LUZ ESPÍRITA
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NADA É PARA SEMPRE - Hermes / Maurício de Castro

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 18, 2017 8:35 pm

Chamei-o por causa de algo mais importante: nossa filha Patrícia.
Em breve não estarei mais aqui para cuidar dela e orientá-la; quero que a leve para a casa de minha mãe.
Ele ruborizou:
— Isso nunca!
Patrícia vai continuar sempre comigo.
Não vejo por que levá-la para a casa de dona Augusta.
Tenho meios de educá-la e o farei!
— Faça o que estou pedindo.
Talvez seja meu último pedido a você.
Sei que não tem condições de cuidar dela.
E moça, é jovem, e precisa de alguém que a oriente.
Você leva vida imoral e nunca está em casa.
Raramente larga Brasília para vir aqui.
Faça o que estou pedindo; não hesite!
Ele pensou em discordar, mas resolveu ceder, prometendo a ela o que no fundo sabia que não iria cumprir.
Jamais deixaria sua filha nas mãos de uma mulher como Augusta Camargo.
Resolveu contemporizar.
Beijou o rosto dela e desceu.
Patrícia não estava mais à mesa, todavia teve uma desagradável surpresa ao passar pela sala:
dona Augusta o esperava.
— Quero falar-lhe.
Não subi porque não queria interromper sua conversa com minha filha.
Não sei de que se tratava, mas espero que não a tenha feito sofrer mais do que até o momento.
Ele foi seco:
— Diga o que quer, pois estou muito atrasado.
— Como sempre!
Só não estava atrasado quando tirou minha filha do lar onde era amada e valorizada para trazê-la a uma vida de sofrimentos e traições.
Mas tenha certeza de que não viverá feliz um dia sequer de sua vida.
Terá a mim como inimiga, e não lhe darei paz enquanto viver!
Ele esfregou as mãos tentando conter a raiva.
— Diga o que a senhora quer, pois preciso sair. Seja breve.
A velha e elegante senhora prosseguiu:
— Quero que contrate mais uma empregada para esta casa.
Desejo que minha filha tenha companhia mais horas durante o dia.
Conversei com o doutor Eduardo e ele garantiu que ela está em fase terminal.
Não quero que nada lhe falte nesses últimos momentos de vida.
Quero, pelo menos, que morra com dignidade.
— Empregada? Mas esta casa já tem tantas!
A Eulália cuida muito bem dela; não lhe deixa faltar nada.
— Eulália é da cozinha.
Estou me referindo a uma exclusiva.
Para ser mais directa, quero que contrate uma enfermeira para cuidar de minha filha.
Nesse instante o espírito Romário, que estava atento a toda a conversa, soprou nos ouvidos de Humberto:
— Concorde com ela, não discuta.
Nós o ajudaremos a encontrar a enfermeira.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 18, 2017 8:36 pm

Humberto resolveu concordar:
— Está certo.
A senhora pode providenciar isso para mim?
Não tenho tempo para essas coisas.
Estou indo resolver alguns problemas e depois sigo para Brasília.
O companheiro de Romário influenciou Augusta, que logo protestou:
— Nada disso, você é que deverá encontrar a enfermeira desta vez. Já fiz muito por esta casa.
Todas as empregadas daqui foram escolhidas por mim e minha filha, agora é a sua vez.
Contrate e traga essa enfermeira ainda hoje, ou não responderei por mim.
Dizendo isso, a velha senhora virou o rosto e subiu a escadaria em direcção ao quarto de Flaviana.
Sem saber o que fazer diante de tanta petulância, Humberto também saiu.
Ia ver madame Aurélia, fazer algumas recomendações e conversar directamente com Isabela.
Iria lhe propor montar uma bela casa onde ele a visitaria semanalmente.
De repente, Romário, que estava ao seu lado, lhe disse:
— Você não precisa se preocupar com a enfermeira.
Traga Isabela para sua casa e transforme-a em acompanhante da sua esposa.
Diga que é a enfermeira que contratou ninguém vai desconfiar.
Além do mais, você poderá possuí-la sexualmente na sua própria casa, sem gastar tanto!
A maioria dos pensamentos das pessoas é sugerida por espíritos que circulam na crosta terrestre.
Ignorando esse fenómeno de comunicação telepática, os encarnados supõem que estão pensando por si mesmos.
Grande ilusão!
Assim como existem os bons espíritos que lhes inspiram ideias nobres e boas, há os inferiores, que os tentam levar cada vez mais para a queda.
Humberto, pelo comportamento que mantinha e pelos pensamentos que cultivava, cortara a relação com seu guia espiritual, que não conseguia mais influenciá-lo.
Respeitando o livre-arbítrio, seu mentor o deixara livre para que, recolhendo a dor, pudesse amadurecer.
Após captar com facilidade as ideias de Romário, ele exultou:
— Tive uma ideia excelente.
Resolvi agora o que fazer com Isabela.
Será a enfermeira perfeita que dona Augusta tanto almeja.
Feliz com a ideia aceita, Romário regressou para o sítio infernal onde vivia com uma comunidade muito grande de espíritos que, assim como ele, lutavam para conduzir a humanidade à maldade e à dor, degradando-se nos caminhos que levam ao sofrimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 18, 2017 8:36 pm

6 - UMA INIMIGA
Na Mansão de Higienópolis, no dia seguinte à visita do senador, madame Aurélia reuniu todas as suas empregadas no grande salão.
Queria falar com elas em especial.
— Gostaria de agradecer a todas pela noite memorável que tivemos ontem.
Nossos protectores saíram satisfeitos.
Libero as bebidas para todas durante uma semana.
Muitas sorriram gratas pelo elogio; outras logo se levantaram para o bar.
Muitos espíritos as seguiram também contentes com a ideia de poder sentir o sabor da bebida por intermédio delas.
Naquele lugar, além do vício sexual, havia a agravante do álcool.
Aurélia olhou profundamente para Isabela, que logo notou que ela lhe queria falar em particular.
— Isabela, vamos subir.
Temos muito que conversar.
Luana, que invejava bastante a beleza e o porte da companheira de profissão, tornou:
— Nossa quanto mistério!
Ontem foi a escolhida da noite, hoje é a preferida da patroa.
Quanto privilégio!
Fingindo não ouvir, as duas subiram.
No quarto excessivamente luxuoso de Aurélia, Isabela se acomodou.
Estava preparada para ser explorada mais uma vez.
Por certo o senador havia gostado dela e a queria de graça.
Isso seria óptimo, pois estava em seus planos conquistá-lo definitivamente.
— Isabela, faz mais de um ano que está aqui comigo.
Como já teve a oportunidade de ver, nem sempre à vida aqui é boa.
Também não há o que reclamar tendo vindo de um lugar como o que você veio; considere-se até com muita sorte.
Mas seus dias de prostituta praticamente acabaram.
Isabela estremeceu:
— Vai me mandar embora?
A senhora não pode fazer isso comigo.
Dei muito lucro a esta casa e pretendo continuar dando.
Meu filho aqui cresceu e está bem alimentado e com saúde; tenha piedade.
Só tenho aquela favela horrível para viver — começou a soluçar.
Aurélia sorriu:
— Não precisa chorar nem se ajoelhar a meus pés.
Não é nada disso que você está pensando.
É algo muito melhor, maravilhoso!
— Não entendo. O quê pode ser?
— Você sabe que sempre a considerei uma filha.
Se fui dura algumas vezes, foi porque precisava.
Quem trabalha nesse ramo sabe muito bem que às vezes temos de ser inflexíveis com os empregados.
Saiba que em agências especializadas os donos costumam ser bem menos tolerantes que eu.
Mas você parece que nasceu com uma estrela.
Em pouco tempo conseguiu o que todas almejam:
um homem rico e apaixonado a seus pés!
Isabela continuava sem entender.
Será que era o que estava pensando?
Não podia ser.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 18, 2017 8:36 pm

— Continue madame!
— É isso mesmo!
O senador Humberto a comprou.
A partir de hoje, não vai servir a nenhum outro homem, será peça exclusiva para ele.
— Como isso foi acontecer?
— Não sei! Os homens são assim.
Alguns são difíceis, outros são fáceis de se apaixonar.
Mas todos, quando se apaixonam, cometem loucuras.
Mensalmente ele vai me pagar tudo o que você costumava render aqui dentro.
Também vai pagar você por fora, mas esse acerto só os dois poderão ter.
Contudo, aqui vai um conselho:
tire dele tudo o que puder.
Os homens merecem ser usados até o último centavo.
Se um dia ele não lhe servir mais, o abandone sem titubear.
Mas, enquanto estiver com ele, sugue tudo a que tem direito.
Isabela estava radiante.
Finalmente o universo conspirava a seu favor.
Estava mais fácil do que ela podia supor.
Num gesto impulsivo, abraçou a madame e desceu as escadarias gritando que estava livre e que era amada.
Sua única amiga, Morgana, se aproximou, abraçando-a longamente.
Foram para o jardim.
Sentadas no banco, Isabela lhe contou tudo, e finalizou:
— Morgana, estou muito feliz.
Minha vida vai mudar e, como a minha, a sua também!
— Quem dera amiga, mas não vejo como.
Seja feliz você; acho que eu nasci para esta vida mesmo.
— Não diga isso, Morgana.
Tenho um plano e sei que vai dar certo.
Se der, vou ser a senhora Isabela Aguiar.
Quando isso se realizar, saberei agir para tirá-la daqui.
Essa cafetina miserável deve estar ganhando uma fortuna comigo, mas hoje me deu conselhos benéficos.
Vou aproveitar tudo que a vida está me dando e saberei retribuir a sua amizade e lealdade para comigo.
Morgana tinha no canto dos olhos uma lágrima teimosa.
— Se fizer isso por mim, serei eternamente grata.
Penso que a prostituição não é algo bem-visto por Deus.
Sinto-me muito culpada cada vez que troco meu corpo por dinheiro.
— Não seja boba em pensar em Deus em uma hora dessas, se ele realmente existisse não teria feito esse mundo cheio de desgraças e de gente como nós.
Pense em você mesma.
Ceda aos homens até que eu a tire daqui; tenha paciência.
A outra pareceu se acalmar.
De repente, elas viram o carro de Humberto parar em frente à mansão.
Ele entrou e cumprimentou as duas.
— Madame Aurélia está em seus aposentos.
Deseja falar com ela, senhor? — perguntou Isabela.
Ao fitá-la, ele sentiu mais uma vez que era a mulher perfeita para ser sua e a enfermeira que a sogra queria.
Já perturbado pelas ondas de luxúria provindas daquele ambiente, ele, meio tonto, respondeu:
— Sim, desejo ter com madame Aurélia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 18, 2017 8:37 pm

