LUZ ESPÍRITA
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Novas Mensagens - Humberto de Campos / Francisco Cândido Xavier

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:20 pm

Novas Mensagens
Francisco Cândido Xavier

Espírito de Humberto de Campos

O Espiritismo no Brasil

Numerosos companheiros de Allan Kardec já haviam regressado às luzes da espiritualidade, quando inúmeras entidades do serviço de direcção dos movimentos espiritistas no planeta deliberaram efectuar um balanço de realizações e de obras em perspectiva, nos arraiais doutrinários, sob a bênção misericordiosa e augusta do Cordeiro de Deus.

Vivia-se, então, no limiar do século XX, de alma aturdida ante as renovações da indústria e da ciência, aguardando-se as mais proveitosas edificações para a vida do globo.

Falava-se aí, nesse conclave do plano invisível, com respeito à propagação da nova fé, em todas as regiões do mundo, procurando-se estudar as possibilidades de cada país, no tocante ao grande serviço de restauração do Cristianismo, em suas fontes simples e puras.

Após várias considerações, em torno do assunto, o director espiritual da grande reunião falou com segurança e energia:
- "Irmãos de eternidade: no mundo terrestre, de modo geral, as doutrinas espiritualistas, em sua complexidade e transcendência, repousam no coração da Ásia adormecida;

mas, precisamos considerar que o Evangelho do Divino Mestre não conseguiu ainda harmonizar essas variadas correntes de opinião do espiritualismo oriental com a fraternidade perfeita, em vista das nações do Oriente se encontrarem cristalizadas na sua própria grandeza, há alguns milénios”.


Em breve, as forças da violência acordarão esses países que dormem o sono milenário do orgulho, numa injustificável aristocracia espiritual, afim de que se integrem na lição da solidariedade verdadeira, mediante os ensinamentos do Senhor!...

Urge, pois, nos voltemos para a Europa e para a América, onde, se campeiam as inquietações e ansiedades, existe um desejo real de reforma, em favor da grande cooperação pelo bem comum da colectividade.

Certo, essa renovação é sinónima de muitas dores e dos mais largos tributos de lágrimas e de sangue;
mas, sobre as ruínas da civilização ocidental, deverá florescer no futuro uma sociedade nova, sobre a base da solidariedade e da paz, em todos os caminhos dos progressos humanos...

Examinemos os resultados dos primeiros esforços do Consolador no Velho Mundo!..."

E os representantes dos exércitos de operários, que laboram nos diversos países da Europa e da América, começaram a depor, sobre os seus trabalhos, no congresso do plano invisível, elucidando-os sinteticamente:
- "A França - exclamava um deles - berço do grande missionário e codificador da doutrina, desvela-se pelo esclarecimento da razão, ampliando os sectores da ciência humana, positivando a realidade de nossa sobrevivência, através dos mais avançados métodos de observação e de pesquisa.

Continua...


Última edição por O_Canto_da_Ave em Qui Jan 03, 2013 10:08 pm, editado 2 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:20 pm

Continua...

Lá se encontram ainda numerosos mensageiros do Alto, como Denis, Flammarion e Richet, clareando ao mundo os grandes caminhos filosóficos e científicos do porvir".
- "A Grã-Bretanha - afirmava outro - multiplica os seus centros de estudo e de observação, intensificando as experiências de Crookes e dissolvendo antigos preconceitos."

- "A Itália - asseverava novo mensageiro - teve com Lombroso o início de experiências decisivas.
O próprio Vaticano se interessa pela movimentação das ideias espiritistas, no seio das classes sociais, onde foi estabelecido rigoroso critério de análise, no comércio com os planos invisíveis para o homem terrestre."

- "A Rússia, bem como outras regiões do Norte - prosseguia outro emissário - conseguira com Aksakof a difusão de nossas verdades consoladoras.
Até a corte do Czar se vem interessando nas experimentações fenoménicas da doutrina."

- "A Alemanha - afirmava ainda outro - possui numerosos físicos que se preocupam cientificamente com os problemas da vida e da morte, enriquecendo os nossos esforços de novas expressões de experiência e cultura..."

Iam as exposições a essa altura, quando uma luz doce e misericordiosa inundou o ambiente da reunião de sumidades do plano espiritual.

Todos se calaram, tomados de emoção indizível, quando uma voz, augusta e suave, falou, através das vibrações radiosas de que se tocava a grande assembleia:
- "Amados meus, não tendes para a propagação da palavra do Consolador, senão os recursos da falível ciência humana?

Esquecestes que os excessos do raciocínio prejudicaram o coração das ovelhas desgarradas do grande rebanho?

Não haverá verdade, sem humildade e sem amor, porque toda a realidade do Universo e da vida deve chegar ao pensamento humano, antes de tudo, pela fé, ao sopro dos seus resplendores eternos e divinos!...

Operários do Evangelho: excelente é a ciência bem intencionada do mundo, mas não esqueçais o coração, em vossos labores sublimes...

Procurai a nação da fraternidade e da paz, onde se movimenta o povo mais emotivo do globo terrestre, e iniciai aí uma tarefa nova.

Se o Cristo edificou a sua igreja sobre a pedra segura e inabalável da fé que remove montanhas e se o Consolador significa a doutrina luminosa e santa da esperança de redenção suprema das almas, todos os seus movimentos devem conduzir à caridade, antes de tudo, porque sem caridade não haverá paz, nem salvação para o mundo que se perde!..."

Uma copiosa efusão de luzes, como bênçãos do Divino Mestre, desceu do Alto sobre a grande assembleia, assim que o apóstolo do Senhor terminou a sua exortação comovida e sincera, luzes essas que se dirigiam, como aluvião de claridades, para a Terra generosa e grande que repousa sob a luz gloriosa da constelação do Cruzeiro.

E foi assim que a caridade selou, então, todas as actividades do Espiritismo brasileiro.

Seus núcleos, em todo o país, começaram a representar os centros de eucaristia divina para todos os desesperados e para todos os sofredores.

Multiplicaram-se as tendas de trabalho do Consolador, em todas as suas cidades prestigiosas, e as receitas mediúnicas, os conselhos morais, os postos de assistência, as farmácias homeopatas gratuitas, os passes magnéticos, multiplicaram-se, em toda parte no Brasil, para a fusão de todos os trabalhadores, no mesmo ideal de fraternidade e de redenção pela caridade mais pura.

(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 5 de novembro de 1938).
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:20 pm

D. Pedro II

Enquanto os vivos se reuniam em torno do monumento que o Brasil erigiu ao Patriarca da Independência, no Rio de Janeiro, os grandes "mortos" da Pátria igualmente se colocavam entre os encarnados, aliando-se ao povo carioca nas suas comovedoras lembranças.

Também acorri ao local da festa votiva dos Brasileiros, acompanhado do meu amigo José Porfírio de Miranda, antigo milionário do Pará, que a borracha elevara às culminâncias da fortuna, conduzindo-o em seguida, aos declives da miséria, nos seus caprichosos movimentos.

Os vivos e mortos do Brasil se reuniam na mesma vibração afectiva das recordações suaves, enviando ao nobre organizador da vida política da nacionalidade um pensamento de amizade e de veneração.

Antigo companheiro nosso, também no plano invisível, em plena via pública acercou-se de mim, exclamando:
- Chegas um pouco tarde.

José Bonifácio já não está presente;
mas, poderás ainda conseguir uma proveitosa entrevista para os teus leitores.
Sabes quem saiu daqui neste momento?

- Quem? Pergunto eu, na minha fome de notícias.
— O Imperador.
- D. Pedro II?

- Ele mesmo.
Após lembrar a grande figura do Patriarca, dirigiu-se com alguns amigos para Petrópolis, a reavivar velhas lembranças...

Em meu íntimo, havia um alvoroço de emoções.
Lembrei-me de que, em toda a minha existência de jornalista no mundo, só enxergara um monarca dentro dos meus olhos:
o rei Alberto I, dos Belgas, quando, no Clube dos Diários, a elite dos intelectuais do país lhe oferecera a homenagem de uma comovida admiração.

E ponderei se haveria mérito em consultar o pensamento de um rei, no outro mundo, onde todas as majestades desaparecem.

Recordei a figura do grande imperador que Victor Hugo considerava o monarca republicano.

Com os olhos da imaginação, vi-o, de novo, na intimidade dos Paços de São Cristóvão:
o perfil heráldico, onde um sorriso de bondade espalhava o perfume da tolerância;
as barbas compridas e brancas, como as dos santos das oleografias católicas;
o olhar cheio de generosidade e de brandura, irradiando as mais doces promessas.

Um vivo, em havendo de ir a Petrópolis, é obrigado ao trajecto penoso dos ónibus, embora as perspectivas maravilhosas do mais belo trecho de todas as estradas do Brasil;
os desencarnados, porém, não necessitam de semelhantes sacrifícios.

Num abrir e fechar de olhos, eu e o meu amigo nos encontrávamos na encantadora cidade das hortênsias onde os milionários do Rio de Janeiro podem descansar nas mais variadas épocas do ano.

Não fomos encontrar o Imperador nos antigos edifícios em que estabelecera a residência patriarcal de sua família;
mas, justamente num recanto de jardim, contemplando as deliciosas paisagens da Serra da Estrela e apreciando o sabor das recordações amigas e doces.

Acerquei-me da sua individualidade, com um misto de curiosidade e de profundo respeito, procurando improficuamente identificar os dois companheiros que o rodeavam.

- Majestade! - Tentei chamar-lhe a atenção com a minha palavra humilde e obscura.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:21 pm

- Aproximem-se meus amigos! - respondeu-me com benevolência e carinho
- Aqui não existe nenhuma expressão de majestade.
Cá estão, fraternalmente comigo, o Afonso1 e o Luiz2, como três irmãos, sentindo eu muito prazer na companhia de ambos.
Se o mundo nos irmana sobre a Terra, a morte nos confraterniza no espaço infinito, sob as vistas magnânimas do Senhor.

