LUZ ESPÍRITA
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O que é a Doutrina

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O que é a Doutrina - Página 3 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Qua Dez 14, 2011 12:01 pm

A loucura, pois, é um efeito consecutivo, cuja causa primeira é uma predisposição orgânica que torna o cérebro mais, ou menos, acessível a certas impressões;
isso é tão verdadeiro que tendes as pessoas que pensam demais e não se tornam loucas, enquanto que outras se tornam sob o domínio da menor super-excitação.

Havendo uma predisposição à loucura, esta toma o carácter da preocupação principal, que se torna, então, uma ideia fixa.

Essa ideia fixa poderá ser a dos Espíritos, naqueles que deles se ocupam, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social.

É provável que o louco religioso se tornasse um louco espírita, se o Espiritismo tivesse sido sua preocupação dominante.

Um jornal disse, é verdade, que em uma única localidade da América, cujo nome não me recordo, contaram-se quatro mil casos de loucura espírita;
mas sabe-se que, entre nossos adversários, é uma ideia fixa crerem-se os únicos dotados de razão, e isso é uma mania como as outras.

Aos seus olhos nós somos todos dignos de um manicómio e, por conseguinte, os quatro mil espíritas da localidade em questão, deviam ser igualmente loucos.

Nesse aspecto, os Estados Unidos têm centenas de milhares deles, e todos os outros países do mundo, um número bem maior.
Esse mau gracejo começou a ser usado depois que se viu esta loucura ganhar as classes mais elevadas da sociedade.

Fez-se grande alarde de um exemplo conhecido, de Victor Hennequin, esquecendo-se que, antes de se ocupar com o Espiritismo, ele tinha já dado provas de excentricidade das ideias.

Se as mesas girantes não tivessem acontecido, o que, segundo um jogo de palavras bem espirituoso de nossos adversários, fizeram lhe girar a cabeça, sua loucura teria tomado outro curso.

Eu digo, pois, que o Espiritismo não tem nenhum privilégio a esse respeito;
e vou mais longe:
digo que, bem compreendido, é um preservativo contra a loucura e o suicídio.

Entre as causas mais frequentes de super-excitação cerebral, é preciso contar as decepções, os desgostos, as afeições contrariadas, que são, ao mesmo tempo, as causas mais frequentes de suicídios.

Ora, o verdadeiro espírita vê as coisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado, que as tribulações não são para ele senão os incidentes desagradáveis de uma viagem.

O que, em outro, produziria uma emoção violenta, o afecta levemente.
Ele sabe, aliás, que os sofrimentos da vida são provas que servem para o seu adiantamento, se as suporta sem reclamar, porque será recompensado de acordo com a coragem com a qual as tiver suportado.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 15, 2011 11:40 am

Suas convicções lhe dão, pois, uma resignação que o preserva do desespero, e, por conseguinte, de uma causa permanente de loucura e de suicídio.

Por outro lado, ele sabe, pelo que vê nas comunicações com os Espíritos, da sorte deplorável daqueles que abreviam voluntariamente seus dias, e esse quadro basta para fazê-lo reflectir;
por isso é considerável o número daqueles que se detiveram sobre essa inclinação funesta.
Eis aí um dos resultados do Espiritismo.


Ao número das causas de loucura, é preciso ainda acrescentar o medo, e o medo do diabo desarranjou mais de um cérebro.

Sabe-se, acaso, o número de vítimas que se fez amedrontando-se imaginações fracas com esse quadro que se esforça em tornar mais assustador por detalhes hediondos?

O diabo, diz-se, não assusta senão as crianças e é um freio para torná-las sábias;
sim, como o bicho papão e o lobisomem, e quando elas não têm mais medo, tornam-se piores que antes.

E, para esse belo resultado, não se conta o número de epilepsias causadas pela comoção de um cérebro delicado.

É preciso não confundir a loucura patológica com a obsessão.

Esta não se origina de nenhuma lesão cerebral, mas da subjugação que Espíritos malfazejos exercem sobre certos indivíduos, e tem por vezes as aparências da loucura propriamente dita.

Essa doença, que é muito frequente e independente de qualquer crença no Espiritismo, existiu em todos os tempos.

Nesse caso, a medicação ordinária é ineficaz e mesmo nociva.
O Espiritismo, fazendo conhecer esta nova causa de perturbação da saúde, dá ao mesmo tempo o único meio de triunfar sobre ela, agindo não sobre a doença, mas sobre o Espírito obsessor.

Ele é o remédio e não a causa do mal.

Esquecimento do passado

Visitante – Eu não entendo como o homem pode aproveitar a experiência adquirida em suas existências anteriores, se delas não se lembra, porque, desde o momento em que delas não se recorda, cada existência é para ele como se fosse a primeira e, assim, tem sempre que recomeçar.

Suponhamos que, cada dia, ao despertarmos, percamos a memória do que fizemos na véspera, nós não seríamos mais avançados aos setenta anos que aos dez anos;
enquanto que lembrando nossas faltas, nossas imperfeições e as punições em que incorremos, diligenciaríamos para não recomeçarmos.

Para me servir da comparação que haveis feito do homem sobre a Terra com o aluno do colégio, eu não compreenderia que esse aluno pudesse aproveitar as lições da quarta série se ele não lembrasse do que aprendeu na anterior. (1)

(1) No original: en Cinquième, a criação do curso escolar devia obedecer a uma ordem numérica decrescente. (NOTA DO TRADUTOR.)
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 15, 2011 11:41 am

Essas soluções de continuidade na vida do Espírito interrompem todas as relações e fazem dele, de alguma sorte, um novo ser;
de onde se pode dizer que nossos pensamentos morrem a cada existência, para se renascer sem consciência do que se foi.

É uma espécie de nada.

A.K. – De questão em questão me conduzireis a vos ministrar um curso completo de Espiritismo.

Todas as objecções que fizestes são naturais naquele que nada sabe, ao passo que ele encontra, em um estudo sério, uma solução bem mais explícita que a que eu possa dar numa explicação sumária que, por si mesma, deve provocar, incessantemente, novas questões.

Tudo se encadeia no Espiritismo, e quando se segue o conjunto, vê-se que os princípios decorrem uns dos outros, apoiando-se mutuamente.

Então, o que parecia uma anomalia contrária à justiça e à sabedoria de Deus, parece muito natural e vem confirmar essa justiça e essa sabedoria.

Tal é o problema do esquecimento do passado que se liga a outras questões de igual importância e que, por isso, não farei mais que aflorar aqui.

Se, a cada existência, um véu é lançado sobre o passado, o Espírito não perde nada daquilo que adquiriu no passado:
ele não esquece senão a maneira pela qual adquiriu a experiência.

Para me servir da comparação do escolar, eu diria que:
pouco importa para ele saber onde, como, e sob a orientação de que professores ele fez o ano anterior se, alcançando a quarta série ele sabe o que se aprende na anterior.

Que lhe importa saber quem o castigou pela sua preguiça e sua insubordinação, se esses castigos o tornaram laborioso e dócil?
É assim que, em se reencarnando, o homem traz, por intuição e como ideias inatas, o que adquiriu em ciência e moralidade.

Eu digo em moralidade porque se, durante uma existência, ele se melhorou, se aproveitou as lições das experiências, quando retornar, será instintivamente melhor;
seu Espírito amadurece na escola do sofrimento e, pelo trabalho, terá mais firmeza;
longe de dever a tudo recomeçar, ele possui um fundo cada vez mais rico, sobre o qual se apoia para progredir mais.


A segunda parte da vossa objecção, referente ao aniquilamento do pensamento, não está melhor alicerçada, porque esse esquecimento não ocorre senão durante a vida corporal;
deixando-a, o Espírito recobra a lembrança do seu passado e pode julgar quanto à sua caminhada e do que lhe resta ainda a realizar, de sorte que não há solução de continuidade na vida espiritual, que é a vida normal do Espírito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 15, 2011 11:41 am

O esquecimento temporário é um benefício da Providência.

A experiência, frequentemente, é adquirida em rudes provas e terríveis expiações, cuja lembrança seria muito penosa e viria aumentar as angústias das tribulações da vida presente.