As duas entraram conduzindo o senador para dentro do recinto.
Em poucos minutos, estavam ele e Aurélia no escritório.
— O senhor aceita uma bebida?
— A de sempre, por favor!
Depois de servido, ele foi directo ao assunto:
— Quero desfazer a proposta que fiz à senhora ontem.
Desejo tirar Isabela daqui.
Ela não acreditava no que ouvia.
Não podia perder aquela renda mensal de forma alguma.
Irritou-se:
— O senhor não pode chegar aqui e fazer o que bem entende.
Somos um grupo muito unido; prezo pelo bem-estar das minhas meninas e não vou permitir que tire uma delas daqui sem que vá lhe dar uma vida digna.
Ele sorriu sarcasticamente.
— Faz-me rir.
Sei que a senhora é uma mercenária e que não se importa com nada que não seja dinheiro.
Não tente cruzar o meu caminho ou levo essa casa à falência muito mais rápido do que supõe.
Ela tentou contemporizar:
— Não vê que vai cometer uma loucura?
Para onde pretende levar uma mulher que conheceu ainda ontem?
Não sabe quem ela é nem do que é capaz.
Trabalho há muitos anos com esse tipo de gente e sei que são capazes de tudo para atingir seus objectivos.
Pode se dar muito mal.
Isabela é sonsa, falsa e arrogante; também percebo nela um instinto agressivo, tenha cuidado com o que vai fazer.
Acompanhado pelos espíritos desde que saíra de casa, Humberto estava suficientemente influenciado para não ceder às palavras de Aurélia.
— Não desejo saber de mais nada que venha da senhora, não acredito no que diz.
E interesseira e só pensa em explorar o corpo alheio para viver.
Sei que vai fazer minha cabeça para que não leve Isabela daqui, mais a aviso de que não vai adiantar.
Aceite o que estou propondo:
fique com o dinheiro que lhe dei e se dê por satisfeita em ter passado um tempo com ela e lucrado tanto.
Agora ela é minha e vai seguir comigo ainda hoje.
Madame Aurélia resolveu não insistir.
— Então que seja como o senhor quiser.
Depois não diga que não avisei.
Ah, e tem mais, algo que nunca lhe contaram:
Isabela tem um filho.
Ele mora com ela aqui.
Terminada a conversa, Humberto subiu ao quarto de Isabela e deu-lhe pessoalmente a notícia.
Ela parecia delirar; não poderia acreditar de forma alguma que aquilo estivesse acontecendo com ela.
Após se beijarem longamente, os dois foram para a cama, onde ela mais do que nunca procurou se esmerar.
Quando tudo terminou, ele a olhou e disse:
— Arrume todas as suas coisas que às cinco horas passarei aqui para levá-la.
Tenho alguns compromissos e, após resolvê-los, venho sem falta.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:18 pm

Ele deu uma pausa.
— Tenho outra coisa a lhe dizer.
Durante algum tempo terá de me fazer um favor; não posso lhe dizer o que é agora.
Prepare-se e na hora exacta saberá.
Ela concordou rapidamente.
Não podia perder aquela chance.
Subitamente, segurou com muita força os braços dele, e confessou:
— Há um segredo que ninguém lhe contou, mas é preciso que saiba antes de qualquer coisa.
— O que pode ser?
— Tenho um filho.
Ele vive aqui comigo, nesse quarto ao lado.
Uma empregada cuida dele para mim enquanto trabalho.
Se não puder levá-lo comigo, recuso agora sua proposta.
Ele é meu bem mais precioso.
Humberto sorriu.
— Sei que tem um filho.
Fui informado por madame Aurélia.
Já pensei nisso e tenho a solução.
Você terá uma bela casa onde poderá viver com ele.
Enquanto estiver me ajudando no que preciso, poderá contratar uma babá para olhá-lo.
Emocionada, Isabela se ajoelhou aos pés de seu protector e chorou muito.
— Não sei como agradecer o que tem feito.
Às vezes penso que estou sonhando e a qualquer momento vou acordar.
Ele olhou para um ponto indefinido e pensou alto:
— Nem sei também por que tenho feito tudo isso.
Sinto por você uma atracção incrível, irresistível mesmo.
Uma força muito grande me atrai até você.
O que sei é que a partir daquela noite não consigo mais viver sem pensar em tê-la a meu lado.
Eles se beijaram.
Deixando recomendações à madame Aurélia para que ajudasse Isabela com as bagagens, ele saiu.
A alegria foi grande quando Morgana ficou sabendo o que finalmente iria acontecer com a amiga.
Começaram a arrumar as malas, e então Aurélia apareceu no quarto.
— Saia, Morgana.
Preciso falar com Isabela a sós.
Quando estavam apenas as duas, ela começou:
— Não pense que vai sair assim tão fácil daqui.
Depois de tudo que fiz por você, me deve muito.
Vim para fazermos um contrato.
Isabela não entendeu.
— Contrato? Que espécie de contrato?
A outra sorriu.
— Deverá me dar a metade de tudo que conseguir ao lado do senador.
Acha mesmo que, depois de tê-la tirado daquela favela horrível, tratado de você nos melhores salões de beleza, dando-lhe um nome, ajudado seu filho a não morrer de fome, vai sair assim sem molhar muito bem a minha mão?
— Lembre-se, senhora, de que tudo isso que fez já retribuí regiamente e a duras penas.
Servi aos piores homens que frequentaram esta casa e lhe dava cinquenta por cento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:18 pm

Para a senhora, isso basta.
Não tente me atrapalhar; estou protegida por um homem muito importante e, se a senhora tentar algo, vai se arrepender.
Aurélia sentiu muita raiva naquele momento.
Quem ela pensava que era?
— Escute aqui.
Ninguém me passa para trás e fica impune.
É melhor aceitar meu acordo agora ou ganhará uma inimiga para o resto dos seus dias.
— Ameaças comigo não resolvem.
Aprendi desde cedo a ser forte.
Fui estuprada, engravidei, desde criança tive de cuidar de mim, e não é uma mulher como à senhora que vai me atrapalhar.
Antes disso, não viverá para fazer nada.
— Está me ameaçando?
Não sabe com quem está lidando.
Engula tudo que disse. – Dizendo isso, deu uma bofetada no rosto de Isabela, que revidou.
As duas então começaram uma luta corporal.
Morgana e as outras que escutavam atrás da porta, invadiram o quarto e acabaram separando as duas.
Despenteada, rosto cortado e com expressão de ódio, Aurélia parecia um monstro.
— Arrume suas coisas e suma daqui.
Mas saiba que vou persegui-la enquanto viver.
Você foi o meu maior investimento; é justo que agora eu cobre.
Ainda vai me ver bastante.
Ela saiu com ar ameaçador.
Morgana e Eudásia correram para acudir Isabela, que estava no chão chorando desesperadamente e tinha várias marcas em todo o rosto.
Tiraram-na do chão e a colocaram sobre a cama.
Ela chorava, rosnava, mordia os lençóis e a cama de tanta raiva.
Em meio ao ódio, gritou em voz alta:
— Quem ganhou uma inimiga foi a senhora.
Juro que não viverá muito tempo pra atormentar minha vida.
Eu tirarei a sua primeiro.
Morgana interrompeu:
— Isabela, acalme-se.
Não diga mais nada para não se complicar.
Lembre-se de que tem um filho que depende de você.
Nessa hora ela caiu em si.
A lembrança do filho a fez reflectir bastante.
Instintivamente, foi ao quarto contíguo e o encontrou sobre a cama.
Ao vê-la, Daniel sorriu.
Isabela chorou emocionada.
Pegou-o no colo, e lhe falou:
— Filhinho, a partir de agora a mamãe vai poder lhe dar tudo o que você precisa para ser um grande homem.
Vou ensiná-lo a conquistar o que desejar e passar por cima de quem for preciso para conseguir vencer.
Trazendo o filho para o quarto, Isabela, Eudásia e Morgana começaram a arrumar as malas.
Já era noite quando Humberto chegou de carro e a levou.
As despedidas foram tristes, principalmente para Eudásia, que cuidava de Daniel havia mais de um ano, e Morgana, que realmente era amiga de Isabela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:19 pm