E, fazendo uma pausa, como quem reconhece que há tempo de falar e tempo de ouvir, conforme nos aconselha a sabedoria da Bíblia, exclama o Imperador com bondade:
- A que devo o obséquio da sua interpelação?
- Majestade! - Respondi, confundido com a sua delicadeza - desejara colher a sua opinião com respeito ao Brasil e aos Brasileiros.

Estamos no limiar do cinquentenário de República e seria interessante ouvir o vosso conselho paternal para os vivos de boa vontade.

Que pensais destes quarenta e tantos anos de novo regime?

- Minha palavra - Retrucou D. Pedro - não pode ter a importância que a sua generosidade lhe atribui.
Que poderia dizer do Brasil, senão que continuo a amá-lo com a mesma dedicação de todos os dias?
Do plano invisível, para o mundo, prosseguimos no mesmo labor de construção da nacionalidade.

As convenções políticas dos homens não atingem os espíritos desencarnados.
O exílio termina sempre na sepultura, porque a única realidade é o amor, e o amor, eliminando todas as fronteiras, nos ligou para sempre ao torrão brasileiro.

Não tenho o direito de criticar a República mesmo porque todos os fenómenos políticos e sociais do nosso país tiveram os seus pródromos no mundo espiritual, considerando-se a missão do Brasil dentro do Evangelho.

Apenas quero dizer que não só os republicanos, mas também nós os da monarquia, estávamos redondamente enganados.

O erro da nossa visão, quando na Terra, foi supor no Brasil o mesmo espírito anglo-saxão que a Inglaterra legara aos Norte-americanos.

Eu também fui apaixonado pelo liberalismo, mas a verdade é que, em nossa terra, prevaleciam outros factores mesológicos e, até agora, não temos sabido conciliar os interesses da nação com esses imperativos.

A ausência de tradição nos elementos de nossa origem como povo estabeleceu uma descentralização de interesses, prejudicial ao bem colectivo do país.
Para a formação nacional, não vieram da metrópole os espíritos mais cultos.

Pesando, de um lado, os africanos, revoltados com o cativeiro, e, de outro, os índios, revoltados com a invasão do estrangeiro na terra que era propriedade deles, a balança da evolução geral ficou seriamente comprometida.

Sentimentos excessivos de liberdade não nos permitiram um refinamento de educação política.

Todos querem mandar e ninguém se sente na obrigação de obedecer.

Quando no Império, possuíamos a autoridade centralizadora da Coroa, prevalecendo sobre as ambições dos grupos partidários que povoavam os nossos oito milhões de quilómetros quadrados;
mas, quando os republicanos sentiram de perto o peso das responsabilidades que tomaram à sua conta, os espíritos mais educados reconheceram o desacerto das nossas concepções administrativas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:21 pm

Enquanto as nações da Europa e os Estados Unidos podiam empregar livremente em nosso país os seus capitais, a título de empréstimos vultosos que desbaratavam compulsoriamente a nossa economia, o Brasil podia descansar na monocultura, fazer a política dos partidos e adiar a solução dos seus problemas para o dia seguinte, dentro de um regime para o qual não se achava preparado em 1889.

Mas, quando se manifestou a crise mundial de 1929, todas as instituições políticas sofreram as mais amplas renovações, dentro dos movimentos revolucionários de 1930.

Os capitais estrangeiros não puderam mais canalizar suas disponibilidades para a nossa terra, controlados pelos governos autárquicos dos tempos que correm, e o Brasil, acordou para a sua própria realidade.

Aliás, nós, os desencarnados, há muito tempo procuramos auxiliar os vivos na sua tarefa.

- Quer dizer que também tendes inspirado os labores dos estadistas brasileiros?

- Sim, de modo indirecto, pois não podemos interferir na liberdade deles.
Há alguns anos, procurei auxiliar Alberto Torres nas suas elucubrações de ordem social e política.

Em geral, nós os desencarnados, buscamos influenciar, de preferência, os organismos mais sensíveis à nossa acção e Torres era o instrumento de nossas verdades para a administração.

A realidade, porém, é que ele falou como Jeremias.
Somente a gravidade da situação conseguiu despertar o espírito nacional para novas realizações.

- Majestade, as vossas palavras me dão a entender que aprovais o novo estado de coisas do Brasil.
Aplaudistes, então, a queda da denominada república velha, sob as vibrações revolucionárias de 1930?


- Com as minhas palavras - disse ele bondosamente - não desejo exaltar a vaidade de quem quer que seja, nem deprimir o esforço de ninguém.

Não posso aplaudir nenhum movimento de destruição, pois entendo que, sobre a revolução, deve pairar o sentimento nobre da evolução geral de todos, dentro da maior concórdia espiritual.

Considere que, examinando a minha consciência, não me lembro de haver fortalecido nenhum sentimento de rebeldia nos meus tempos de governo;
entretanto, muito sofri, verificando que eu poderia ter suavizado a luta entre os nossos estadistas e os políticos da América espanhola.

Outra forma de acção poderíamos ter empregado no caso de Rosas e de Oribe e mesmo em face do próprio Solano Lopes3, cuja inconsciência nos negócios do povo ficou evidentemente patenteada.

E note-se que o problema se constituía de graves questões internacionais.
O nosso mal foi sempre o desconhecimento da realidade brasileira.
Os nossos períodos históricos têm sofrido largamente os reflexos da vida e da cultura europeias.

Nos tempos do Império, procurei saturar-me dos princípios democráticos da política francesa, tentando aplicá-los, amplamente, ao nosso meio, longe das nossas realidades práticas.

Os republicanos, como Benjamin Constante, Deodoro, etc., deram-se a estudar a "República Americana", de Bryce, distantes dos nossos problemas essenciais.

Quando regressei das lutas terrestres, procurei imediatamente colaborar na consolidação do novo regime, afim de que a divisão e os desvarios de muitos dos seus adeptos não terminassem no puro e simples desmembramento do país.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:22 pm

Graças a Deus, conseguimos conduzir Prudente de Morais ao poder constitucional, para acabarmos reconhecendo agora as nossas realidades mais fortes.

Devo, todavia, fazer-lhe sentir que não me reconheço com o direito de opinar sobre os trabalhos dos homens públicos do país.

Cabe-me, sim, rogar a Deus que os inspire, no cumprimento de seus austeros deveres, diante da pátria e do mundo.
O grande caminho da actualidade é a organização da nossa Economia em matéria de política, e o desenvolvimento da Educação, no que concerne ao avanço sociológico dos tempos que passam.

Os demais elementos de nossas expressões evolutivas dependem de outros factores de ordem espiritual, longe de todas as expressões transitórias da política dos homens.

A essa altura notei que a minha curiosidade jornalística começava a magoar a venerável entidade e mudei repentinamente de assunto.

- Majestade, que dizeis da grande figura hoje lembrada?

- O vulto de José Bonifácio foi sempre objecto de meu respeito e de minha amizade.
E olhe que foi ele o mais sensato organizador da nacionalidade brasileira, cujo progresso acompanha, carinhosamente, com a sua lealdade sincera.

Hoje, que se comemora o centenário da sua desencarnação, devemos relembrar o seu regresso de novo ao Brasil, em meados do século passado, tendo sido uma das mais elevadas expressões de cultura, na Constituinte de 1891.

Dispunha-me a obter novos esclarecimentos;
mas, o Imperador, acompanhado de amigos, retirava-se quase que abruptamente da nossa companhia, correspondendo fraternalmente a outros apelos sentimentais.

Palavras amigas de adeus e votos de ventura no plano imortal e eu e o meu amigo José Porfírio lá ficávamos com a suave impressão da sua palavra sábia e benevolente.

Daí a momentos, o meu companheiro quebrava o silêncio de minha meditação:
- Humberto, os monarquistas tinham razão!...
Este velho é um poço de verdade e de experiência da vida!

Você deve registar esta entrevista, oferecendo aos vivos estas palavras quentes de conhecimento e de sabedoria!...


E aqui estou escrevendo para os meus ex-companheiros pelo estômago e pelo sofrimento.
Acreditarão no humilde cronista desencarnado?

Não guardo dúvidas nesse sentido. Penso que obteria mais amplos resultados, se fosse ao Cemitério do Caju e gritasse a palavra do Imperador, para dentro de cada túmulo.

1 - Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto.
Foi presidente do último gabinete ministerial que teve a monarquia.


2 - Luiz Felipe Gastão de Orleans, Conde d'Eu.
Foi genro de D. Pedro II, por ter casado com a princesa Isabel.


3 - Alusão às lutas e guerra em que se envolveu o Brasil com as Repúblicas do Uruguai, Argentina e do Paraguai.

(Recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier)
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:22 pm

A "morte" de Pio XI

Cercado de todas as honras pontificais, Pio XI agoniza...
De seus lábios exaustos, nada mais se ouve, além de algumas palavras ininteligíveis.

Seu coração está mergulhado na rede dolorosa das perturbações orgânicas, mas seu espírito está lúcido, como o de uma sentinela, a quem não se permite dormir.

Alvorece o dia...
Preparam-se os sinos de Roma para anunciar as matinas à antiga cidade dos Césares e o velho pontífice tenta, ainda uma vez, articular uma palavra que expresse a sua vontade derradeira.

Todavia, não obstante todas as dignidades sacerdotais e apesar de todos os títulos nobiliárquicos de um soberano terrestre, Sua Santidade se despede da vida material, sob os mesmos imperativos dos regulamentos humanos da Natureza.

A morte não lhe reconhece a soberania e a asma cardíaca lhe devora as últimas possibilidades de prosseguir na tarefa terrena, chamando-o a novos testemunhos.

Pio XI desejaria fazer algumas recomendações in extremis, mas sente-se invadido por uma corrente de frio inexplicável, que lhe paralisa todos os centros de força.

