninha.
Tudo já voltou ao normal.
Abre, violentamente, a porta do escritório e este está vazio.
- De quem você está falando, Roberto?
- Do homem.
Um senhor meio desfigurado que estava sentado, bem ali.
- Não estou vendo ninguém.
Entram, então, os dois, no cómodo e fazem uma ligeira verificação no ambiente.
Olham atrás da porta aberta e abrem todas as portas de um armário embutido, mas, nada encontram.
Nesse instante, entram Débora e Dalva.
- O que vocês estão fazendo, escondidos aqui? - pergunta a esposa de Ciro.
- Roberto parece ter visto alguém neste cómodo, mas acho que foi impressão dele, pois, revistamos tudo e não há ninguém.
Débora olha preocupada para o marido pois, naquela manhã, também dissera ter visto alguém no jardim de sua casa, e prefere não dizer nada para o cunhado.
Roberto encontra o olhar da esposa e parece ler em seus olhos o que ela está pensando.
Sente um estranho medo apossar-se dele.
É a terceira vez, num mesmo dia, que parece ver pessoas, figuras, ou sabe lá o quê, que ninguém vê e que, em verdade, não devem, mesmo, existir.
- É... - tenta desculpar-se, Roberto.
Deve ter sido impressão minha.
- Impressão? - pergunta-lhe Ciro.
Como, impressão?
Você tivesse visto algum vulto ou, mesmo, uma sombra, não ter sido uma impressão, mas você disse ter visto uma Pessoa desfigurada.
Deixe-me examinar a janela.
Pode ser tenha sido arrombada e quem estava aí, fugiu.
Deve ter sido impressão minha, Ciro, não se preocupe.
Mas o irmão não lhe dá ouvidos e examina, atentamente, a sala do escritório.
- Não. Ela não foi arrombada, pois, não há sinal algum.
Você costuma ver coisas, meu irmão?
Roberto, ainda não refeito de tudo que lhe acontecera naquele dia, não consegue disfarçar a sua contrariedade em ter de responder perguntas.
Volta para a sala, senta-se em uma poltrona e fica em silêncio.
Todos vão atrás dele.
- O que está acontecendo? - insiste Ciro.
Você ficou bravo com alguma coisa?
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Fev 02, 2020 12:18 pm

- Não, em absoluto.
Apenas estou muito cansado e um pouco chateado com essa história toda.
- Que história? - pergunta-lhe Débora, desta vez, de maneira, até certo ponto, firme e autoritária.
- Olhe, pessoal, eu não estou muito bem, hoje.
Quero que vocês me desculpem, mas preciso ir embora, descansar um pouco.
Qualquer dia destes, a gente volta e, aí, então, poderei, talvez, falar sobre o assunto.
Agora, não dá.
Desculpe-me Ciro.
Você, também, Dalva.
Vamos, Débora.
Pegue Raquel e vamos para casa.
- Você tem certeza de que está bem? - pergunta-lhe Dalva, preocupada com todo esse mistério e, principalmente, com a maneira de Roberto falar e movimentar-se, parecendo estar carregando o mundo nas costas.
- Podem ficar tranquilos.
Uma boa noite de sono e ficarei em perfeito estado.
Acho que ando trabalhando demais.
- Pode ser.
Por que não tira uma férias? - pede-lhe Ciro.
- Pois é o que pretendo fazer.
Hoje, de manhã, lá na Central de Polícia, Raul e Jorge disseram-me a mesma coisa.
- Central de Polícia? - pergunta-lhe Débora.
O que você estava fazendo numa Central de Polícia?
- Roberto é um advogado, Débora, e tem que estar em muitos lugares, inclusive numa Central de Polícia.
- Eu sei... mas é que Roberto nunca esteve na Polícia na parte da manhã.
- Como você sabe disso? - interrompe Dalva.
Anda espionando seu marido? - brinca.
- Não e nunca farei isso, pois não acho certo.