Pelo vidro da janela de seu quarto, madame Aurélia olhava com ódio o carro que partia.
A seu lado estava Luana, que se juntara à patroa para ajudá-la nos planos de vingança.
Perto das duas, várias entidades sombrias as abraçavam, inspirando os mais cruéis pensamentos.
Patrícia acabara de ouvir uma palestra maravilhosa sobre o carma no Centro de Estudos que frequentava.
Após receber os passes e tomar a água fluidificada, ela foi procurar o palestrante.
Depois de alguns cumprimentos de outros presentes, finalmente conseguiu se aproximar de Rodolfo.
— Gostaria de tirar algumas dúvidas sobre a palestra de hoje.
Foi muito boa e proveitosa.
Rodolfo, muito simpático, a fez sentar-se num dos bancos.
— Realmente o carma é assunto muito interessante, que deve ser estudado e entendido em seu real sentido.
Infelizmente, as pessoas o têm deturpado sobremaneira.
— E isso que gostaria de saber.
Desde que iniciei minhas vindas aqui tenho procurado ler muito a respeito de espiritismo, mediunidade, vida após a morte e tantos outros assuntos ligados à espiritualidade.
Para isso, fui numa boa livraria e comprei vários livros a respeito.
Porém, tenho percebido em alguns deles ideias conformistas sobre o carma, sobre o sofrimento, e alguns até se referem à punição e castigo.
O que aceitar de tudo isso?
— Realmente, na literatura espírita e espiritualista existem muitos autores que ainda teimam em continuar pensando de modo radical sobre certos assuntos.
Eles ignoram que o pensamento evolui e ainda se prendem de forma ortodoxa ao que foi dito tempos atrás.
Patrícia reflectiu:
— É isso que não consigo entender.
Aqui aprendemos que Deus não castiga nem pune, apenas dispõe os factos para que cada um colha aquilo que plantou e aprenda a viver melhor.
Todavia, lendo as obras de Allan Kardec, sempre deparo com frases que fazem alusão ao castigo e à punição divina.
Pode me explicar por que isso acontece?
Rodolfo se levantou e disse:
— Para isso preciso que venha comigo à nossa biblioteca.
Eles saíram e logo entraram numa grande sala com imensa quantidade de livros.
— Aqui é nossa biblioteca.
Nela há muitos livros da literatura, tanto espírita quanto espiritualista, mas para responder às suas dúvidas e esclarecê-la quanto às outras que possivelmente vão aparecer em seu caminho, primeiro vamos ver um dos principais livros para os espíritas.
Eles sentaram.
Rodolfo puxou de uma das estantes um exemplar que Patrícia logo percebeu ser de O Evangelho segundo o Espiritismo.
— Veja bem, Patrícia, logo na introdução deste livro, Kardec, em sua sabedoria e raciocínio ímpar, nos informou que "não é a opinião de um homem que se deverá aliar-se, mas a voz unânime dos Espíritos; não é um homem, não mais nós que outro que fundará a ortodoxia espírita; não é, tampouco, um Espírito vindo se impor a quem quer que seja; é a universalidade dos Espíritos se comunicando sobre toda a Terra por ordem de Deus".
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:19 pm

Hoje, como você mesma tem observado, universalizou-se a verdade de que Deus não castiga nem pune.
Esse ensino se tornou praticamente universal nas lides espirituais e já tomou conta de quase todo o globo terrestre.
Mas não pense que foi fácil essa generalização.
No princípio, os espíritos superiores encontraram nos médiuns muita resistência e foi difícil essa ideia tomar forma.
As pessoas rejeitavam-na como se fossem misticismos sem nem atentarem para o que dizia o bom senso.
Patrícia interrompeu:
— Continuo sem entender.
Se na Codificação Espírita os espíritos usaram desses termos, por que só tempos depois vieram a mudar a linguagem?
— Esperava por essa pergunta, e mais uma vez quem responde é Kardec.
Veja aqui o que ele diz ainda na introdução deste livro.
Patrícia leu:
"Os Espíritos superiores procedem, nas suas revelações, com uma extrema sabedoria; eles não abordam as mandes questões da doutrina senão gradualmente, à medida que a inteligência está apta a compreender verdades de ordem mais elevada, e que as circunstâncias são propícias para a emissão de uma ideia nova".
— Por este trecho você pode perceber o método de Kardec.
Ele sabia que os espíritos estavam falando de acordo com uma época, de acordo com o que a humanidade poderia entender no século passado.
O Codificador sabia que, quando o tempo fosse favorável, novas revelações iriam acontecer e que a verdade sempre se impõe sobre qualquer obstáculo.
Hoje em dia falar que Deus castiga mostra completa ignorância sobre a natureza divina.
O que naquela época foi facilmente aceitável, hoje, com a mente mais avançada da humanidade, torna-se intolerante afirmar.
Kardec sabia que muitas coisas novas iriam surgir completando e até mesmo rectificando, o que ele disse naquela época, todavia sem ferir nem abalar os princípios básicos do espiritismo, que são imutáveis e universais.
— Quais são esses princípios, Rodolfo?
— Os princípios básicos do espiritismo são: a vida após a morte, a reencarnação como oportunidade única de progresso, a comunicabilidade dos espíritos com o mundo corporal, a pluralidade dos mundos habitados e a crença num Deus único, imutável, soberanamente justo e bom.
Isso jamais será abalado, pois o tempo mostra que são verdades eternas.
— Entendi...
Mas ainda sobre o carma.
Se for verdade que ele não existe como algo fatal, como entender o que minha mãe passa sem nunca ter feito mal a ninguém?
A Sílvia uma vez me explicou, mas não estou totalmente convencida.
E onde fica aquela crença que vemos em muitos livros a respeito de que todos estão aqui para pagar débitos do passado?
Tenho tantas dúvidas!
— É que você está muito presa à visão materialista das coisas.
A crença de que viemos aqui para pagar débitos, além de incorrecta, é uma maneira muito primitiva de entender a justiça divina.
O que Sílvia lhe explicou está certo.
Ninguém paga nada, porque ninguém deve nada a ninguém, apenas à própria consciência.
Os sofrimentos são resultado das crenças, pensamentos e atitudes que ainda não se modificaram no bem, no optimismo e na fé.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:19 pm

O sofrimento não é a cobrança de débitos do passado, e sim o chamamento divino para a evolução e a mudança para melhor.
Ocorre que nossas crenças no mal vêm de muito longe e se repetem de encarnação a encarnação.
Enquanto não as mudarmos, sofreremos da mesma forma.
Esse é o único e verdadeiro carma que existe.
Sua mãe nunca fez o mal a ninguém, todavia, se está sofrendo, é porque vem fazendo mal a si mesma.
Provavelmente, antes de reencarnar, prometeu mudar, buscar o bem, evoluir pelo amor auxiliando o próprio espírito com a busca da espiritualidade e da sabedoria.
Uma vez aqui, se acomodou em vez de buscar ser feliz e aprender como as leis universais funcionam.
Ela fez o oposto, preferiu ser a vítima e continuou a alimentar a crença no mal.
Patrícia protestou:
— E como outras pessoas que vivem do mesmo modo que minha mãe, ou até em condição pior, estão bem e com saúde?
Nos olhos da jovem, uma lágrima teimava em cair.
— "Muito será pedido há quem muito recebeu."
Deus respeita o nível de evolução de cada um; ele não pede aquilo que a pessoa ainda não é capaz de oferecer.
Você exigiria que uma criança agisse como um adulto?
— É claro que não, imagine!
— Assim é que Deus age.
Sua mãe chegou a um nível de evolução que não lhe permite mais ter certas atitudes, então vem o sofrimento.
Sempre que a pessoa age fora de seu nível de evolução espiritual, a natureza não a protege mais, por isso a pessoa sofre as consequências.
Acredite: quem não usa o bem que tem vai sofrer a interferência do mal.
Patrícia havia entendido, porém chorava muito.
Era-lhe muito penoso ver a mãe, ainda jovem, jogada naquela cama, definhando sem esperanças.
Ao seu lado, Alfredo e Marcos a consolavam. Rodolfo os viu, e lhe disse:
— Desabafe, chore, mas saiba que ela não está sozinha.
Agora mesmo está sendo amparada por dois espíritos amigos que querem ver seu bem.
Ela ficou admirada
— São espíritos amigos?
São meus mentores?
— Não sei dizer.
Só sei é que possuem muita luz e a protegem.
Renda graças a Deus por ter amigos assim no astral.
Ela estava emocionada.
Ao sair do centro, tomou um táxi e foi para sua casa.
Ganhara um carro último modelo dos pais, porém, ainda não aprendera a dirigir.
Durante o trajecto foi reflectindo sobre o que ouvira de Sílvia e de Rodolfo, e concluiu que eles tinham razão.
De repente seu pensamento foi em direcção à sua própria vida.
Ela se sentia feliz.
Não fosse a doença de sua mãe e a ausência do pai em casa, sua vida seria uma total felicidade.
A perda dos irmãos também a chocara bastante, mas ela logo se recuperara.
Ao ver seus corpos naqueles caixões, ela sentia no íntimo que a vida não terminava ali.
Tinha amigas, mas gostava de seleccioná-las.
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NADA É PARA SEMPRE - Hermes / Maurício de Castro - Página 2 Empty Re: NADA É PARA SEMPRE - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:19 pm