Os religiosos que o assistem compreendem que é chegado o fim de sua resistência e o Cardeal Lauri aproxima-se do moribundo, ministrando-lhe a extrema-unção, segundo as tradições e hábitos da igreja.

O papa agonizante experimenta, então, todas as angústias do homem, no instante derradeiro...

Aos olhos de sua imaginação, desenham-se os quadros nevados e deliciosos da Lombardia, na sua infância descuidada e risonha, os velhos pais, amorosos e compassivos, o pároco humilde que o animou para os estudos primeiros e, depois, as proveitosas experiências nas ondas largas e bravias do oceano do mundo, junto aos esplendores de Milão e de sua catedral majestosa...

Ele que orara, fervorosamente, tantas vezes, sentia agora uma dificuldade infinita para elevar o pensamento ao Deus de misericórdia e de sabedoria, que ele supunha no ambiente faustoso de seus templos frios e sumptuosos...

Uma lágrima pesada lhe rolou dos olhos, cansados das penosas preocupações do mundo, enquanto o raciocínio se lhe perdia em amargas conjecturas.

Não era ele o Vigário Geral do Filho de Deus sobre a Terra?
Sua personalidade não ostentava o título de Príncipe do Clero?


Num derradeiro olhar, fixou, ainda nas próprias mãos, o reluzente anel, chamado do Pescador...

Desejou falar, ainda uma vez, aos companheiros, mergulhados em preces fervorosas, das meditações angustiadas da morte, mas percebeu que as suas cordas vocais estavam hirtas...

Foi quando, então, Pio XI começou a divisar, em derredor do seu leito de agonia, um compacto exército de sombras.
Algumas lhe sorriam com solicitude, enquanto outras o contemplavam com indefinível melancolia.

Ao seu lado, percebeu duas figuras veneráveis que o auscultavam, como se fossem médicos desconhecidos, vindos em socorro dos senhores Rochi e Bonanome, seus assistentes naquele dia.

Esses médicos do Invisível como que o submetiam a uma operação difícil e delicada...

Aos poucos, o velho pontífice romano sentiu que os olhos materiais se lhe apagavam amortecidos, mas, dentro de sua visão espiritual, continuava a perceber a presença de pessoas estranhas e que o rodeavam, dentre as quais se destacara um vulto simpático, que lhe estendia os braços, solícito e compassivo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:22 pm

Pio XI não teve dificuldades em identificar a figura respeitável que o acolhia com benevolência e carinho.
-“Leão XIII!...“ - murmurou ele, no silêncio íntimo de seu coração, recordando os instantes gloriosos de seu passado eclesiástico.

Mas, a nobre entidade que se aproximava, abraçando-o, exclamou compassivamente:
- "Aquiles, cessam agora todos os preconceitos religiosos que formavam a indumentária precisa ao cumprimento de tua grande missão no seio da igreja!...

Chama-me Joaquim Pecci, porque, como hoje te recordas de Désio e da infância longínqua, desejoso de recomeçar a vida terrestre, que terminas neste instante, também eu me lembrei, no momento supremo, de minha risonha meninice em Carpineto, ansioso de regressar ao passado para encetar uma nova vida, porque a verdade é que todos nós, em assumindo os sublimes compromissos com a lição do Senhor, prometemos realizar uma tarefa para a qual nos sentimos frágeis e desalentados, em nossas imperfeições individuais..."

E como Aquiles Rátti revelasse estupefacção, diante do fenómeno, continuou a entidade amiga:
- "Levanta-te!
Para o bom trabalhador há poucas possibilidades de repouso!..."

Nesse instante, como se fosse tocado por um poder maravilhoso, Pio XI notou que o seu corpo estava rígido, ao seu lado.

Numerosos companheiros se aproximavam comovidos de seus despojos, inclusive o Cardeal camerlengo, que se tomava de profunda emotividade em frente da nova tarefa.

Procedia-se aos primeiros rituais, a que se obedece, em tais circunstâncias, no Vaticano, quando a voz de Leão XIII se fez ouvir de novo:
- "Meu irmão - disse ele, austeramente - todos nós somos obrigados a comparecer ante o tribunal que nos julga por todos os actos levados a efeito na direcção da igreja a que chamamos, impropriamente, barca de S. Pedro...

Antes, porém, que sejas conduzido, pela legião dos seres espirituais que te esperam, ao tribunal dessas sentenças supremas, visitemos a nossa Jerusalém de pompa e de pecado, para nos certificarmos de suas ruínas próximas, ante a vitória do Evangelho redentor!...”

Nesse momento, o Cardeal Pacélli retirava do cadáver o anel simbólico, enquanto as duas entidades, abraçadas uma à outra, se dirigiam à Capela Sistina e daí à famosa basílica de São Pedro, para as tradicionais e antigas orações.

Penetrando ambos sob as colunas grandiosas que suportam a larga varanda, dizia o autor da encíclica Rerum Novarum para o seu vacilante companheiro:
- "Outrora, neste local, erguiam-se o Templo de Apolo, o Templo da Boa Deusa, o Palácio de Nero e outras expressões de loucura e de crueldade que condenamos, até hoje, nas doutrinas do paganismo. 4

Os tesouros de Constantino e de Helena modificaram a fisionomia do santuário aqui erguido, quando o sangue e as lágrimas dos mártires semeavam as flores de Jesus-Cristo sobre a face escura da Terra!... 5

Em lugar da humildade cristã, levantaram-se no Vaticano as magnificências de ouro e de pedrarias...”

Atravessados os frontispícios sumptuosos, as duas entidades ingressaram num ambiente parecido com os da história das "mil e uma noites", recamado de luxo fulgurante e indescritível.

Por ali, há o sinal dos artistas de todos os séculos.
Monumentos da pintura e da escultura de todos os tempos assombram os forasteiros espirituais que acompanham a cena grandiosa e melancólica.

As imagens, os altares, as colunatas, os anjos de pedra, os nichos sumptuosos se multiplicam em deslumbramento maravilhoso.

Chegadas ao pé da magnífica estátua de São Pedro, talhada no antigo bronze da imagem de Júpiter Capitolino 6, que toda Roma venerava em épocas remotas, estátua essa idealizada sob as ordens de Leão Magno, quando das vitórias romanas sobre o génio estratégico e belicoso de Átila, as duas entidades se detiveram, pensativas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:23 pm

Obedecendo aos seus antigos hábitos, Pio XI ajoelhou-se e, ocultando o rosto entre as mãos, orava fervorosamente, quando uma voz sublimada e profunda lhe atinge em cheio a consciência, como se proviesse das ilimitadas profundezas do céu, chegando aos seus ouvidos por processo misterioso:
- "Meu filho - exclamava a voz espiritual, na sua grandeza terrível e melancólica - como pudeste perseverar no mesmo caminho dos teus orgulhosos antecessores?...

Diante dessa estátua soberba, talhada no bronze de Júpiter Capitolino, toda a igreja romana supõe homenagear a minha memória, quando nada mais fui que simples pescador, seduzido pela grandeza celeste das sublimes lições do Senhor, no cenáculo de luz do Tiberíades!...

Convocado pelo Mestre Divino a edificar a minha fé, em favor do seu grande rebanho de ovelhas tresmalhadas do aprisco, não tive a força necessária para seguir-lhe o divino heroísmo, no instante supremo, chegando a negá-lo em minha indigência espiritual!...

Ainda assim, não obstante a minha fraqueza, foi a mim que a igreja escolheu para a homenagem dessas basílicas luxuosas, que, como esta imagem fulgurante, representam a continuidade das velhas crenças erróneas do império da impiedade, eliminadas pela suave luz das verdades consoladoras do Cristianismo!...

Somente agora, verificas a ilusão do teu anel do Pescador e da tua tiara de São Pedro!...

Eu não conheci outras jóias, nem outras riquezas, além daquelas que se constituíam de minhas mãos calejadas no esforço de cada dia!...

"Filho meu, amargurado está ainda o coração do nosso Salvador, em virtude do caminho escabroso adoptado pela quase generalidade dos sacerdotes nas igrejas degeneradas, que militam na oficina terrestre!...

Todos os que se sentaram, como tu, nesses tronos de impiedade, prometeram ao céu a reforma integral dos velhos institutos romanos, em favor da essência do Evangelho, no pensamento universal;
mas, como tu, os teus predecessores esbarraram, igualmente, no rochedo do orgulho, da vaidade e da impenitência, comprometendo o grande barco da fé em Jesus-Cristo, entre as marés bravias das iniquidades humanas!...

"Falaste da paz: mas, realizaste pouco, ante o dragão político que te espreitava na sombra, naufragando nos conceitos novos que vestem as crueldades das guerras de conquista!...

"Reformaste o Vaticano, estabelecendo alianças políticas ou adoptando as facilidades do progresso científico que enriquece a civilização desesperada do século XX;
mas, esqueceste de levar aos teus míseros tutelados as fórmulas reais da verdade e do bem, da paz e da esperança, no amor e na humildade, que perfumam os ensinamentos do Redentor!...

"Grande sacerdote do mundo pelas tuas qualidades de cultura e pela generosidade de tuas intenções, serás agora julgado pelo tribunal que aprecia quantos se arvoram, na Terra, em discípulos do Senhor!...

Do mundo das convenções já recebeste todo o julgamento, com as homenagens políticas dos povos;
agora, entrarás na luz do Reino de Deus, para aprenderes de novo a grande lição dos "muitos chamados e poucos escolhidos!...”

Pio XI sentiu que o seu coração se despedaçava, em soluços atrozes.
Olhou em derredor de si e não lobrigou mais ninguém, a seu lado.

Todos os sorrisos compassivos dos companheiros da morte haviam desaparecido, sob o influxo de uma força misteriosa.

Quis contemplar a cúpula magnífica de seu templo soberbo, mas sentiu-se cercado de pesadas sombras, em cujo seio um frio cortante lhe enregelava o coração.

