LUZ ESPÍRITA
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Página 1 de 5 1, 2, 3, 4, 5  Seguinte

Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:14 am

Os Luciferianos
Wera Ivanovna Krijanovskaia
(Conde J.W. Rochester)

OS SERVIDORES DO MAL
(Livro 1 - Os Luciferianos)
(Livro 2 - Os Templários)

Súmula
Página de capa
Livro 1 Os Servidores Do Mal
Os Luciferianos Contracapa

Prefácio

Capitulo 1
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Capitulo 5
Capitulo 6
Capitulo 7
Capitulo 8
Capitulo 9
Capitulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17

Notas

Livro 1 - Os Servidores Do Mal
Os Luciferianos


Wera Ivanovna Krijanovskaia

(Conde J.W. Rochester)

Contracapa
A trama de "Os Servidores do Mal" (livro 1) se desenrola no Tirol, região "nebulosa" que já foi palco de muitos rituais macabros nos subterrâneos dos castelos medievais. Raymond e Eliza são as vítimas desta vez. Unidos ainda crianças, pelos laços do matrimónio, provocam sem se dar conta ciúmes e intrigas entre vários personagens desta História. E o que tiveram de suportar então... for simplesmente infernal". Desencontros e suspense marcam as páginas desta obra inédita do Conde de Rochester, cujo misterioso segredo continua em "Os Templários" (livro 2)

Adicionei Nota da Rodapé como: "[N.R.]
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:15 am

Prefácio

A Editora do Conhecimento tem a satisfação de apresentar ao leitor mais duas obras inéditas do autor espiritual Conde de Rochester. São os relatos históricos "Os Servidores do Mal" e "Os Templários", que juntos compõem uma bilogia, resgatada do anonimato e que certamente tornar-se-á mais uma obra-prima da literatura espírita.
A trama de "Os Servidores do Mal' (ou "Os Luciferianos") se desenrola no Tirol, região montanhosa entre a Áustria e a Itália, que já foi palco de muitos rituais macabros pelos subterrâneos dos castelos medievais, entre os séculos XIII e XIV, época de marcantes acontecimentos na História da Humanidade. Desta vez, as vítimas são os jovens Raymond e Eliza, cujos laços, desde tenra idade, foram ligados por um importante compromisso.
Após a misteriosa morte de Paola, a “fogosa italiana”, o Conde Ervin, desmotivado, decide entrar para a Ordem dos Templários e confia a sua única filha, Eliza, ao seu fiel amigo, o Conde Volfram. Então, para garantir o futuro de sua protegida, ele decide uni-la em matrimónio ao seu filho Raymond quando eram ainda crianças. Casamentos dessa natureza eram comuns entre a antiga nobreza, mas nem sempre bem-sucedidos... E é exactamente neste ponto que a trama realmente tem início das intrigas e dos ciúmes que esta união prematura provoca em vários personagens da história.
Em sua imaturidade juvenil, Raymond e Eliza não se dão conta do enorme perigo que passam a correr. Conseguirão vencer todos os incríveis obstáculos e se desenvencilhar de todo o mal que os cercam?
Eram tempos difíceis aqueles na Europa, durante a Idade Média. Por algumas vezes, Ervin teve que partir para o Oriente acompanhando as expedições que buscavam a libertação da Terra Santa das mãos dos infiéis. O povo judeu também era alvo desse empreendimento, uma vez que os cristãos ocidentais os consideravam os verdadeiros culpados pela crucificação de Jesus.
Durante esse período, grande parte da população judaica foi perseguida e dizimada, tanto na Europa quanto no Oriente. Discriminados, não podiam participar activamente da sociedade feudal, restando-lhes apenas o mundo económico da agiotagem. Aliás, este foi um dos motivos que incentivou a perseguição dos nobres cristãos contra os judeus, movidos pelo interesse de se livrarem de suas enormes dívidas.
Infelizmente, esse ódio recíproco entre cristãos e judeus leva nosso herói Raymond a ser imperceptivelmente introduzido nos mistérios da obscura seita dos Luciferianos, cujos registros históricos são escassos, pouco se conhecendo sobre sua origem exacta. Provavelmente tratava-se de uma idolatria ao polémico personagem da lenda dos Anjos Caídos - Lúcifer.
Na Antiguidade romana, a palavra "Lúcifer" era utilizada para designar o planeta Vénus quando este se posicionava de manhã, a oeste do Sol, antecedendo o seu nascimento. Significava "portador da luz" (do latim lux = luz e ferre = carregar) e também era conhecida como "a Estrela da Manhã".
Entretanto, Lúcifer parece ter entrado na história da religião quando na Bíblia (Isaías 14:12) aparece a expressão em hebreu “Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! ...” Na versão grega do Antigo Testamento, o termo foi traduzido como "Phosphorus" (a palavra grega para "Vénus" ou "a estrela da manhã") e daí para "Lúcifer", na versão latina. Estudiosos explicam que a parábola do profeta Isaías se referia à arrogância de um rei babilónio que, ousando comparar-se à “Estrela da Manhã”, fora derrubado do Céu por Deus.
Orígenes Adamantius (185-254), um importante cristão da Igreja Grega, e Augustine de Canterbury (no século VI), fundador da Igreja Cristã no sul da Inglaterra, interpretaram o uso do termo latino "Lúcifer" como uma referência ao próprio demónio ou Satanás. A partir de então, o termo generalizou-se de forma negativa.
No século IV, o bispo Lucifer de Cagliari, na Sardenha, um veemente oponente do Arianismo[1], criou uma seita na qual seus seguidores passaram a ser denominados de "Luciferianos". Empenhando todos os esforços para combatê-la, como pode ser observado no famoso diálogo "A Disputa entre os Luciferianos e os Ortodoxos", São Jerónimo foi também um dos responsáveis pela associação de Lúcifer a Satanás.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:15 am

Todavia, a seita à qual Rochester se refere no título desta obra teve sua expansão na Europa entre o século XIII e meados do século XIV. Em 1223, o inquisidor Conrad de Marburg, notando o crescimento incomum de heréticos[2] na Germânia e na Áustria, em especial, da seita destes "Luciferianos", deu início a uma série de perseguições.
Em Bizâncio e em várias partes da Europa, surgiram lendas de que essa facção altamente secreta era dedicada a Lúcifer, o anjo infernal, que teria sido expulso do Paraíso por Deus. Esses adoradores do demónio acreditavam que seu mestre era o verdadeiro criador do mundo e que fora deslealmente aprisionado no abismo por seu inimigo, um deus injusto e vingativo, a quem Lúcifer cabia vencer. As profecias dos Luciferianos pregavam que um dia ele reconquistaria o Paraíso, derrotaria Jeová e daria a vida eterna a todos os seus seguidores.
Como no caso dos cavaleiros templários e das bruxas, suas confissões foram conseguidas pela Inquisição através da tortura. Confessaram que durante o ritual de iniciação dos neófitos, em templos subterrâneos, Lúcifer se mostrava como um homem cuja parte superior do corpo irradiava luz, mas da cintura para baixo era escuro como a noite. O final do ritual era comemorado com um banquete e concluído com orgias, nas quais eram oferecidas virgens noviças.
Esses relatos são confirmados em minúcias nesta surpreendente narrativa de Rochester, espírito audacioso, sagaz e hábil estudioso dos mistérios ocultos, cujos competentes registros históricos nos fazem reviver importantes acontecimentos perdidos através da poeira dos tempos...
O desfecho desta enigmática história e os destinos de Eliza e Raymond poderão ser encontrados no segundo volume, "Os Templários", no qual serão descritos em detalhes fatos históricos sobre esta importante ordem de cavaleiros medievais.

Uma boa leitura!
António Rolando Lopes Júnior

“Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos predadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas de espinheiros ou figos de abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, enquanto a árvore má produz frutos ruins”.
(Mateus, cap. VII, vv. 15, 16 e 17)
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:16 am

Capitulo 1

A estreita e pedregosa trilha serpenteava caprichosamente, ora beirando profundos abismos, ora correndo por entre as rochas. As paisagens que se descortinavam nas curvas eram simplesmente magníficas. Ao longe, no horizonte enevoado, estendiam-se os vales férteis do Tirol[3], cobertos de luxuriante vegetação. O sol queimava de forma especial e em tudo sentia-se a proximidade da abençoada Itália.
Por esse pitoresco e íngreme caminho seguia um grupo de cinco cavaleiros que subia trotando ou a passos lentos, conforme a inclinação do terreno. Os cavalos exaustos e as roupas completamente empoeiradas indicavam a longa e difícil caminhada.
À frente ia um rapaz bonito, com mais de trinta anos, envolto numa capa escura. Debaixo do chapéu sobressaíam mechas de cabelos cheios e anelados, negros como a asa do corvo, emoldurando um rosto pálido e de traços perfeitos. O olhar pensativo de seus olhos escuros reflectia inteligência e perseverança. Mas, o que dava um encanto especial à sua fisionomia eram os lábios finos e bem delineados e o sorriso encantador que iluminava o seu rosto, demonstrando simpatia, apesar de, algumas vezes, parecer um tanto orgulhoso.
Atrás do belo cavaleiro seguiam, enfileirados pela trilha muito estreita, dois guerreiros bem armados e dois escudeiros, um dos quais carregava o elmo e a espada do cavaleiro e o outro, a lança e uma armadura leve. Numa das curvas do caminho surgiu, então, um pequeno castelo incrustado no topo da montanha como um ninho de águia; e uma hora depois os viajantes já estavam diante dos portões.
Agora, sim, dava para perceber que o castelo diferia das edificações daquela época. O prédio de pedra, que possuía uma alta torre quadrangular, não era protegido nem por fossos, nem por pontes levadiças; apenas circundado por um espesso muro e por maciços portões de ferro fundido. Sob uma coberta havia um sino pendurado com uma longa corda que descia até o pé do muro, dando ao castelo uma aparência de abadia. Um dos guerreiros pulou do cavalo e tocou o sino, cujo som estridente e trémulo propagou-se ao longe pelas montanhas.
Passados alguns minutos, uma portinhola se abriu e nela apareceu um senhor de cabeça grisalha que lançou um olhar sombrio e suspeito para a estrada. Ao ver os viajantes, um sorriso de alegria iluminou o seu rosto. A portinhola fechou-se imediatamente e, em seguida, os portões foram abertos, fazendo rangido. O porteiro, com profunda reverência, aproximou-se do cavaleiro que encabeçava o pequeno comboio.
- Bem-vindo, senhor Volfram! - disse ele, olhando com carinho para o cavaleiro.
- Saudações, meu velho Bertrand! - respondeu o jovem, estendendo a mão, que o velho beijou respeitosamente. - Como está a saúde do seu amo?
- Graças a Deus, ele está bem e acabou de retornar do jardim com o senhor Ervin que chegou aqui ontem.
Durante a conversa, o cavaleiro apeou do cavalo e passou para uma sala de tecto baixo que servia de saguão. Lá, foi recebido por um outro senhor que, à semelhança do porteiro, também ficou contente com a sua chegada.
- Cristofor, instale os meus homens! Eles estão cansados e famintos - solicitou Volfram com um sorriso amigável, entregando sua capa ao velho servo. - O Barão deve estar em seu gabinete de trabalho, não?
- Está, meu senhor! Vou agora mesmo cumprir a sua ordem e instalar os seus homens e os cavalos.
O jovem cavaleiro parecia conhecer bem a casa, pois sem o menor vacilo entrou no prédio e subiu a escada que era iluminada fracamente por estreitas janelas cavadas na parede.
A escada conduzia a uma grande sala abobadada, modestamente mobiliada, e que provavelmente servia de biblioteca, pois as paredes estavam ocupadas por estantes com rolos de pergaminhos, livros e manuscritos. Ali, as janelas eram mais largas e altas e os raios do Sol atravessavam os vidros coloridos reflectindo no chão cores diversas. Numa das janelas abertas descortinava-se uma linda vista para um desfiladeiro e um lago que, de longe, brilhava como espelho.
Volfram parou por instantes e ficou algum tempo pensativo, apreciando aquele lindo quadro.
- Como tudo aqui respira silêncio e paz de espírito! - murmurou ele com um suspiro.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:16 am