Se os sofrimentos da vida parecem longos, que seriam, pois, se sua duração fosse aumentada com as lembranças dos sofrimentos do passado?

Vós, por exemplo, senhor, sois hoje um homem honesto, mas o deveis, talvez, aos rudes castigos que haveis suportado por faltas que, actualmente, repugnariam a vossa consciência;
ser-vos-ia agradável lembrar de ter sido enforcado por isso?

A vergonha não vos perseguiria imaginando que o mundo sabe do mal que haveis feito?
Que importa o que haveis podido fazer, e o que haveis podido suportar para expiar, se agora sois um homem estimável?

Aos olhos do mundo sois um homem novo, e aos olhos de Deus um Espírito reabilitado.

Livre da lembrança de um passado importuno, agireis com mais liberdade;
é para vós um novo ponto de partida;
vossas dívidas anteriores estão pagas, cabendo-vos não contrair novas dívidas.


Assim, quantos homens gostariam de poder, durante a vida, lançar um véu sobre seus primeiros anos!

Quantos disseram, ao fim de sua caminhada:
"Se devesse recomeçar, eu não faria o que fiz"!

Pois bem!, o que eles não podem refazer nesta vida, refarão em outra;
em uma nova existência seu Espírito trará, no estado de intuição, as boas resoluções que eles terão tomado.

É assim que se cumpre, gradualmente, o progresso da Humanidade.

Suponhamos, ainda, – o que é um caso muito comum – que em vossas relações, em vosso lar mesmo, se encontre um ser do qual tendes muitas queixas, que talvez vos arruinou ou desonrou em uma outra existência e que, Espírito arrependido, vem se encarnar em vosso meio, unir-se a vós pelos laços de família, para reparar o mal que vos fez pelo seu devotamento e sua afeição:
ambos não estaríeis na mais falsa posição se, todos os dois, vos lembrásseis de vossas inimizades?

Ao invés de se apaziguarem, os ódios se eternizariam.

Concluí com isso que a lembrança do passado perturbaria as relações sociais e seria um entrave ao progresso.
Quereis disso uma prova actual?

Que um homem condenado às galeras tome a firme resolução de se tornar honesto;
que ocorrerá em sua saída?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 15, 2011 11:42 am

Será repelido pela sociedade e essa repulsa, quase sempre o recoloca no vício.
Suponhamos, ao contrário, que todo o mundo ignore seus antecedentes:
ele será bem acolhido; se ele próprio pudesse esquecê-los, não seria por isso menos honesto e poderia andar de cabeça erguida ao invés de curvá-la sob a vergonha da recordação.

Isso concorda perfeitamente com a doutrina dos Espíritos sobre os mundos superiores ao nosso.

Nesses mundos, onde não reina senão o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa;
eis porque aí lembram-se de sua existência precedente como nos lembramos do que fizemos na véspera.

Quanto à sua estada em mundos inferiores, ela não é mais que um sonho mau.

Elementos de convicção

Visitante – Eu convenho, senhor, que, do ponto de vista filosófico, a Doutrina Espírita é perfeitamente racional.

Mas, resta sempre a questão das manifestações que não pode ser resolvida senão pelos factos;
ora, é a realidade desses factos que muitas pessoas contestam e não deveis achar espantoso o desejo que se exprime de testemunhá-los.

A.K. – Acho isso muito natural;
somente, como procuro que sejam proveitosos, explico em que condições convém se colocar para melhor observá-los e, sobretudo, para compreendê-los.

Ora, aquele que não quer se colocar nessas condições é porque não tem desejo sério de se esclarecer e, então, é inútil perder-se tempo com ele.

Compreendereis também, senhor, que seria estranho que uma filosofia racional tivesse saído de factos ilusórios e controvertidos.

Em boa lógica, a realidade do efeito implica na realidade da causa;
se um é verdadeiro, o outro não pode ser falso, porque onde não houvesse árvore não se recolheriam frutos.

Todo o mundo, é verdade, não pode constatar os factos, porque todo o mundo não se colocou nas condições desejadas para os observar e, para isso, não se armou da paciência e perseverança necessárias.

Mas, ocorre aqui como em todas as ciências:
o que uns não fazem, outros o fazem:
todos os dias, aceita-se o resultado de cálculos astronómicos sem os ter feito.


Qualquer que ela seja, se achais uma filosofia boa, podereis aceitá-la como aceitaríeis uma outra, reservando, porém, vossa opinião sobre os caminhos e meios que a ela conduziram, ou, pelos menos, não admitindo-a senão como hipótese até mais ampla constatação.

Os elementos de convicção não são os mesmos para todo o mundo;
o que convence a alguns, não causa nenhuma impressão sobre outros:
por isso é preciso um pouco de tudo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Dez 15, 2011 11:43 am

Mas, é um erro crer-se que as experiências físicas sejam o único meio de convencer.
Vi pessoas que os fenómenos mais notáveis não puderam sacudir e para as quais uma simples resposta escrita triunfou.

Quando se vê um facto que não se compreende, quanto mais ele é extraordinário, mais parece suspeito, e o pensamento nele procura sempre uma causa vulgar.

Se se o compreende, mais facilmente é admitido porque tem uma razão de ser:
o maravilhoso e o sobrenatural desaparecem.

Certamente, as explicações que vos acabo de dar nesta entrevista estão longe de serem completas;
mas, por mais sumárias que sejam, estou persuadido de que vos levarão a reflectir e, se as circunstâncias vos testemunharem quaisquer factos de manifestações, os vereis com menos prevenção, porque podereis raciocinar com base.

Há duas coisas no Espiritismo:
a parte experimental das manifestações e a doutrina filosófica.

Ora, todos os dias sou visitado por pessoas que nada viram e crêem tão firmemente como eu apenas pelo estudo que fizeram da parte filosófica;
para elas o fenómeno das manifestações é acessório e o fundo é a doutrina, a ciência.

Elas a vêem grande, tão racional, que nela encontram tudo o que pode satisfazer suas aspirações íntimas, sem o facto das manifestações, de onde concluem que, supondo-se que as manifestações não existissem, a doutrina não seria menos aquela que resolve melhor uma multidão de problemas reputados insolúveis.

Quantos não disseram que essas ideias tinham germinado no seu cérebro, mas que elas aí estavam confusas!

O Espiritismo veio formulá-las, dar-lhes um corpo, e foi para eles como um rasgo de luz.
Isso explica o número de adeptos que apenas a leitura de O Livro dos Espíritos fez.

Acreditais que ela estaria assim se não tivesse passado das mesas girantes e falantes?

Visitante – Tendes razão em dizer, senhor, que das mesas girantes saiu uma doutrina filosófica;
e eu estava longe de supor as consequências que poderiam surgir de uma coisa que se olhava como simples objecto de curiosidade.

Vejo agora quanto é vasto o campo aberto pelo vosso sistema.

A.K. – Aqui eu vos detenho, senhor;
me fazeis muita honra atribuindo-me esse sistema, porque não me pertence.

Ele foi inteiramente deduzido do ensinamento dos Espíritos.
Eu vi, observei, coordenei, e procuro fazer os outros compreenderem o que eu próprio compreendo;
eis toda a parte que nele me cabe.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 16, 2011 11:34 am

Há entre o Espiritismo e os outros sistemas filosóficos esta diferença capital:
os últimos são obra de homens mais ou menos esclarecidos, enquanto que naquele que vós me atribuís não tenho o mérito de invenção de um único princípio.

Diz-se:
a filosofia de Platão, de Descartes, de Leibnitz;
não se dirá:
a doutrina de Allan Kardec, e isso é bom, pois que importância teria um nome em uma tão grave questão?

O Espiritismo tem auxiliares bem mais preponderantes, perto dos quais não somos senão átomos.


Sociedade Espírita de Paris
Sociedade para a continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec - Rua de Lille, 7

Visitante – Tendes uma sociedade que se ocupa desses estudos;
ser-me-ia possível fazer parte dela?

A.K. – Seguramente não, para o momento.
Se para ser recebido não é necessário ser doutor em Espiritismo, é preciso, ao menos, ter sobre esse assunto ideias mais sólidas que as vossas.