Foi assim que, penetrando a grande noite do túmulo, o grande sacerdote terrestre perdeu a noção de si mesmo, para despertar, em seguida, em frente ao tribunal da justiça divina, onde pontificam os mais íntegros de todos os juízes, dentro das leis misericordiosas do amor, da piedade e da redenção.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:23 pm

4 - Os Cristãos aproveitaram muitos dos templos, com as alfaias pagãs, para transformá-los em igrejas sumptuosas.

5 - Constantino foi o César Romano que adoptou, oficializando-a a religião cristã.
Sua mãe, Helena, mais tarde canonizada pela Igreja, dispondo de grandes riquezas, muito ajudou a expansão e progresso do Cristianismo.

Visitando Jerusalém (em 325), fez construir a chamada igreja do Santo Sepulcro.
A ela, Helena, se atribui o encontro da verdadeira cruz na qual foi Jesus crucificado.

Onde se ergue hoje a grande basílica de S. Pedro, em Roma, construída por aquiescência de Constantino, e enriquecida com muitos dos ricos despojos tomados dos infiéis, existia então um humílimo oratório subterrâneo.

Segundo a tradição, ali estava depositado o corpo de S. Pedro, que, em sítio próximo, sofrera o martírio pela fé.
Todo o local, actualmente Vaticano, era pouco habitado, por insalubre, atribuindo-se febres ao ar húmido lá respirado.

Por isso, embora vizinho do Circo e dos jardins de Nero, era quase deserto, permitindo que os cristãos ali se reunissem e ali guardassem os restos dos seus irmãos sacrificados nas perseguições ordenadas pelos sanguinários imperadores romanos.


6 - Capitólio ou Monte Capitolino, que tinha então dois cumes, era uma das sete colinas de Roma, onde se viam vários templos, o Ateneu dos poetas, o Tabulário (onde se guardavam as leis) e obras de arte, inclusive o Arco de Cipião, o africano, e estátua equestre de Marco Aurélio, em um; no outro cume, a famosa cidadela, que Tácito declarava inexpugnável.

Quase tudo desapareceu.
Aí se erguia, em honra de Júpiter - o maior dos deuses - o considerado primeiro templo Romano.

Em seu lugar, foi mais tarde construída a Igreja chamada - Ara Coeli, sob a invocação da Virgem Maria. O que resta do Capitólio, em nossos dias, não dá ideia sequer do que foi, bastando salientar que o mesmo se acha constituído pela praça central, então denominada - Entre-os-Montes, à qual se chega por uma escada magnífica, cujo desenho se deve a Miguel Ângelo, e onde figuram algumas das velhas e primorosas estátuas e colunas salvas das ruínas.


(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 13 de fevereiro de 1939).
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Jun 20, 2011 10:24 pm

O carnaval no Rio

O carnaval no Rio de Janeiro, em 1939, foi mais uma nova realização da alegria carioca, entornando nas almas da agigantada Sebastianópolis o vinho dos prazeres fáceis e das vibrações ruidosas, que produz o temporário esquecimento das mais nobres responsabilidades da vida.

Um escritor, encarnado ou desencarnado, que venha falar contra os excessos do período carnavalesco, no Rio, costuma perder o seu tempo e o seu esforço sagrado.

Os três dias de Momo são integralmente destinados ao levantamento das máscaras com que todo sujeito sai à rua nos demais dias do ano, e a maioria dos leitores não deseja sacrificar a paz de seus hábitos mais antigos.

Mate-se o vizinho, gritem as estatísticas, protestem os religiosos, chorem os foliões que não puderam sair da intimidade doméstica, o imperativo do momento é buscar o turbilhão da Avenida ou descer dos morros pobres e tristes para a Praça Onze, em face do apelo irresistível de Momo e de seus incontáveis seguidores.

Tanto cuidado dedicou-se no Rio ao reinado bufo, que o governo amparou as tendências generalizadas do povo, porque o homem da administração, preocupado com os fenómenos diplomáticos e com as tabelas orçamentarias, não dispõe de tempo para atender ao total das necessidades dos governados, apreciando, pela rama, as suas predilecções, cumprindo à sua psicologia política satisfazer às exigências populares, para que as massas o deixem em paz, na soledade do gabinete, dentro da solução dos seus graves problemas administrativos de ordem imediata.

Foi assim que atraímos grandes correntes turísticas, não mais para a contemplação das belezas topográficas da cidade valorosa de São Sebastião, mas para o conhecimento das paixões desencadeadas do nosso povo em meneios de Terpsicore africana.

Neste ano, intensificaram-se as folganças com a nota dos marinheiros ianques e suecos, que se entregaram totalmente à folia.

O movimento carioca causou uma vida nova.
Não faltou mesmo a nota alegre e pitoresca da criança que nasceu em Niterói, em plena rua, sobre um leito improvisado de serpentinas.

Os jornais e as estações radiofónicas não tiveram outro assunto, que não fosse o da vitória de Momo, no seu reinado extravagante de orgia.

Os comerciantes se pronunciaram.
A cerveja, o chope e outras bebidas tiveram o consumo aproximado de cinco milhões de garrafas.

Movimentação extraordinária e lucros assombrosos.
Prosperaram os negócios da Central e da Cantareira.
Houve, porém, outra estatística menos conhecida.

O Delegado de Menores recebeu quatrocentas e doze reclamações, sobre crianças desaparecidas.
Só no Posto Central da Assistência Municipal foram atendidas mais de mil e cem pessoas.

A par da progressão dos negócios, multiplicaram-se as agressões, proliferou o crime, intensificaram-se as quedas na via pública, os acidentes de toda natureza, os desastres de automóveis, as expressões de alcoolismo, as tentativas de suicídio, as intoxicações, os casos de hospitalização imediata, sem nos referirmos aos dolorosos dramas da sombra, que ficaram na penumbra, receosos da inquirição policial e da crítica dos vizinhos.

O carnaval passou qual onda furiosa, levando, como sempre, todos os bons sentimentos ainda vacilantes, que aguardavam a âncora da fé pura, a fim de se consolidarem no mar infinito da Vida.

Diante das vibrações carnavalescas do povo carioca, nós nos calamos, porém, como o homem que lastima as irreflexões de um amigo, silenciando, quanto ao seu proceder, em face das qualidades generosas que lhe exornam a personalidade.

Somos dos que crêem na eficácia da educação para o extermínio completo desses excessos dolorosos, porquanto todo o problema é de ordem educativa.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:34 am

A propósito dessa necessidade imediata do nosso povo, apraz-me recordar, nesta página, a lenda da maçã podre, que li, alhures, sem poder determinar, no momento, o objecto preciso de minha lembrança.

Reunidos na praça pública, alguns velhos patrícios romanos falavam dos desvios do Império e da penosa decadência dos seus costumes em família.

Alguns, possuidores de esperança, apelavam para a guerra ou para novos decretos de força, que compelissem os seus compatriotas ao cumprimento dos mais sagrados deveres da existência.

Contudo, um dos componentes do grupo tomou de uma grande maçã podre, exclamando:
- "Esta maçã, meus amigos, é o símbolo do actual Império. Nunca mais voltaremos ao seio das nossas antigas tradições!...

No dia em que esta fruta voltasse a ser bela, retomando a sua pureza primitiva, também nós teríamos restaurado a alegria de nossa vida, com a volta aos sagrados costumes!...”

Os companheiros seguiam-lhe a palavra, com atenção, quando o mais velho e o mais experiente de todos respondeu com austera nobreza:
- "Enganai-vos, meu amigo!...
Poderemos renovar a nossa vida, como essa fruta poderá vir, mais tarde, a ser nova e bela.

Tomemos as sementes desta maçã condenada e deitemo-las, de novo, no seio da terra generosa.
Cultivemos os seus rebentos com cuidado e amor e, sob o amparo do tempo, o nosso esforço vê-la-á multiplicada em novas maçãs frescas e formosas!...

Façamos assim também com o nosso povo.
Busquemos semear na ala das gerações florescentes os princípios sagrados de nossas tradições e dos nossos hábitos e, mais tarde, toda podridão terá passado na esteira do Tempo, para caminharmos pelo futuro a dentro com a pureza do nosso idealismo!...

O carnaval é a maçã podre do Rio de Janeiro.
Na sua intimidade, porém, está a semente generosa dos elevados sentimentos da alma brasileira.
Cultivemos essas sementes sagradas no espírito das gerações que surgem.

Que se congreguem todos os núcleos do bem e, muito especialmente os do Espiritismo cristão, para as sublimadas realizações desse grande labor educativo e a podridão terá passado com o tempo, afim de que possamos trabalhar, em nosso sagrado idealismo, sob as luzes generosas e augustas do Cruzeiro.

(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 12 de março de 1939).
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:34 am

História de um médium

As observações interessantes sobre a doutrina dos Espíritos sucediam-se umas às outras, quando um amigo nosso, velho lidador do Espiritismo, no Rio de
Janeiro, acentuou, gravemente:
- "Em Espiritismo, uma das questões mais sérias é o problema do médium..."

- "Sob que prisma?" - Indagou um dos circunstantes.

- "Quanto ao da necessidade de sua própria edificação para vencer o meio."
"Para esclarecer a minha observação - continuou o nosso amigo - contar-lhe-ei a história de um companheiro dedicado, que desencarnou, há poucos anos, sob os efeitos de uma obsessão terrível e dolorosa."

Todo o grupo, lembrando os hábitos antigos, como se ainda estacionássemos num ambiente terrestre, aguçou os ouvidos, colocando-se à escuta:
- "Azarias Pacheco - começou o narrador era um operário despreocupado e humilde do meu bairro, quando as forças do Alto chamaram o seu coração ao sacerdócio mediúnico.

Moço e inteligente, trabalhava na administração dos serviços de uma oficina de consertos, ganhando, honradamente, a remuneração mensal de quatrocentos mil réis.

Em vista do seu espírito de compreensão geral da vida, o Espiritismo e a mediunidade lhe abriram um novo campo de estudos, a cujas actividades se entregou sob uma fascinação crescente e singular.