Às vezes preferia sair só a ter companhia de certas pessoas que não lhe agradavam.
O que faltava mesmo era um namorado.
Já tinha tido alguns, mas nenhum deles a tocara profundamente.
Contudo, Patrícia confiava na vida e sabia que um dia, mais cedo ou mais tarde, a pessoa amada iria aparecer.
Após pagar o táxi, Patrícia entrou e logo percebeu que sua avó permanecia na casa.
— Vovó?! A senhora ainda aqui?
Mamãe piorou?
— Não, filha.
Estou esperando o crápula do seu pai chegar; hoje teremos um acerto de contas.
Patrícia sentou-se ao lado da avó no sofá luxuoso.
Augusta de Camargo já estava velha, porém em seu rosto havia poucas rugas, além do que sempre se vestia com muita elegância, algo incomum em mulheres de idade avançada.
— Por que esse ódio tão grande contra papai?
O que de mal ele lhe fez?
— Esse não é assunto para uma mocinha como você.
O meu acerto de contas com ele hoje é outro.
Sua mãe precisa de uma enfermeira e pela manhã ordenei que ele providenciasse uma para cuidar dela o dia todo.
Humberto me garantiu que traria a moça ainda hoje e veja só: são dez e meia, e nada de ele chegar.
— Vovó, ele é um homem muito ocupado, mas, quando promete, cumpre.
Apesar de a senhora nutrir esse ódio por ele, sempre o amarei e mamãe também.
Não acho bom guardar rancor no coração.
Quem o cultiva é o primeiro a se prejudicar.
Esse tipo de sentimento provoca emoções desordenadas que causarão problemas de saúde.
Cuidado, vovó: eu a amo muito e a quero sempre do meu lado.
Augusta enterneceu-se:
— Ah, você é realmente um anjo.
Mas esse repúdio que sinto pelo Humberto é mais forte que eu.
Filha pense bem, já é do conhecimento de todos que sua mãe tem poucos meses de vida.
Temos de nos conformar...
Quero que quando ela nos deixar você venha morar comigo, em minha casa.
— Não, vovó, isso não!
Gosto muito da senhora, mas vou continuar vivendo aqui.
Ademais, quem somos nós para dizer que uma pessoa vai viver ou morrer?
Só Deus é que pode saber e, enquanto há vida, há esperança.
Mesmo assim, caso mamãe se vá, irei continuar aqui, nesta casa que ela tanto amou e da qual cuidou.
Vou me casar e ter minha família, e quero que seja aqui o meu lar.
— Você não vê que viver ao lado de seu pai pode prejudicá-la?
Ele vai colocar em sua mente valores perniciosos, vai influenciá-la, e você vai se perder.
Comigo não correrá esse risco.
— Não acredito que ninguém influencie ninguém dessa maneira, como dizem.
As pessoas podem nos sugerir actos, ideias, pensamentos, mas nós só fazemos o que queremos.
A conversa foi interrompida pela chegada de Humberto.
Augusta levantou-se e foi logo perguntando:
— Onde está a enfermeira que você prometeu trazer hoje?
Desde já, digo que não aceito desculpas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:20 pm

Se essa moça não vier, levarei Patrícia e Flaviana para minha casa.
Você sabe muito bem do que sou capaz!
Humberto fez de tudo para não perder a paciência com aquela senhora intragável.
— Tive muitos compromissos hoje e só encontrei a pessoa ideal no fim do dia, de modo que ela não poderá vir hoje à noite, mas está contratada e começa amanhã cedo.
Patrícia deu um beijo nele e o abraçou.
Augusta ia discutir, mas quando viu aquela manifestação de carinho entre pai e filha resolveu desistir.
— Espero que seja verdade.
De qualquer maneira, vou dormir aqui hoje.
Ligarei para Fátima ordenando que cuide de tudo em minha casa e amanhã bem cedo estarei de pé esperando a enfermeira.
Se eu gostar, ela continua; se não, ela sai.
Dizendo isso, deixou os dois sozinhos na sala e dirigiu-se ao telefone.
Conte-me como foi seu dia, papai.
— Ah, filha, muito cheio.
Sempre que venho a São Paulo os compromissos políticos tomam a maior parte de meu tempo.
Essa vida é boa, mas tem hora que dá vontade de deixar tudo.
— Queria o senhor mais presente aqui.
Desde que meus irmãos morreram e que minha mãe adoeceu, esta casa está uma tristeza.
Humberto sempre se sentia mal quando alguém mencionava aquele assunto.
Tentou mudar o rumo da conversa e logo estavam conversando amenidades.
Após algum tempo, subiu e foi ver a mulher.
Ela dormia, com uma aparência mais cadavérica do que no dia anterior, mas aquilo agora não importava.
Tomou um longo banho e deitou-se.
Começou a se lembrar de como tinha convencido Isabela a aceitar ser uma enfermeira em sua casa.
Eles tinham parado na frente de um hotel simples.
— Vou instalá-la aqui primeiro.
Dentro de uma semana terá sua casa com tudo de melhor e moderno que há.
Ela estava em estado de felicidade:
— Nem sei como lhe agradecer.
Sinto não merecer o que está me ofertando.
— Não diga isso, você merece muito mais.
Agora entremos, temos muito que conversar.
Lembra da proposta que tenho a lhe fazer?
— Lembro, sim.
Vamos entrar, estou ansiosa para saber.
Entraram.
Já devidamente instalada e alimentando Daniel, ela começou a ouvir o que Humberto tinha a lhe dizer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:20 pm

7 - ORIENTAÇÕES
Humberto contou a Isabela seus planos.
Ele narrou, em detalhes, o desejo de torná-la sua esposa assim que Flaviana morresse.
Mas, como parte inicial do plano, ela deveria ser a enfermeira zelosa que sua sogra tanto insistia que ele levasse para a mansão.
Humberto nem percebia que não havia lógica nenhuma em se casar com uma mulher que mal conhecia.
Envolvido que estava em processo de terrível fascinação, ele sequer questionava tal atitude.
Assim como Humberto, a maioria dos encarnados toma decisões envolvidas pelas entidades espirituais das trevas, deixando o mundo no estado actual de sofrimento.
Ao ouvi-lo, ela cogitou:
— Mas eu não tenho a mínima prática em enfermagem.
Sua sogra vai perceber de imediato que não sou enfermeira.
Será pior para você.
— Nem pense isso.
Minha mulher está em seus últimos dias de vida, o trabalho não é tão complicado.
Desde que ela adoeceu, os médicos indicaram como tudo deveria ser feito e a maior parte do trabalho são os empregados que fazem.
Sua tarefa será apenas a de velar por ela, ministrando os medicamentos nas horas certas, a alimentação, etc.
Verá como é fácil.
Terá de passar as noites por lá.
Cuidarei para que venha todas as manhãs ficar com Daniel.
Ela o abraçou:
— Era isso o que me preocupava.
Não posso ficar sem ver meu filho.
Para que eu possa ficar lá durante a noite, tenho de contratar alguém que fique com o Daniel.
Prefiro que seja a Eudásia, que é de minha confiança.
Ele cocou o bigode:
— Isso é comprar mais briga ainda com Aurélia.
Eudásia trabalha para ela.
— Não me importa.
Busque-a para mim e assim ficarei tranquila para fazer o papel que me pede.
Humberto concordou.
Pela manhã telefonaria bem cedo para Aurélia pedindo que lhe enviasse Eudásia para trabalhar e morar com Isabela.
Tudo combinado, pela manhã Isabela já estava na mansão onde desempenharia o papel de enfermeira desvelada.
Madame Aurélia ficou com muita raiva do senador pela ousadia de tirar dela mais uma funcionária, porém concordou insuflada por Luana, que com isso acabou descobrindo o novo endereço da ex-colega para realizarem os planos de vingança.
Isabela ficou deslumbrada com a elegância da mansão.
Nem em seus sonhos mais ambiciosos, ainda quando morava na favela, poderia imaginar que um dia seria dona de uma casa como aquela.
Sim, porque ela pensava em ser dona de tudo aquilo.
Humberto comprara uniforme e apetrechos de enfermagem, e ela estava perfeita.
Sentada no elegante sofá, ela esperava.
De repente uma jovem bonita se aproximou:
— Então é você que vai cuidar de minha mãe?
Fico feliz em ter mais alguém com ela.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:20 pm