Em seguida, seguiu adiante, a passos rápidos, e bateu delicadamente numa pequena porta.
- Entre! - respondeu uma voz sonora.
Volfram abriu a porta e entrou numa sala mobiliada com mais luxo ainda que as salas anteriores. As paredes eram revestidas de carvalho escuro entalhado e nas janelas havia pesadas cortinas de veludo. Ao fundo, um largo cortinado cobria a entrada do quarto contiguo. No centro, havia uma mesa abarrotada de pergaminhos e instrumentos astronómicos e perto dela, numa poltrona de encosto alto, estava sentado um homem jovem, magro e pálido, usando um traje da Ordem dos Templários[4]. Ao seu lado, apoiando- se na mesa, estava parado um senhor alto num traje longo e largo. Seus longos cabelos e a barba eram brancos como a neve, mas os grandes olhos azuis reflectiam um frescor no olhar; os belos traços de seu rosto transpareciam uma majestosa e indescritível paz.
Ao ver Volfram, ele foi rapidamente ao seu encontro e abraçou-o com carinho.
- Bem-vindo, meu filho! Que dia feliz estou tendo hoje; os meus dois discípulos preferidos estão novamente sob o meu tecto - disse o ancião, sorrindo amavelmente.
Levantando da poltrona, o templário aproximou-se do recém-chegado e também abraçou-o com carinho.
Volfram balançou a cabeça em sinal de surpresa e observou:
- Então você acabou vestindo o traje da Ordem? Quer dizer que está tudo acabado para você! Já despediu-se da vida?
- Sim, eu fiz os votos! Mas, por que diz que isso significa despedir-se da vida? Você acha a vida mundana tão boa assim, a ponto de lamentar-se por ela? Quanta felicidade ela ofereceu a você, por exemplo? - respondeu o templário, e um triste sorriso passou pelo seu rosto amargurado e sofredor.
Volfram levantou orgulhosamente a sua escura cabeleira.
- Bem pouco! Mas, isso não importa! Em todo caso, prefiro mais essa vida do que a de um monge.
- Meus filhos, parem de discutir sobre os prazeres da vida! - interrompeu-os o velho com um sorriso. - A vida é uma traidora que promete muito e nada oferece; no final das contas destrói tudo que temos dentro de nós e à nossa volta, se não soubermos arrancar dela, a tempo, aquilo que ela não conseguirá tomar de nós: o conhecimento e a sábia submissão. Apesar de não aprovar a decisão de Ervin, eu ficaria feliz se pudesse retê-lo aqui, mas... ele não possui a veia do pesquisador. Agora, vamos comer alguma coisa! Provavelmente Volfram deve estar com fome. Como ele não é um velho livreiro, como eu, e nem monge, como você, então não há necessidade de fazê-lo jejuar.
Os visitantes riram e seguiram o ancião até o refeitório, onde os aguardava uma mesa simples, mas bem servida.
A conversa alegre e interessante animou a refeição, à qual Volfram fez as devidas honras. Em seguida, os três saíram para um pequeno e sombroso jardim. Quando o Sol começou a declinar no horizonte, o velho anfitrião levantou-se.
- Vai nos deixar, tio Conrad? - perguntou Ervin, segurando-o pela mão.
- Sim, preciso trabalhar um pouco. Enquanto isso, meus filhos, fiquem conversando! Vocês não se vêem há muito tempo e naturalmente têm muita coisa para contar um ao outro.
O Barão Conrad von-Vart era o último descendente de uma linhagem de ricos e nobres cavaleiros feudais. À semelhança de seus antepassados, ele, no início, foi um bravo guerreiro; mas depois de ter-se ferido gravemente num dos torneios ficou muito nessa ocasião, sua única irmã se casou com um cortesão italiano e ele, ainda fraco e não recuperado do ferimento, acompanhou-os a Veneza. Lá, conheceu um velho cientista que não somente o curou como fê-lo interessar-se por sua estranha e misteriosa ciência a tal ponto que o Barão tornou-se seu discípulo e dedicou-se inteiramente aos estudos. Ele, então, passou a viver alternadamente entre Veneza e o pequeno castelo, onde agora o encontramos, dedicando seu tempo à ciência e esquivando-se das pessoas.
Ao ficarem a sós, os amigos mantiveram silêncio e cada um mergulhou nos próprios pensamentos. Volfram foi o primeiro a quebrar aquela monotonia. Tomando um gole de vinho, ele afastou o cálice e, apoiando o cotovelo na mesa, ficou por instantes observando o rosto pálido e cansado do amigo, cujo olhar triste parecia perdido.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:16 am

Depois, colocou a mão em seu ombro e disse:
- Ervin, diga-me, sua entrada na Ordem não teria sido provocada pela morte de sua esposa? De que morreu Paola? Ela era tão jovem e saudável!
O templário estremeceu e endireitou-se.
- De que morreu Paola? Ah! Se eu pudesse saber! - respondeu com um pesado suspiro. - Alguma doença desconhecida, que não cedia a nenhum tratamento, a destruiu em poucos meses; ela derretia como cera ao Sol e nada conseguia revelar a causa da enfermidade. Confesso que no primeiro momento suspeitei que minha madrasta Ortruda a tivesse envenenado. Mas, como ela não esteve perto de Paola, descartei essa possibilidade; ainda mais quando, após tal desgraça, Ortruda me tratou com as mais respeitáveis condolências. Então, pensei que Paola pudesse ter sido vítima de alguma feitiçaria. Ela sempre se queixava que uma névoa escura a envolvia, sufocando-a, e lhe sugava a energia. À medida que a morte se aproximava, ela afirmava que a névoa tornava-se cada vez mais densa e negra.
- Mas, quem apelaria para uma feitiçaria contra aquela criatura adorável? - observou Volfram.
- Paola gostava de ser agradável e muitas mulheres a odiavam. Hoje, mais do que nunca, estou convencido que foi Ortruda mesmo, e ninguém mais, quem matou Paola com veneno ou feitiçaria. Isso porque, alguns meses após a morte de minha esposa, ela confessou que estava muito apaixonada por mim. Pode entender o horror que senti com essa confissão que transformou minhas suspeitas em certeza? A desprezível mulher tentou me convencer a mudar para a casa dela junto com Eliza. Mas, depois da tal confissão, não consegui ficar um único dia sequer na casa dela. Fui embora na mesma tarde. No caminho, minha filha pegou uma gripe e eu também me senti tão mal que tive de pedir abrigo no mosteiro de Santa Brígida. Agora imagine o meu espanto quando percebi que a madre Vilfrida, abadessa do mosteiro, era Hildegarda!
- Imagino! Deve ter sido "terrível" encontrar a noiva que você traiu! - disse o cavaleiro com um triste sorriso. O templário ficou ruborizado.
- Você é incorrigível! Há muito tempo Hildegarda desistiu das sensações terrenas e ambos nos consagramos a Deus.
- Como posso duvidar de "vossa santidade"? - interrompeu-o Volfram, rindo. Apenas acho que agora madre Vilfrida cantará seus salmos com mais tranquilidade, sabendo que o belo Ervin está servindo ao Senhor e não às belas damas. Mas, prossiga!
- Quando reconheci nela minha ex-noiva, fiquei tão constrangido que quis ir embora imediatamente, mas ela me deteve e disse: "Ao me afastar do mundo, abandonei também toda a raiva e as queixas do passado. Fique cavaleiro! Parece doente! Vou cuidar de sua filha como se fosse a minha. Que Deus aceite esta dedicação como prova de que submeto-me humildemente à Sua vontade".
Fiquei profundamente emocionado e, na mesma noite, caí realmente doente. Parecia que o bafo venenoso de Ortruda tinha-nos atingido: eu e minha filha Eliza estávamos à beira da morte. A arte do padre Romualdo e os cuidados das monjas é que nos salvaram.
Durante minha convalescença, certa vez consegui ficar a sós com Hildegarda. Pude, então, dizer-lhe algumas palavras sobre o passado e pedir-lhe perdão pela traição. Ela sorriu tristemente e respondeu: "Você fez bem! Sempre preferi perdê-lo a dividir seu coração com alguém. Confesso que houve momentos em que nem os votos, nem este traje conseguiam dar-me paz. O ciúme consumia-me por dentro, impedindo-me de orar. Mas, agora, venci os sentimentos terrenos e vejo-o somente como irmão. Portanto, Ervin, se puder ser feliz com outra esposa, vou orar sem qualquer ressentimento pela sua felicidade".
Fiquei profundamente embaraçado e emocionado com aquela magnânima abnegação. A partir daquele dia, despertou em mim um sentimento bem diferente do que nutria por Paola. Compreendi que, desistindo de Hildegarda, eu havia abdicado da verdadeira e tranquila felicidade que só uma esposa amável e fiel pode proporcionar a um esposo até a morte.
Ervin calou-se e abaixou a cabeça com tristeza.
- Agora entendo porque você tornou-se um templário; era infeliz com Paola observou Volfram.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:16 am

- Sim, resolvi consagrar-me a Deus e Hildegarda também. Os meus quatro anos de casamento passaram-se como num sonho inebriante e febril. Paola permitia que a admirassem: ela encarava o meu amor como uma merecida dádiva à sua beleza. Possessiva e caprichosa, tinha ciúmes de qualquer mulher que eu tratasse com amabilidade. Então, imediatamente começava a me castigar com sua raiva tipicamente italiana, voltando sua atenção para os mais belos admiradores que, aliás, ela sempre teve em grande número. Você mesmo conheceu o encanto que ela causava sobre qualquer um. Assim, criava para mim um inferno de ciúmes. Eliza herdou a sua beleza. Ela possui a mesma elegância, os mesmos olhos cheios de carinho e ardor. A pequenina tem apenas um rosto mais sério, tranquilo, e um ar de tristeza, que sua mãe nunca demonstrou.
- Isso significa que terei uma nora encantadora disse Volfram, rindo. Então, se você concorda com minha proposta de unirmos os nossos filhos, podemos realizar o casamento sem mais delongas. Eliza, de cinco anos, e Raymond, de onze, formarão um belo par.
- Há muito tempo não vejo o seu filho! Ele parece com você?
- Ele não será tão bonito como eu, pois parece com a mãe respondeu Volfram com uma careta. Em todo caso, será um belo rapaz!
- Ficarei feliz sabendo que Eliza está sob a tutela do meu melhor amigo e que o futuro dela está garantido. Seria difícil para mim deixá-la com Hildegarda, pois sou profundamente culpado diante dela. Além disso, não gostaria que atraíssem minha filha para a vida monástica. Confesso, sinceramente, que não simpatizo muito com a sua esposa, embora saiba que ela é bondosa e não descuidará da criança como talvez o fizesse Ortruda. Você também, Volfram, parece-me cansado. Pelo jeito, sua vida com uma mulher que não o entende não é nada fácil!
O rosto de Volfram ficou sombrio e ele passou a mão pelos cabelos negros e cheios.
- Sim, minha vida familiar é bem difícil! Anna me ama e tem ciúmes de mim; enquanto eu, mal consigo vencer a repulsa que ela me provoca. Casei-me obedecendo à ordem de meu pai, respeito-a como mãe de meu único filho, mas meu coração jamais bateu forte por ela. Anna não me perdoa por isso e tenta afastar de mim o coração de Raymond, sobre o qual tem grande influência. Além disso, para me enfurecer, ela faz amizade com todas as pessoas que me são desagradáveis. Ficou amiga até de sua madrasta Ortruda, que sempre odiei instintivamente, e também do filho dela, Guntram, que tem aquela cara de bem-aventurado e olhos de cobra. Mas, chega de falar disso! Então, quando vai partir e para onde?
- Primeiro vou para Maine[5] e de lá, provavelmente, para Chipre[6] junto com o meu prior que leva instruções ao Mestre, graças ao qual fui aceito na Ordem. Amanhã, vou lhe entregar uma carta para Hildegarda, relatando o casamento de Eliza.
Na manhã seguinte, após despedirem-se carinhosamente do velho amigo, os cavaleiros partiram. Viajariam juntos até a aldeia mais próxima.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:17 am