Azarias dedicou-se amorosamente à sua tarefa, e, nas horas de folga, atendia aos seus deveres mediúnicos com irrepreensível dedicação.

Elevados mentores do Alto forneciam lições proveitosas, através de suas mãos.
Médicos desencarnados atendiam, por ele, a volumoso receituário.
E não tardou que o seu nome fosse objecto de geral admiração.

Algumas notas de imprensa evidenciaram ainda mais os seus valores medianímicos e, em pouco tempo, a sua residência humilde povoava-se de caçadores de anotações e de mensagens.

Muitos deles diziam-se espíritas confessos, outros eram crentes de meia-convicção ou curiosos do campo doutrinário.

O rapaz, que guardava sob a sua responsabilidade pessoal numerosas obrigações de família, começou a sacrificar primeiramente os seus deveres de ordem sentimental, subtraindo à esposa e aos filhinhos as horas que habitualmente lhes consagrava, na intimidade doméstica.

Quase sempre cercado de companheiros, restavam-lhe apenas as horas dedicadas à conquista de seu pão quotidiano, com vistas aos que o seguiam carinhosamente pelos caminhos da vida.

Havia muito tempo perdurava semelhante situação, em face de sua preciosa resistência espiritual, no cumprimento de seus deveres.

Dentro de sua relativa educação medianímica, Azarias encontrava facilidade para identificar a palavra de seu guia sábio e incansável, sempre a lhe advertir quanto à necessidade de oração e de vigilância.

Acontece, porém, que cada triunfo multiplicava as suas preocupações e os seus trabalhos.
Os seus admiradores não queriam saber das circunstâncias especiais de sua vida.

Grande parte exigia as suas vigílias pela noite a dentro, em longas narrativas dispensáveis.
Outros alegavam os seus direitos às exclusivas atenções do médium.

Alguns acusavam-no de preferências injustas, manifestando o gracioso egoísmo de sua amizade expressando o ciúme que lhes ia n'alma, em palavras carinhosas e alegres.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:35 am

Os grupos doutrinários disputavam-no.
Azarias verificou que a sua existência tomava um rumo diverso, mas os testemunhos de tantos afectos lhe eram sumamente agradáveis ao coração.

Sua fama corria sempre.
Cada dia era portador de novas relações e novos conhecimentos.

Os centros importantes começaram a reclamar a sua presença e, de vez em quando, surpreendiam-no as oportunidades das viagens pelos caminhos-de-ferro, em face da generosidade dos amigos, com grandes reuniões de homenagens, no ponto de destino.

A cada instante, um admirador o assaltava:
- "Azarias, onde trabalha você?..."
- "Numa oficina de consertos."

- "Ó! Ó!... e quanto ganha por mês?"
- "Quatrocentos mil réis."
- "Ó! mas isso é um absurdo... Você não é criatura para um salário como esse! Isso é uma miséria!...”

Em seguida outros ajuntavam:
- "O Azarias não pode ficar nessa situação.

Precisamos arranjar-lhe coisa melhor no centro da cidade, com uma remuneração à altura de seus méritos ou, então, poderemos tentar-lhe uma colocação no serviço público, onde encontrará mais possibilidades de tempo para dedicar-se à missão...”

O pobre médium, todavia, dentro de sua capacidade de resistência, respondia:
- "Ora, meus amigos, tudo está bem.

Cada qual tem na vida o que mereceu da Providência Divina e, além de tudo, precisamos considerar que o Espiritismo tem de ser propagado, antes do mais, pelos Espíritos e não pelos homens!...”

Azarias, contudo, se era médium, não deixava de ser humano.
Requisitado pelas exigências dos companheiros, já nem pensava no lar e começava a assinalar na sua ficha de serviços faltas numerosas.

A princípio, algumas raras dedicações começaram a defendê-lo na oficina, considerando que, aos olhos dos chefes, suas falhas eram sempre mais graves que as dos outros colegas, em virtude do renome que o cercava;
mas, um dia, foi ele chamado ao gabinete de seu director que o despediu nestes termos:

"Azarias, infelizmente não me é possível conservá-lo aqui, por mais tempo.
Suas faltas no trabalho atingiram o máximo e a administração central resolveu eliminá-lo do quadro de nossos companheiros."

O interpelado saiu com certo desapontamento, mas lembrou-se das numerosas promessas dos amigos.

Naquele mesmo dia, buscou providenciar para um nova colocação, mas, em cada tentativa, encontrava sempre um dos seus admiradores e conhecidos que obtemperava:
- "Ora Azarias, você precisa ter mais calma!...

Lembre-se de que a sua mediunidade é um património de nossa doutrina...
Sossega, homem de Deus!...
Volte à casa e nós todos saberemos ajudá-lo neste transe."

Na mesma data, ficou assentado que os amigos do médium se cotizariam, entre si, de modo que ele viesse a perceber uma contribuição mensal de seiscentos mil réis, ficando, desse modo, habilitado a viver tão-somente para a doutrina.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:35 am

Azarias, sob a inspiração de seus mentores espirituais, vacilava ante a medida, mas à frente de sua imaginação estavam os quadros do desemprego e das imperiosas necessidades da família.

Embora a sua relutância íntima, aceitou o alvitre.
Desde então, a sua casa foi o ponto de uma romaria interminável e sem precedentes.
Dia e noite, seus consulentes estacionavam à porta.

O médium buscava atender a todos como lhe era possível.
As suas dificuldades, todavia, eram as mais prementes.
Ao cabo de seis meses, todos os seus amigos haviam esquecido o sistema das cotas mensais.

Desorientado e desvalido, Azarias recebeu os primeiros dez mil réis que uma senhora lhe ofereceu após o receituário.

No seu coração, houve um toque de alarme, mas o seu organismo estava enfraquecido.

A esposa e os filhos estavam repletos de necessidades.
Era tarde para procurar, novamente, a fonte do trabalho.
Sua residência era objecto de uma perseguição tenaz e implacável.

E ele continuou recebendo.
Os mais sérios distúrbios psíquicos o assaltaram.

Penosos desequilíbrios íntimos lhe inquietavam o coração, mas o médium sentia-se obrigado a aceitar as injunções de quantos o procuravam levianamente.

Espíritos enganadores aproveitaram-se de suas vacilações e encheram-lhe o campo mediúnico de aberrações e descontroles.

Se as suas acções eram agora remuneradas e se delas dependia o pão dos seus, Azarias se sentia na obrigação de prometer alguma coisa, quando os Espíritos não o fizessem.

Procurado para a felicidade no dinheiro, ou êxito nos negócios ou nas atracções do amor do mundo, o médium prometia sempre as melhores realizações, em troca dos míseros mil réis da consulta.

Entregue a esse género de especulações, não mais pode receber o pensamento dos seus protectores espirituais mais dedicados.

Experimentando toda sorte de sofrimentos e de humilhações, se chegava a queixar-se, de leve, havia sempre um cliente que lhe observava:
- "Que é isso, "seu" Azarias?...
O senhor não é médium?
Um médium não sofre essas coisas!...

Se alegava cansaço, outro objectava, de pronto, ansioso pela satisfação de seus caprichos:
- "E a sua missão, "seu" Azarias?...
Não se esqueça da caridade!..."

E o médium, na sua profunda fadiga espiritual, concentrava-se, em vão, experimentando uma sensação de angustioso abandono, por parte dos seus mentores dos planos elevados.

Os mesmos amigos da véspera piscavam, então, os olhos, falando, em voz baixa, após as despedidas:
- "Você já notou que o Azarias perdeu de todo a mediunidade?..."
Dizia um deles.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:36 am

- "Ora, isso era esperado - redarguia-se - desde que ele abandonou o trabalho para viver à custa do Espiritismo, não podíamos aguardar outra coisa."

- "Além disso - exclamava outro do grupo - todos os vizinhos comentam a sua indiferença para com a família, mas, de minha parte sempre vi no Azarias um grande obsidiado."

- "O pobre do Azarias perverteu-se - falava ainda um companheiro mais exaltado - e um médium nessas condições é um fracasso para a própria doutrina..."

- "É por essa razão que o Espiritismo é tão incompreendido! - sentenciava ainda outro
Devemos tudo isso aos maus médiuns que envergonham os nossos princípios."

Cada um foi esquecendo o médium, com a sua definição e a sua falta de caridade.
A própria família o abandonou à sua sorte, tão logo haviam cessado as remunerações.
Escarnecido em seus afectos mais caros, Azarias tornou-se um revoltado.

Essa circunstância foi a última porta para o livre ingresso das entidades perversas que se assenhorearam de sua vida.

O pobre náufrago da mediunidade perambulou na crónica dos noticiários, rodeado de observações ingratas e de escandalosos apontamentos, até que um leito de hospital lhe concedeu a bênção da morte..."

O narrador estava visivelmente emocionado, rememorando as suas antigas lembranças.

- "Então, quer dizer, meu amigo - observou um de nós - que a perseguição da polícia ou a perseguição do padre não são os maiores inimigos da mediunidade"...

- "De modo algum. - Replicou ele, convicto.
O Padre e a política podem até ser os portadores de grandes bens."

E, fixando em nós outros o seu olhar percuciente e calmo, rematou a sua história, sentenciando, gravemente:
- "O maior inimigo dos médiuns está dentro de nossos próprios muros!..."

(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 29 de abril de 1939).
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:36 am

No banquete do Evangelho

Dizia Luciano de Samosata que a vida humana deve valer, não pela sua extensão, mas pela sua intensidade de sofrimento.

No plano dos homens desencarnados, somos compelidos a renovar esse conceito, na tábua de um novo reajustamento, acrescentando que a existência do homem deve valer pela intensidade da sua edificação espiritual.

Não basta sofrer desesperadamente, como o náufrago revoltado, recolhido na onda de sua própria imprevidência.

É necessário conhecer a finalidade da dor, lapidária da evolução e eterna obreira do Espírito.
A morte não é sinónimo de renovações integrais e definitivas.