Como ela não quer ser perturbada em seus estudos, não pode admitir aqueles que lhe viriam fazer perder seu tempo com questões elementares, nem aqueles que, não simpatizando com seus princípios e suas convicções, nela lançariam a desordem com discussões intempestivas ou um espírito de contradição.

É uma sociedade científica, como tantas outras, que se ocupa em aprofundar os diferentes princípios da ciência espírita, e que busca se esclarecer.

É o centro para onde convergem as informações de todas as partes do mundo, e onde se elaboram e se coordenam as questões relacionadas com o progresso da ciência;
mas não é uma escola, nem um curso de ensinamentos elementares.

Mais tarde, quando vossas convicções estiverem formadas pelo estudo, ela verá se poderá vos admitir.

Até lá, podereis assistir, quando muito, a uma ou duas sessões como ouvinte, com a condição de nela não fazer nenhuma reflexão de natureza a magoar ninguém, sem o que, eu, que aí vos terei introduzido, me exporei à censura da parte dos meus colegas, e a porta da sociedade lhe será fechada para sempre.

Vereis aí uma reunião de homens graves e de boa companhia, cuja maioria se recomenda pela superioridade do seu saber e sua posição social, e que não permitiria que aqueles que ela quer admitir se afastem, no que quer que seja, das conveniências;
porque não creiais que ela convida o público e que chama a qualquer um para as suas sessões.

Como não faz demonstrações, tendo em vista satisfazer a curiosidade, ela afasta com cuidado os curiosos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 16, 2011 11:34 am

Portanto, aqueles que crêem aí encontrar uma distracção, e uma espécie de espectáculo, ficariam desapontados e melhor fariam se a ela não se apresentassem.

Eis porque ela recusa admitir, mesmo como simples ouvintes, aqueles que lhes são desconhecidos, ou cujas disposições hostis são notórias.

Interdição ao Espiritismo

Visitante – Eu vos peço uma última questão.

O Espiritismo tem inimigos poderosos;
eles não poderiam interditar-lhe a actividade e as sociedades, e por esse meio deter a sua propagação?

A.K. – Isso seria um meio de perder a disputa um pouco mais depressa, porque a violência é o argumento daqueles que nada de bom têm a dizer.

Se o Espiritismo é uma quimera, ele cairá por si mesmo, sem que se dê a esse trabalho;
se o perseguem é porque o temem, e não se teme senão aquilo que é sério.

Se é uma realidade, ele está, como eu o disse, na Natureza, e não se revoga uma lei da Natureza com uma penada.

Se as manifestações espíritas fossem o privilégio de um homem, ninguém duvida que colocando esse homem de lado, põe-se fim às manifestações.

Infelizmente para os adversários, elas não são um mistério para ninguém;
nada há de secreto, nada de oculto, tudo se passa em pleno dia;
elas estão à disposição de todo o mundo, e a usam desde o palácio à mansarda.


Pode-se interditar-lhe o exercício público;
mas sabe-se precisamente que não é em público que elas se produzem melhor, mas na intimidade.

Ora, cada um podendo ser médium, quem pode impedir uma família em seu lar, um indivíduo no silêncio do gabinete, o prisioneiro sob os ferrolhos, de ter comunicações com os Espíritos, com o desconhecimento e mesmo sob as barbas dos esbirros?

Todavia, admitamos que um governante fosse bastante forte para impedi-los, impediria seus vizinhos, o mundo inteiro, uma vez que não há um só país, nos dois continentes, onde não haja médiuns?

O Espiritismo, aliás, não tem sua origem entre os homens, pois é obra dos Espíritos, aos quais não se os pode nem queimar, nem prender.

Ele repousa na crença individual e não nas sociedades, que de nenhum modo são necessárias.

Se viessem a destruir todos os livros espíritas, os Espíritos os ditariam de novo.

Em resumo, o Espiritismo é hoje um facto consumado;
ele conquistou seu lugar na opinião pública e entre as doutrinas filosóficas.

É preciso, pois, que aqueles aos quais não convém, disponham-se a vê-lo ao seu lado, ficando perfeitamente livres para não aceitá-lo.

§.§.§- O-canto-da-ave
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O que é a Doutrina - Página 3 Empty Terceiro Diálogo - O Padre

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 16, 2011 11:36 am

Um abade – Permiti-me, senhor, dirigir-vos, a meu turno, algumas questões?

A.K. – De bom grado, senhor, mas, antes de responder-vos, creio ser útil fazer-vos conhecer o terreno sobre o qual tenciono me colocar convosco.

Primeiramente, devo declarar-vos que não procurarei, de nenhum modo, converter-vos à nossas ideias.
Se desejais conhecê-las detalhadamente, as encontrareis nos livros onde elas estão expostas.
Lá podereis estudá-las com vagar e estareis livre para aceitá-las ou rejeitá-las.

O Espiritismo tem por objectivo combater a incredulidade e suas funestas consequências, dando provas patentes da existência da alma e da vida futura.

Ele se dirige, pois, àqueles que não crêem em nada, ou que duvidam, e o número deles é grande, como o sabeis.

Aqueles que têm um fé religiosa, e aos quais essa fé basta, dele não têm necessidade;
àquele que diz:
"eu creio na autoridade da Igreja, e me atenho ao que ela ensina, sem nada procurar além dela", o Espiritismo responde que ele não se impõe a ninguém e não vem forçar nenhuma convicção.

A liberdade de consciência é uma consequência da liberdade de pensar, que é um dos atributos do homem;
o Espiritismo estaria em contradição com seus princípios de caridade e de tolerância, se ele não a respeitasse.

Aos seus olhos, toda crença, quando sincera e não conduz o seu próximo ao erro, é respeitável, mesmo que ela fosse errónea.

Se alguém tiver sua consciência empenhada em crer, por exemplo, que é o Sol que gira, nós lhe diremos:
crede se isso vos satisfaz, porque não impedirá a Terra de girar;
mas, da mesma forma que não procuramos violentar vossa consciência, não procurai violentar a dos outros.


Se de uma crença, inocente em si mesma, fazeis um instrumento de perseguição, ela torna-se nociva e pode ser combatida.

Tal é, senhor abade, a linha de conduta que tive com os ministros de diversos cultos que a mim se dirigiram.

Quando me questionaram sobre alguns pontos da doutrina, lhes dei as explicações necessárias, abstendo-me de discutir certos dogmas com os quais o Espiritismo não tem preocupações, cada um estando livre em sua apreciação;
mas jamais fui procurá-los no desejo de abalar sua fé mediante uma pressão qualquer.


Aquele que vem a nós como um irmão, como tal o acolhemos; aquele que nos recusa, nós o deixamos em paz.
É o conselho que não cesso de dar aos espíritas, porque nunca aprovei aqueles que se atribuem a missão de converter o clero.

Sempre lhes disse:
semeai no campo dos incrédulos, porque lá está uma ampla colheita a fazer.
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O que é a Doutrina - Página 3 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 16, 2011 11:36 am

O Espiritismo não se impõe porque, como eu o disse, ele respeita a liberdade de consciência e sabe que toda crença imposta é superficial e não dá senão as aparências da fé, mas não a fé sincera.

Ele expõe seus princípios aos olhos de todos, de maneira a que cada um possa formar sua opinião com conhecimento de causa.

Aqueles que o aceitam, padres ou laicos, o fazem livremente e porque os acham racionais;
mas não nos zangamos de nenhum modo com aqueles que não são da nossa opinião.

Se hoje há luta entre a Igreja e o Espiritismo, temos a consciência tranquila de não tê-la provocado.

O padre – Se a Igreja, vendo surgir uma nova doutrina, nela encontra princípios que, no seu entender, crê dever condenar, contestai-lhe o direito de discuti-los e de combatê-los, de precaver seus fiéis contra aquilo que ela considera um erro?

A.K. – De forma alguma contestamos um direito que reclamamos para nós mesmos.

Se ela tivesse se contido nos limites da discussão, nada de melhor;
mas, lede a maioria dos escritos emanados dos seus membros ou publicados em nome da religião, os sermões que pregaram e aí vereis a injúria e a calúnia extravasar de todas as partes, e os princípios da doutrina sempre indigna e maldosamente deturpados.