Meu nome é Patrícia, sou filha de Humberto.
— Prazer. Meu nome é Isabela.
Vou fazer o possível para ajudar sua mãe.
— É, mas vai ter de enfrentar as exigências da senhora Augusta.
É minha avó, uma pessoa muito legal, mas muito exigente e dura.
Se você não atender às expectativas dela, é capaz de perder esse emprego.
— Farei de tudo para estar à altura do que sua avó espera.
Ela tem razão.
Para lidar com esses problemas de saúde precisamos mesmo de pessoas competentes.
Nesse momento, do alto da escadaria surgiu Augusta.
Quando a viu à sua frente, fitando-a com um olhar inquisidor, Isabela sentiu-se tontear.
Não era possível!
Quem estava ali era a mesma senhora que a humilhara e mandara espancar quando fora pedir esmola.
Precisou de todo seu autocontrole.
Felizmente Augusta não a reconheceu tão diferente que estava.
— Olá. Chamo-me Augusta, sou mãe da sua paciente.
Vamos subir, tenho de lhe mostrar tudo e dizer como será seu trabalho.
Ela a acompanhou.
Do sofá, Patrícia sentiu uma sensação ruim invadir o seu espírito.
Não sabia explicar de onde vinha, mas não havia gostado da enfermeira.
Algo nela não lhe inspirava confiança.
Patrícia tinha aprendido, havia muito tempo, a confiar na intuição.
Esta guia infalível, quando escutada, nos leva sempre à verdade, por mais escondida que ela nos pareça.
Ela sentiu no íntimo que, com a chegada daquela mulher na sua vida, algo de macabro iria acontecer.
Preferiu mudar os pensamentos e dirigiu-se ao curso.
Isabela conheceu Flaviana e ficou muito feliz.
Realmente aquela mulher não iria atrapalhar seus planos; pelo estado em que a viu, não duraria muito tempo.
Tentou dissimular todo o ódio que sentia por Augusta, mas em sua mente já surgiam planos de vingança assim que casasse com Humberto e fosse dona de tudo aquilo.
Tentou executar as tarefas direito, nos mínimos detalhes, para agradar à severa senhora.
Durante a madrugada, enquanto to dos dormiam, Humberto a chamou e foram para um dos quartos da casa.
Lá deram vazão aos sentimentos que os uniam.
Nem se lembraram de que estavam em um lar que devia ser respeitado acima de qualquer coisa, e assim assumiam compromissos dolorosos que os iam encontrar fatalmente no futuro.
Diana estava reunida com os amigos estudando o caso de Clotilde/Isabela.
Sentados em uma sala, eles conversavam.
— Realmente, Bruno, nessa situação não podemos fazer muito.
Antes Clotilde ainda nos ouvia durante o sono físico, mas hoje, quando nos vê, corre apavorada para o corpo de carne, recusando-se a ouvir nossas orientações.
Devemos ter paciência e confiarmos na bondade divina.
Bruno ouvia calado com os olhos perdidos num ponto indefinido.
Depois comentou:
— Ainda lembro com nitidez quando fomos resgatá-la no umbral em estado lamentável.
Na caravana estávamos eu, você, Gabriel e Daniel.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:20 pm

Após tempos connosco, perto de reencarnar, resolveu que mudaria e que desta vez faria tudo diferente.
Mas a prova do reencontro com Humberto foi definitiva, e ela optou pelo caminho do erro mais uma vez.
Mesmo conhecendo a origem do problema, ainda fico triste ao ver toda a programação de uma vida ser perdida assim com extrema facilidade.
Gabriel questionou:
— Não entendo onde tudo começou.
Gostaria de conhecer a história dela.
Pode me contar Diana?
— Sim. A história de Clotilde vem já de algum tempo, precisamente quando viveu na França, entre os séculos XVIII e XIX.
Naquele tempo, ela era uma nobre da corte muito rica.
Acreditava que entre pobres e ricos deveria sempre haver grande distância e os tratava com desprezo.
Naquela época, no fim do século XVIII, a situação económica e social da França era gravíssima.
A maioria dos franceses da época eram camponeses que, em geral, trabalhavam nas terras de um nobre ou nas de uma ordem religiosa católica.
Clotilde, que naquela época se chamava Nathalie, e seu marido, Henry, que hoje se chama Humberto tinham muitas terras e nelas viviam vários camponeses em sistema feudal, regime sob o qual tinham de entregar a maior parte da comida aos seus senhores.
Muitas famílias nobres tratavam relativamente bem os campónios, dando-lhes boa moradia e melhores condições de vida, todavia na família de Henry o tratamento era péssimo.
Nathalie não permitia que o marido, um homem relativamente bom, melhorasse a vida de quem trabalhasse para eles; deixava-os passar fome e morar em casebres com chão de terra.
A vida corria bem para eles até o dia em que Nathalie conheceu um lindo camponês chamado Thierry e se apaixonou perdidamente por ele.
Notando o interesse da senhora e tencionando melhorar de vida, Thierry aceitou com facilidade as suas investidas e ambos passaram a se encontrar secretamente numa cabana de caça um pouco distante da luxuosa propriedade dela.
Diana fez breve pausa para organizar suas lembranças.
Depois prosseguiu:
— Nathalie se viu perdidamente apaixonada e dava somas e mais somas de moedas e jóias ao seu amante.
Mesmo sabendo que Thierry só tinha interesse em seu património, cega de paixão, continuava o relacionamento.
Foi aí que madame Philomene, a mãe de Henry, necessitou passar uns dias na casa do filho.
Ela estava doente e era viúva; não queria morrer longe do filho único e amado.
Porém, Philomene não morreu; pelo contrário, logo se recuperou.
Aconselhada pelo filho, ela permaneceu no castelo, pois havia tido início o que hoje conhecemos como Revolução Francesa, e a cidade estava em polvorosa.
A rotina do castelo foi alterada com a chegada da matrona e Nathalie teve de espaçar os encontros com Thierry na cabana de caça.
Como Henry saía bastante a fim de resolver os problemas da imensa propriedade, pediu à esposa que cuidasse de sua mãe e velasse por ela.
O receio de Henry foi logo compreendido quando, numa noite de inverno de 1789, seu castelo foi invadido por camponeses que se apropriaram de toda a comida e de documentos que registavam suas dívidas feudais.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:21 pm

Houve morte e muita luta.
Entre os camponeses estava Thierry que, a partir daquele momento, passou a residir fora das terras de Henry.
Estando longe do amante, Nathalie sentiu-se muito triste.
Seus filhos eram adultos e estavam fora do país.
Foi então que resolveu escrever uma carta para ele marcando um encontro no lugar de costume.
Sua fiel camareira, Morgan, iria entregar.
— E Nathalie conseguiu se encontrar com seu amante? — perguntou Gabriel.
— Ela não contava com as armadilhas que o destino costuma pregar — continuou Diana —, e saiu de seu quarto a procurar a empregada.
Nesse momento, sua sogra, que entrara no recinto procurando por ela, viu sobre a escrivaninha a carta de amor e luxúria que seria enviada em breve para Thierry.
Philomene apropriou-se da carta e quando Nathalie retornou ao quarto em companhia de Morgan, sem encontrar a missiva, entrou em surto quase psicótico.
Não poderia imaginar quem estava com a carta, nem passava por sua mente que se tratava de Philomene.
Após se acalmar, decidiu que precisava se manter atenta e descobrir o autor do roubo.
Certamente teria sido um empregado do castelo que queria chantageá-la em troca de fortuna.
A esse pensamento, sentiu-se calma.
Mas as horas passavam, e nada de o chantageador falar com ela.
Gabriel escutava atentamente o desenrolar daquela história real.
— Em seu quarto, madame Philomene estava em estado de choque.
Nunca poderia imaginar que Nathalie fosse capaz de semelhante acto.
Decidida, contou tudo ao filho, sem atinar na tragédia que estava desencadeando.
Henry, muito apaixonado pela esposa, não teve coragem de matá-la.
Espancou-a várias vezes, jurando de morte Thierry onde quer que o encontre.
Trancou sua mulher no castelo e ordenou que não saísse dali a partir daquele dia.
Desesperada e pensando que Thierry pudesse morrer, Nathalie mandou que Morgan o procurasse e lhe avisasse que fugisse, pois corria risco de vida.
Depois da fuga, quando tudo estivesse esquecido, ele deveria voltar e invadir a casa juntamente com outros campónios, e tirar a vida de Henry.
Ela facilitaria tudo.
Prometeu que ele seria um homem rico e ela uma mulher mais livre para amar.
Também prometeu a Morgan muitas jóias, que a fariam uma mulher bem de vida, caso continuasse fiel a ela.
Thierry fez tudo conforme o combinado.
Durante a Revolução Francesa, os ataques de camponeses aos castelos se tornaram comuns e num desses ataques aconteceu o premeditado:
Henry perdeu a vida.
Philomene ficou arrasada, mas nem de longe conseguiu imaginar tratar-se de Nathalie a mandante do crime.
Passados os primeiros tempos de luto, ela e Thierry voltaram a se encontrar.
Ela continuou viúva em respeito aos filhos e, apesar de apaixonada, jamais se uniria a um camponês oficialmente.
Diana tomou fôlego, antes de prosseguir com a narrativa envolvente dos factos:
— Charles e Luigi, filhos de Nathalie, tiveram de voltar da Inglaterra, pois a Revolução estava atingindo toda a Europa, e a Inglaterra planejava atacar a França na tentativa de conter o movimento.
Os franceses já não eram mais bem-vistos naquele País.
Com os filhos no castelo, e ainda a sogra, ficaram mais difíceis os encontros com o amante.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:21 pm