Capitulo 2

Volfram von-Reifenstein e Ervin von-Finsterbach eram vizinhos e amigos de infância. Apesar da grande diferença de carácter, eram inseparáveis. Um era corajoso, impetuoso e ousado; o outro, sonhador, tímido e indeciso. Parecia que um completava o outro. Ambos ficaram felizes quando as circunstâncias uniram-nos por alguns anos sob o mesmo tecto. Ervin tinha quinze anos quando seu pai casou-se pela segunda vez com uma moça de dezasseis anos, por quem havia-se apaixonado ardentemente e que o dominava por completo.
Já a partir dos primeiros dias do casamento, começaram a acontecer frequentes confrontos entre a madrasta e o enteado. O velho Finsterbach, cansado das brigas constantes, aceitou de bom grado a proposta do seu primo Conrad Vart de assumir a educação de Ervin. O garoto também sentia-se muito bem na tranquila residência do cientista. Por obra do acaso, alguns meses depois, juntou-se a ele o seu amigo Volfram. Naquele tempo, o pai do garoto, cumprindo uma antiga promessa, saiu em peregrinação à Terra Santa e, durante a sua ausência, também confiou o filho a Conrad Vart, velho amigo e companheiro de armas.
Volfram, cuja mãe falecera há muito tempo, e Ervin, que tornara-se um estranho na casa paterna por causa da hostilidade da madrasta e do nascimento do irmão, afeiçoaram-se ao cientista que, por sua vez, retribuiu-lhes da mesma maneira. A mente dos rapazes desenvolveu-se sob a orientação de Conrad. Eles receberam uma formação muito superior à que era dada à maioria da mocidade nobre da época.
A ostensiva tranquilidade do Barão agia de forma benfazeja sobre a natureza explosiva de Volfram, enquanto a alma dócil de Ervin fortificava-se em contacto com o carácter enérgico e rígido de von-Vart. O retorno do Conde Reifenstein separou novamente os amigos. Volfram, então, voltou para a casa do pai que sentia-se doente. Um ano mais tarde o Conde casou o filho de vinte anos com uma rica viúva de boa família, mãe de um garoto de sete anos.
Ervin continuou a morar na casa do Barão e acompanhava-o a Veneza. Lá, conheceu Paola Aldini, com quem casou-se e viveu na Itália até que a morte do pai obrigou-o a retornar à pátria.
Ao chegarem na aldeia mais próxima, os amigos se separaram e Volfram, então, seguiu o seu caminho sozinho. Mas seu rosto foi ficando cada vez mais sombrio à medida que aproximava-se de casa. A repulsa habitual que sentia toda vez que retornava ao castelo misturou-se à insatisfação por ter de aguentar a inevitável cena da esposa quando soubesse da decisão sobre o casamento do filho sem a sua conivência. Além disso, a noiva lhe seria odiosa, pois ela preparava para esposa do filho uma pequena órfã educada no próprio castelo, chamada Margarita Raments, filha de uma de suas amigas que, ao morrer, lhe havia confiado a menina que ela gostava muito.
A Condessa Anna sempre odiou Ervin porque Volfram tinha muita afeição por ele. Ela sentia ciúmes de qualquer sorriso ou palavra carinhosa que o marido dirigia a outro ser humano. Tinha ciúmes até do próprio filho e achava que o amor do marido pelo garoto estava sendo roubado dela. Com tais sentimentos contraditórios, ela mimava ou tiranizava o menino, conforme o seu estado de espírito no momento.
A Condessa Reifenstein era feia, oito anos mais velha que o marido, e sabia que ele simplesmente a suportava. Ela morria de paixão pelo homem encantador, cujo nome ostentava. Vigiava-o com um ciúme doentio e vingava-se de sua indiferença, rebaixando tudo que era caro para ele. Tinha um ódio particular de Paola, a bela e linda italiana e a chamava de "aventureira que fisgou em sua rede o idiota Finsterbach".
A Condessa Anna procurava na religião um consolo por sua infelicidade conjugal e a maneira como bajulava o padre Gregório, seu capelão e confessor, era repulsivo a Volfram.
Aproximava-se a hora do almoço quando a ponte levadiça baixou à frente do proprietário do castelo. Com um pesado suspiro Volfram adentrou em casa, onde sentia-se estranho e para onde o levavam somente sentimentos como dever familiar e amor pelo filho.
A família estava reunida na pequena sala anexa ao refeitório quando o som do corno anunciou o retorno do senhor. A Condessa deixou de lado o bordado que fazia e saiu lentamente ao encontro do marido. O rubor estampado na face revelava a sua emoção. Era uma mulher alta, forte, mas esguia, e sem qualquer graça ou delicadeza. Seu rosto era pálido; os olhos escuros transpareciam orgulho e seriedade, enquanto os lábios carnudos, por trás dos quais brilhavam dentes brancos, davam à fisionomia uma expressão sensual e cruel.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:17 am

O capelão interrompeu a leitura do seu breviário e também foi até a porta, enquanto as crianças correram para o vestíbulo e pularam sobre o Conde, que beijou o filho, um belo e forte garoto de grandes olhos escuros, e depois Greta (como chamavam Margarita Raments), uma pequena garotinha de dez anos, branca, corada e rechonchuda, de cabelos louros e cheios.
A esposa recebeu o Conde junto à entrada do refeitório. Sombria e séria, como um ícone bizantino, ela estendeu a mão, que o marido beijou.
Um pouco mais tarde, todos sentaram-se à mesa. Contando os detalhes de sua viagem à casa do Barão, Volfram disse que dali a dois dias iria viajar novamente e que pretendia levar Raymond consigo. Então, pediu que aprontassem tudo o que fosse necessário para a criança.
A Condessa ficou extremamente intrigada com a repentina viagem e achou que aquela decisão tinha sido motivada pela visita do marido ao "velho feiticeiro", como ela chamava o Barão Vart. Mas, não ousou inquiri-lo directamente e nem quis discutir o verdadeiro desejo do marido de levar o filho com ele. Ao término do jantar, Volfram sentou-se junto à janela e ficou olhando as crianças brincarem.
Raymond sabia que a mãe preparava Greta para ser sua esposa e acabou acostumando-se à ideia. Seu namoro infantil com a suposta noiva provocava um sorriso maroto no Conde.
"Você logo, logo terá sua primeira decepção, meu pobre menino", pensou ele, "mas só vai ganhar com essa mudança! Se, aos onze anos, você está assim, tão encantado com essa loura gordinha, então aos vinte vai preferir a elegante e graciosa Eliza. Você não seria meu filho se não tivesse gosto pelo belo e não pudesse distinguir a rosa do repolho!"
No dia combinado, Volfram viajou com o filho acompanhado apenas do pajem, do cavalariço e de dois homens armados. O grupo pernoitou numa estalagem e, no segundo dia, depois do almoço, deixou a estrada principal e seguiu por uma outra vicinal que levava directo ao mosteiro.
Raymond não ousava inquirir o cavaleiro sobre o motivo daquela viagem, cuja inesperada diversão, ao contrário de sua vida monótona no castelo, entusiasmava-o muito. Por isso, não parava de tagarelar com o pai que ele adorava. Mas, quando o Conde ficou calado e pensativo, o menino, assustado, seguiu ao lado dele também calado. Ao ver o mosteiro, Raymond não aguentou e perguntou:
- Pai! Como se chama aquele mosteiro? Nunca o vi antes. Por que estamos indo para lá?
- É o mosteiro de Santa Brígida. Vamos visitar a abadessa Vilfrida. Você, Raymond, vai beijar a mão dela e trata-la com respeito. Ela é uma santa mulher, apesar da juventude e da beleza! Espero que você seja obediente e cumpra tudo que eu lhe mandar fazer.
Raymond levantou a cabeça e lançou para o pai um olhar preocupado e desconfiado. O tom com que o Conde pronunciou aquelas últimas palavras era-lhe bem conhecido: significava o inabalável "eu quero", que o pai impunha à Condessa em suas brigas e contra o qual não adiantavam nem resistência nem lágrimas. Mas, Raymond também sabia que obedecer o pai contra a vontade da mãe prenunciava consequências muito desagradáveis em forma de castigos imerecidos, insatisfação e rancor por parte da mãe. A Condessa, irritada com a vida e com as pessoas, raramente saía do castelo e tinha completa autoridade sobre o menino durante as frequentes ausências do pai, que passava semanas inteiras na Corte do Conde de Tirol, ou caçando, ou, então, na casa de seus amigos.
Todos esses pensamentos reflectiam-se tão claramente no rosto expressivo do garoto que Volfram, que o observava, riu alegremente.
- Não tema! A mãe não vai castigá-lo por cumprir minhas ordens. Explicarei tudo a ela.
Raymond ficou vermelho ao ver que seus pensamentos foram captados. Em seguida, recuperou o bom humor.
Diversas vezes ele confessou ao pai como era tratado injustamente mal na ausência dele; mas contava isso, naturalmente, sob a condição de grande segredo para não atrair para si uma nova tempestade. A cada vez que isso acontecia, o pai não o traía e ainda o recompensava pela injustiça, levando-o consigo para caçar ou para a casa de algum de seus amigos, onde ele encontrava garotos da mesma idade. Portanto, ele podia ficar tranquilo; não importava o que lhe exigissem.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 10:17 am

Quanto a Volfram, este ficou sombriamente pensativo. Foi tomado por um sentimento amargo, provocado pela própria vida conjugal. A surda e constante luta com a odiosa esposa e o mal que isso causava ao seu único filho levavam o Conde ao desespero. Então, seu carácter impetuoso o empurrava para diversas farras, aventuras amorosas e loucuras com que tentava calar o sofrimento e o vazio do coração. Por vezes, era dominado por um sombrio estado de espírito, durante o qual evitava as pessoas, trancava-se num pavilhão isolado do castelo ou caçava sozinho nos mais afastados recantos das montanhas.
Um hora mais tarde, eles finalmente chegaram ao mosteiro e foram conduzidos à sala dos visitantes. As paredes de carvalho entalhado e as cortinas escuras davam àquele cómodo uma impressão sombria. Raymond, que examinava tudo com curiosidade, vendo o pai tirar do bolso do camisolão uma pequena caixinha e colocá-la na mesa, achou que ele ia dar um presente à abadessa, mas não teve tempo de perguntar pois, naquele momento, entrou Vilfrida acompanhada de duas freiras que, respeitosamente, pararam junto à porta.
O Conde Volfram e a madre conheciam-se desde os tempos em que a linda Hildegarda reinava nos torneios e a promessa que a ligava desde a infância a Ervin Finsterbach provocava pena e ciúmes entre os mais nobres cavaleiros.
O primeiro encontro após tantos anos e, ainda por cima, em tal situação, emocionou a ambos. Lágrimas anuviaram os belos olhos azuis da abadessa quando o Conde beijou sua mão e entregou-lhe a carta do seu ex-noivo.
Após ler a correspondência, madre Vilfrida chamou uma das freiras e deu-lhe uma ordem. Em seguida, depois de confabular a meia voz, fez sinal para Raymond aproximar-se. Ele, então, fez uma reverência à abadessa, conforme o pai tinha ensinado, e ficou timidamente parado num canto. Mas a extraordinária bondade que iluminava o rosto da freira, fê-lo recuperar o autodomínio. Um sorriso malicioso passou pelos seus lábios rosados quando a madre Vilfrida observou:
- O seu filho é muito belo, senhor Volfram, mas... - ela sorriu - ele será menos perigoso que o senhor?!
O Conde riu, mas sua atenção foi chamada pela freira que chegava e trazia consigo uma garotinha de vestido branco. Aproximando-se rapidamente da menina, o Conde pegou-a nos braços e cobriu-a de beijos.
No início, ela se assustou; mas aquela primeira impressão passou logo. E, passando os bracinhos em volta do pescoço do Conde, a menina apertou com confiança sua aveludada face contra o rosto barbudo do seu novo amigo. Era uma criança encantadora, extraordinariamente delicada, com grandes olhos azuis e cabelos cheios e negros como a asa do corvo. O Conde olhou-a com admiração.
- Ela vai ser mais bonita que Paola e tem outro carácter; dá para ver isso nos seus olhos! Desculpe-me por ter lembrado disso acrescentou Volfram, dando-se conta a tempo do que tinha comentado.
- Já não tenho mágoa alguma da memória da esposa de Ervin - respondeu a abadessa. - Mas, Conde, o senhor tem razão! Nota-se personalidade nesta menina. Ela sabe o que quer e, às vezes, suas respostas são incríveis.
Raymond observava com curiosidade aquela cena. Sentia até ciúmes vendo o pai beijar carinhosamente a pequena desconhecida. Então, sua atenção foi distraída pela chegada de um velho padre acompanhado por uma freira, um escudeiro e um pajem.
- Aproxime-se, Raymond! - disse o Conde. Esta é a pequena Eliza, filha do meu amigo, o cavaleiro Finsterbach. Ela é sua noiva e viemos aqui para realizar o seu noivado.
O garoto ficou tão estarrecido com aquelas palavras que emudeceu, deixando-se levar, sem reagir, até um grande crucifixo pendurado na parede, perto do qual postou-se o padre.
Volfram colocou as duas crianças à frente e disse:
- Diante de Nosso Senhor Jesus Cristo e na presença do venerável padre Romualdo, da madre abadessa, da irmã tesoureira e de todos aqui presentes, estou realizando o noivado do meu filho Raymond Reifenstein com Elizabeth Finsterbach e assumo a obrigação de casá-los no prazo de seis semanas.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:39 pm