Não se tem ouvido, do alto do púlpito, seus partidários serem qualificados de inimigos da sociedade e da ordem pública?

Aqueles que ela reconduziu para a fé, anatematizados e rejeitados pela Igreja, pela razão que ela entende melhor ser incrédulo que crer em Deus e na alma através do Espiritismo?

Não se afligiram por não haver para os espíritas as fogueiras da Inquisição?
Em certas localidades, não os apontaram à repreensão dos seus concidadãos, chegando a fazê-los perseguir e injuriar nas ruas?

Não se impôs, a todos os fiéis, fugirem deles como de pestilentos, desviando os serviçais de entrarem ao seu serviço?
As mulheres não foram solicitadas a separarem-se de seus maridos, e os maridos de suas mulheres, por causa do Espiritismo?

Não se fez perder seus lugares nos empregos, retirando aos operários o pão do trabalho e aos necessitados o pão da caridade porque eram espíritas?

Não foram despedidos de certos asilos até os cegos, porque não quiseram abjurar sua crença?

Dizei-me, senhor abade, está aí a discussão real?
Os espíritas opuseram a injúria pela injúria, o mal pelo mal?

Não. A tudo opuseram a calma e a moderação.
A consciência pública já lhes rendeu a justiça de que eles não foram os agressores.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Dez 16, 2011 11:36 am

O padre – Todo homem sensato deplora esses excessos;
mas a Igreja não poderia ser responsável pelo abuso cometido por alguns de seus membros pouco esclarecidos.

A.K. – Concordo com isso;
mas esses membros pouco esclarecidos são os príncipes da Igreja?

Vede a pastoral do bispo de Argel e de alguns outros.
Não foi um bispo que ordenou o auto-de-fé de Barcelona?
A superior autoridade eclesiástica não tem todo o poder sobre os seus subordinados?

Se, pois, ela tolera sermões indignos no púlpito evangélico, se favorece a publicação de escritos injuriosos e difamatórios contra uma classe de cidadãos, se não se opõe às perseguições exercidas em nome da religião, é porque ela os aprova.

Em resumo, a Igreja, repelindo sistematicamente os espíritas que voltavam para ela, forçou-os a retrocederem;
pela natureza e violência de seus ataques, ela alargou a discussão e a conduziu para um terreno novo.

O Espiritismo não era senão uma simples doutrina filosófica e foi ela mesma que o engrandeceu apresentando-o como um inimigo terrível;
enfim, foi ela que o proclamou como uma nova religião.

Foi uma imperícia, mas a paixão não raciocina.


Um livre pensador – Tendes proclamado, a toda hora, a liberdade de pensamento e de consciência, e declarado que toda crença sincera é respeitável.

O materialismo é uma crença como qualquer outra;
por que não gozaria ele da liberdade que concedeis a todas as outras?

A.K. – Cada um é, seguramente, livre para crer no que lhe agrada, ou para não crer em nada, e não desculparíamos mais uma perseguição contra aquele que crê no nada depois da morte, que contra um cismático de uma religião qualquer.

Combatendo o materialismo, nós atacamos, não os indivíduos, mas uma doutrina que, se é inofensiva para a sociedade quando se encerra no foro íntimo da consciência de pessoas esclarecidas, é uma calamidade social, se ela se generaliza.

A crença de que tudo termina para o homem depois da morte, que toda solidariedade cessa com a vida, o conduz a considerar o sacrifício do bem-estar presente em proveito de outro como uma intrujice;
daí a máxima: cada um por si durante a vida, uma vez que nada há além dela.

A caridade, a fraternidade, a moral, em uma palavra, não têm nenhuma base, nenhuma razão de ser.
Por que se mortificar, se reprimir, se privar hoje quando, amanhã talvez, não existiremos mais?

A negação do futuro, a simples dúvida sobre a vida futura, são os maiores estimulantes do egoísmo, fonte da maioria dos males da Humanidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2011 9:59 am

É preciso uma virtude bem grande para se deter sobre a inclinação do vício e do crime, sem outro freio além da força da vontade.
O respeito humano pode conter o homem do mundo, mas não aquele para o qual o temor da opinião pública é nulo.

A crença na vida futura, mostrando a perpetuidade das relações entre os homens, estabelece entre eles uma solidariedade que não termina no túmulo;
ela muda, assim, o curso das ideias.

Se essa crença fosse apenas um espantalho, seria temporária;
mas como sua realidade é um facto adquirido pela experiência, ela está no dever de a propagar e de combater a crença contrária, no interesse mesmo da ordem social.

É isso o que faz o Espiritismo, e com sucesso, porque dá as provas, e porque, em definitivo, o homem prefere ter a certeza de viver feliz em um mundo melhor, como compensação às misérias deste mundo, do que crer estar morto para sempre.

O pensamento de se ver aniquilado para sempre, de crer os filhos e os seres que nos são caros, perdidos sem retorno, sorri a um bem pequeno número, crede-me;
por isso os ataques dirigidos contra o Espiritismo em nome da incredulidade têm tão pouco sucesso, e não o abalaram um instante.

O padre – A religião ensina tudo isso e bastou até o momento;
qual é, pois, a necessidade de uma nova doutrina?

A.K. – Se a religião basta, por que há tantos incrédulos, religiosamente falando?
A religião nos ensina, é verdade, e nos diz para crer;
mas há muitas pessoas que não crêem apenas em palavras.

O Espiritismo prova, e faz ver o que a religião ensina por teoria.

Aliás, de onde vêm essas provas?
Da manifestação dos Espíritos.

Ora, é provável que os Espíritos não se manifestem senão com a permissão de Deus;
se, pois, Deus, em sua misericórdia, envia aos homens esse socorro para tirá-los da incredulidade, é uma impiedade recusá-lo.

O padre – Não discordais, entretanto, que o Espiritismo não está, sobre todos os pontos, de acordo com a religião.

A.K. – Meu Deus, senhor abade, todas as religiões dirão a mesma coisa:
os protestantes, os judeus, os muçulmanos, assim como os católicos.

Se o Espiritismo negasse a existência de Deus, da alma, da sua individualidade e da imortalidade, das penas e das recompensas futuras, do livre arbítrio do homem;
se ele ensinasse que cada um, neste mundo, não está senão para si e não deve pensar senão em si, ele seria não somente contrário à religião católica, mas a todas as religiões do mundo;
isso seria a negação de todas as leis morais, bases das sociedades humanas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2011 10:00 am

Longe disso, os Espíritos proclamam um Deus único, soberanamente justo e bom;
eles dizem que o homem é livre e responsável por seus actos, recompensado e punido segundo o bem ou o mal que fez;
eles colocam acima de todas as virtudes a caridade evangélica e esta regra sublime ensinada pelo Cristo:
agir para com os outros como gostaríamos que os outros agissem para connosco.


Não estão aí os fundamentos da religião?
Eles fazem mais:
nos iniciam nos mistérios da vida futura, que para nós não é mais uma abstracção, mas uma realidade, porque são aqueles mesmos que conhecemos que vêm nos descrever suas situações, nos dizer como e porque eles sofrem ou são felizes.

Que há nisso de anti-religioso?
Essa certeza do futuro, de reencontro com aqueles que amamos, não é uma consolação?

Essa grandiosidade da vida espiritual que é nossa essência, comparada às mesquinhas preocupações da vida terrestre, não é própria para elevar nossa alma e a nos encorajar ao bem?

O padre – Eu concordo que para as questões gerais, o Espiritismo está conforme as grandes verdades do Cristianismo;
mas ocorre o mesmo do ponto de vista dos dogmas?

Ele não contradiz certos princípios que a Igreja nos ensina?

A.K. – O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência e não se ocupa com questões dogmáticas.

Essa ciência tem consequências morais como todas as ciências filosóficas;
são essas consequências boas ou más?

Pode-se julgá-las pelos princípios gerais que acabo de lembrar.
Algumas pessoas estão equivocadas sobre o verdadeiro carácter do Espiritismo.
A questão é bastante grave e merece algum desenvolvimento.