Para o homem que demandou o reino das sombras, ainda existe o véu de Ísis, e, no seu coração, ainda ressoam as célebres exortações do oráculo de Delfos.

Encontramo-nos "neste outro lado da vida", com as mesmas inquietações e com a mesma necessidade de aperfeiçoamento.
E, não raro, sentimo-nos envolvidos na rede caprichosa dos cálculos de Édipo 7, ansiosos por solver os problemas próprios.

Não obstante o milagroso elixir das letras, do qual abusei largamente no mundo, sinto-me hoje tão necessitado de conhecimento, como nos tempos da infância, em Miritiba, quando minha mãe me conduzia à férula do velho professor Agostinho Simões, que me apavorava com os seus gestos selvagens, junto da palmatória.

A escola do mundo tem aqui o seu prolongamento lógico e é inútil que o nosso pensamento se perca nas cogitações da dúvida, agora injustificável pela ausência da indumentária larval.

Examinando o Evangelho, nada mais realizais que um belo esforço, em favor de vossa iluminação nas sendas do Infinito.

Sois aqueles marinheiros precavidos e seguros que, entre os rochedos perigosos e ocultos da maré brava, sabem enxergar o leque de luz que os faroleiros desdobram sobre as águas, na sua doce tarefa de sacrifício.

Ides ler uma página acerca das consequências nefastas do orgulho, analisando, simultaneamente, a harmoniosa luz da humildade.

A propósito do assunto, ocorre-me lembrar-vos que nós, os intelectualistas e homens de letras, possuímos aqui, igualmente, os nossos círculos espirituais de estudos evangélicos, em horas previamente determinadas pelos generosos amigos que nos orientam do Alto.

Se é verdade que as reuniões das quintas-feiras, na Academia Brasileira de Letras, eram o último encanto intelectual dos derradeiros dias de minha vida, agora, a minha nova alegria verifica-se às quartas, quando de nossas assembleias deliciosas e amigas, no Templo de Ismael.

Se no mundo prevaleciam as expressões ruidosas da ornamentação exterior, com os fardões académicos, os pesados livros de literatura ou de ciência, junto das mulheres elegantes e gozadoras da vida, o meu júbilo, no momento, é mais íntimo e mais profundo, porquanto, aqui, preponderam as harmonias do bem e as luzes da humildade cristã.

Nessas reuniões, por várias vezes, emergem ainda as recordações da Terra, acordando o fantasma de nossa saudade morta; porém, a Verdade de Jesus está sempre brilhando, com o sagrado objectivo de nos ensinar o caminho, nos arquivos do Tempo.

Ainda no dia 31 de maio último 8, reuníamo-nos na Casa de Ismael, aguardando o banquete de iguarias espirituais. Discutíamos a moção apresentada pelo Dr. Carlos Fernandes, em nome da Sociedade de Medicina e Cirurgia, ao Ministério da Educação, reforçando a propaganda da "Hora Espírita Radiofónica" e assegurando mais essa vitória espiritual em nosso ambiente cultural.

Comentávamos os acontecimentos do Rio e falávamos de suas personalidades mais eminentes, buscando, de vez em quando, uma imagem mais forte no acervo das ciências humanas, para justificar esse ou aquele conceito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:36 am

Presidia à nossa assembleia a figura austera e simples de Pedro Richard, entidade amorável e amiga, em cujo coração fraterno encontramos as melhores expressões de fraternidade em todos os dias.

Richard não é o Espírito que trouxe do mundo a súmula dos tratados e das enciclopédias que correm os ambientes intoxicados do século, com as pretensões mais descabidas.

Seu coração não se contaminou com o veneno do intelectualismo pervertido dos tempos que correm, mas a sua sabedoria é a do poder da fé que soube devassar o mistério da vida.

- "Richard — disse eu, em dado instante, valendo-me dos recursos de minha passada literatice, no desdobramento de nossa palestra - você sabe que foi o Pisístrato9 quem ordenou a publicação das rapsódias homéricas?"

- "Ignoro; - respondeu ele, humildemente - em compensação, sei que Jesus ordenou aos seus apóstolos a grafia dos Evangelhos."

- "Ah! é verdade!... - fizemos nós dentro de nossas taras psicológicas de jornalista desencarnado - sem os Evangelhos todo o esforço do mundo será justamente o trabalho improfícuo das Danaides".10

- "Danaides? - exclamou o nosso amigo, na sua faina educativa
Não preciso ainda desse conceito mitológico, porque no próprio Evangelho está escrito que não se coloca remendo novo em pano velho."

E é desse modo que, em cada conceito, surge para nós um ensino novo.
Por largo tempo ainda, comentamos a incúria dos nossos companheiros mais caros, condenando a indiferença dos corações desviados da luz e da fé, nos caminhos da ignorância, sem os clarões amigos da Verdade.

Em seguida, falamos da Caridade e dos seus grandes labores na face da Terra, organizando-se, entre nós, os mais alevantados ideais para a construção de celeiros de actividade material, quando o nosso amigo sentenciou:
- "Irmãos: nesta Casa, temos de compreender que toda caridade, em seus valores mais legítimos, deve nascer do Espírito.

As ideias religiosas do mundo não se esqueceram de monumentalizar as suas teorias de abnegação e bondade. Hospitais e orfanatos, abrigos e templos se edificaram por toda parte;
entretanto, o homem foi esquecido para o Conhecimento e para Deus.

A caridade que veste nus e alimenta os famintos está certa, mas não está justa, se desconhece o Evangelho no santuário do seu coração.

A obra de Ismael tem de começar no íntimo das criaturas. Aqui, não podem prevalecer os antagonismos do homem, no acervo de suas anomalias.

Iniciar pelo fim é caminhar para a inversão de todos os valores da vida.
A Casa de Ismael tem de irradiar, antes de tudo, a claridade do amor e da sabedoria espiritual, objectivando o grandioso serviço da edificação das almas.

Primeiramente, é necessário educar o operário para os preciosos princípios e finalidades da máquina.

Iluminado o homem, estará iluminada a obra humana.
A evolução da alma para Deus se fará, então, por si mesma, sem desvios da meta a ser alcançada.
Não haverá razão para o sacrifício de seus pregoeiros, porque em cada coração existirá um hostiário celeste."

- "Mas, Richard - objectou um de nós, fascinado pela sua erudição divina e pela clareza de sua lógica - como poderemos fazer sentir a todos os nossos irmãos pela fé e pelo trabalho a sublimidade desses raciocínios?"
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Novas Mensagens - Humberto de Campos / Francisco Cândido Xavier Empty Re: Novas Mensagens - Humberto de Campos / Francisco Cândido Xavier

Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:37 am

Todavia, Pedro Richard apontou-nos para a luz que vinha da célula de Ismael, onde nos reuníramos para receber as bênçãos das Alturas.

Bittencourt Sampaio já havia chegado para distribuir os fragmentos do pão milagroso de sua divina sabedoria.

E, em silêncio, como se nos aquietássemos sob uma força misteriosa, sentimos que serenavam, em nosso íntimo, todas as preocupações pueris trazidas do nevoeiro espesso do mundo.

De alma genuflexa, esquecidos das querelas e das amarguras terrestres, recolhemos o coração na urna suave da fé, para ouvir, então como discípulos humildes, a lição de humildade, que nos trazia o grande apóstolo da mensagem excelsa e eterna do Cristo.

7 - O edipo - Cujo Destino seria assassinar o pai e casar-se com sua própria mãe (segundo os oráculos), foi, por esse motivo, abandonado num monte, e daí salvo e educado em corte estrangeira.

Ignorando sua origem, quando adulto pediu ao oráculo a sua profecia, e este lhe repetiu o que já outro prognosticara.

O edipo, para fugir a tão horrendo crime, exilou-se, e o Destino o guiou exactamente para junto dos pais, onde se cumpriu, sem que ele os conhecesse, a terrível predição.

É uma das mais interessantes, acidentadas e emocionais criações da Mitologia.
Poetas, músicos e pintores tomaram-na para assunto de notáveis e célebres trabalhos.


8 - Dia de sessão do Grupo "Ismael", núcleo espiritual da Federação Espírita Brasileira.
9 - PisístratoTirano de Atenas, amigo dos romanos.

10 - DanaidesNome das cinquenta filhas de Danáus (rei mitológico do Egipto), as quais, menos uma, mataram – na própria noite nupcial – os respectivos maridos.
Foram por isso condenadas, no Tártaro
(fundo do Inferno mitológico), a encher um tonel sem fundo.

(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 6 de junho de 1939).
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:39 am

Marte

"Enquanto as empresas de turismo organizam na Terra os grandes cruzeiros intercontinentais, realizando um dos mais belos esforços de socialização do século XX, no mundo dos Espíritos organizam-se caravanas de fraternidade, nos planos do intermundio”.

Na região do estômago, o privilégio pertence aos sujeitos felizes, bem fichados nos círculos bancários, mas, nos planos do coração, os livros de cheque são desnecessários.

Novo Gulliver da vida, mergulho a minha observação nos espectáculos assombrosos, experimentando, além das águas do Aqueronte11, a mudança integral de todas as perspectivas.

Encarcerado no ponto convencional de sua existência transitória, o homem terrestre é aquela coruja incapaz de enfrentar a luz da montanha, em pleno dia, suportando apenas a sombra espessa e triste de sua noite.

Como Ajax, filho de Oileu12, contempla, às vezes, o tridente irado dos deuses, mas, embora a sua desesperação e o seu orgulho, não vai além da ilha, onde a maré alta o atirou, nos caprichosos movimentos do oceano da Vida.

A morte não é uma fonte miraculosa de virtude e de sabedoria.
É, porém, uma asa luminosa de liberdade para os que pagaram os mais pesados tributos de dor e de esperança, nas esteiras do Tempo.