Durante esse discurso, as faces do garoto ficaram vermelhas. Quando o pai quis colocar no dedo dele a aliança que tirou da caixinha, o menino recuou e escondeu rapidamente as mãos nas costas. O Conde cerrou o cenho e jogou sobre o filho um olhar que este jamais vira antes. Em seguida, pegou a mão de Raymond, colocou-lhe no dedo a aliança e, entregando-lhe a outra aliança, acrescentou severamente:
- Coloque já esta aliança no dedo de sua noiva! Esta é a minha vontade, entendeu?!
Raymond, intimidado, colocou o anel no dedo de Eliza que olhava assustada para o garoto estranho que tinha o dobro do seu tamanho.
- Agora, beijem-se! - ordenou o Conde.
As crianças obedeceram sem contestar e o capelão abençoou-os. De repente, Eliza arrancou sua mão da mão de Raymond e jogou-se nos braços da abadessa, que olhava com tristeza para a cena.
- O principal foi feito - observou alegremente o Conde. Raymond e Eliza estão noivos. Daqui a seis semanas virei buscar a futura Condessa Reifenstein para levá-la oficialmente ao castelo. Agora, digníssima madre Vilfrida, eu ficaria muito agradecido se nos convidasse para uma refeição.
- O senhor é incorrigível, Volfram! - disse a abadessa, - sorrindo. - Mas, me acompanhem! A refeição já nos aguarda. Só peço desculpas por não ser tão requintada como gostaria de oferecer a um velho amigo.
Todos foram ao refeitório da abadia, onde os aguardava uma mesa farta, em volta da qual se acomodaram a madre Vilfrida, o padre, o Conde e as crianças. A conversa estava muito animada, pois Volfram tinha assuntos inesgotáveis sobre as novidades da Corte e das imediações. Seus relatos eram inteligentes e alegres e cativavam os ouvintes, com excepção de Eliza que, cansada, adormeceu antes do fim da refeição, e da babá, que teve de levá-la embora, enquanto Raymond, preocupado e amuado, esqueceu da comida envolvido com seus pensamentos pouco agradáveis.
O inesperado noivado com uma desconhecida, pequenina e feia em comparação com Greta, ofendeu-o e assustou-o. Ele se considerava quase um cavaleiro e para ele era vergonhoso ver que sua futura esposa adormecera à mesa e que precisava ser levada para a cama por uma babá. O que iria dizer sua mãe e, especialmente Greta, que se ofendia por qualquer palavra agradável que ele dirigia às suas pequenas amigas? Ele poderia abrandar a Condessa, alegando não poder desobedecer o pai; mas iria sofrer com a ex-noiva. Terminada a refeição, o Conde conversou mais um pouco com a abadessa, despediu-se e foi embora com o filho.
Sombrio e preocupado, Raymond seguia em silêncio ao lado do pai. O Conde, que observava o filho, e aparentemente divertia-se com sua insatisfação, foi o primeiro a romper o silêncio:
- Então, meu garoto? Agora sabe para que fomos ao mosteiro Santa Brígida? Você está crescendo e é tempo de preparar o seu futuro.
A irritação interior de Raymond extravasou:
- Não ria de mim, pai! - exclamou ele, com voz intermitente. Não há nada engraçado em me fazer ficar noivo de uma menina pálida, magra e nojenta, que mal alcança o meu cotovelo. Eu não a quero! Greta é muito mais bonita. Com ela eu posso conversar e brincar. Mas, esta não entende nada e ainda precisa de babá...
As lágrimas impediram-no de continuar.
O Conde mordeu os bigodes e um sorriso irónico passou-lhe pelos lábios.
- Acalme-se, meu filho! Se sua noiva não lhe agrada agora, isso não quer dizer nada. Aos onze anos, você esquece um bom sanduíche de queijo pela linda Greta. Mas, espere até completar vinte anos! De bom grado você trocará cem sanduíches de queijo junto com Greta pela Eliza Finsterbach. Confie em mim e no meu gosto! Entretanto, agora o Conde colocou a mão no ombro do filho e olhou-o com decisão, você mesmo verá que não é nada desagradável ser o centro de uma brilhante solenidade. Vou mandar confeccionar para o casamento o camisolão prateado que você sempre quis. Não tenha medo da mãe se ela fizer barulho quando lhe contarmos a novidade, pois assumirei toda a culpa!
A perspectiva de ganhar um camisolão e, especialmente, as últimas palavras do Conde fizeram desaparecer como por encanto o desespero de Raymond. Seu rostinho infantil desanuviou-se e ele passou a inquirir o pai sobre os detalhes da solenidade em que iria desempenhar o papel principal.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:40 pm

Quando, no dia seguinte, nossos viajantes chegaram ao castelo, a Condessa, que aguardava-os com impaciência, recebeu-os no vestíbulo junto com o capelão e Greta.
O Conde beijou a esposa com a habitual fria amabilidade que caracterizava a relação entre eles. Em seguida, falou alto o suficiente para que pudesse ser ouvido pelos escudeiros, cavalariços e servos que reuniram-se para recepcionar o seu senhor.
- Voltamos muito bem e trazemos uma boa novidade: no mosteiro Santa Brígida eu realizei o noivado de nosso filho Raymond com a filha de meu amigo, o cavaleiro Finsterbach. Padre Gregório, não imagina como estou feliz com essa brilhante e nobre união! Marquei o casamento para daqui a seis semanas. Por isso, resolvi dar uma grande festa para os nossos vassalos e os servos.
Ouvindo o marido, a Condessa foi ficando verde de raiva; seus lábios mexiam-se trémulos, mas nenhum som escapava de sua garganta que estava bloqueada. Sua alta e forte figura cambaleou, quase perdendo o equilíbrio; a fúria praticamente a sufocava. Volfram ousara realizar o noivado de seu filho às suas costas e vejam com quem! Com a filha da detestável italiana, que virava a cabeça de todos os homens, e de Finsterbach que a Condessa também detestava.
- Anna, pegue minha mão e vamos para os meus aposentos! Precisamos discutir essa boa nova disse o Conde, - olhando subtilmente nos olhos enevoados da Condessa. A alegria que enche o seu coração de mãe, emocionou-a demais.
Sem conseguir retrucar àquela gozação, pois seu coração queria estourar sob o estreito corpete, a Condessa tomou o marido pelo braço e começou a subir com ele a escadaria que levava aos seus aposentos.
Raymond seguiu-os calado e cabisbaixo, mas Margarita, estupefacta e vermelha, agarrou-o pela manga.
- Diga-me, o que seu pai falou? Ele pretende dar uma festa por ocasião do nosso casamento?
Raymond parou na plataforma e, afastando a mão da ex-noiva, respondeu com a solenidade condizente com o momento:
- Antes de mais nada, não rasgue a manga da minha camisa! É certo que o meu casamento será festejado, mas não com você. Por acaso, não ouviu que fiquei noivo de Elizabeth Finsterbach? Veja, aqui está a aliança!
Com essas palavras, ele colocou diante do nariz de Greta a mão na qual brilhava o anel com uma esmeralda.
- Ah! Que belo anel! - exclamou ela, mas quase imediatamente dando-se conta da situação, prosseguiu:
- Como? Você realmente ousou ficar noivo da filha do cavaleiro Finsterbach, apesar do nosso acordo?
- Naturalmente que sim! Será que não notou como a mãe ficou brava quando soube que eu e o pai decidimos isso? O meu noivado com Eliza foi abençoado pelo capelão do mosteiro. Meu pai vai mandar fazer para mim um camisolão prateado para o casamento. Mas você também pode enfeitar- se e saborear os deliciosos pratos que vão preparar para esse dia.
Mas Greta já não ouvia as zombarias. A perspectiva de desempenhar um papel secundário na solenidade em que ela achava que tinha o direito de ocupar o primeiro lugar excitou a sua indignação.
- Ah! Seu traidor maldoso! - gritou ela, caindo sobre Raymond e dando-lhe uma sonora bofetada, seguida por um soco.
Aquela inesperada ofensa à sua dignidade masculina, o garoto respondeu não menos energicamente e agarrou Greta pelas grossas tranças. Choveram palavrões e a briga, provavelmente, não terminaria tão rápido não fosse a interferência da criada da Condessa e do velho escudeiro, que vigiava Raymond e separou as crianças.
Enquanto aconteciam os agitados entendimentos entre os ex-noivos, o Conde levou a esposa ao seu gabinete de trabalho, um quarto comprido e de tecto abobadado, enfeitado com armas caras; as altas e estreitas janelas estavam totalmente abertas naquela hora. Volfram jogou-se na poltrona de espaldar alto, que estava perto da janela e da mesa, e convidou a Condessa a sentar-se. Mas esta já não conseguia conter-se e a ira que a sufocava finalmente transbordou. Empurrando a cadeira, ela exclamou com voz entre-cortada:
- Com que direito ousou realizar o noivado de meu filho com a filha daquela aventureira italiana e ainda fê-lo nas minhas costas? Ou imagina que vou concordar com isso? Nunca! Eu me jogarei entre o altar e o meu filho e impedirei esse odioso casamento. A felicidade de meu filho e o seu futuro me pertencem. Sua esposa será Margarita! Conseguirei defender a minha dignidade materna, que você reprime, zombando abertamente de mim diante dos criados.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:41 pm

Encostando-se na mesa e olhando para o panorama das redondezas que se via da janela, o Conde ouviu indiferente a explosão da Condessa. As últimas palavras dela fizeram-no voltar-se e observar friamente:
- Você fala de seu filho como se eu não tivesse participação alguma nisso. Você não só esquece que os meus direitos sobre ele superam os seus, mas ainda ousa chamar de aventureira uma mulher de família nobre, esposa de meu melhor amigo. Você a odeia como odeia tudo que é jovem, vivo e belo. Eu, naturalmente, não pretendo alterar seus gostos, mas proíbo-lhe de interferir em minhas decisões. Conheço bem o seu método de arrumar a felicidade do filho: você o tiraniza sorrateiramente e o coloca contra mim. Deixei por tempo demais o herdeiro do meu nome sob a sua influência maléfica! Não esqueça, entretanto, que minha paciência tem limites. O casamento de Raymond com Eliza está definitivamente decidido e se você ousar contrariar a minha vontade ou demonstrar a sua raiva na festa de casamento vai lamentar amargamente por isso!
A Condessa sofreu um ataque de nervos e caiu sem forças na poltrona. Mas, como isso não provocou reacção alguma em Volfram, ela ergueu-se de supetão e começou a andar pelo quarto como um tigre na jaula, cobrindo o marido de palavrões, maldições e ameaças.
O Conde ficou ouvindo-a por um certo tempo sem nada responder. Mas percebia-se sua emoção interior pelo enrolar nervoso da barba. De repente, um rubor escuro cobriu o rosto do Conde. Ele pulou da cadeira e deu um soco na mesa.
- Cale-se, mulher imprestável! Pare de me torturar. Para mim, chega desse inferno! Se o casamento de nosso filho lhe é tão odioso, então vou festejá-lo sem você. Amanhã mesmo partirei com Raymond e vou viver com as duas crianças em outra propriedade minha. Você nunca mais vai nos ver. Depois, pode ficar se lamentando por ter-me afugentado com sua raiva. Para mim, essa separação será uma libertação.
O Conde voltou as costas para a esposa e, respirando pesadamente, apoiou-se na mesa.
A Condessa Anna estancou no lugar e seu rosto vermelho empalideceu imediatamente. O olhar fixo no marido denotava raiva, temor e paixão. Ela, então, percebeu instintivamente que ultrapassara os limites e que o Conde poderia realmente aproveitar aquela oportunidade para livrar-se dela.
A ideia de perder para sempre o homem que endeusava com insistente e selvagem paixão e a quem amava à sua maneira fez a Condessa cair no outro extremo. Correndo para o marido, caiu de joelhos e agarrou-o pela mão.
- Perdoe-me Volfram! Fique aqui! - implorava ela. - Eu morrerei se me abandonar e se levar o meu filho. Veja como estou sofrendo! Será que a minha infelicidade ainda não é suficiente? Será que você não dilacerou o meu coração com sua indiferença e frieza?
O inesperado contacto da Condessa fez Volfram estremecer e tentar libertar a mão, mas ele era tão bom e magnânimo que a repreensão de Anna mexeu com sua consciência. Na verdade, ele era sempre severo e frio com a esposa que lhe causava repulsa. Talvez ela pudesse ser bem diferente se ele tentasse despertar os bons sentimentos ocultos na alma dela.
Voltando-se para a Condessa, que continuava de joelhos e coberta de lágrimas, ele disse com voz cansada:
- Anna, levante-se e vamos acabar com essa discussão. Só depende de você a minha permanência aqui. Você deve adaptar-se às minhas decisões. Dei minha palavra a Ervin. O casamento está definitivamente decidido e não se fala mais nisso! Pare de chorar - acrescentou ele, forçando um sorriso. - Não quis ser cruel, mas você me fez sair do sério. Agora, basta! Vamos fazer as pazes e discutir serenamente o casamento do nosso filho.
- Está bem, está bem! Tudo o que você quiser, só não me abandone! - balbuciou a Condessa, abraçando o marido e apertando-o contra o seu peito.
Volfram não ofereceu resistência. Apenas seus lábios tremiam nervosamente, pois os braços que o envolviam pareciam correntes de ferro sufocando-o e impedindo o seu caminho para a liberdade e para o Sol.
Ele havia-se casado com a jovem viúva Anna, à qual já naquele tempo era completamente indiferente, submetendo-se à tirânica vontade de seu pai. Por seu carácter despreocupado, concordou com o casamento sem imaginar as consequências de tal obrigação. Quanto a Anna, esta aceitou o casamento duplamente feliz, pois a morte a tinha livrado do marido velho e, quase imediatamente, ela conseguira um outro jovem esposo, na pessoa do atraente Conde Reifenstein, que adorava desde o momento em que o conhecera num torneio.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:41 pm