Este, já rico com o dinheiro e as jóias que recebia da amante, estava começando a afastar-se dela.
Percebendo isso, Nathalie pensava numa maneira de reconquistá-lo causando-lhe ciúmes.
Começou então a sair com George, viúvo rico muito amigo da família.
Iam a cafés e demais lugares públicos na tentativa de chamar a atenção de Thierry.
Isso realmente aconteceu:
Thierry passou a pensar induzido pelo espírito vingativo de Henry, agora desencarnado, que merecia mais dinheiro, e as saídas de Nathalie com George indicavam que em breve ela se casaria novamente e ele perderia essa chance.
Envenenado pela inveja, ele passou a persegui-la por toda a parte, até que um dia a encontrou comprando fazendas numa butique requintada.
— Thierry estava, então, sob a influência do espírito desencarnado de Henry? — perguntou Gabriel.
— Sim — respondeu Diana.
Thierry, após abordá-la na butique — prosseguiu — começou a ameaçá-la e marcaram assim novo encontro na cabana de caça.
Radiante, ela foi.
Luigi estava caçando por perto e viu horrorizado quando a mãe entrou com um homem na cabana.
Espreitou por uma fresta e os viu fazer amor.
Seu sangue subiu à cabeça e ele pensou em matá-los ali mesmo, todavia seu espírito guardião o aconselhou a esquecer o assunto e a perdoar.
Ele não conseguiu. Durante os dias que seguiram, influenciado por um espírito inimigo da mãe, ele traçou meticuloso plano.
Sua mãe não poderia dar aquela vergonha a ele e ao irmão; era preferível vê-la morta a estar nos braços de um homem como aquele.
Durante uma madrugada, ele entrou devagar e silencioso no quarto dela e a sufocou com um travesseiro.
Assim Nathalie regressou ao astral.
Todos pensaram se tratar de parada cardíaca; ninguém cogitou a possibilidade de Luigi ser o assassino da própria mãe.
Assim que seu corpo astral se libertou do físico, o espírito dementado de Henry passou a persegui-la incansavelmente e a fez prisioneira por anos a fio no umbral.
Depois disso, Thierry, em uma terrível discussão com Luigi, acabou sabendo que o próprio filho tinha matado a mãe quando descobrira que ela e ele se relacionavam.
Cego de ódio e pensando ter sido madame Philomene quem os delatara, assim como fizera da última vez com o filho, Henry, ele assassinou a velha senhora com requintes de crueldade.
— E como termina tudo isso? — inquiriu com interesse Gabriel.
— Em mil setecentos e noventa e oito, desiludidos e sozinhos, Charles e Luigi se entregaram passivamente à morte numa das batalhas de Napoleão Bonaparte e chegaram ao mundo espiritual em situação lamentável.
Suicidas, passaram por terríveis tormentos.
Basicamente, amigos foi isso que aconteceu.
Diana encerrou a narrativa e Gabriel estava estupefacto; nunca poderia imaginar que a história de Clotilde envolvesse tantas peripécias.
Diana concluiu:
— Após passar por tantos sofrimentos, Clotilde ainda não conseguiu encontrar o caminho da evolução pelo amor.
Aqui, em nossa estância de paz, ela foi orientada a respeito de que isso era possível, todavia escolheu sofrer em vez de encarar seus problemas de outra forma.
Bruno completou:
— Infelizmente, a maioria dos espíritos desencarnados escolhe apagar suas culpas por meio da expiação e do sofrimento.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:21 pm

Bom seria se todos nós pudéssemos aprender somente pelo bem.
— Você tem razão, Bruno.
Actualmente na Terra já é possível acabar com todo o sofrimento, mas a humanidade é que tem de fazer a própria libertação espiritual pela qual tanto anseia.
Em via de se regenerar, nosso planeta, ao qual estamos ligados há séculos, está deixando já há algum tempo a velha forma de evolução pela dor.
Vale à pena salientar que a dor é a forma mais Primitiva de evolução.
Ela só acontece em mundos ainda inferiores; em planos mais elevados nem as lágrimas existem mais, há muito foram abolidas — esclareceu Diana.
Gabriel estava com dúvidas:
— Lembro-me de que ajudei a resgatá-la.
Só que naquele tempo eu era um novato no mundo espiritual. Iniciava meu trabalho como uma espécie de terapia para meu espírito, que estava arrasado pelas culpas e pela saudade que sentia dos que haviam ficado por isso não pude acompanhar o processo de reencarnação desse grupo. Como foi que isso aconteceu?
— De forma sofrida, infelizmente — retorquiu Diana.
Como já lhe contei, Nathalie chegou aqui com muitos compromissos assumidos perante a própria consciência.
Assim que desencarnou, teve como algoz seu marido, Henry, que, se sentindo traído, a perseguiu cruelmente.
Com seus companheiros de uma falange das trevas, ele a tirou do corpo e a levou para uma caverna onde ficou presa durante décadas e onde era violentada todos os dias.
Para piorar seu estado, Henry revelou como foi sua morte e ela começou a se sentir culpada por tantos erros, inclusive o de ter induzido o próprio filho a matá-la.
Tendo consciência de que muito fracassara, Nathalie julgava estar no inferno, atirada às penas eternas.
Não se lembrava de rezar nem de pedir auxílio a Deus.
Por causa disso, demorou muito para ser resgatada.
— Madame Philomene também passou por muitos sofrimentos deste lado da vida — continuou Diana.
Não acreditava estar morta e vagou sem rumo pelo umbral por mais de dez anos, sentindo todas as necessidades de quando estava viva sem poder supri-las.
Quando encarnada, julgava que o sexo era apenas para a procriação, e com isso reprimiu toda manifestação de sexualidade que lhe aparecia, até que um dia um grupo de homens ainda presos a esse vício a encontrou e sem mais dificuldades a levou para o Vale do Amor Livre, onde passara a molestá-la sexualmente, sem se importar com a idade que ela aparentava.
Tendo reprimido tanto a própria sexualidade, madame Philomene passou a gostar de ter relações com aqueles espíritos.
A essa altura, seu próprio marido também fazia parte daquela horrível situação e ela havia se convencido de que tinha deixado à carne.
Algum tempo depois, ela foi convidada a uma excursão pelo Vale dos Suicidas e lá encontrou seus netos com os corpos perispirituais "chumbados" ao chão.
Olhos vítreos, eles estavam presos e pareciam congelados.
Foi então que ela começou a perceber a real situação em que estava e o remorso começou a persegui-la.
Seu desejo maior agora era rever o filho Henry e retirar seus netos daquela situação.
Um dia, após tanto chorar, orou a Deus e foi atendida.
Chegou à nossa colónia prometendo se regenerar, conquanto tirássemos seus netos do Vale e ela pudesse ter ao lado o filho e o marido.
Então lhe explicamos que naquele momento não era possível, que ela tinha de cuidar de si mesma, procurando ser feliz.
Em seguida, aconselhamos a reencarnação, que ela aceitou depois da aprovação do Plano Superior.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:21 pm

— E quais seriam as características de sua nova vida? — perguntou Gabriel.
— Renasceria pobre, pois achava a riqueza perigosa e má.
Escolheu o Brasil, precisamente o interior do Nordeste, e lhe foi concedida à oportunidade:
seria uma mãe de família honrada e criaria os filhos para o bem, pois como mãe de Henry havia fracassado e dado a ele uma educação perniciosa, baseada nos falsos valores da sociedade.
Longe da cidade, ela também aprenderia a se aproximar mais de Deus no contacto com a natureza, ainda que inóspita.
Assim ela nasceu — explicou Diana. — todavia as chagas do espírito são como ímãs e em pouco tempo os espíritos com os quais ela se consorciou no astral em actos sexuais a encontraram.
Diante das dificuldades que ela enfrentava quando moça, sugeriram a prostituição, ideia que ela acatou com facilidade.
Logo estava fazendo na Terra o que fazia quando desencarnada.
Anos depois, montou uma casa de prostituição e até hoje, como Aurélia, ainda se especializa em vender o corpo em troca de dinheiro.
— Durante os anos em que Philomene passou encarnada, muitas coisas aconteceram — prosseguiu Diana.
Pudemos resgatar Charles e Luigi e os conduzimos a uma colónia correccional.
Lá eles estagiaram durante anos.
Mas mesmo assim não melhoravam.
O acto do suicídio lesa o corpo astral profundamente e eles precisavam voltar a Terra com urgência.
Oraram com fervor a Deus e a Jesus para que Nathalie fosse socorrida.
Eles teriam de reencarnar, mas não podiam imaginar a mãe em tão terrível situação.
Luigi estava com remorsos por tê-la assassinado e queria seu perdão.
Todos estavam reunidos, menos Henry, que se recusava a ser socorrido.
Por isso foi submetido a uma reencarnação compulsória, e veio ao mundo como Humberto.
Era um espírito ainda muito ligado ao materialismo e às conveniências de quando viveu como nobre na França.
Dessa maneira, foi facilmente envolvido pela política e pela corrupção, coisas que estava tão habituado a fazer.
O casamento, que foi lhe dado para aprendizado interior, logo foi deixado de lado.
Até hoje a única coisa que realmente o sensibilizou foi à morte de Alfredo e Marcos, que foram Luigi e Charles reencarnados.
Interrompendo a narrativa, Gabriel perguntou:
— E Nathalie, vai voltar à vida de Humberto?
Afinal, foram marido e mulher no passado.
— Sim. Flaviana foi o espírito que induziu Luigi a sufocar a mãe naquela noite.
Elas são inimigas de passado remoto; fatalmente iriam se encontrar quando encarnadas.
Na Terra ninguém se encontra com ninguém pela primeira vez, principalmente nas relações de afecto.
O casamento com Humberto iria terminar na hora exacta e ele assumiria Isabela como esposa, para assim melhorarem como espíritos.
Mas muita coisa saiu da programação e mais uma vez eles escolheram o sofrimento.
— Como assim?
Na Terra as coisas podem acontecer fora da programação? — perguntou Bruno.
— Sim, e é o que mais acontece.
Chamada a reencarnar, Nathalie disse que viria, mas desta vez em miserável situação.
Depois de tudo que sofrerá, ela criou na mente a crença de que a riqueza é ruim e só a pobreza pode levar à evolução.
É um pensamento equivocado, mas no qual muitos acreditam geralmente movidos pelos remorsos.
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NADA É PARA SEMPRE - Hermes / Maurício de Castro - Página 2 Empty Re: NADA É PARA SEMPRE - Hermes / Maurício de Castro