Enquanto os astrónomos europeus e americanos examinam, cuidadosamente, os seus telescópios, para a contemplação da paisagem de Marte, à distância de quase trinta e sete milhões de milhas, preparando as lentes poderosas de seus instrumentos de óptica, fomos felicitados com uma passagem gratuita ao nosso admirável vizinho do sistema solar, cuja passagem, nas adjacências do orbe, vem empolgando igualmente os núcleos de seres invisíveis, localizados nas regiões mais próximas da Terra.

A descrição das viagens, desde o princípio deste século, é uma das modalidades mais interessantes da literatura mundial;
todavia, o homem que vá do Rio de Janeiro a Tóquio, de avião, sem escalas de qualquer natureza, não pode descrever o caminho, com os seus detalhes mais interessantes.

Transmitirá aos seus leitores a emoção da imensidade, mas não conseguirá pintar uma nuvem.

Fora de suas máquinas aéreas, poderia fornecer a impressão de uma águia, mas o turista do Espaço, para se fazer entendido pelos companheiros da carne, teria de recorrer às figuras mais atrevidas do mundo mitológico.

É por isso que apelarei aqui para o véu de Ísis 13 ou para o dorso de Pégaso14, cuja patada fez brotar a fonte de Hipocrene, no Hélicon das divindades.

Depois de alguns segundos, chegávamos ao termo de nossa viagem vertiginosa.
Dentro da atmosfera marciana, experimentamos uma extraordinária sensação de leveza...

Ao longe, divisei cidades fantásticas pela sua beleza inédita, cujos edifícios, de algum modo, me recordavam a Torre Eiffel ou os mais ousados arranha-céus de Nova York.

Máquinas possantes, como se fossem movidas por novos elementos do nosso “hélium” balouçavam-se, ao pé das nuvens, apresentando um vasto sentido de estabilidade e de harmonia, entre as forças aéreas.

Aos meus olhos, desenhavam-se panoramas que o meu Espírito imaginara apenas para os mundos ideais da mitologia grega, com os seus paraísos cariciosos.

Aturdido, interpelei o chefe da nossa caravana, que se conservava silencioso:

- "Se a Terra julga a influência de Marte como profundamente belicosa, como poderemos conciliar a definição dos astrólogos com os espectáculos reais?"
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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Jun 23, 2011 11:39 am

- "E, por ventura - respondeu-me o excelente mentor espiritual — chegaste a conhecer no planeta terrestre um homem ou uma ideia, retirando a humanidade de sua rotina, sem sofrimento e sem guerra?

Para o nosso mundo, Marte é um irmão mais velho e mais experimentado na vida.
Sua actuação no campo magnético de nossas energias cósmicas verifica-se de modo que os homens terrenos possam despir os seus envoltórios de separactividade e de egoísmo.

Mas, nesse instante, havíamos chegado a um belo cômoro atapetado de verdura florida.
Ante os meus olhos atónitos, rasgavam-se avenidas extensas e amplas, onde as construções eram fundamente análogas às da Terra.

Tive então ensejo de contemplar os habitantes do nosso vizinho, cuja organização física difere um tanto do arcabouço típico, com que realizamos as nossas experiências terrestres.

Notei, igualmente, que os homens de Marte não apresentam as expresso metrópoles terrenas.
Uma aura de profunda tranquilidade os envolve.

É que, esclareceu o mentor que nos acompanhava, os marcianos já solucionaram os problemas do solo e já passaram pelas experimentações da vida animal, em suas fases mais grosseiras.

Não conhecem os fenómenos da guerra e qualquer flagelo social seria, entre eles, um acontecimento inacreditável.
Evolveram sem as expiações colectivas, amarguradas e terríveis, com que são atormentados os povos insubmissos da Terra.

As pátrias, aí, não recebem o tributo do sangue ou da morte de seus filhos, mas são departamentos económicos e órgãos educativos, administrados por instituições justas e sábias.

Era tempo, contudo, de observarmos a cidade com as suas disposições interessantes.
O leitor não poderá dispensar o nome dessa cidade prodigiosa, e à falta de termos comparativos, chamemo-la Marciópolis.

Orientados pelo amigo que nos dirigia a singular excursão, atingimos extensa praça, onde se erguia um templo maravilhoso pela sua imponência, tocada de majestosa simplicidade, e onde, ao que fomos informados, se haviam reunido todos os credos religiosos.

De uma de suas eminências, vimos o nosso Sol, bastante diferenciado, entornando na paisagem as tintas do crepúsculo.

A vegetação de Marte, educada em parques gigantescos, sofria grandes modificações, em comparação com a da Terra.
É de um colorido mais interessante e mais belo, apresentando uma expressão avermelhada em suas características gerais.

Na atmosfera, ao longe, vagavam nuvens imensas, levemente azuladas, que nos reclamaram a atenção, explicando-nos o mentor da caravana fraterna que se tratava de espessas aglomerações de vapor d'água, criadas por máquinas poderosas da ciência marciana, afim de que sejam supridas as deficiências do líquido nas regiões mais pobres e mais afastadas do largo sistema de canais, que ali coloca os grandes oceanos polares em contínua comunicação, uns com os outros.

Tais providências, explica o espírito superior e benevolente, destinam-se a proteger a vida dos reinos mais fracos da Natureza planetária, porque, em Marte,
o problema da alimentação essencial, através das forças atmosféricas, já foi resolvido, sendo dispensável aos seus habitantes felizes a ingestão das vísceras cadavéricas dos seus irmãos inferiores, como acontece na Terra, superlotada de frigoríficos e de matadouros.

Todavia, ao apagar das luzes diuturnas, o grande templo de Marciópolis enchia-se de povo.
Observei que a nossa presença espiritual não era percebida, mas podíamos examinar a multidão, à vontade, em seus mínimos movimentos.

Todos os grandes centros deste planeta, esclareceu o nosso amigo e mentor espiritual, sentem-se incomodados pelas influências nocivas da Terra, o único orbe de aura infeliz, nas suas vizinhanças mais próximas, e, desde muitos anos, enviam mensagens ao globo terráqueo, através das ondas luminosas, as quais se confundem com os raios cósmicos, cuja presença, no mundo, é registada pela generalidade dos aparelhos radiofónicos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jun 24, 2011 11:05 am

Ainda há pouco tempo, o Instituto de Tecnologia da Califórnia inaugurou um vasto período de experimentações, para averiguar a procedência dessas mensagens, misteriosas para o homem da Terra, anotadas com mais violência pelos balões estratosféricos conforme as demonstrações obtidas pelo Dr. Robert Millikan, nas suas experiências científicas.

A palestra esclarecedora seguia o seu curso interessante, mas os movimentos na praça acentuavam-se sobremaneira.

No horizonte, surgia uma grande estrela de luz avermelhada, enquanto os dois satélites marciáticos resplandeciam.

Todos os olhares fitavam o céu, ansiosamente.
Aquela estrela era a Terra.

Uma comissão de cientistas iniciou, da tribuna maior do santuário, uma vasta série de estudos sobre o nosso mundo distante.

Aparelhos luminosos foram afixados, na praça pública, ao passo que presenciávamos a exibição de mapas quase irrepreensíveis dos nossos continentes e dos nossos mares.

Teorias notáveis com respeito à situação espiritual do planeta terrestre foram expendidas, entendendo perfeitamente as ideias dos estudiosos que as expunham, através da linguagem universal do pensamento.

A Terra enviava-nos a sua claridade, em reflexos trémulos e tristes, observando, então, que os marcianos haviam povoado o seu templo de telescópios poderosos.

Enquanto os melhores aparelhos da América possuem um diâmetro de duzentas polegadas, com a possibilidade de aumentar a imagem de Marte doze mil vezes, a astronomia marciana pode contemplar e estudar a Terra, aumentando-lhe a imagem mais de cem mil vezes, chegando ao extremo de examinar as vibrações de ordem psíquica, na sua atmosfera.

A nossa grande surpresa não parou aí, entre os mais avançados aspectos de evolução e de cultura.
Enquanto a luz avermelhada da Terra tocava a nossa visão espiritual, víamos que todas as multidões do templo se haviam aquietado, de leve...
A Ciência unida à Fé apresentava um dos espectáculos mais belos para o nosso espírito.

Vimos, então, que ao influxo poderoso daquelas mentes irmanadas no mesmo nível evolutivo, pela sabedoria e pelo sentimento, formara-se sobre o santuário uma estrada luminosa, em cujos reflexos descera do alto um mensageiro celeste.

Recebido com as intensas vibrações de júbilo divino e silencioso, a figura, quase angélica, começou a falar, depois de uma prece comovedora:
— "Irmãos, ainda é inútil toda tentativa de comunicação com a Terra rebelde e incompreensível!
Debalde os astrónomos terrenos vos procuram ansiosos, nos abismos do Infinito!...

Seus telescópios estão frios, suas máquinas, geladas.
Faltam-lhes os ardores divinos da intuição sublime e pura, com as vibrações da fé que os levariam da ciência transitória à sabedoria imortal.

Fatigados na impenitência que lhes caracteriza as actividades inquietas e angustiosas, os homens terrestres precisam de iluminação pelo amor, afim de que se afastem do círculo vicioso da destruição, na tecnocracia da guerra.

Lá, os Irmãos se devoram uns aos outros, com indiferença monstruosa!
Os povos não se afirmam pelo trabalho ou pela cultura, mas pelas mais poderosas máquinas de morticínio e de arrasamento.

Todos os progressos científicos são património do egoísmo utilitário ou elementos sinistros da ruína e da morte!...

Enquanto as árvores de Deus frondejam no caminho da Vida e do Tempo, cheias de frutos cariciosos, as criaturas terrenas consideram-se famintas de violência e de sangue.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jun 24, 2011 11:05 am

A ciência de seres como esses não poderia entender as vibrações mais elevadas do Espírito!

Os vícios de uma falsa cultura casam-se aos vícios das religiões convencionalistas, que estacionam em exterioridades nocivas ou se detém nos fenómenos, sem cogitar das causas profundas, esquecendo-se o homem do templo divino do seu coração, onde as bênçãos de Deus desejam florir e semear a vida eterna!...