Forçando a própria natureza, Volfram inclinou-se para a esposa e encostou levemente os lábios em sua testa. Em seguida, afastando-a, disse com voz surda:
- Acalme-se Anna! Tente evitar essas cenas agitadas, que me obrigam a dizer-lhe coisas desagradáveis. Quanto ao casamento do nosso filho, este foi-me incutido pelas circunstâncias. Ervin, que entrou na Ordem dos Templários, está deixando o país e entregou aos meus cuidados sua filha como a melhor prova de sua amizade. Ele não podia deixar a menina com Ortruda. Você a conhece e, apesar das boas relações entre vocês, você mesma condena o modo de vida dela. Unindo os nossos filhos, eu tranquilizo Ervin e garanto da melhor forma o futuro de Eliza e de nosso Raymond. Fique certa que essa escolha nos trará felicidade, pois a pequenina é lindíssima e, com o tempo, tornar-se-á uma mulher tão inteligente e encantadora quanto sua mãe. Sei que você não gostava de Paola, mesmo que não tivesse motivo para isso. Mas, não pode ter ciúmes de alguém falecido. Além disso, ela foi esposa de Finsterbach e, para mim, isso é suficiente. Jamais qualquer sentimento criminoso anuviou a amizade dele para comigo. Bem, agora que lhe expliquei o que me motivou a tomar tal decisão, espero que desista de seus preconceitos e seja uma verdadeira mãe para a pequenina Eliza. Daqui a seis semanas vamos realizar oficialmente o casamento deles. E não vamos mais voltar a ter cenas como a que tivemos aqui.
A Condessa nada respondeu. Agarrando a cabeça do marido, ela beijou-o impetuosamente e depois saiu do quarto quase correndo.
Ficando só, Volfram jogou-se na poltrona e apertou a cabeça com as mãos.
- Ai! Faz doze anos que se prolonga esse inferno sem qualquer esperança de mudança! - murmurou com desespero. - O destino foi bom para ela, livrando-a do velho Barão, mas comigo não teve misericórdia. Se eu estiver condenado a arrastar até o fim dos meus dias essa esposa mal-amada, então é melhor atirar-me dessa janela!
Imerso nos próprios pensamentos sombrios, ele não notou quando a pequena porta lateral se abriu e nela apareceu o seu cavalariço predilecto, que olhou para o Conde com indescritível sensibilidade e pena. Ele era um homem alto e forte de uns quarenta anos; seu rosto agradável transpirava bondade e inteligência. Chamava-se Lucien, filho do velho guarda florestal. O falecido Conde Reifenstein admitiu-o como servo de seu filho Volfram, que na época tinha uns dez anos. Desde então, eles nunca mais se separaram.
Lucien adorava o seu senhor; era-lhe fiel como um cão, compartilhava com ele os gostos e até a antipatia pela Condessa. Ele servia ao Conde com fidelidade comprovada tanto na guerra quanto nas aventuras amorosas. Apenas um acidental deslocamento do pé impediu-o de acompanhar Volfram ao mosteiro e à casa do Barão Vart.
O leve ruído chamou a atenção do Conde. Volfram levantou a cabeça e, reconhecendo o seu fiel servo, sorriu e estendeu-lhe a mão.
- É você, meu amigo? E então? Como vai o pé doente? - perguntou ele.
- Ah! Esse maldito pé! Acabei de saber que ele impediu-me de participar do noivado do senhor Raymond. Agora, entretanto, estou completamente curado e feliz em poder acompanhá-lo nas caçadas nas montanhas, onde o ar é tão limpo e onde pode-se esquecer de tudo perseguindo a caça.
Volfram olhou fixamente para ele, espantado com a entoação especial daquelas palavras. Mas, quando encontrou o olhar malicioso e inteligente do cavalariço, seu rosto iluminou-se num sorriso. Então levantou-se, bateu no ombro de Lucien e disse alegremente:
- Você está certo, meu fiel amigo! Uma caçada só vai me fazer bem e desanuviar a tristeza que se apodera de mim nesta pesada e sufocante atmosfera do castelo. Prepare tudo e vamos partir ao amanhecer.
À noite, durante o jantar, o Conde informou à esposa que no dia seguinte iria se ausentar por alguns dias para caçar nas montanhas.
Ao saber da inesperada partida, a Condessa Anna ficou taciturna, mas em função da recente cena, absteve-se de quaisquer repreensões. Ela sentia um grande ódio por aquelas distantes e prolongadas caçadas, que sempre pareceram-lhe suspeitas, mas cujo segredo jamais descobriu, pois não conseguia arrancar nada do miserável Lucien.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:41 pm

Capitulo 3

Os primeiros raios do Sol mal iluminaram o horizonte quando Volfram montou no cavalo e deixou o castelo a galope acompanhado por Lucien. À medida que se distanciavam de casa, seu rosto desanuviava e alegrava-se. No dia seguinte, com a chegada da noite, eles penetraram numa densa floresta. Volfram respirou a pleno peito e esporou impacientemente a montaria cansada.
Um hora mais tarde, os dois cavaleiros deixaram a sombra de altas árvores e por instantes pararam, admirando a surpreendente vista iluminada pela luz azul-prateada e amena da lua. Diante deles descortinava-se um grande lago, cercado por altas colinas cobertas por densa vegetação; e um vento fresco e aromático batia-lhes no rosto. Numa pequena ilhota havia um prédio branco e convidativo, que parecia tanto um castelo quanto uma vila italiana. Junto à torre quadrangular, recoberta pelo verde-escuro da hera, havia uma edificação com um terraço aberto, do qual descia uma escadaria até a beira d'água, enfeitada ao pé por dois leões de pedra. O silêncio e a paz reinavam naquele recanto encantador.
- Não estamos sendo esperados disse Volfram. Então, pegou o corno de caça[7] e soprou um sinal.
Alguns minutos depois, de trás da ilha apareceu um barco que seguiu na direcção dos recém-chegados.
- É Ludovico! - disse o cavaleiro, apeando do cavalo e passando a rédea ao cavalariço. Lucien, você terá de aguardar um pouco.
O remador era um homem de meia-idade, mas ainda forte, do tipo puramente italiano. Ele saudou o cavaleiro, acenando-lhe com sua boina vermelha. Sem parar de remar na direcção do terraço, ele respondia alegremente às impacientes perguntas de Volfram.
- Sim, sim senhor! A senhora Giovanna está bem. A tristeza e a saudade dela irão desaparecer assim que o senhor chegar. Lá está ela! - acrescentou ele, apontando para a mulher que apareceu na escadaria do terraço.
Era uma mulher jovem, alta e elegante, de feições clássicas perfeitas, olhos escuros graúdos e brilhantes e magníficos cabelos dourados, imortalizados por Ticiano[8].
Linda como um sonho em seu vestido de brocado azul-claro e num pequeno chapéu bordado com pérolas, ela ficou parada no último degrau da escadaria, acenando com o véu e saudando o cavaleiro com um sorriso. O impaciente Volfram, num ousado salto, venceu a distância que separava o barco da beira e calou com um beijo o grito de terror que escapou da jovem mulher.
- Seu descuidado! Você poderia ter caído na água.
- E daí? Seria impossível cair na água antes de abraçá-la! Sua imagem me dá asas - respondeu o Conde, sorrindo. Em seguida, abraçou-a pela cintura e eles subiram rapidamente para o terraço.
No fundo do terraço, na sombra benfazeja de arbustos e árvores, havia um banco onde eles se sentaram. Giovanna tirou a touca da cabeça do Conde, levantou com seus dedos finos as mechas negras da testa dele e disse, olhando-o com amor:
- Você sofreu, meu querido! Estou vendo uma ruga que, mais do que palavras, me diz que você foi torturado lá, onde está acorrentado pela lei e pelo dever, mas não pelo coração.
Volfram suspirou.
- Eu sempre sofro longe de você, Giovanna, e a ideia de não poder chamá-la de minha diante do mundo inteiro já me custou muitas noites em claro. Oh! Existem momentos em que odeio mortalmente aquela maldosa criatura que ocupa o seu lugar.
A jovem mulher, apertou-lhe a mão.
- Afaste esses pensamentos ruins! - disse ela com um sorriso. - Enquanto estiver comigo proíbo-o de pensar naquela mulher. Não a invejo nem um pouco por portar o seu nome e o seu título nobre; quero somente possuir com exclusividade o seu coração que me pertence, não é verdade?
- Você é o meu anjo bom!
- Naturalmente! Agora vou tirar essa ruga horrível com um beijo. Não quero que envelheça e cubra-se de rugas, meu Volfram. Tudo em você me agrada, excepto esse seu nome bárbaro. Mas, não gostaria de beber algo?
- Um cálice de vinho servido por essas lindas e brancas mãozinhas não seria nada mal! Mas, antes gostaria de tirar o pó da viagem para não parecer bárbaro tanto no nome quanto na aparência.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:41 pm

A jovem mulher sorriu. Em seguida, o cavaleiro foi para os seus aposentos, enquanto Giovanna dirigia-se a um pequeno refeitório, cuja decoração era um misto do luxo italiano com a simplicidade europeia do século XIII. Assim, sobre um velho bufê de carvalho negro maciço brilhava a prataria no estilo antigo junto com cristais venezianos, alegria dos antiquários daquela época. A mobília dos outros cómodos também acompanhavam aquela estranha mistura de estilos.
Por ordem da anfitriã, uma velha serva começou a preparar rapidamente a mesa para o jantar, que logo estava cheia de pratos e jarros de vinho velho. A própria Giovanna colocou um buquê de flores no vaso de cristal.
Giovanna Faleri era filha de um rico comerciante veneziano falecido há alguns anos. De toda a numerosa descendência de Giovanni Batista só restaram Fúlvio, o filho mais velho, e a caçula Giovanna, cujo nascimento custou a vida da mãe. O velho mimava e idolatrava a caçula e, em seu leito de morte, deixou-lhe, além da herança da mãe, uma grande fortuna, que a premiaria com sua independência.
Fúlvio estava ausente quando Giovanni Faleri faleceu: ele tinha viajado para Levant[9] a negócios. Até o seu retorno, a irmã ficou na casa de sua amiga Paola, casada com o cavaleiro Finsterbach. Volfram, ao visitar o amigo Ervin e o mestre e tutor Barão Vart, conheceu os irmãos Fúlvio e Giovanna.
O Conde Reifenstein ficou ofuscado pela incomparável beleza da jovem veneziana que, na época, tinha apenas quinze anos. A impressão que ele próprio causou na moça não foi menor. Giovanna sabia que Volfram era casado. Ele próprio tinha consciência de que era comprometido e tentou lutar contra aquela paixão que o dominava. Foi até embora de Veneza. Mas, tal intenção pareceu promessa de bêbado, isto é, não resultou em nada. Depois de alguns meses, vencido e cego pela paixão, Volfram retornou a Veneza e o seu primeiro encontro com Giovanna decidiu o destino de ambos.
Apesar do orgulho indómito, a fogosa italiana estava tão apaixonada que decidiu fugir com o seu amado e instalar-se em algum lugar perto dele para conseguir vê-lo sem provocar suspeitas. Essa decisão encontrou oposição da parte de duas pessoas mais íntimas de Giovanna: um deles era o seu tio Conrad Vart, que disse que ela pecava duplamente ao aceitar o amor de um homem casado e atrapalhar a sua vida conjugal debaixo do nariz da esposa. O irmão, que na época havia retornado da viagem, ficou indignado pela desonra da irmã e só a interferência de Conrad impediu seu duelo com Volfram. Fulvio Faleri tinha, na época, vinte e cinco anos. Ele era severo, frio e indiferente às mulheres que atraía por sua rara beleza e que repelia com sua fria discrição. Desde criança demonstrou grande interesse pelos estudos do tio e entregava-se a estes com dedicação. Em sua última viagem trouxe consigo um velho indiano, possuidor de extraordinários conhecimentos. A companhia e as lições daquele homem absorveram-no tanto que ele, no início, não notou o que se passava com a irmã. Mas, a intenção dela de partir, acabou despertando-o. Houve uma cena agitada, durante a qual Fúlvio criticou severamente a irmã pela vergonha com que ela cobria o nome deles. Até declarou que se ela deixasse a casa paterna para tornar-se publicamente a amante do Conde Reifenstein, ele a renegaria para sempre. Mas, Giovanna era daquele tipo de pessoa que qualquer oposição tornava-a ainda mais inabalável.
- Você me condena porque o seu coração está morto e não ama ninguém nem coisa alguma - respondeu ela ao irmão com desprezo.
Fiel à própria decisão, ela foi embora e instalou-se no pequeno castelo perto do lago onde a encontramos.
Já fazia três anos que Giovanna vivia naquele retiro, sem ver nem receber ninguém, satisfeita com a felicidade de Volfram que ia descansar de suas agruras conjugais no recanto encantado, ao qual até aquele momento tinha escapado da vigilância da Condessa Anna.
A feliz jovem anfitriã estava terminando os preparativos para o jantar quando Volfram entrou no refeitório. Ele trocara o seu habitual traje preto por um luxuoso camisolão violeta de corte italiano. Seu rosto também transformara-se.
Não havia nem sinal daquela sombria concentração e fria ironia que transpirava no castelo Reifenstein. Ali ele estava feliz, despreocupado, amável e amoroso.
Seus olhos negros refulgiam e o sorriso encantador que subjugava os corações das mulheres não abandonava seus lábios.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:42 pm