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 19, 2017 8:22 pm

Ela poderia ter vindo rica mais uma vez e ter usado sua fortuna para produzir o progresso no meio social e auxiliar a todos que prejudicou no passado, todavia preferiu o egoísmo de sofrer sozinha e foi viver numa favela com casa de piso de terra, assim como os camponeses que lhe serviam viviam.
Sofrer sempre será um egoísmo, pois pelo bem e pelo amor vamos ajudar o próximo muito mais do que sofrendo.
Clotilde não acredita nisso e prefere a vida que vem levando.
Todavia, mesmo a duras penas, teria a chance de progredir.
Se a qualquer momento ela passasse a crer de forma diferente, mudando os pensamentos para outros mais prósperos, logo estaria bem de vida e evoluiria com mais facilidade.
Mas, movida pelos espíritos inferiores, preferiu ser prostituta e subir na vida de modo ilícito, o que fatalmente vai acabar em mais sofrimento.
— Ela vai conseguir se casar com Humberto? — perguntou Bruno.
Diana explicou:
— Isso está na programação.
Eles precisam se unir até mesmo para ajudar Thierry, que está na Terra como Daniel.
Ex-amantes agora como mãe e filho, eles vão sublimar a paixão que tanto os fez sofrer.
Humberto, vendo-o agora como uma criancinha doce inocente, esquecerá que ele foi seu antigo rival e assassino, e o perdoará.
Por outro lado, vendo-o como pai, Thierry vencerá o ódio e aprenderá a amá-lo, mas ainda terá de sobrepujar seus instintos violentos.
Para isso, contará com o espiritismo, com o qual ele assumiu se comprometer na tentativa de melhorar e evoluir.
Se tudo correr assim, apesar dos erros, Humberto e Clotilde poderão ser felizes.
Mas os espíritos das trevas estão atentos e vão fazer de tudo para que eles fracassem mais uma vez.
Por isso estamos aqui, para ajudá-los, sempre contando com o amparo de Deus e de Jesus!
— Como é difícil vencer quando estamos na Terra, Diana! — ponderou Gabriel.
— Isso acontece porque não ouvimos a voz da nossa própria alma.
Ela sabe tudo o que precisamos fazer para alcançar a felicidade.
E por intermédio da intuição que o Criador se comunica connosco, nos orientando a alcançar o caminho mais indicado para atingir nossos objectivos superiores.
Quem não ouve a própria alma, facilmente se perde no turbilhão do mundo e, fazendo escolhas erradas, sofrerá bastante.
Só vence na vida aquele que está do lado da espiritualidade, dos valores eternos do espírito, que são muito diferentes dos valores da sociedade.
Quem vive de acordo com as leis universais, mesmo contrariando as leis sociais, vai estar sempre equilibrado e feliz.
Os amigos terminaram de conversar e, após um abraço amigo, se despediram.
Bruno e Gabriel foram dormir na casa onde residiam na própria colónia.
Diana era um espírito muito avançado, então aproveitava a noite para estudar os casos em que trabalhava ou então ia ler os livros de espíritos que eram mais evoluídos que ela, livros esses que as pessoas da Terra ainda não conheciam e que, mais tarde, quando a humanidade estivesse melhor, chegariam a Terra por intermédio de médiuns dedicados e responsáveis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:31 pm

8 - ADQUIRINDO COMPROMISSOS
A noite estava fria e Isabela folheava um livro, sem muito interesse, na cabeceira da cama da moribunda.
— Como está à mamãe?
Era a voz de Patrícia, que acabava de entrar no quarto.
— Está bem melhor hoje.
Aliás, sua mãe tem melhorado muito ultimamente.
— São seus cuidados.
Depois que vovó teve a ideia de trazer uma enfermeira para cá, tudo melhorou.
Até papai está mais presente no lar, coisa que não fazia antes.
Isabela mordeu os lábios.
Aquela sirigaita nem desconfiava o porquê de o pai estar tão presente.
— É mesmo, o senhor Humberto tem se interessado bastante pelo lar.
Sinto que a melhora de dona Flaviana o tem deixado mais alegre e motivado para estar em casa.
— Deus a ouça; sinto muito a falta de papai aqui.
Flaviana tossiu e acordou:
— Filha, que bom acordar e ver você!
— Vim aqui ver como à senhora estava.
Não queria ir ao centro sem vê-la.
Isabela me disse que a senhora melhorou.
— Sinto-me mais forte ultimamente.
Também, pudera...
Com um anjo como Isabela à minha cabeceira não tinha como não melhorar.
Patrícia a beijou despediu-se e saiu do quarto.
As duas ficaram sozinhas.
Isabela costumava conversar com Flaviana sobre amenidades e, depois de alguns minutos, ela estava novamente adormecida.
Isabela recomeçou a leitura, sempre atenta ao menor ruído para ver se Humberto havia chegado.
Agora, três vezes por semana ele estava em casa.
Mesmo com os compromissos em Brasília, ele fazia questão de voltar para o lar, onde dava vazão a sua paixão por ela.
O quarto de Flaviana tinha uma vidraça que dava para o jardim e o portão da frente.
Era dia de Humberto chegar e, ao menor ruído de carro, ela corria para vê-lo.
Estava ansiosa.
Quando aquela mulher cadavérica iria morrer para ela se tornar logo dona da mansão?
O tempo passava e Humberto não chegava.
Ela acabou adormecendo na cadeira de balanço.
Assim que se desligou do corpo, percebeu uma pessoa à sua volta.
Era Romário, que demonstrava ansiedade no rosto.
— Parecia que você não ia dormir nunca.
Estava ansioso para lhe falar; preciso com urgência lhe fazer um alerta.
Ela, meio assustada, não reconheceu de imediato àquela pessoa tão feia e suja.
Depois de alguns instantes, se lembrou:
— Ah, o que é desta vez, Romário?
— Você precisa agir muito rápido.
Por acaso quer perder a chance de ser a dona de tudo isso aqui?
— Como assim? Não vou perder a chance.
Essa mulher doente logo morrerá e Humberto vai se casar comigo.
Ele me prometeu e sei que é homem de palavra.
— Eu não estaria tão certo disso — respondeu Romário maliciosamente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:32 pm

— Como assim?
Ele está com outra?
Diga-me, por favor — ela começou a se desesperar, afinal confiava em Romário, e, se ele estava lhe dizendo aquilo, havia de ter um motivo.
— Não é isso.
Humberto é fiel a você.
O que acontece é que você não está enxergando o óbvio.
Flaviana está se recuperando.
A doença dela deixou de se desenvolver e está regredindo.
Daqui a alguns meses estará boa e voltará a reinar absoluta como dona desta casa.
Humberto, pressionado pela sogra e pela filha, não vai ter coragem de se separar.
Você terá de se contentar em ser uma reles amante.
Ela começou a sentir ódio.
— Isso não pode acontecer.
Bem que suspeitei que ela estivesse melhorando.
O que posso fazer para me livrar dessa mulher de uma vez por todas?
— Matá-la! E isso que deve fazer.
Se não matar Flaviana, não vai conseguir ser a senhora desta casa.
— O quê? Nunca matei ninguém, isso é errado!
— Boba! Ou faz isso, ou perderá sua chance de ficar milionária.
Aproveite enquanto ela dorme e a sufoque com o travesseiro.
Todos pensarão que foi parada cardíaca e ninguém suspeitará de você.
Acorde no corpo físico e mate-a sem piedade.
Ademais, na última encarnação, ela foi o espírito que influenciou seu filho a matá-la.
Você apenas fará justiça.
— Isso mesmo.
Vou agora para o corpo e farei o que me indicou, só assim serei rica e feliz.
Romário sorria de prazer mórbido.
Tinha conseguido enganar Isabela facilmente.
A melhora de Flaviana era temporária, ele sabia que a insuficiência renal crónica não tinha cura, mas o que ele queria era comprometer ainda mais Isabela com as leis de Deus.
Os espíritos inferiores induzem os outros ao mal com um único propósito:
o de os fazer infelizes como eles.
A felicidade das pessoas é um verdadeiro tormento para os espíritos inferiores, então, para vê-las infelizes também, eles as induzem ao mal.
Isabela, com esse ato se comprometeria seriamente e seria tão infeliz quanto eles num futuro próximo.
Ainda que as leis da Terra jamais descobrissem seu crime, as leis divinas agiriam sem erro até forçá-la ao reajuste.
Num susto, Isabela acordou.
Olhou novamente pela vidraça e nada de Humberto.
Já era tarde e àquela hora ele não viria, ficaria no apartamento em Brasília.
Certamente os compromissos lá tinham se intensificado e ele não pudera voltar para casa.
Olhou Flaviana adormecida e percebeu que sua respiração estava normal.
Aquela mulher estava melhorando e isso era péssimo para ela.
De repente, um pensamento a invadiu:
"E se ela melhorar?"
Já ouvira falar de casos em que o paciente estava com o pé na sepultura e mesmo assim havia se recuperado e passado a levar vida normal como antes.
Não, isso não podia acontecer.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:32 pm

Flaviana estava perto da morte e nada a faria se recuperar.
Tentou se concentrar no romance, mas não conseguia.
Algo lhe dizia fortemente que Flaviana iria se recuperar e voltar a ser a senhora daquela casa.
Isso ela não podia deixar acontecer; tinha de fazer algo.
Nas últimas semanas, Flaviana tinha melhorado muito.
Se recuperasse, não permitiria que Humberto se separasse dela para se casar com outra.
A velha chata da Augusta continuaria a imperar e ela não poderia se vingar.
De repente, outro pensamento lhe tomou:
"E se ela morresse?
Só assim tudo ficaria resolvido".
Estranha força a envolveu e ela pegou o travesseiro sobre o qual Flaviana dormia.
Bruscamente, começou a apertá-lo contra seu rosto.
Flaviana acordou assustada e tentou gritar, mas a voz não saiu.
Sentiu que alguém a sufocava, mas não sabia quem.
Isabela tinha força multiplicada e, ao perceber que a vítima tentava se livrar apertou ainda mais o travesseiro.
Em desespero, a enferma sentia perder o resto de suas forças e concluiu que ia morrer.
Ao pensar nessa hipótese, um mórbido pavor a invadiu e ela perdeu os sentidos.
Isabela, ao se certificar de que Flaviana estava morta, foi para sua poltrona e fingiu dormir.
Como se sentia aliviada ao pensar que agora tudo seria seu!
Pela manhã teria de estar preparada para representar o papel de surpresa e inocente.
Amanheceu.
Augusta e Patrícia estavam reunidas na mesa tomando o café.
Era sempre assim; elas acordavam, tomavam o café e depois iam ver Flaviana.
Augusta, mesmo depois que Isabela chegara, continuava praticamente morando na mansão, tão preocupada estava com a filha.
De repente, ouviram um grito agudo vindo de cima.
Com o susto, elas correram a fim de ver o que era.
Ao chegarem, viram Isabela chorando ajoelhada aos pés de Flaviana, que parecia morta.
Sentindo o que tinha acontecido, Augusta desmaiou.
Logo os empregados chegaram e se enterneceram ao ver o desespero de Isabela e o choro baixinho de Patrícia, debruçada sobre a mãe.
Levaram Augusta para outro quarto e telefonaram para Humberto dando a fatídica notícia.
Nem perceberam o exagero cometido pela enfermeira, que nem de longe se importava com a situação.
— Levante Patrícia — dizia Zulmira, antiga empregada da casa.
Não vai adiantar ficar aí debruçada.
É hora de rezar e pedir a Deus que receba a alma de dona Flaviana no céu.
Era uma santa mulher.
Patrícia levantou-se e seguiu com ela.
Tudo parecia um pesadelo.
Isabela, olhos inchados, depois de contar sua versão dos factos ao médico, foi para casa.
No trajecto não conseguia esconder a egoística satisfação com o que tinha feito.
O doutor Vasconcelos diagnosticou parada cardíaca e ninguém nunca iria desconfiar dela.
Mas, mesmo assim, tinha de disfarçar.
Eudásia estava lá cuidando de Daniel e ela não poderia desconfiar de nada; seria um segredo que levaria ao túmulo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:32 pm

Em casa, Isabela fez a mesma cena com Eudásia, que de nada desconfiou.
Algumas horas depois na mansão, Humberto havia acabado de chegar.
Abraçou a filha e tentou confortá-la como pôde.
O pessoal do centro espírita estava lá e reanimara Patrícia com palavras de consolo.
Augusta estava inconsolável.
Chorava, gritava e desmaiava repetidas vezes, até que o doutor Vasconcelos a fez dormir com uma alta dose de ansiolítico.
O velório foi na capela de um rico cemitério.
Isabela compareceu e estava com Augusta o tempo inteiro.
Naqueles seis meses trabalhando lá, ela fizera grande amizade com a sogra de Humberto.
Com extrema falsidade, tinha se acercado da senhora e conquistara sua afeição.
Ouvia-lhe as confidências.
Augusta era severa e só tinha amigas de sua idade e religião, mas com Isabela ocorrera uma excepção; ambas teriam se tornado grandes amigas, não fosse à hipocrisia de Isabela.
Humberto estava cercado por amigos do Senado e até o presidente compareceu.
Isabela ficava imaginando como seria maravilhoso ser a esposa dele e brilhar na sociedade.
Foi com esses pensamentos que viu o corpo de Flaviana ser sepultado.
Augusta não permitiu a cremação.
Naquela noite, o ambiente estava triste na mansão.
Humberto, que tinha passado quase a vida inteira longe da filha, não sabia agora como se aproximar dela.
Ele também se sentia mal. No fundo, sua consciência já o acusava de ter sido interesseiro e se casado sem amor.
Naquele instante, o remorso pareceu aumentar.
Na sala com a sogra e a filha, cada um a um canto do sofá, ele não sabia como quebrar aquele mórbido silêncio.
— Sei que é muito triste... — começou ele.
Mas precisamos acabar com esse silêncio pavoroso que se instalou aqui.
Dona Augusta é hora de deixarmos para trás nossas desavenças e nos tornarmos amigos, pelo bem de Patrícia.
— Sei o que você quer, mas não vou ceder.
O que lhe disse antes de minha filha morrer repito agora.
A partir da próxima semana Patrícia vai viver comigo em minha casa; não posso permitir que ela passe a viver aqui sozinha.
Não volto atrás na minha decisão.
Patrícia, ainda com os olhos inchados, pareceu sair do torpor que a invadia e se defendeu:
— Vovó, já conversamos sobre isso.
Eu lhe disse que, apesar de ter apenas dezoito anos, sei bem o que quero da vida.
Não vou morar com a senhora, apesar de amá-la bastante.
Ademais, se eu sair daqui, o que será feito desta casa tão grande da qual mamãe cuidou com tanto carinho?
O que será desses empregados que cuidaram de nós durante tanto tempo?
Não, não vou sair.
Pretendo me casar e morar nesta casa.
Acredito que quando mamãe despertar no plano espiritual ficará contente ao me ver aqui.
— Você e essas suas ideias.
Sua mãe morreu, e, como todos que morrem, ela estará dormindo até o último dia; não vai poder ver nada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 20, 2017 9:32 pm

Veja só, Humberto, o que sua negligência fez!
Até entrar para uma seita horrível sua filha entrou.
E claro! Flaviana, sempre doente, não pôde guiá-la como deveria, e você, que tinha essa obrigação, a abandonou, por isso segue esse caminho.
Temo por você, minha neta.
Pode até enlouquecer com essas ideias.
— A senhora não pode falar de uma coisa que não conhece.
O espiritismo é uma filosofia séria, voltada para o bem.
Além do mais, ela consola mais do que qualquer outra religião que existe no mundo.
Não quero ofendê-la, mas sua religião não acredita no perdão de Deus, uma vez que considera o inferno como um lugar de padecimentos eternos, e também não consola, já que acredita que os espíritos não se comunicam e não têm consciência de si mesmos.
Eu aprendi com o espiritismo que Deus é bom, sempre perdoa seus filhos e não fecha a porta para nenhum deles, por mais errados que pareçam estar.
Aprendi que a morte não existe e que a vida é eterna.
Acredito que minha mãe, agora, está amparada por espíritos de luz, descansando em algum lugar, e isso me dá consolo e alegria.
— Patrícia, sua avó está certa.
Nunca obriguei ninguém a seguir religião alguma, mas acredito que este não seja um caminho bom para você.
Se essa religião lhe desse consolo mesmo, não teria chorado tanto a morte de sua mãe.
— Chorei sim, e ainda vou chorar mais, pois a amava, e quem ama sempre sente quando se separa do ser amado.
Mas meu choro é como se fosse por mamãe ter ido fazer uma longa viagem.
Não choro o "nunca mais".
Sei que, se Deus a levou, foi porque assim foi o melhor.
Tenho certeza de que um dia a reencontrarei.
Augusta estava indignada.
— Que desgosto!
Para mim é horrível ter uma neta nessa religião.
Se você fosse igual à Isabela...
Ela sim é que é uma pessoa sensata e tem aprendido muito com minha experiência.
Tornamo-nos amigas e ela ouve tudo quanto eu digo, já você...
— Pense como quiser.
Só aviso que não irei morar com a senhora.
Agora vou dormir, porque estou muito cansada.
Dizendo isso, beijou o pai e subiu.
Augusta ficou sozinha com Humberto.
— Você está vendo no que está se transformando sua filha: numa anarquista.
Isso é o resultado da sua ausência aqui no lar.
Saiba que eu nunca o perdoarei por tudo que fez minha filha passar.
Vou amanhã para minha casa, mas ficarei atenta ao que acontece aqui.
Não permitirei que se case com outra enquanto eu for viva.
— Dona Augusta, hoje todos os ânimos estão exaltados.
É melhor termos essa conversa depois.
Patrícia vai morar aqui com a Zulmira e com os outros empregados.
Ela já é bastante adulta para escolher o que quer da vida.
Não posso estar aqui todo dia, mas vou mandar redobrar a segurança da casa e sei que com Zulmira, que a viu nascer, ela estará protegida.
Augusta começou a chorar e Humberto, angustiado, deixou-a sozinha.
Desse modo, ela passou o resto da noite chorando o triste destino e a morte de sua filha.
— Eudásia, a felicidade vai entrar para sempre em minha vida!
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