Citemos primeiro uma comparação:
a electricidade, estando na Natureza, existiu de todos os tempos e de todos os tempos também produziu os efeitos que nós conhecemos e muitos outros efeitos que não conhecemos ainda.

Os homens, na ignorância da causa verdadeira, explicaram esses efeitos de uma maneira mais ou menos bizarra.

A descoberta da electricidade e das suas propriedades veio desmoronar uma multidão de teorias absurdas, lançando luz sobre mais de um mistério da Natureza.

O que a electricidade e as ciências físicas em geral fizeram por certos fenómenos, o Espiritismo fez por fenómenos de uma outra ordem.

O Espiritismo está fundado sobre a existência de um mundo invisível, formado de seres incorpóreos que povoam o espaço, e que não são outros senão as almas daqueles que viveram sobre a Terra, ou em outros globos, onde deixaram seu envoltório material.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2011 10:00 am

São a esses seres que damos o nome de Espíritos.
Eles nos rodeiam permanentemente, exercendo sobre os homens, com o seu desconhecimento, uma grande influência;
eles desempenham um papel muito activo no mundo moral, e, até um certo ponto, no mundo físico.

O Espiritismo, pois, está na Natureza e pode-se dizer que, em uma certa ordem de ideias, é uma potência, como a electricidade o é em outro ponto de vista, como a gravitação o é em outro.

Os fenómenos, dos quais o mundo invisível é a fonte, são efeitos produzidos em todos os tempos;
eis porque a história de todos os povos deles faz menção.

Somente que, em sua ignorância, como para a electricidade, os homens atribuíram esses fenómenos a causas mais ou menos racionais, e deram a esse respeito livre curso à imaginação.

O Espiritismo, melhor observado depois que se vulgarizou, veio lançar luz sobre uma multidão de questões até aqui insolúveis ou mal compreendidas.
Seu verdadeiro carácter, pois, é o de uma ciência, e não de uma religião;
e a prova disso é que conta entre seus adeptos homens de todas as crenças, que não renunciaram por isso às suas convicções:

católicos fervorosos que não praticam menos todos os deveres de seu culto, quando não são repelidos pela Igreja, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos, e até budistas e brâmanes.


Ele repousa, pois, sobre princípios independentes de toda questão dogmática.

Suas consequências morais estão no sentido do Cristianismo, porque o Cristianismo é, de todas as doutrinas, a mais esclarecida e a mais pura, e é por essa razão que, de todas as seitas religiosas do mundo, os cristãos estão mais aptos a compreendê-lo em sua verdadeira essência.

Pode-se, por isso, fazer-lhe uma censura?
Cada um, sem dúvida, pode fazer uma religião de suas opiniões, interpretar à vontade as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova Igreja, há distância.

O padre – Não fazeis, entretanto, as evocações depois de uma fórmula religiosa?

A.K. – Seguramente colocamos um sentimento de religiosidade nas evocações e nas nossas reuniões, mas não há fórmula sacramental;
para os Espíritos o pensamento é tudo e a forma nada.

Nós os chamamos em nome de Deus porque cremos em Deus, e sabemos que nada se faz neste mundo sem sua permissão, e que se Deus não lhes permitir vir, eles não virão.

Procedemos em nossos trabalhos com calma e recolhimento, porque é uma condição necessária para as observações, e, em segundo lugar, porque conhecemos o respeito que se deve àqueles que não vivem mais sobre a Terra, qualquer que seja sua condição, feliz ou infeliz, no mundo dos Espíritos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2011 10:00 am

Fazemos um apelo aos bons Espíritos porque, sabendo que há bons e maus, resulta que estes últimos não vêem se misturar fraudulentamente nas comunicações que recebemos.

O que tudo isso prova?
Que nós não somos ateus, mas isso não implica, de nenhum modo, que sejamos religiosos.

O padre – Pois bem! Que dizem os Espíritos superiores com respeito à religião?
Os bons devem nos aconselhar, nos guiar.

Suponho que eu não tenha nenhuma religião e queira uma.
Se eu lhes perguntar:
me aconselhais que me torne católico, protestante, anglicano, quaker, judeu, maometano ou mórmon, que responderão eles?

A.K. – Há dois pontos a considerar nas religiões:
os princípios gerais, comuns a todos, e os princípios particulares a cada uma.

Os primeiros são aqueles de que falamos a toda hora, e que todos os Espíritos proclamam qualquer que seja sua posição.

Quanto aos segundos, os Espíritos vulgares, sem serem maus, podem ter preferências e opiniões;
eles podem preconizar tal ou tal forma.

Eles podem, pois, encorajar em certas práticas, seja por convicção pessoal, seja porque conservam as ideias da vida terrestre, seja por prudência, para não assustar consciências tímidas.

Credes, por exemplo, que um Espírito esclarecido, fosse mesmo Fénelon, dirigindo-se a um muçulmano, irá desastradamente dizer-lhe que Maomé era um impostor, e que estará perdido se não se tornar cristão?

Ele se guardará disso, porque será repelido.

Os Espíritos superiores, e quando não são solicitados por nenhuma consideração especial, não se preocupam com questões de detalhes.

Eles se limitam a dizer:
[i]"Deus é bom e justo; ele não quer senão o bem;
a melhor de todas as religiões, pois, é aquela que não ensina senão conforme a bondade e a justiça de Deus;

que dá de Deus uma ideia mais ampla, mais sublime, e não o rebaixa emprestando-lhe a pequenez e as paixões da Humanidade;
que torna os homens bons e virtuosos e lhes ensina a se amarem todos como irmãos;

que condena todo mal feito ao próximo;
que não autoriza a injustiça sob qualquer forma ou pretexto que seja; que não prescreve nada de contrário às leis imutáveis da Natureza, porque Deus não pode se contradizer;

aquela cujos ministros dão o melhor exemplo de bondade, de caridade e de moralidade;
aquela que tende a combater melhor o egoísmo e a lisonjear menos o orgulho e a vaidade dos homens;
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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Dez 17, 2011 10:01 am

aquela, enfim, em nome da qual se comete menos mal, porque uma boa religião não pode ser o pretexto de um mal qualquer;
ela não deve lhe deixar nenhuma porta aberta, nem diretamente, nem pela interpretação.

Vede, julgai e escolhei.

O padre – Suponho que certos pontos da doutrina católica sejam contestados pelos Espíritos, que considerais como superiores.

Suponho mesmo que esses pontos sejam errados;
aquele para quem eles são artigos de fé, errados ou certos, que os pratica em consequência, pode essa crença, segundo esses mesmos Espíritos, ser prejudicial à sua salvação?

A.K. – Seguramente não, se essa crença não o afasta da prática do bem, se, ao contrário, ela o incita a isso;
enquanto que, a crença mais bem fundada, o prejudicará, evidentemente, se ela lhe é ocasião para a prática do mal, de falta de caridade para com seu próximo, se o torna duro e egoísta, porque, então, ele não age conforme a lei de Deus, e Deus considera o pensamento antes dos actos.

Quem ousaria sustentar o contrário?

Pensais, por exemplo, que um homem que cresse perfeitamente em Deus, e que, em nome de Deus, cometesse actos desumanos ou contrários à caridade, sua fé lhe seja muito proveitosa?
Não é tanto mais culpado quanto maiores os meios de esclarecimentos?

O padre – Assim, o católico fervoroso que cumpre escrupulosamente os deveres do seu culto não é censurado pelos Espíritos?

A.K. – Não, se é para ele uma questão de consciência, se o faz com sinceridade;
sim, mil vezes sim, se é por hipocrisia, e se não há nele senão uma piedade aparente.

Os Espíritos superiores, aqueles que têm por missão o progresso da Humanidade, se erguem contra todos os abusos que podem retardar esse progresso, qualquer que seja a sua natureza, e quaisquer que sejam os indivíduos ou as classes sociais que deles se aproveitam.

Ora, não negareis que a religião disso não esteve sempre isenta;
se, entre seus ministros, há os que cumprem sua missão com um devotamento todo cristão, que a fazem grande, bela e respeitável, concordareis que nem todos cumpriram sempre a santidade do seu ministério.

Os Espíritos eliminam o mal por toda parte onde ele se encontre;
assinalar os abusos da religião é atacá-la?