- Volfram, você foi uma alegria inesperada! Não imaginava vê-lo senão daqui a três semanas observou Giovanna, servindo-lhe o vinho.
- Oh! Tenho uma novidade para lhe contar. Logo vou casar o meu filho. Vamos beber à sua saúde, Giovanna, e à saúde do futuro casal acrescentou ele rindo e esvaziando o cálice.
Notando a surpresa dela, Volfram contou-lhe tudo o que tinha acontecido.
- Pobre Paola! Ela ficaria muito contente com essa união. Mas, diga-me, a Condessa ficou satisfeita com o casamento? Lembro-me ter ouvido falar que ela não gostava da minha falecida amiga.
- Pouco me importam os caprichos da Condessa Anna. Ela deve obedecer-me e só - disse o Conde, e sua voz soou num tom severo e de desprezo. - Sua influência sobre o garoto é ruim. Ela ou o bajula e o mima demais ou o tiraniza e o trata mal, descontando nele sua própria insatisfação conjugal. Tal educação já transformou Raymond em teimoso e reservado. Pelo menos, salvei-o de uma desgraça: livrei-o da esposa que a mãe estava- lhe preparando. A pequena Greta, com o tempo, será o fiel retrato da Condessa. Ela é má, lasciva e mentirosa e desde já consegue com grande habilidade adaptar-se aos gostos de Anna. Mas, chega de falar disso! Querida, não gostaria de dar um passeio no lago? A tarde está linda!
Mas Giovanna estava muito interessada no que ele dissera e não parou de inquiri-lo sobre o casamento planejado.
- Deus queira que as crianças sejam felizes e que percebam, com o tempo, a graça que lhes é concedida pelo Senhor por poderem pertencer um ao outro sem ter de se envergonharem.
- Esperemos que sim! Naturalmente que o futuro é incerto, mas acho que agi bem e livrei Raymond de uma desgraça parecida com a minha, ou seja, um casamento com uma mulher que ele não poderia amar por muito tempo.
Uma hora mais tarde, eles sentaram-se num barco e passearam por longo tempo pelo lago.
Caiu a noite, linda e perfumada. A lua cheia iluminava tudo como se fosse dia; as estrelas enormes e luminosas destacavam-se no negror do céu e tremiam no reflexo da tranquila superfície do lago. Em volta, preitejavam os contornos de lindas montanhas e dos bosques. Giovanna levou consigo o alaúde e com sua voz limpa e poderosa cantou canções de sua terra.
Embevecidos pela felicidade, o casal nem suspeitou que, ao passar perto da margem, dois olhos brilhantes seguiam-nos com ávida curiosidade e que ocultaram-se assim que eles atracaram o barco na escadaria de pedra.
Aqueles olhos curiosos pertenciam a uma pequena e curvada criatura, que por várias horas ficou sentada por trás dos arbustos, vigiando tudo o que acontecia na vila.
Quando Volfram e Giovanna desembarcaram, o anão abandonou o seu esconderijo e correu pela trilha até o local onde tinha amarrado o cavalo. Agarrando-o pela crina, subiu na sela como um gato e seguiu sorrateiramente em frente, logo desaparecendo na densa vegetação.
Quatro dias depois, a Condessa Reifenstein encontrava-se, à noite, em seu oratório após ter tido uma longa conversa com seu capelão. Ela estava sentada, revirando inconscientemente as contas do rosário, mas seus pensamentos estavam distante. De repente, jogou longe o rosário e, apertando as mãos ao peito, murmurou surdamente:
- Esse mistério está me matando! Onde será que ele anda com a desculpa de caçar? Deve estar caçando alguma saia! Meu coração não me engana. O miserável Lucien é seu comparsa e dele nada vou conseguir saber, enquanto que Khinko já os vigia há mais de um ano e não consegue descobrir por onde anda o Conde. Será incompetência dele ou traição?
Muito agitada, a Condessa saiu do oratório e começou a andar impacientemente pelo dormitório. Naquele instante, apareceu a criada na porta.
- Khinko chegou - disse ela timidamente e insistiu tanto em ver a senhora, que não ousei dispensá-lo.
A Condessa franziu o cenho, pensou um minuto e depois falou:
- A hora é bem imprópria! Mas, que seja! Deixe-o entrar.
Instantes depois, o anão entrou e beijou a ponta do vestido da Condessa. Após fazer uma profunda reverência, ele sussurrou:
- Eu achei o que a senhora me ordenou.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:42 pm

Anna estremeceu.
- Acompanhe-me ao oratório! - disse ela animadamente. Agora, fale! Você sabe onde está o Conde? - acrescentou ela, baixando cuidadosamente o cortinado.
- O meu santo padroeiro me ajudou nessa descoberta começou a contar o anão, cintilando os olhos. - Uns dias atrás, fui visitar uma de minhas parentes que se casou com um estalajadeiro, cuja casa fica a umas vinte lios[10] daqui. Estava lá conversando com Gerda, quando de repente ouvi da entrada da estalagem a voz do nosso amo, que chegou pedindo um pouco d'água. Corri pela porta traseira e subi no sótão. Fiquei observando de lá e vi que era realmente o Conde acompanhado somente de Lucien. Quando eles foram embora, peguei um cavalo do estalajadeiro Jacó e segui-os de longe. Por várias vezes perdi o seu rastro, pois o Conde cavalgava muito rápido. Mas, Deus me ajudou. Depois de passar por uma densa floresta, saímos finalmente num grande lago que nunca tinha visto antes. No meio do lago, numa grande ilha, tinha um pequeno castelo. Não sei como o Conde conseguiu chegar lá, mas quando me aproximei, Lucien, junto com os dois cavalos, já estava atravessando-o de balsa. Eu, naturalmente, me escondi nos arbustos e decidi ficar sentado nem que fosse por dois dias para ver quem morava naquele palácio. Mas, não foi preciso esperar tanto para ver o Conde passear de barco pelo lago com uma dama...
A Condessa deixou escapar um grito contido.
- Você viu a mulher? Que aparência tem? Ouviu alguma coisa que falavam? - perguntou ela com voz roufenha.
- Oh! Vi tudo perfeitamente, pois o barco passou a dois passos do meu esconderijo e a lua iluminava tudo. Não consegui entender o que diziam, pois conversavam num idioma que desconheço, mas era evidente que de amor. A dama era jovem e linda como uma fada. Era loira e parecia muito rica, pois o seu traje e o enfeite que usava na cabeça eram inteiramente bordados a ouro. Quando ela começou a cantar, parecia que eu estava ouvindo o canto dos anjos. Até o Conde a olhava como se ela fosse a Virgem Maria.
Anna jogou-se no espaldar da poltrona e fechou os olhos, sufocada pela ira e pelo ciúme. Por fim, refazendo-se com dificuldade, tirou uma moeda de ouro e jogou-a para o anão.
- Obrigada, Khinko! Minha gratidão não se limitará a isso. Amanhã mesmo vou mandar uma vaquinha para a sua velha mãe para que ela possa tomar leite e melhore. Você consegue encontrar novamente aquele castelo?
- Mas, é claro! Sempre que quiser, minha benfeitora, respondeu o anão, fora de si de tanta alegria e entusiasmo.
A Condessa passou uma noite agitada. A consciência da própria impotência e o louco ciúme tiravam-lhe a razão. Os dias passavam e o Conde não retornava. Então, Anna decidiu preparar Raymond para que se opusesse à vontade do pai e ao casamento que agora era-lhe ainda mais odioso.
Toda vez que encontrava o filho, a Condessa Anna começava a chorar e a chamá-lo de "pobre menino". Com seus suspiros, olhares tristes e misteriosas indirectas assustou tanto Raymond que a ideia do casamento com Eliza provocava nele um terror supersticioso por trazer-lhe evidente desgraça.
Em tal estado de espírito, o garoto deixou-se convencer da necessidade de rebelar-se abertamente e declarar no altar, diante dos convidados, que não queria se casar com a filha de uma aventureira. Anna sabia que tal escândalo, mesmo que não impedisse o casamento, iria irritar bastante Volfram.
Para manter em Raymond a motivação favorável a ela, a Condessa cobriu-o de presentes e prometeu-lhe muito mais. Preparado assim pela mãe e por Greta, seduzido com presentes e adulações, o pequeno Conde jurou que não se casaria.
Daquela vez, Volfram ficou ausente mais tempo do que o habitual. Quando, finalmente, voltou para casa, manteve-se tão entretido com os preparativos para a solenidade que não prestou atenção alguma à surda irritação da esposa nem à silenciosa insatisfação do filho.
Na véspera do casamento, o Conde trouxe do mosteiro a pequena noiva. Eliza ficou completamente intimidada diante da mulher alta, severa e fria, que mal tocou os lábios em sua testa. Raymond teimava em ficar calado, enquanto Greta lançava olhares maldosos para a menina. No início, Eliza procurou protecção nos braços do Conde e depois passou a esconder-se por trás da babá, que levou-a para dormir, alegando que a criança estava cansada da viagem.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:42 pm

No dia seguinte, desde de manhã, o castelo encheu-se com uma multidão ruidosa e enfeitada. Todos os cavaleiros das redondezas compareceram com suas esposas e foram recebidos pelos proprietários do castelo na escadaria de honra. Algumas moças de famílias nobres quiseram vestir pessoalmente a noiva. A beleza e a docilidade da pequenina que deixava-se enfeitar como uma boneca, encantou-as. Realmente, Eliza parecia uma boneca em seu vestido de brocado prateado, com uma longa cauda que seria levada por um pajem, com seu cinto enfeitado de pedras preciosas e longos cabelos negros ornamentados com uma pequena coroa heráldica, da qual descia um véu prateado.
Margarita também enfeitou-se, trajando um vestido azul-claro com listras douradas e uma guirlanda de flores nos cabelos louros soltos. Mas seu rosto estava sombrio como uma nuvem de tempestade, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Os olhares que lançava para Eliza, a indigna rival que roubara sua felicidade, não prenunciavam nada de bom. Somente Raymond, o herói do dia, não prestava atenção alguma à solenidade. O noivo continuou deitado apesar do constante som de cornos anunciando a chegada de novos convidados e do barulho que levantou-se com a chegada do bispo que foi abençoar o enlace. Estirado sobre as almofadas e olhando teimosamente para a parede, ele respondia a todos os argumentos do velho escudeiro Ekgardt e do pajem que devia vesti-lo:
- Estou lhe dizendo, Ekgardt, não quero me casar e não vou à igreja. Você parece que não entende? Você, graças a Deus, é inteligente! Então, me deixe em paz!
Debalde, o velho servo tentava convencê-lo de que o Conde iria se zangar e que estava na hora de se vestir. Infrutíferas foram as tentativas de atrair o garoto com o belo camisolão e a pequena espada com punho enfeitado de pedras preciosas. Raymond permanecia surdo e teimoso. Aproximava-se o momento decisivo. Apesar de tudo, o menino receava fazer escândalo na igreja diante do bispo e dos convidados, mas queria cumprir a palavra dada e ganhar a armadura de Damasco[11] que a mãe lhe prometera. Por isso, tentava manter-se firme e até inventou um compromisso que, em sua imaginação infantil, considerava como a melhor saída daquela difícil situação. Decidiu, então, ficar deitado na cama e não ir à igreja. Assim, o casamento não poderia se realizar, nem que o bispo fosse tentar convencê-lo.
Cansado das tentativas de vencer a teimosia de Raymond e temendo perder tempo com conversas inúteis, Ekgardt correu para o grande salão, pediu ao pajem para chamar o Conde e, quando este chegou, contou-lhe a meia voz o que estava acontecendo.
Um rubor escuro cobriu a face de Volfram e ele jogou um olhar irado sobre a Condessa Anna que conversava com o bispo. Ela não perdia o marido de vista e quando os olhares dos dois se cruzaram um sorriso maldoso e irónico passou pelos seus lábios.
- Ekgardt, vá e me traga logo algumas varas de marmelo - ordenou o cavaleiro, saindo rapidamente da sala.
Vendo que o escudeiro vacilou, ele cerrou o cenho e acrescentou imperiosamente:
- Você me ouviu? Não gosto de repetir ordens. Vou tirar o senhor Raymond da cama e mostrar-lhe o que acontece com quem inventa histórias e desobedece as minhas ordens.
Junto à porta do quarto do filho, o Conde parou aguardando Ekgardt que já aparecia no fim do corredor escondendo sob a capa um grosso feixe de varas de marmelo.
- Condessa Anna, por suas intrigas, seu filho vai pagar com as costas - resmungou Volfram, escancarando a porta. Lá estavam o pajem e um outro servo tentando convencer o pequeno Conde a obedecer.
Volfram ordenou que ambos saíssem e aproximou-se da cama. Raymond, mimado pelo pai que sempre o tratara com condescendência, nem suspeitava do perigo do momento e, ao ver o Conde aproximar-se, fechou os olhos com ar de enfado.
- Moleque imprestável! Como ousa desobedecer-me e ficar estirado aqui na cama, quando os convidados já estão reunidos e a noiva vestida! Levante-se já e vista-se! Está me ouvindo? ... Não vim aqui para brincar.
- Não quero me casar com Eliza! ... Eu quero Greta! - respondeu Raymond com teimosia, cobrindo o rosto com o travesseiro.
- Vou lhe ensinar a querer aquilo que eu quero e não o que lhe ensina a sua digníssima mamãe disse Volfram, - vermelho de raiva.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Jul 15, 2023 6:43 pm