Tão singulares desequilíbrios provocaram na personalidade terrestre um sentido bestial que lhe corrompe os mais preciosos centros de força e, somente agora, cogitam as instituições divinas da transição necessária, afim de que a vida na Terra se efective, com o sentido da verdadeira humanidade, ali conhecido tão somente na exposição teórica de alguns espíritos insulados!...

Irmãos, contemplemos a Terra e peçamos ao Senhor do Universo para que as modificações, precisas ao seu aperfeiçoamento, sejam menos dolorosas ao coração de suas colectividades!

Oremos pelos nossos companheiros, iludidos nas expressões animais de uma vida inferior, de modo que a luz se faça em seus corações e em suas consciências, possibilitando as vibrações recíprocas de simpatia e comunicação, entre os dois mundos!..."

A multidão ouvia-lhe a palavra, atenta e comovida, e nós lhe escutávamos a exortação profunda, como se fôramos convocados, de longe, pela harmonia mágica da lira de Orfeu 15, quando o nosso mentor espiritual nos acordava do êxtase, a nos bater levemente nos ombros, chamando-nos ao regresso.

Em todos os lugares, há os que mandam, e vivem os que obedecem. Na categoria dos últimos, voltamos às esferas espirituais da Terra, como o homem ignorante que fizesse um voo, sem escalas, através do mundo, confundido e deslumbrado, embora não lhe seja possível definir o mais leve traço de seu espantoso caminho.

Humberto de Campos

11 - Aqueronte - Nome de um dos quatro rios do Inferno, por onde as almas passavam sem esperança de regressar, e de curso tão impetuoso que arrasta, qual se fossem grãos de areia, grandes blocos de rochedos.

12 - Ajax - filho de Oileu rei dos Lócrios (Grécia) era um príncipe intrépido, mas brutal e cruel.

Equipou quarenta navios para a guerra de Tróia.
Tomada esta, ele ultrajou uma profetisa de classe, que se refugiara no templo, motivo por que os deuses fizeram submergir sua esquadra.

Salvo do naufrágio, agarrou-se a um rochedo, dizendo, com arrogância:
Escapei, apesar da cólera dos deuses!
Irritados com o despejado orgulho, os deuses o aniquilaram, ali mesmo.


13 - Ísis - Uma das principais divindades egípcias.
Tendo reinado durante muito tempo, foi, depois de morta, elevada à categoria de deusa
(a canonização dos tempos subsequentes), e em sua honra e culto celebravam-se ritos, chamados - Mistérios de Ísis.

Na forma comum, é representada
(à imagem das santas) sob a figura de uma jovem mulher, sentada, amamentando um dos filhos, Hórus, tendo sobre a testa duas pontas ou um globo lunar.

14 - Pégaso - Cavalo alado que tem destacados feitos na mitologia grega.
Nele iam os poetas em visita ao monte da inspiração.

Ainda hoje, em tropo literário se diz que, em busca de inspiração, os poetas cavalgam o Pégaso.
Nesse monte, chamado Hélicon, Pégaso, com uma patada, fez surgir a fonte da água inspiradora, denominada Hipocrene, isto é - fonte do cavalo.


15 - Orfeu - O músico mágico da mitologia.
Seus acordes encantavam, e atraíam as próprias feras.

Tendo sua esposa Eurídice sido picada e morta por uma serpente, no dia nupcial, ele foi ao Inferno onde obteve, pela sedução da sua lira, que divindades dali lhe ressuscitassem a consorte, com a condição, porém, de não olhar para trás, antes de deixar os limites do Inferno, cláusula que Orfeu infringiu.
Essa lenda serviu de enredo à conhecida ópera de Gluck — Orfeu.


(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 25 de julho de 1939).
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jun 24, 2011 11:06 am

A AGRIPINO GRIECO

Depois da grande batalha de Tsushima16, um dos grandes generais japoneses concitava os mortos a se levantarem, de modo a sustentar as energias exauridas dos camaradas agonizantes.

E eu compareço aqui, como uma sombra, para dizer ao formoso coração de Agripino Grieco que me encontro de pé.
É verdade que, depois de longa ausência, não nos encontramos nas nossas tertúlias literárias do Rio de Janeiro.

Nem nos achamos num local tão famoso como a Acrópole 17, onde a deusa de Atenas distribuía as suas bênçãos entre os sábios.
Mas há em nossas almas essa doce alegria de velhos irmãos que se reconhecem, pelas afinidades santificantes do Espírito.

É certo que os seus olhos mortais não me vêem.
Todavia eu recorro ainda aos símbolos mitológicos para justificar a minha presença nesta casa de simplicidade e de amor cristão.

Suponhamos que me encontro por detrás do véu de Ísis, como as forças que se ocultam aos olhos dos homens, no famoso santuário de Delfos 18.

Agora, meu amigo, as fronteiras do sepulcro nos separam.
Para falar-te, sou compelido a me utilizar da faculdade de outros, como se empregasse uma nova modalidade de aparelho radiofónico.

Teus olhos deslumbrados me procuram, ansiosamente, porém, nem mesmo a letra me pode identificar para o teu Espírito, habituado às supremas investigações de nossas forças literárias do ambiente contemporâneo.

Mas nós nos entendemos no âmago do coração, compreendendo mutuamente, através das mais puras afinidades espirituais.

A sombra do sepulcro não podia obscurecer a minha admiração, que se manifesta, agora, com uma intensidade ainda maior, sabendo que despiste a toga de Nicodemus19, para devassar a verdade no beiral do meu túmulo.

Compreendo a elevação do teu gesto e louvo as tuas atitudes desassombradas.
Um mundo de novas observações aflora-me ao pensamento para entregar ao teu coração nesta noite, de sagrada memória para a minha vida de homem desencarnado, porém, dificuldades inúmeras impedem a realização de meus modestos desejos.

Não desejo reviver o acervo de minhas velhas recordações, cheias de lágrimas muito amargas;
todavia, se não represento mais a figura de Tirésias20, dando palpites ao mundo, do seio de sombras da sua noite, desejaria trazer-te o complexo de minhas emoções novas e de meus novos conhecimentos.

Não te posso, todavia, fornecer os elementos mais essenciais de meu novo mundo impressivo, porquanto a Terra tem as suas cores definidas, nos diversos sectores de suas actividades e as imagens literárias não poderiam corresponder às minhas necessidades novas.

Também, a mudança integral das perspectivas não me faria redizer o passado, com os seus enganos, com referência aos centros envenenados de nossa cultura.

O plano espiritual está cheio de incógnitas poderosas.
Aqui vivemos numa expressão mais forte do problema do ser e do destino.
Não aportamos do outro lado do Aqueronte, tão-somente para devassar o mistério das sombras.

Chegamos no além-túmulo com um dever mais profundo e mais essencial — o de conhecermos a nós mesmos, segundo o grande apelo de Alexis Carrel numa de suas últimas experiências científicas 21.

Surpresas numerosas assaltam a nossa imaginação, mas os aspectos exteriores da Vida não se modificam de modo absoluto.
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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Jun 24, 2011 11:06 am

A incógnita de nossa própria alma para o desencarnado é, talvez, a mais complexa e profunda.
Aí no mundo, costumamos entronizar a razão como se tão-somente por ela subsistissem todas as leis de progresso.

Entretanto, sem a luz da fé, a nossa razão é sempre falível.
Reconhecemos a propriedade desse asserto quando observamos a caminhada sinistra dos povos para a ruína e para a destruição.

Se os valores raciais trouxessem consigo a prioridade da evolução, não teríamos tantas teorias de paz e de concórdia espezinhadas pela incultura e pela violência, pelos princípios dos mais fortes, como se os homens desta geração houvessem sorvido no berço um vinho diabólico e sinistro.

A razão do homem, em si mesma, fez o direito convencional, mas fez igualmente o canhão e o prostíbulo.

E, sem a fé, sem a compreensão de sua própria alma, estranho às suas realidades profundas, o homem caminha, às tontas, endeusando todas as energias destruidoras da alegria e da vida.

Um espectáculo imponente apresenta a sociedade moderna, com a sua época de miséria e de deslumbramento.

O homem da actualidade é um hífen desesperado entre duas eras extraordinárias.
De cá assistimos a esse esboroar do mundo velho, para que o novo organismo do orbe surja na plenitude das suas forças restauradoras.

E eu não poderia te falar de um livro de Sainte Beuve ou de apontamentos da história nesse ou naquele sector.

Falar-te-ia muito; todavia, a nossa palavra singela de humilde jornalista desencarnado teria de rodopiar em torno de problemas demasiadamente complexos, para um ligeiro encontro de amigos, dentro da noite.

Eu sei que não poderás aceitar as teses espiritistas de um jacto, como se o teu coração fosse tocado de um banho milagroso.

Lutarás contigo mesmo e submeterás tudo o que os teus olhos vêem, ao cadinho de tuas análises rigorosas, mas sentir-me-ei resignado e feliz se puder alimentar a dúvida no íntimo de teu coração.

A dúvida, como já o disse alguém no mundo, é o túmulo da certeza.

A hora vai adiantada e se não tenho mais o relógio do estômago que me fazia enfrentar nas avenidas a poeira impiedosa dos automóveis felizes, tenho de subordinar as minhas actividades a certas injunções de ordem espiritual, a que não posso fugir.

Não rubriques o papel de que não tenho necessidade para te falar mais demoradamente ao coração.
Guarda o meu pensamento que, se vem do mundo das sombras, parte também do mundo da minha estima fraternal e de minha admiração.

Que o teu barco seja conduzido a melhores portos no domínio da cultura espiritual, de modo a valorizares, ainda mais, os teus valores intelectivos, são os votos de um irmão das letras, que, apesar de "morto" para o mundo, faz questão de viver com a lembrança de teu pensamento e de tua afeição.

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