Mas você ainda não respondeu à minha pergunta.
- Por favor, Débora.
Depois a gente conversa.
- Roberto tem razão - interrompe Ciro, percebendo que o irmão, realmente, não quer tocar em algum assunto na frente deles.
- Também acredito que uma boa noite de sono vai deixá-lo novo em folha.
Mas quero que me prometam que se algo não estiver bem... se houver qualquer problema, que me telefonarão.
Vocês sabem que podem contar comigo a qualquer hora e para o que der e vier.
O mesmo afirmo em nome do Luís Alberto, Irmãos são para isso mesmo.
Além do que, amamos muito vocês.
- Muito obrigado, Ciro - agradece Débora.
Você e Dalva sempre foram muito atenciosos e nós os amamos muito, também.
Luís Alberto e Adriana, também, sempre tão solícitos e amáveis...
- Não se preocupe, irmão.
Estou muito bem.
Amanhã eu lhe telefono.
- Agradeceria muito se você fizesse isso.
Ficaria bem mais tranquilo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 03, 2020 12:31 pm

Depois das despedidas e da festa que os tios fazem com a menina, Roberto e Débora voltam para casa.
Durante todo o trajecto não trocam uma única palavra.
Roberto, por estar, ainda, bastante chocado e, na verdade, por nem mesmo saber o que lhe está acontecendo.
Débora, porque não quer conversar sobre o assunto perto da filha.
Ambos, limitam-se, a conversar e brincar, às vezes, com Raquel que nem chega a corresponder-lhes, pois o sono já começa a tomar-lho conta, fazendo com que chegue em casa já dormindo.
Depois de um bom banho, o casal acomoda-se num banco, no jardim da casa, onde, de manhã, Roberto disse ter visto alguém.
E é Débora quem inicia a conversa.
- E, então, amor, não vai dizer-me o que está acontecendo?
- Sabe, Débora, realmente, algo de muito estranho ocorreu comigo, hoje, três vezes.
- E o que foi?
- Antes, gostaria de lhe fazer uma pergunta.
Você conversou com nossos vizinhos sobre a pessoa que vi, hoje de manhã?
- Sim. Conversei com a Aparecida e com Lídia.
- E a polícia esteve na casa deles?
- Esteve e não encontraram ninguém.
Vasculharam tudo.
- Sim...
- Agora, o mais estranho é que ambos seus maridos, nessa hora, estavam em seus jardins.
Luís estava limpando sua churrasqueira e Nelson, regando as plantas.
Disseram ser impossível alguém ter pulado o muro sem que eles tivessem visto e você que sabe que só há duas maneiras de uma pessoa sair do nosso jardim: pulando o muro da direita ou o da esquerda.
Roberto fica pensativo durante alguns minutos e, então, conta à esposa tudo o que aconteceu naquele dia.
Débora ouve-o, entre atenta e assustada.
Não sabe o que dizer ao marido, pois não vê explicações plausíveis mas, mesmo assim, tenta acalmá-lo, ao notar a grande preocupação que começa a tomar conta dele.
Nunca, em toda a sua vida, viu-o desse jeito.
Percebeu que um dos cantos de sua boca tremia enquanto ele lhe narrava aqueles factos.
- Roberto, acho que você não deve preocupar-se muito.
Talvez nunca mais lhe aconteça essas coisas.
Sei lá... pode
Ser que isso seja algo passageiro, fruto de um pouco de cansaço.
Você tem trabalhado demais.
- Também espero, Débora.
Sabe, eu não tenho medo... como dizer...? não penso em nada de paranormal, de fantástico, de coisas do outro mundo.
Você sabe que não acredito nessas histórias.
Não acredito, mesmo.
O que eu temo... você lembra quando fiz um trabalho jurídico sobre aquele hospício... como era mesmo o nome dele?
- Roberto, pelo amor de Deus, nem fale nesse tipo de coisa.
Sei o que está querendo dizer.