Antes que Raymond pudesse mesmo imaginar o que ia acontecer, pois jamais vira medidas punitivas da parte do pai, o Conde agarrou-o pelo cangote e levantou-o da cama como a um cachorrinho. Em seguida, aconteceu aquilo que definitivamente convenceu o noivo reticente, que se debatia com altos gritos nas mãos do pai. Mas qualquer reacção era inútil nas mãos de ferro de Volfram. As chibatadas caíam uma atrás da outra. Volfram, furioso, não sentia pena e queria provar ao filho de uma vez por todas que ele tinha de pagar com as costas as bondosas instruções da mãe.
- Então? Agora você vai para a igreja, sem teimosia? - perguntou o Conde, encerrando o castigo.
- Sim, sim! - gemeu Raymond em lágrimas.
- Neste caso, então, vista-se! O Conde largou-o e sentou-se na cadeira, colocando as mãos no colo.
Ekgardt, num instante vestiu o noivo que não parava de soluçar e não se sentia nada bem, mesmo em seu novo traje.
- Se você repetir esta cena durante a cerimónia, vou castigá-lo ainda mais dolorosamente diante de todos. Ekgardt levará as varas de marmelo para a igreja e vai deixá-las à mão. Eu posso expulsá-lo do castelo, pois não quero ter um filho desobediente disse o Conde levantando-se.
- Agora, pare de gritar! - prosseguiu Volfram, batendo o pé. - Não tem vergonha de chorar como uma velha caduca por causa de algumas chibatadas? E ainda quer ser um cavaleiro!
Raymond já não tinha nenhuma dúvida de que o pai cumpriria a ameaça. Então, reprimiu energicamente o choro, lavou com água fria o rosto vermelho e, dez minutos depois, apareceu no salão junto com o pai que o apresentou aos convidados.
O bispo foi para a capela. Obedientemente, mas sem lançar qualquer olhar para a noiva, Raymond pegou-a pela mão e a procissão foi em frente. Todos admiravam a beleza das crianças e previam que, com o tempo, aquele seria um lindo casal.
Os elogios alcançaram os ouvidos de Raymond, mas não convenceram o seu amor-próprio. A vergonha, a raiva e a dor torturavam-no, incutindo-lhe quase repulsa à inocente criatura, a causa involuntária de suas desgraças. Nunca, talvez, um noivo ajoelhara-se no altar com sentimentos tão conturbados!
Em compensação, Eliza estava deslumbrada, sem suspeitar e nem entender a tempestade que involuntariamente provocara. Como futura mulher, estava feliz em seu traje de gala. Além disso, tudo lhe agradava: a multidão de convidados sorridentes, o canto na igreja, o luxuoso paramento do bispo, o seu pequeno noivo com uma corrente de ouro no pescoço e uma espada, cuja empunhadura faiscava com pedras preciosas.
Felizmente, para o bom desfecho da sagrada cerimónia, o coração infantil de Eliza ainda dormitava e não percebia a humilhante e hostil indiferença de seu noivo. Ela apenas surpreendia-se com o fato de que naquele momento feliz seu pequeno coleguinha de solenidade tinha um ar tão amuado. Inclinando-se para a frente, a garotinha olhou com curiosidade e inocência nos olhos sombrios de Raymond. Este, no início, olhou surpreso para o rosto róseo que lhe sorria com os olhos brilhando; depois, vencido pelo encanto que transpirava daquele lindo ser, esqueceu a raiva e o terrível acontecimento provocado por aquela pequenina Eva. Um sorriso iluminou o seu rosto. Ele sentiu algo como um orgulho inconsciente e apertou mais forte os minúsculos dedinhos que segurava na mão.
Eliza, sem saber, tinha obtido a sua primeira vitória.
Naquele instante, o bispo começou a falar. As crianças levantaram os olhos para ele e ouviam concentradas as suas palavras que invocavam sobre suas cabeças as bênçãos celestiais, incitando-as a amarem um ao outro por toda a vida e dividirem fielmente as desgraças e as alegrias.
Mal contendo a raiva que a agitava por dentro, a Condessa, toda pálida, acompanhava com olhar gelado a cerimónia nupcial. A incompreensível submissão de Raymond fê-la sentir quase ódio do filho. Enquanto isso, Volfram orava fervorosamente, rogando a Deus conceder paz e amor ao filho e à filha de seu amigo, e livrar Raymond do inferno conjugal que ele mesmo suportava, para que este não tivesse de procurar fora de casa, em diversas loucuras, o preenchimento do vazio de sua vida.
Ao término da cerimónia, os recém-casados receberam os cumprimentos. A cómica atitude solene das duas crianças, naquele momento, provocou a alegria geral e Volfram disfarçava com dificuldade a vontade de rir quando olhava para Raymond.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 16, 2023 10:33 am

"Se daqui a uns dez anos Eliza souber das medidas enérgicas com que obriguei o seu noivo a comparecer na igreja, ela não ficará nada lisonjeada", pensou ele. "O bobo do Raymond pode agradecer eternamente a Deus por eu tê-lo obrigado a ser feliz. Posso jurar que, com o tempo, esta pequenina será um verdadeiro tesouro".
Divertindo-se por dentro com o ar imponente do noivo que evitava olhar para o pai, o Conde servia tantas guloseimas e vinho ao jovem casal que estes, satisfeitos e cansados das ovações e dos beijos, acabaram adormecendo.
Entre os convidados vindos de longe encontrava-se também Ortruda Finsterbach com seu filho Guntram, a madrasta e o irmão caçula de Ervin. Volfram detestava a ambos, mas era um anfitrião por demais hospitaleiro e amável para não propor-lhes que ficassem alguns dias em sua casa. Quanto à Condessa Anna, esta sempre alimentava a amizade com os Finsterbach.
Dois dias depois do casamento, enquanto o Conde, Guntram e mais dois cavaleiros caçavam nas redondezas, Anna e Ortruda conversavam sentadas no quarto da Condessa.
Ortruda, confortavelmente reclinada na poltrona de espaldar alto, ouvia as queixas da Condessa. Esta, com o olhar flamejante, contava-lhe todas as amarguras de sua vida conjugal: a eterna frieza do marido, a recente descoberta da infidelidade do Conde e a indignação que provocou nela o casamento do filho com a filha da "aventureira italiana".
Ortruda ouvia a amiga, sem interromper. Ela era uma mulher magra, muito loura, de uns trinta e cinco anos, com um rosto agradável e grandes olhos cinzentos, espertos e enérgicos. A boca, com lábios carnudos, indicava uma natureza lasciva e o nariz adunco com narinas móveis e alargadas davam à fisionomia dela uma expressão algo sensual e cruel.
A marca deixada pela natureza na aparência de Ortruda correspondia ao seu mundo interior. Cheia de vontades tirânicas, impetuosas e orgulhosas, adorando qualquer tipo de "fruto proibido", ela não sabia refrear seus desejos e não admitia obstáculos na satisfação destes. Dominou completamente o seu velho marido: desde que ficou viúva, toda a vizinhança acompanhou suas várias e gritantes aventuras amorosas. As mulheres sérias e comedidas odiavam Ortruda, mas não ousavam tratá-la com hostilidade ostensiva, temendo-a, pois diziam que ela possuía o "mau olhado". Além do mais, corria o boato de que ela dispunha de terríveis forças diabólicas.
Quando a Condessa terminou as acusações, Ortruda endireitou-se.
- Vejo que está insatisfeita com esse casamento observou ela, pensativa. Naturalmente, para o seu filho podia-se escolher uma noiva melhor do que a filha daquela detestável italiana, que muito prejudicou as minhas relações com o meu enteado. Mas ela morreu e Deus tenha piedade de sua alma! Parece que, graças a Paola, posso lhe dizer quem é a dama misteriosa que o seu marido visita. Um dia, ela me contou que uma de suas amigas, a Giovanna, apaixonou-se perdidamente pelo senhor Volfram durante a sua estada em Veneza e, para enorme escândalo de toda a sua família, fugiu com ele. Naquele momento, não dei muita importância a esse fato e agora o seu relato me fez lembrar essa história.
- Ai! Se pudesse agarrar a miserável que roubou de mim o amor do marido, eu a estrangularia com minhas próprias mãos exclamou a Condessa, cerrando os punhos.
Ortruda ocultou o rosto com o lenço para disfarçar o sorriso que passou pelo seu rosto. Ela examinou com olhar irónico a figura forte da Condessa e seu rosto vermelho.
- Não se emocione, Anna! Por mais justa que seja a sua ira, não vale a pena manchar as mãos se existem meios melhores de livrar-se de pessoas desagradáveis. Se quiser, posso levá-la a uma pessoa que a livrará da rival sem derramar nenhuma gota de veneno e nem de sangue.
- Se quero? Ficar-lhe-ei eternamente agradecida por esse bom conselho.
Sentando-se bem perto uma da outra, elas continuaram a conversa em sussurros. Ficou decidido que Anna iria visitar a amiga para passar alguns dias em sua casa. Neste ínterim, Ortruda iria levá-la até um homem que, em troca de ouro, emitiria à pessoa determinada uma força invisível, mas fatal, que minaria a vida desta até matá-la.
Um semana depois, com a chegada da noite, uma liteira fechada e acompanhada por dois homens bem armados, parou diante de uma velha casa localizada na periferia de uma pequena cidade.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 16, 2023 10:33 am