Ela não tem maiores inimigos que aqueles que os defendem, porque são esses abusos que fazem nascer o pensamento de que alguma coisa de melhor pode substituí-la.

Se a religião corresse um perigo qualquer, seria necessário atribuí-lo àqueles que dela dão uma falsa ideia, transformando-a numa arena das paixões humanas, e que a exploram em proveito da sua ambição.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 11:53 am

O padre – Dizeis que o Espiritismo não discute os dogmas, e, todavia, admite certos pontos combatidos pela Igreja, tais como, por exemplo, a reencarnação, a presença do homem sobre a Terra antes de Adão;
ele nega a eternidade das penas, a existência dos demónios, o purgatório, o fogo do inferno.

A.K. – Esses pontos foram discutidos durante muito tempo, e não foi o Espiritismo que os questionou;
são opiniões das quais algumas mesmo são contestadas pela teologia e que o futuro julgará.

Um grande princípio os domina a todos:
a prática do bem, que é a lei superior, a condição sine qua non do nosso futuro, como nos prova o estado dos Espíritos que se comunicam connosco.

A espera de que a luz seja feita para vós sobre essas questões, crede, se quiserdes, nas chamas e nas torturas materiais, se isso pode vos impedir de fazer o mal:
isso não as tornará mais reais se não existem.

Acreditai que temos uma só existência corporal, se vos agrada:
isso não impedirá de renascer aqui ou alhures, se assim deve ser, malgrado vós.

Acreditai que o mundo foi criado, em todas as suas partes, em seis vezes vinte e quatro horas, se é essa vossa opinião:
isso não impedirá a Terra de trazer escrito em suas camadas geológicas a prova contrária.

Se quiserdes, acreditai que Josué deteve o sol:
isso não impedirá a Terra de girar.[i]

Acreditai que o homem não está sobre a Terra senão há seis mil anos:
[i]isso não impedirá aos factos de mostrarem sua impossibilidade.


E que direis se, um belo dia, essa inexorável geologia venha demonstrar por marcas patentes a anterioridade do homem, como demonstrou tantas outras coisas?

Acreditai, pois, em tudo o que quereis, mesmo no diabo, se essa crença pode vos tornar bom, humano e caridoso para com os vossos semelhantes.

O Espiritismo, como doutrina moral, não impõe senão uma coisa:
a necessidade da prática do bem e de não fazer o mal.

É uma ciência de observação que, repito-o, tem consequências morais, e essas consequências são a confirmação e a prova dos grandes princípios da religião;
quanto às questões secundárias, ele as deixa à consciência de cada um.

Anotai bem, senhor, que alguns dos pontos divergentes, dos quais acabais de falar, o Espiritismo não os contesta, em princípio.

Se tivésseis lido tudo o que escrevi sobre esse assunto, teríeis visto que ele se limita a lhes dar uma explicação mais lógica e mais racional que aquela que lhes dão vulgarmente.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 11:53 am

É assim, por exemplo, que ele não nega o purgatório, mas lhe demonstra, ao contrário, a necessidade e a justiça, indo mais além ao defini-lo.

O inferno foi descrito como uma imensa fornalha;
mas é assim que o entende a alta teologia?

Evidentemente não;
ela diz muito bem que é uma figura e que o fogo no qual se queima é um fogo moral, símbolo das dores maiores.

Quanto à eternidade das penas, se fosse possível pôr a questão em votação para conhecer a opinião íntima de todos os homens em estado de raciocinar ou de compreender, mesmo entre os mais religiosos, ver-se-ia de que lado está a maioria, porque a ideia de uma eternidade de suplícios é a negação da infinita misericórdia de Deus.

Eis, de resto, o que diz a Doutrina Espírita a esse respeito:
- A duração do castigo está subordinada ao aprimoramento do Espírito culpado.
Nenhuma condenação por tempo determinado é pronunciada contra ele.


O que Deus exige para pôr termo ao sofrimento, é o arrependimento, a expiação e a reparação, em uma palavra, um aprimoramento sério, efectivo, e um retorno sincero ao bem.

O Espírito tem, assim, o arbítrio de sua própria sorte;
ele pode prolongar seus sofrimentos pela sua obstinação no mal, abrandá-los ou abreviá-los pelos seus esforços em fazer o bem.

A duração do castigo estando subordinada ao arrependimento, disso resulta que o Espírito culpado que não se arrependesse e não se melhorasse jamais, sofreria sempre, e que, para ele, a pena seria eterna.

A eternidade das penas, pois, deve-se entender no sentido relativo e não no sentido absoluto.

Uma condição inerente à inferioridade dos Espíritos é de, não podendo ver o termo da sua situação, crer que sofrerão sempre;
é para eles um castigo.
Mas, desde que sua alma se abra ao arrependimento, Deus lhes faz entrever um raio de esperança.

Esta doutrina, evidentemente, está mais conforme a justiça de Deus, que pune enquanto se persiste no mal e perdoa quando se entra no bom caminho.

Quem a imaginou? Nós?
Não; são os Espíritos que a ensinam e a provam pelos exemplos que colocam diariamente sob nossos olhos.

Os Espíritos não negam, pois, as penas futuras, uma vez que descrevem seus próprios sofrimentos;
e esse quadro nos toca mais que os das chamas perpétuas, porque tudo nele é perfeitamente lógico.

Compreende-se que isso é impossível, que deve sê-lo assim, que essa situação é uma consequência toda natural das coisas;
pode ser aceita pelo pensador filósofo, porque nada nisso repugna a razão.

Eis porque as crenças espíritas conduziram ao bem uma multidão de pessoas, mesmo materialistas, que o medo do inferno, tal como nos é pintado, não tinha podido deter.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 11:54 am

O padre – Admitindo vosso raciocínio, pensais que falta ao vulgo imagens mais apavorantes do que uma filosofia que ele não pode compreender?

A.K. – Está aí um erro que fez mais de um materialista ou, pelo menos, desviou mais de um homem da religião.

Chega um momento em que essas imagens não assustam mais e, então, as pessoas que não se aprofundam, rejeitando uma parte, rejeitam o todo, porque dizem:
se me ensinaram como uma verdade incontestável um princípio que é falso, se me deram uma imagem, uma figura pela realidade, quem me diz que o resto é mais verdadeiro?

Se, ao contrário, a razão, num crescente, não repele nada, a fé se fortifica.

A religião ganhará sempre seguindo o progresso das ideias;
se nunca ela devesse periclitar, seria porque os homens não teriam avançado e ela permanecido estacionária.

É equivocar-se com a época crer que se pode, hoje, conduzir os homens pelo temor do demónio e das torturas eternas.

O padre – A Igreja, com efeito, reconhece hoje que o inferno material é uma figura;
mas isso não exclui a existência dos demónios;
sem eles, como explicar a influência do mal que não pode vir de Deus?


A.K. – O Espiritismo não admite os demónios no sentido vulgar da palavra, mas admite os maus Espíritos que não valem melhor e que fazem igualmente o mal, suscitando maus pensamentos;
somente ele diz que esses não são seres à parte, criados para o mal e perpetuamente devotados ao mal, espécie de párias da criação e carrascos do género humano;
são seres atrasados, ainda imperfeitos, mas aos quais Deus reserva o futuro.


Isso está de acordo com a Igreja Católica grega que admite a conversão de Satã, alusão ao melhoramento dos maus Espíritos.

Anotai ainda que a palavra demónio não implica a ideia de maus Espíritos senão pela acepção moderna que lhe foi dada, porque a palavra grega daímon significa génio, inteligência.

Ora, admitir a comunicação dos maus Espíritos é reconhecer, em princípio, a realidade das manifestações.
É preciso saber se só eles se comunicam, como o afirma a Igreja para motivar a proibição que faz de comunicar-se com os Espíritos.
Invocamos aqui o raciocínio e os factos.

Se Espíritos, quaisquer que sejam, se comunicam, não é senão com a permissão de Deus:
compreender-se-ia que ele permitisse apenas aos maus?

Como? Enquanto que deixaria a estes toda a liberdade de vir enganar os homens, interditaria aos bons de virem contrabalançar, neutralizar suas perniciosas doutrinas?
Crer que seja assim não seria colocar em dúvida seu poder e sua bondade e fazer de Satã um rival da Divindade?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 11:54 am

A Bíblia, o Evangelho, os Pais da Igreja, reconhecem perfeitamente a possibilidade de comunicação com o mundo invisível, e desse mundo os bons não estão excluídos;
porque, pois, o seriam hoje?

Aliás, a Igreja admitindo a autenticidade de certas aparições e comunicações de santos, exclui por isso mesmo a ideia de que não se pode ter relações senão com os maus Espíritos.

Seguramente, quando as comunicações não encerram senão coisas boas, como a pregação da moral evangélica mais pura e mais sublime, a abnegação, o desinteresse e o amor ao próximo;
quando aí se combate o mal, com qualquer coloração que ele se apresente, é racional crer-se que o Espírito maligno vem assim realizar seu trabalho?

O padre – O Evangelho nos ensina que o anjo das trevas, ou Satã, se transforma em anjo de luz para seduzir os homens.

A.K. – Satã, segundo o Espiritismo e a opinião de muitos filósofos cristãos, não é um ser real;
é a personificação do mal, como outrora Saturno era a personificação do tempo.

A Igreja prende à letra essa figura alegórica;
é um negócio de opinião que eu não discutirei.[i]

Admitamos, por um instante, que Satã seja um ser real;
[i]a Igreja, à força de exagerar seu poder para amedrontar, chega a um resultado todo contrário, quer dizer, à destruição, não só de todo medo mas também de toda crença em sua pessoa, segundo o provérbio:

"quem quer muito provar não prova nada".

Ela o representa como eminentemente fino, sagaz e astuto, e na questão do Espiritismo o faz representar o papel de um tolo e de um inábil.

Uma vez que o objectivo de Satã é alimentar o inferno com suas vítimas e arrebatar almas de Deus, compreende-se que ele se dirija àqueles que estão no caminho do bem para os induzir ao mal, e que por isso ele se transforme, segundo uma muito bela alegoria, em anjo da luz, quer dizer, simule hipocritamente a virtude;
mas que ele deixe escapar aqueles que já tem em suas garras é o que não se compreende.

Aqueles que não crêem nem em Deus, nem em sua alma, que desprezaram a prece e estão mergulhados no vício, estão para ele tanto quanto é possível estar;
nada mais há a fazer para os afundar mais na lama;
ora, incitá-los a retornar a Deus, a lhe pedir, a submeter-se à sua vontade, encorajá-los a renunciar ao mal mostrando-lhe a felicidade dos eleitos, e a triste sorte que espera os maus, seria acto de um tolo, mais estúpido que se desse a liberdade a pássaros engaiolados com o pensamento de os recuperar em seguida.


Há, pois, na doutrina da comunicação exclusiva dos demónios uma contradição que fere o homem sensato;
por isso não se persuadirá jamais que os Espíritos que reconduzem a Deus aqueles que o negavam, ao bem, aqueles que faziam o mal, que consolam os aflitos, dão força e coragem aos fracos;

que, pela sublimidade dos seus ensinamentos elevam a alma acima da vida material, sejam os subordinados de Satã, e que, por esse motivo, deve-se interditar toda relação com o mundo invisível.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Dez 19, 2011 11:54 am

O padre – Se a Igreja proíbe as comunicações com os Espíritos dos mortos é porque são contrárias à religião, como estão formalmente condenadas pelo Evangelho e por Moisés.
Este último, pronunciando a pena de morte contra essas práticas, prova quanto elas são repreensíveis aos olhos de Deus.

A.K. – Eu vos peço perdão, mas essa proibição não está em nenhuma parte no Evangelho;
ela está somente na lei mosaica.

Trata-se, pois, de saber se a Igreja coloca a lei mosaica acima da lei evangélica, quer dizer, se ela é mais judaica que cristã.

Observe-se mesmo que de todas as religiões, a que faz menos oposição ao Espiritismo é a Judaica, e que ela não tem invocado a lei de Moisés, sobre as quais se apóiam as seitas cristãs, contra as evocações.

Se as prescrições bíblicas são o código da fé cristã, por que interditar a leitura da Bíblia?
Que se diria se se proibisse a um cidadão estudar o código das leis de seu país?

A proibição feita por Moisés tinha então sua razão de ser, porque o legislador hebreu queria que seu povo rompesse com todos os costumes adquiridos entre os Egípcios, e que este, do qual se trata aqui, era um motivo de abusos.

Não se evocavam os mortos por respeito e afeição por eles, nem com um sentimento de piedade;
era um meio de adivinhação, objecto de um tráfico vergonhoso explorado pelo charlatanismo e a superstição;
portanto, Moisés teve razão em proibi-la.


Se ele pronunciou contra esse abuso uma penalidade severa, é que precisava de meios rigorosos para governar seu povo indisciplinado;
também a pena de morte está prodigalizada na sua legislação.

Apoia-se erradamente sobre a severidade do castigo para provar o grau de culpabilidade da evocação dos mortos.

Se a proibição de evocar os mortos veio do próprio Deus, como pretende a Igreja, deve ter sido Deus quem editou a pena de morte contra os infractores.

A pena tem, pois, uma origem tão sacra quanto a proibição;
por que não a conservaram?

Moisés promulgou todas as suas leis em nome de Deus, e por sua ordem.

Se se crê que Deus seja seu autor, por que não são elas mais observadas?
Se a lei de Moisés é para a Igreja um artigo de fé sobre algum ponto, por que não o é sobre todos?

Por que a ela recorrer naquilo que tem necessidade e repeli-la no que não convém?
Por que não segui-la em todas as suas prescrições, a circuncisão, entre outras, que Jesus suportou e não aboliu?

Havia na lei mosaica duas partes:
primeiro, a lei de Deus, resumida nas tábuas do Sinai, e que permaneceu porque era divina e o Cristo não fez senão desenvolvê-la;
segundo, a lei civil ou disciplinar, apropriada aos costumes da época e que o Cristo aboliu.
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O que é a Doutrina - Página 3 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 20, 2011 10:33 am

Hoje, as circunstâncias não são as mesmas e a proibição de Moisés não tem mais cabimento.
Aliás, se a Igreja proíbe evocar os mortos, pode ela impedir que eles venham sem que sejam chamados?

Não se vê todos os dias pessoas que jamais se ocuparam com o Espiritismo, como se via antes que ele fosse discutido, ter manifestações de todos os géneros?

Outra contradição:
se Moisés proibiu a evocação dos Espíritos dos mortos, é porque esses Espíritos poderiam vir, de outro modo a proibição teria sido inútil.

Se eles podiam vir naquele tempo, podem ainda hoje;
se eles são os Espíritos dos mortos, não são, pois, exclusivamente demónios.

É preciso ser lógico antes de tudo.

O padre – A Igreja não nega que os bons Espíritos possam se comunicar, uma vez que reconhece que os santos se manifestaram;
ela, porém, não pode considerar como bons os que vêm contradizer seus princípios imutáveis.

Os Espíritos ensinam as penas e as recompensas futuras, mas não ensinam como ela;
só ela pode julgar seus ensinamentos e discernir os bons dos maus.

A.K. – Eis a grande questão.
Galileu foi acusado de heresia e de ser inspirado pelo demónio, porque revelou uma lei da Natureza provando o erro de uma crença que se acreditava inatacável;
fossem considerados como bons aqueles que vêm contradizer todos os pontos arraigados na opinião exclusiva da Igreja, ou não tivessem proclamado a liberdade de consciência e condenado certos abusos, eles teriam sido os bem-vindos e não seriam qualificados de demónio.

Tal é também a razão pela qual todas as religiões, os muçulmanos tanto quanto os católicos, se crêem na posse exclusiva da verdade absoluta, considerando como obra do demónio toda doutrina que não coincide inteiramente com seu ponto de vista.

Ora, os Espíritos não vêm destruir a religião mas, como Galileu, revelar novas leis da Natureza.
Se alguns pontos de fé passam por isso, é que, da mesma forma que a crença no movimento do Sol, eles estão em contradição com essas leis.

A questão é de saber se um artigo de fé pode anular uma lei da Natureza, que é obra de Deus;
e se, essa lei reconhecida, não é mais sábio interpretar o dogma no sentido da lei ao invés de atribuir esta ao demónio.

O padre – Passemos sobre a questão dos demónios, pois eu sei que ela é diversamente interpretada pelos teólogos.

Mas o sistema da reencarnação me parece mais difícil conciliar com os dogmas, porque ele não é uma outra coisa senão a metempsicose renovada de Pitágoras.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 20, 2011 10:34 am

A.K. – Este não é o momento de discutir uma questão que exigiria um longo desenvolvimento;
encontrá-la-eis tratada em O Livro dos Espíritos e em A Moral do Evangelho Segundo o Espiritismo (1).

Eu não direi sobre isso, pois, senão duas palavras.

(1) Ver O Livro dos Espíritos, nº 166 e seguintes, idem 222 e 1010. A Moral do Evangelho, cap. IV e V.

A metempsicose dos antigos consistia na transmigração da alma do homem nos animais, o que implicava uma degradação.
De resto, essa doutrina não era o que se acredita vulgarmente.

A transmigração nos animais não era considerada como uma condição inerente à natureza da alma humana, mas como um castigo temporário;
é assim que as almas dos assassinos passariam no corpo de animais ferozes para aí receberem sua punição;

a dos impudicos nos porcos e nos javalis;
as dos inconstantes e dos avoados, nos pássaros;
as dos preguiçosos e dos ignorantes nos animais aquáticos.


Depois de alguns milhares de anos, mais ou menos segundo a culpabilidade dessa espécie de prisão, a alma reentraria na Humanidade.

A encarnação animal não era, pois, uma condição absoluta, e ela se aliava, como se vê, à reencarnação humana, e a prova disso é que a punição dos homens tímidos consistia em passar no corpo de mulheres expostas ao desprezo e às injúrias. (1)

Era uma espécie de espantalho para os simples, bem mais que um artigo de fé entre os filósofos.

Da mesma forma que se diz à crianças:
"se sois maus o lobo vos comerá", os antigos diziam aos criminosos:
"tornar-vos-eis lobos".
Hoje se lhes diz:
"o diabo vos tomará e vos carregará para o inferno".

(1) Ver A pluralidade das existências da alma, por Pezzani.

A pluralidade das existências, segundo o Espiritismo, difere essencialmente da metempsicose, no sentido de que não admite a encarnação da alma nos animais, mesmo como punição.

Os Espíritos ensinam que a alma não retrograda, mas que progride sem cessar.

Suas diferentes existências corporais se realizam na Humanidade;
cada existência é para ela um passo adiante na senda do progresso intelectual e moral, o que é bem diferente.

Não podendo adquirir um desenvolvimento completo em uma única existência, frequentemente abreviada por causas acidentais, Deus lhe permite continuar em uma nova encarnação a tarefa que ela não pode acabar, ou de recomeçar a que fez mal.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 20, 2011 10:34 am

A expiação na vida corporal consiste nas tribulações que aí se suporta.

Quanto à questão de saber se a pluralidade das existências é, ou não, contrária a certos dogmas da Igreja, eu me limitarei a dizer isto:
De duas coisas uma, ou a reencarnação existe ou não existe;
se ela existe é porque está nas leis da Natureza.

Para provar que ela não existe seria preciso provar que ela é contrária, não aos dogmas, mas a essas leis, e que se pode encontrar uma outra que explique mais claramente e mais logicamente, as questões que só ela pode resolver.

De resto, é fácil demonstrar que certos dogmas aí encontram uma sanção racional que os faz aceitos por aqueles que os repeliam por não compreendê-los.

Não se trata, pois, de destruir, mas de interpretar, o que acontecerá mais tarde pela força das coisas.

Aqueles que não quiserem aceitar a interpretação estarão perfeitamente livres, como estão, hoje, de crer que é o Sol que gira ao redor da Terra.

A ideia da pluralidade das existências se vulgariza com uma espantosa rapidez em razão de sua extrema lógica e da sua conformidade com a justiça de Deus.

Quando ela for reconhecida como verdade natural e for aceita por todo o mundo, que fará a Igreja?

Em resumo, a reencarnação não é um sistema imaginado pelas necessidades de uma causa, nem uma opinião pessoal;
é, ou não é, um facto.

Se está demonstrado que certas coisas que existem são materialmente impossíveis sem a reencarnação, é preciso admitir que elas são o facto da reencarnação, pois se ela está na Natureza, não poderia ser anulada por uma opinião contrária.

O padre – Aqueles que não crêem nos Espíritos e em suas manifestações, são, no dizer dos Espíritos, menos dotados na vida futura?

A.K. – Se essa crença fosse indispensável à salvação dos homens, em que se tornariam aqueles que, desde que o mundo existe, não a puderam ter, e aqueles que, por muito tempo ainda, morrerão sem a ter?

Deus pode lhes fechar a porta do futuro?

Não; os Espíritos que nos instruem são mais lógicos que isso e nos dizem:
Deus é soberanamente justo e bom, e não faz depender a sorte futura do homem, de condições independentes da sua vontade;

eles não dizem: fora do Espiritismo não há salvação, mas como o Cristo: fora da caridade não há salvação.
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O que é a Doutrina - Página 3 Empty Re: O que é a Doutrina

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Dez 20, 2011 10:34 am

O padre – Então, permiti-me dizer-vos que, desde o momento em que os Espíritos não ensinam senão os princípios da moral que encontramos no Evangelho, eu não vejo que utilidade pode ter o Espiritismo, uma vez que podíamos nos salvar antes e que ainda podemos fazê-lo sem ele.

Não seria o mesmo se os Espíritos viessem ensinar algumas grandes verdades novas, alguns princípios que mudassem a face do mundo, como fez o Cristo.

Pelo menos era só o Cristo, sua doutrina era única, enquanto que os Espíritos são milhares que se contradizem;
uns dizem branco, outros preto;
de onde seguiu-se que, desde o princípio, seus partidários formam já várias seitas.


Não seria melhor deixar os Espíritos tranquilos e nos atermos ao que temos?

A.K. – Errais, senhor, em não sair do vosso ponto de vista e de tomar a Igreja como único critério dos conhecimentos humanos.

Se Cristo disse a verdade, o Espiritismo não podia dizer outra coisa e, em lugar de lhe lançar pedras, se deveria acolhê-lo como um poderoso auxiliar que veio confirmar, por todas as vozes de além-túmulo, as verdades fundamentais da religião, combatidas pela incredulidade.

Que o materialismo o combata, isso se compreende;
mas que a Igreja se ligue contra ele com o materialismo, é menos concebível.

O que é de todo inconsequente é que ela qualifica de demoníaco um ensinamento que se apóia sobre a mesma autoridade, e proclama a missão divina do fundador do Cristianismo.

Mas Cristo disse tudo? Podia tudo revelar?

Não, porque ele mesmo disse:
"teria ainda muitas coisas a vos dizer, mas não as compreenderíeis, por isso vos falo por parábolas".

O Espiritismo vem, hoje que o homem está maduro para o compreender, completar e explicar o que Cristo não fez senão esflorar, ou não disse senão sob a forma alegórica.

Direis, sem dúvida, que o mérito dessa explicação pertence à Igreja.
Mas a qual? À Igreja romana, grega ou protestante?

Uma vez que elas não estão de acordo, cada uma explicou no seu sentido e reivindicou esse privilégio.
Qual aquela que religou todos os cultos dissidentes?

Deus, que é sábio, prevendo que os homens aí misturariam suas paixões e seus preconceitos, não quis lhes confiar os cuidados dessa nova revelação:
disso encarregou os Espíritos, seus mensageiros, que a proclamam sobre todos os pontos do globo, e isso fora de todo culto particular, a fim de que ela possa se aplicar a todos, e que ninguém a desvie em proveito próprio.

Por outro lado, os diversos cultos cristãos não estão em nada afastados do caminho traçado pelo Cristo?
Seus preceitos de moral são escrupulosamente observados?
Não se tem desvirtuado suas palavras para fazê-las um apoio da ambição e das paixões humanas, que são por elas condenadas?
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