Você é normal, amor.
Uma pessoa normal, equilibrada que nunca teve um só momento de descontrole emocional.
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ALA 18 - Wilson Frungilo Júnior Empty Re: ALA 18 - Wilson Frungilo Júnior

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 03, 2020 12:31 pm

Por favor, não pense nisso.
Débora abraça, carinhosamente, o marido, numa tentativa de tirar-lhe esse tipo de preocupação, esses pensamentos, com quais ela nem quer ouvir falar, pois assistiu às filmagens que roberto fez sobre aquele manicómio e lembra-se de ter se sentido muito mal, vendo todas aquelas pessoas, internadas.
- Deixe-me continuar.
Muitos daqueles internos, Débora, estavam lá porque pensavam ver e até conversavam com seres que só existiam em suas mentes.
Vi, em muitos deles, expressões de intenso medo, expressões de imenso terror.
São coisas da mente e ninguém está livre de contrair algo dessa natureza.
Soube que, muitos, ali, começaram a ter essas visões depois de adultos.
É com isso que me preocupo.
- Não pense dessa maneira, Roberto.
Pelo amor de Deus, tire isso de sua cabeça.
Olhe, eu tenho certeza de que nunca mais vai lhe acontecer nada.
Você vai ver.
Isso é passageiro.
Roberto, percebendo que a esposa já está a ponto de prorromper em lágrimas, procura aceitar o que ela tenta convencer.
- É, talvez você tenha razão.
Quem sabe, nunca mais aconteça essas coisas comigo.
Afinal de contas, como você disse, acho que, realmente, sou uma pessoa bastante equilibrada.
- Mas é lógico.
Esse tipo de doença, geralmente, acontecem com tipos que, mentalmente, já possuem problemas, talvez, com tendência desde a infância.
Mas, você, sempre foi uma pessoa normal, satisfeita com a vida, alegre.
Tire essas bobagens da cabeça, amor.
- Tudo bem... tudo bem.
Então vamos dormir que já é tarde.
- Vamos, sim.
Nós dois estamos precisando de um bom descanso.
O casal deita mas, nenhum dos dois consegue conciliar o sono e fingem que estão dormindo, a fim de tentar convencer, um ao outro, que não estão nem um pouco preocupados.
Somente por volta das três e meia da manhã é que Roberto consegue dormir, porém, tem um sono agitado, sonhando com temas confusos e perturbadores que o fazem debater-se muito.
No dia seguinte, após telefonar para Jorge, como este havia lhe pedido, dirige-se para uma das dependências da casa, onde está instalado o seu escritório.
É ali que, quase todas as manhãs, ele trabalha ou redige artigos, a maioria tratando de temas, os mais variados, que colecciona, em pastas.
Talvez, um dia, mostre a alguém e, quem sabe, os publique.
Nessa manhã, porém, não consegue concatenar as ideias, tão preocupado se encontra com o que ocorreu no dia anterior e, principalmente, por algo que nunca chegou a revelar a Débora e que, agora, parece martelar-lhe a mente:
possui dois antecedentes consanguíneos, já falecidos, que sofriam de distúrbios mentais e que, periodicamente eram internados, em estado gravíssimo, devido a ataques alucinatórios.
Tenta desviar a ideia desses factos, procurando agarrar-se àquilo que Débora havia lhe falado na noite anterior, ou seja, de que, talvez, isso nunca mais lhe aconteça.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 03, 2020 12:31 pm

Respira fundo, numa tentativa de assimilar essa ideia, levantando os olhos em direcção à grande estante de livros e pastas que tem à sua frente, deparando-se com a lombada de um pequeno livreto que lhe tinha sido dado, gentilmente, pelo director do manicómio que havia visitado e filmado.
Não se lembra mais do que lera, na época e, a contragosto, resolve lê-lo mais uma vez.
Quem sabe, seus sintomas não se enquadrem em nenhuma das Instruções ali contidas, visto que esse pequeno manual é destinado ao corpo de enfermeiros daquela casa de saúde.
Apanha-o e começa a procurar o que mais lhe interessa, fazendo anotações em um bloco de papel, do que julga mais Importante.
"Psicoses-esquizofrénicas", "Esquizofrenia loucura para os leigos", "Schisein (dividir) e phren (mente ou personalidade) divisão mental", "Factores hereditários já constatados por estudiosos", "Doença que, no começo se caracteriza por surtos intervalados e que, com o tempo, faz com que esses Intervalos diminuam", "Alucinações visuais são características da doença, assim como, alucinações auditivas ou de outros sentidos".
Roberto sente um choque quando lê sobre factores hereditários.
Lembra-se de que seus pais sempre falavam sobre um tio e uma tia que tiveram esse tipo de mal e que diziam ver pessoas ou, até mesmo, figuras horrendas que lhes ameaçavam.
-Preciso tirar essas ideias da cabeça.
Tenho certeza de que nunca mais isso acontecerá comigo - pensa, numa tentativa de se convencer, enquanto abre uma das gavetas da escrivaninha e esconde, ali, sob uns papéis, o livreto.
Sabe que não conseguirá trabalhar e sai da sala, dirigindo-se para a cozinha onde Débora dá instruções a Justina quanto ao almoço.
- bom dia, seu Roberto.
- bom dia, Justina. Tudo bem?
- Quase, seu Roberto.
Enquanto não despejarem a gente, lá das casas...
- Você acha que deu algum resultado o protesto que vocês fizeram, ontem?
- Não sei, não.
Apareceram, lá, alguns representantes do proprietário dos terrenos e pareceu-me que tentarão dar um jeito na situação.
Pelo menos, prometeram encontrar algum outro local para a construção da fábrica, mas, pelo que entendi, teremos que indemnizar o homem.
- Indemnizar, Justina?
Mas... não era ele quem iria indemnizá-los?
- Não sei direito.
Meu marido é que sabe explicar tudo direitinho.
- Se precisarem de alguma coisa, é só falar que eu e a Débora tentaremos dar um jeito.
- Eu lhe agradeço muito, seu Roberto.
Mas, tomara que tudo dê certo.
- Vai dar, sim.
E, no que precisar, nós lhe ajudaremos.
Débora, vou sair um pouco, mas volto para o almoço.
- Você vai até o escritório?
- Não. vou, apenas, caminhar um pouco.
Preciso arejar, um pouco, a mente.
Débora acompanha o marido até a porta.
- Você está bem, Roberto?
- Estou. Apenas quero colocar meus pensamentos em ordem e, para isso, nada como uma boa caminhada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 03, 2020 12:31 pm

- Você tem razão.
Mas, por favor, não se preocupe demais com o que lhe aconteceu.
Você é uma pessoa maravilhosa, equilibrada.
Nunca mais vai tornar a acontecer.
Tenho certeza absoluta disso.
- Também acho. Pode acreditar.
Roberto resolve, então, nesse momento, nunca mais falar nada a Débora sobre esse assunto, pois percebe que ela está por demais preocupada com ele.
De repente, volta-se.
- Oh, estou esquecendo minha carteira.
Deixei-a em cima da minha escrivaninha.
Aguarde um momento, querida. vou apanhá-la.
Roberto, então, dirige-se ao escritório e apanha a carteira.
Quando está saindo, ouve dois estalidos que parecem vir de sua estante.
Volta-se e, grande calafrio percorre-lhe a espinha dorsal, enquanto que uma grande estupefacção toma-lhe conta dos pensamentos.
O livreto que havia guardado na gaveta encontra-se, novamente, dentre os livros, numa das prateleiras.
- Meu Deus!
Tenho absoluta certeza de que o guardei aqui pensa, enquanto abre a gaveta da escrivaninha e ergue alguns papéis.
Nesse momento, outro choque lhe acomete os sentidos.
O livreto encontra-se, ali, no mesmo lugar que colocara.
Volta o olhar para a estante e já não o vê mais lá.
Deixa-se cair, pesadamente, sobre a cadeira e fica olhando, apalermado e sem forças, para a frente.
Profundo abatimento cai sobre si, tornando-o imóvel, fazendo com que não consiga mover um só músculo do corpo.
Somente com profundo esforço é que consegue apoiar-se na escrivaninha e colocar a cabeça sobre as mãos.
- Não.
Isto não está acontecendo comigo.
Não pode... - não termina a frase.
Uma risada ecoa na sala.
É Débora quem ri.
Roberto dá um pulo da cadeira sai correndo em direcção a ela, agarrando-a pelos braços e sacudindo-a.
- De que você está rindo?! - berra com ela que, sem entender o que está acontecendo, assusta-se, olhando, atemorizada espantada, para o marido.
Está rindo de mim? - começa a gritar.
- Roberto, por favor, você está me machucando.
Olhe filha ali.
Pelo amor de Deus.
O que está acontecendo?
Papai, pare!
Não bata na mamãe!
Roberto solta a esposa e volta-se para Raquel.
A menina, com os olhos arregalados, corre em direcção de Débora e abraça-a.
- Fala para o papai parar, mamãe.
Eu tenho medo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Fev 03, 2020 12:32 pm

- Calma, filhinha, está tudo bem, não é, Roberto?
- Este não sabe o que dizer, pois percebe o que acabou de fazer.
Sabe que, logicamente, a esposa estava rindo de alguma coisa relacionada com a menina.
- Venha aqui com o papai, filhinha - pede roberto, sentando-se em uma poltrona.
Raquel, com o olhar assustado, percorre o pai e a mãe diversas vezes, sem saber o que fazer.
Débora não sabe o aconteceu com o marido, mas percebe que ele também tremendamente abismado com o que fez e resolve ajudar.
- Vai lá com o papai, Raquel.
Ele estava só brincando
- Papai estava só brincando? - pergunta, enquanto devagar, vai se aproximando dele.
- É claro, meu amorzinho.
Papai estava brincando a mamãe.
A menina corre e o abraça, beijando-lhe o rosto.
- Não brinca mais, assim, não, que eu tenho medo.
- Desculpe-me, filhinha.
Papai não queria assustar.
E prometo não brincar mais desse jeito.
Você ia agora?
- Acordei.
- Então, vai pedir para a Justina preparar o seu!
- Vai, filhinha - pede-lhe Débora.
Raquel sai da sala em direcção à cozinha, deixando a sós.
Roberto abaixa a cabeça e não sabe o que dizer compreende que algo de anormal aconteceu com ele e percebe a difícil situação em que ele se encontra.
Por isso, aproxima-se, senta-se no braço da poltrona e, trazendo sua cabeça até seu colo, acaricia-lhe os cabelos.
- Perdoe-me, Débora.
Não sei que dizer.
- O que aconteceu quando você estava lá no escritório?
Tenho certeza de que algo de anormal ocorreu.
- Não sei o que está acontecendo comigo. Eu...
Pela primeira vez em toda a sua vida de casada, Débora vê o marido com a voz embargada e lágrimas nos olhos.
- Meu Deus, como você está nervoso.
O que é isso?
O que está acontecendo com você?
- Estou com muito medo, Débora.
- Medo do quê?
O que aconteceu, lá no escritório?
Você teve mais alguma visão?
- Não sei... já nem tenho mais certeza...
Depois que acontece, nem mesmo sei se aconteceu, realmente.
- E o que aconteceu?
Por que ficou tão bravo comigo?
Roberto, narra, então, o episódio do livreto, desde o momento em que o guardou na gaveta.
Não se contém e fala-lhe, também, sobre o que leu a respeito da hereditariedade e dos parentes que tinha com esse tipo de problema.
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