A cidade não possuía subúrbios, mas um certo quarteirão era preferencialmente habitado por judeus e, por isso, evitado pelos habitantes cristãos.
A casa era velha, enegrecida e semi-desmoronada; para a rua saíam somente uma janela com grades e uma maciça porta revestida de ferro. De ambos os lados seguia uma alta e espessa parede, ocultando completamente o que havia por trás dela.
Um dos guerreiros bateu com o punho da espada na porta. Alguns minutos depois, abriu-se uma pequena portinhola com fina grade de ferro e nela apareceu a cabeça de um senhor com chapeuzinho preto. Vendo a mulher encapuçada que desembarcava da liteira, o velho gritou:
- Esperem! Já vou abrir a porta!
Deu para ouvir como o velho abria os ferrolhos e empurrava o pesado trinco. Então, a porta abriu-se fazendo rangido.
Duas mulheres encapuçadas saíram da liteira e entraram na casa.
- O dono da casa aguarda-as, nobres damas disse o ancião.
Em seguida, levantando a fuliginosa e sebenta lamparina, ele conduziu as visitantes através do longo corredor e de uma grande cozinha para um quarto que, provavelmente, servia de loja, pois estava abarrotada de diversos objectos: roupa velha, instrumentos e as mais variadas armas.
Perto da mesa estava sentado um outro senhor, ocupado com o acabamento de uma espada. Os traços pronunciados de seu rosto e o nariz adunco demonstravam claramente sua origem semita[12].
Ao ver as duas mulheres, ele levantou-se e fez uma respeitosa reverência. Recebi a sua mensagem, nobre senhora, e estou pronto para servi-la e à sua acompanhante também - disse ele. Nesse caso, senhor Markhodey, leve-nos até o quarto onde certa vez conversamos e onde, longe de qualquer ouvido indiscreto, possamos relatar-lhe o motivo de nossa visita solicitou Ortruda.
O judeu aquiesceu em silêncio, acendeu uma vela num candelabro de ferro e, afastando um cortinado de couro que cobria a porta no fundo do quarto, fez um gesto convidando as senhoras a segui-lo.
Ortruda corajosamente foi em frente, mas Anna vacilou por um instante. Ela ainda estava no limiar do seu primeiro crime e o local em que se encontrava incutia-lhe um terror supersticioso.
Passaram por um quarto cheio de objectos diversos, semelhante ao anterior, depois por um segundo corredor no fundo do qual o judeu abriu uma pequena porta, tão habilmente disfarçada atrás das estantes abarrotadas de frascos empoeirados, que nem dava para suspeitar de sua existência.
Para sua grande surpresa, Anna entrou numa sala luxuosamente mobiliada no estilo oriental e iluminada por lâmpadas penduradas no tecto. Um tecido espesso recobria as paredes e um grosso tapete cobria o chão. O ar estava impregnado de um cheiro forte, mas agradável.
- Tenham a bondade de sentar-se, nobres damas, e expliquem-me em que posso servi-las disse o velho com amável sorriso, apontando o monte de almofadas distribuídas ao longo das paredes. - Acho que sempre cumpri todas as missões que me foram confiadas.
- Sim, senhor Markhodey! O senhor me prestou um grande favor. Não esqueci disso e trouxe aqui uma de minhas amigas. Ela é muito infeliz por causa de uma mulher que rouba dela o coração do marido. Se o senhor ajudar, ela o recompensará generosamente!
Os olhos do judeu, que se fixaram na Condessa Anna, faiscaram de cobiça.
- Todo o meu saber fica inteiramente à disposição da Condessa Reifenstein! Mesmo através do espesso véu reconheço seu rosto belo e triste. Sem dúvida, a sua infelicidade é legítima.
Um grito contido escapou dos lábios de Anna. Sua confiança no feiticeiro, reforçou-se imediatamente por ele tê-la reconhecido apesar do rosto coberto. Ela retirou o véu e colocou na mesa uma carteira bem recheada, que tirou da bolsa. Deixo isso como sinal, senhor Markhodey! Dar-lhe-ei o dobro, se o senhor destruir a minha odiosa rival e devolver-me o coração de meu marido.
Um imperceptível sorriso zombeteiro passou pelo rosto de Markhodey enquanto guardava a carteira num armário de madeira entalhada.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 16, 2023 10:34 am

- Tenham a bondade de seguir-me até o santuário! - disse ele em seguida. - Somente lá posso começar a agir e ver a pessoa que vocês pretendem atingir.
Os três foram para o quarto contiguo, cuja estranha aparência fez a Condessa estremecer. Era uma sala arredondada, sem janelas, cujas paredes estavam ocupadas por estantes cheias de latas, frascos e maços de ervas secas. No centro, numa mesa de mármore negro, havia um candelabro de sete capitéis com sete velas negras, um recipiente de cobre cheio de água e alguns rolos de pergaminho. Diante da mesa, no centro do triângulo formado pelos três tripés, havia uma estátua metálica de um ser meio humano, meio animal. No torso humano, com grandes asas nas costas, despontava uma cabeça chifruda de bode com as órbitas oculares vazias. Aos pés da imagem do demónio estava sentado um magnífico gato preto, cujos olhos ardiam como brasas na penumbra do quarto.
O feiticeiro apanhou da mesa uma varinha curta e começou a esfregá-la com as mãos. De seus dedos saiu uma fagulha e todas as sete velas do candelabro acenderam-se com sinistro crepitar. Nas órbitas oculares vazias da estátua acendeu-se uma chama azulada e tremeluzente.
Anna soltou um grito surdo e recuou.
- Nada tema, nobre dama! - disse Markhodey. - Por acaso, a sua amiga preveniu-a de que preciso de algum objecto pertencente à pessoa de quem pretende se livrar?
- Eu sei - Anna, entregando ao feiticeiro - um pacote que continha uma luva perfumada e rosas secas amarradas com uma fita. Depois de longa e criteriosa busca, a Condessa conseguiu encontrar aqueles objectos num porta-jóias de Volfram.
- Isso é mais do que o necessário - disse Markhodey, inclinando-se sobre a luva e as flores e aspirando fortemente o seu aroma.
Depois, colocou a luva e a fita sobre uma bandeja metálica, molhou-as com um líquido incolor e pôs fogo.
Quando tudo queimou, o judeu juntou cuidadosamente as cinzas com uma espátula de marfim, macerou-as com cera mole, e da massa que se formou fez uma vela. Terminado isso, Markhodey retirou o pano preto do espelho metálico pendurado na parede, cuja superfície polida reluzia com todas as cores do arco-íris.
Pegando novamente a varinha, o feiticeiro postou-se diante do espelho e com voz comedida começou a recitar encantamentos, balançando na outra mão a vela acesa que acabara de confeccionar. Sob a luz fraca da vela, a superfície do espelho pareceu faiscar. Estas faíscas uniram-se numa única chama azulada e desenhavam sinais cabalísticos que desapareciam em seguida.
Anna e Ortruda observavam aquilo, tomadas de horror supersticioso. Mas, quando o feiticeiro, com voz surda, pronunciou três vezes "Giovanna!" Anna estremeceu, apertou convulsivamente a mão da amiga e seu olhar pareceu fixar-se no rosto pálido e suado de Markhodey.
De repente, o judeu dirigiu para a Condessa os seus olhos vítreos, agarrou-a pela mão e, empurrando-a diante do espelho, disse imperiosamente:
- Pegue a vela e olhe!
A Condessa obedeceu e, apertando a vela com dedos trémulos, inclinou-se para o espelho. Do fundo da superfície metálica surgiu diante de seu olhar estupefacto uma nuvem negra que alargou-se rapidamente e transformou-se numa névoa azulada. Como numa moldura, apareceu a imagem de um lago, cercado de colinas cobertas de bosques. No centro do lago, numa ilha, erguia-se um pequeno castelo, que começou a aumentar e logo ocupou quase toda a tela. Apareceu, então, um terraço cercado de plantas raras; num leito, entre almofadas, estava dormindo uma mulher loura, jovem e bela.
Ao ver a moça, no auge da juventude e da beleza, o coração da Condessa apertou-se por um ciúme tão selvagem que ela soltou um grito e recuou, cambaleando; teria caído se Ortruda não a tivesse amparado.
O quadro mágico apagou-se rapidamente.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 16, 2023 10:34 am

Markhodey tapou cuidadosamente o espelho. Depois, voltando-se para a Condessa Anna, que tentava refazer-se, perguntou:
- Nobre senhora, o que deseja que aconteça com a pessoa que apareceu no espelho?
- Que ela morra, se estiver ao seu alcance matá-la! - respondeu a Condessa com voz roufenha. Se é esse o seu desejo, então será realizado afirmou tranquilamente o feiticeiro.
Pegando a vela, ele esculpiu com extraordinária habilidade uma figura humana, no peito da qual apertou a ponta acesa da própria vela. Depois, colocou o restante das cinzas da luva e a figura de cera num minúsculo caixão e fixou-o entre os chifres que enfeitavam a cabeça de bode da estátua. Sobre a tampa do caixãozinho colocou um círculo metálico com símbolos zodiacais gravados e acendeu sobre este um pedacinho de miolo de pão, que queimou com chama esverdeada. Tudo terminado, Markhodey prostrou-se diante de seu deus, murmurando algumas palavras incompreensíveis que acompanhava com gestos imperativos.
Ao final dos encantamentos, o judeu voltou-se para a Condessa Anna e disse num tom solene:
- Exactamente daqui a um ano, nesse mesmo dia e nessa mesma hora, a mulher de nome Giovanna morrerá! Nobre dama, a senhora irá recompensar-me pelo serviço prestado só quando cumprirem-se as minhas palavras.
Um sorriso de ódio satisfeito passou pelos lábios de Anna. Tirando do dedo um anel com um caro rubi, ela entregou-o ao feiticeiro.
- Receba isso como sinal de meu reconhecimento, senhor Markhodey.
Com profundas reverências, o judeu acompanhou as visitantes até a saída.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Ave sem Ninho Dom Jul 16, 2023 10:34 am

Capitulo 4

A vida no castelo Reifenstein entrou em sua rotina normal. Ao voltar da casa de Ortruda, Anna estava de muito bom humor. Ela não só eliminava a sua odiosa rival, como passou a desfrutar melhor da companhia de Volfram que ficava agora no castelo mais tempo que o habitual.
O motivo de seu sedentarismo era Eliza por quem o Conde não só sentia um profundo carinho como também temia deixá-la sozinha por causa da ostensiva hostilidade que a cercava. Até a própria pequenina, com seu espírito impressionável, percebia que não era benquista naquela casa.
Eliza tornou-se calada e evitava a severa e taciturna Condessa, que jamais concedia-lhe uma palavra de carinho ou atenção. A pobre garotinha não ousava nem brincar com as crianças, pois os olhares de ódio de Greta e a hostilidade de Raymond afastavam-na deles.
Tal atmosfera hostil fez calar o seu riso límpido que somente soava no quarto de Volfram. O Conde era o seu melhor amigo. Ele sabia como diverti-la, sempre inventando novas brincadeiras ou contando-lhe histórias de fadas tão divertidas que a garota não cansava de ouvi-las. Ela sentia-se feliz sentada no colo do Conde, descansando a cabecinha no peito dele e ouvindo os seus relatos sem piscar os olhos.
Entre Volfram e o filho estabeleceu-se uma fria relação. Desde o dia do casamento Raymond tinha raiva do pai e evitava-o, especialmente depois que a mãe, a quem confessou tudo, resmungou por entre os dentes:
- Pobre menino! Estão tratando-o pior do que a um escravo. Tudo isso para transformar a filha da aventureira numa Condessa Reifenstein!
Desde aquele momento, Raymond considerava-se vítima da tirania paterna e extravasava em cima de Eliza toda a insatisfação que não ousava demonstrar diante do pai. Este também estava descontente com Raymond porque ele não tinha pedido perdão e, diante da teimosia do filho, não lhe dirigia a palavra.
Entretanto, numa certa noite, ao cruzar com Raymond no corredor, e vendo que o garoto baixou os olhos deixando-o passar, o Conde parou.
- Não me diga que sua mãe conseguiu confundi-lo a tal ponto que você até baixa as vistas ao me encontrar! Será que você, o único motivo de minha permanência aqui, também deseja que eu vá embora? - perguntou ele com sua Voz sonora.
Sem esperar resposta, Volfram passou pelo filho, entrou no quarto e caiu na poltrona, tapando o rosto com as mãos. Pensamentos tristes passaram por sua cabeça. Pensava no divórcio com sua esposa, que a cada dia tornava-se ainda mais odiosa. A única coisa que o detinha era a preocupação de confundir o espírito do filho.
Os pensamentos do Conde foram interrompidos por Raymond, que seguiu-o, emocionado. Junto à porta, o garoto parou indeciso; mas, percebendo o ar sombrio e pensativo do pai, correu até ele. Abraçando-o pelo pescoço e encostando a cabeça em seu peito, o menino repetia por entre as lágrimas:
- Fique! ... Fique, pai! ... Perdoe-me! Não pensei que lhe traria tanto desgosto!
O Conde estremeceu e um sorriso iluminou o seu rosto preocupado.
- Não, não, meu menino! Eu sei e nunca duvidei que você me ama!
O Conde levantou o filho, sentou-o no seu colo e deu-lhe um forte beijo:
- Então, vamos esquecer aquele momento detestável em que fui obrigado a castigá-lo mesmo com dor no coração. Sei que foram os conselhos de sua mãe que incitaram você a me desobedecer e provocaram todo aquele escândalo - acrescentou ele.
- Agora, vamos fazer as pazes? Você não vai mais pensar em ir embora? - perguntou Raymond temeroso.
O Conde sorriu e depois suspirou.
- Acalme-se! Não vou deixá-lo. Mas, já que fizemos as pazes, vamos então conversar sobre um importante assunto que refere-se a você pessoalmente. Estou falando de Eliza. Você ainda é criança, mas já entende que essa união dá a você certas obrigações em relação a Eliza. Ela é sua esposa. De acordo com as leis divinas, você deve amá-la e protegê-la. Ela ainda é muito pequena e está solitária aqui, onde ninguém gosta dela. Você me promete que vai defendê-la?
- Sim, pai! Eu prometo, apesar da mamãe e da Greta sempre me dizerem que quando eu crescer devo odiá-la e afastá-la de mim.
Ave sem Ninho
Ave sem Ninho

Mensagens : 122575
Data de inscrição : 07/11/2010
Idade : 68
Localização : Porto - Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia Empty Re: Série Conde J. W. Rochester - Os Luciferianos - Wera Ivanovna Krijanovskaia

Mensagem  Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 1 de 5 1, 2, 3, 4, 5  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos