LUZ ESPÍRITA
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JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:55 am

JONAS C. e os jovens
M. B. TAMASSIA

PREFACIO
Eis uma obra subsequente ao “Toinzinho e o Anjo Galdino”, que constituiu o I.° Livro de Leitura Instrutiva.
Este novo lançamento, “JONAS C. e os jovens”, portanto, vem a ser o 2.° Livro de Leitura da série Instrutiva e se destina àqueles que desejam um aprofundamento dos temas desenvolvidos naquela obra, bem como noutros, que julgo de interesse geral.
Quando estivemos com o amigo e confrade Divaldo Franco, no Lar Escola “Monteiro Lobato”, em Americana, levantamos, durante o lanche que nos serviram, algumas questões referentes ao ensino do Espiritismo para a infância e a juventude.
Esse grande médium ponderou que ele também notava ser “escassa a literatura para a pré-juventude”, o que se devia ao facto de o Consolador ter estado empenhado na tarefa, primeiramente, de enxugar as lágrimas, segundo lhe dizia Joana de Ângelis, mas que estava na hora de se abrirem horizontes novos.
E, na sua opinião, “em virtude do desenvolvimento tecnológico, que abriu as possibilidades da mente juvenil para entender problemas de maior transcendência, importava que avançássemos com esse progresso, actualizando as nossas conceituações e linguagem científica.”
E Divaldo Franco revelou toda a sua acuidade nesta frase:
“Se não falarmos o idioma que os prepare para a luta contra o materialismo, eles levarão o conceito evangélico, mas não suportarão o sofisma materialista.
Ficarão com a teoria dos bons sentimentos, mas sem o alicerce da experiência dos factos.
Então, está na hora de falarmos para eles de uma forma acessível, levando-os à reencarnação e até mesmo ao perispírito, enveredando pelas noções de biologia, mas com uma expressão genética em bases de campos biomagnéticos até as próprias experiências ou efeitos de Kirlian” (Folha Espírita, Junho de 1977).
Esta obra não pôde abrir-se ainda tanto quanto seria desejável e reservamos tal abertura para o 3.° volume desta série.
Tivemos de nos colocar, por imperativo didáctico, apenas um pouco além de “Toinzinho e o Anjo Galdino”, sem chegar aos complexos problemas do Espiritismo científico, filosófico e religioso.
O maior problema que se nos deparou, pois, para escrever este livro, foi o de contenção e limitação, a fim de que não o tomássemos indigesto.
Os assuntos mais difíceis são apenas sugeridos, mas não desenvolvidos amplamente.
Embora não pareça, os pontos principais da Doutrina de Kardec estão contidos nesta obra, se bem que em desordem, pois o jovem chega à pergunta naturalmente em consequência de uma circunstância qualquer, como um passeio ou a presença numa sessão espírita.
Os jovens, que figuram nos colóquios, existem e faziam parte de um grupo experimental, chamado intimamente “A Patota*, boníssimos, inteligentes e dedicados.
Muitas das questões foram levantadas por eles mesmos, enquanto que outras foram feitas, também, por jovens, em conferências minhas e de outros conferencistas, a mim gentilmente transmitidas pelo amigo Richard Simonetti.
Esperamos, com ajuda dos amigos e do Alto, continuar este programa, com outros volumes, nos quais poderemos acentuar o aspecto científico do Espiritismo.
O Armagedon não virá. Já veio.
Como ocorre com a esperada ressurreição dos corpos, dá-se, hoje, amanhã e sempre.
No entanto, nessa luta sem trégua, há momentos críticos, em que os exércitos dos ‘evoluídos e dos involuídos” se alinham e se chocam numa batalha desesperada.
Eis a razão pela qual, como ocorre nas guerras materiais, temos de engajar os jovens e exercitá-los, na liça espiritual, pois que a juventude, hoje, é numericamente dona de todo o planeta Terra.

Campinas, em 10 de março de 1978
O AUTOR
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:55 am

Capítulo I - AS RUÍNAS
Com que entusiasmo recebemos o convite do tio Armando para passar uma temporada de verão em Caraguatatuba, aprazível cidade do litoral norte paulista.
A sua casa ficava de frente para o mar, numa enseada muito calma e rasa.
Do alpendre, fechado por grande porta de vidro transparente, divisava-se a Ilha Rela, assemelhando-se a gigantesco anfíbio pré-histórico pousado delicadamente nas águas.
Não era hábito de meus pais veranearem sozinhos, daí que estivéssemos, naquela vivenda, na companhia de toda a nossa família, daqueles que simplesmente nos eram conhecidos e outros que, cada dia, iam chegando e aboletando-se nas camas, quartos, colchões e beliches.
Ao contrário do que ocorre em outros pontos litorâneos mais sofisticados, nunca estávamos parados bronzeando-nos ao sol, mas sim, vagabundeando por todas as belíssimas enseadas que enriquecem a orla marítima que vai de Caraguatatuba a Ubatuba, como a delicada Tabatinga, a bucólica do Lázaro, a feiticeira Lagoínha, a revolta Praia Brava e a frequentadíssima Tenório.
No dia seguinte ao da nossa chegada, minha bela prima Pamele, que, intimamente, tratávamos por Pixoxa, veio adentrando o living acolhedor, trazendo a tira-colo um rapaz atlético esturricado pelo sol.
— Já, um? disse-lhe.
— Este é Denizard — apresentou-o com um olhar gaiato.
Faz Engenharia em São José dos Campos e é campeão em várias modalidades de desporto.
Ele quer fazer-lhes um convite.
— Se vocês quiserem, eu os levo amanhã a uma praia selvagem, pouco conhecida dos turistas, denominada Praia dos Vaga-lumes.
— Fica longe? indagou Dirce com aquela voz de mormaço, rouca e envolvente.
— Um pouco distante e de acesso difícil.
Mas é por isso mesmo que poderemos fisgar uns peixes de melhor qualidade.
— Eu topo, gritou Cris, estabanada.
— Eu também...
Todos, enfim, se sentiram alvoroçados.
As meninas, talvez pela amostra atlética do Denizard e os jovens, pela aventura de uma pescaria marítima.
Tudo daria certo, não fosse o poder ditatorial da Rainha-Mãe, Dona Genoca que, lá de dentro, com uma voz espremida gritou:
— Vão com quem? Sozinhos?
Neres de pitibiriba. De modo algum.
Tenho pavor do mar.
Não vim passear aqui para morrer do coração.
— Ah! mãe, a senhora sempre do contra... resmungou Pixoxa.
— A não ser que levem alguém responsável, ninguém sairá daqui.
— Jonas C., aventou Pixoxa.
Ele é maior, vacinado e eleitor.
Todos, novamente entusiasmados, aclamaram o nome de Jonas C.
— Vou, sim. Ora se vou — logo, aparecendo não se sabia de onde, aquela figura inconfundível, que quase sempre se constituía em segurança e alegria do grupo.
Andava lá por volta dos cinquenta anos, mas parecia ter vivido muitas vidas, para saber tanta coisa.
Tinha uma explicação para tudo que se lhe perguntasse.
A única coisa que deixava sem resposta, era se pedíssemos a razão de chamar-se Jonas C., assim, um C com um ponto.
Ninguém sabia compreender as crianças e os jovens mais do que ele.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:56 am

Vendo-o, agora, em idade proveta, eu me lembrava de que todos nós, quando crianças, fomos armados cavaleiros por ele.
Levava-nos a uma clareira de mata espessa.
Colocava-nos em círculo.
No meio, ficava o candidato ao título de Cavaleiro Armado das Bandeiras Tremulantes.
Pronunciava, bem alto, palavras cabalísticas, fazia gestos simulando batalhas ou de unção mística, empunhando um velho facão enferrujado.
Fazia os necessários toques no corpo do guri e levava-o a prestar juramento solene de que jamais fugiria de cobras, bichos do mato, dragões, bruxas, ratos e baratas lutando contra todas as injustiças.
Aquilo se nos fixava tanto na mente e de tal modo que, daí por diante, ninguém gostava mais de demonstrar medo do que quer que fosse.
Éramos agora moços, mas Jonas C. buscava fazer com que conservássemos no espírito um pouco de riqueza imaginativa e um estado ingénuo de sentir o mundo exterior, para que continuássemos sensíveis e não nos secasse a alma.
Daí que não era de se estranhar que ele pudesse traçar no chão a amarelinha e nos levasse a brincar ou que jogasse com a gente a bolinha de gude, no que ainda tinha muita categoria.
De madrugada, rumamos em direcção à bucólica praia Tabatinga e, daí por diante, começamos a ziguezaguear pelos contrafortes das serranias, ora subindo, ora descendo, transpondo passagens estreitas sobre abismos que nos enregelavam a alma.
Foi, assim, já meio arrependidos daquela aventura, que alcançamos uma clareira, verdadeiro oásis de gramínea verde, cortada por riacho de águas tão cristalinas que se viam os lambaris ariscos e, ao lado, uma casa abandonada construída de pau-a-pique.
Dali saía uma trilha que ia serpenteando na baixada, penetrando ora pela mata, ora saindo para campinas amplamente abertas ou brejos, recendendo perfumes activos de flores aquáticas e silvestres.
Seguíamos em fila indiana, mas uns e outros, mais indisciplinados penetravam as brenhas, a fim de explorá-las.
— Que é isto aqui? - gritou José Ricardo, que cursava o último ano de Odontologia.
Corram, venham ver.
O bando todo disparou para o ponto de onde vinha a voz.
Jonas C. ordenou que refreássemos nosso ímpeto, pois costumava dizer-nos:
“A mata é como uma rosa, que tem muito a nos dar, mas, se imprudentes, lanceta-nos os dedos”.
Colocou-se-nos à frente, depois de cortar com o facão um pau de guarantã, fazendo um bastão, porque não cansava também de ensinar-nos:
“A melhor arma para matar cobra é um simples pedaço de pau.
Acertem a paulada no meio do corpo e ela se desconjunta.”
Por fim, alcançamos uma elevação, onde se encontrava José Ricardo muito excitado.
A um metro do chão, em época imemorial, haviam edificado um patamar de pedra, de forma rectangular, com uns vinte metros de comprimento por outros vinte de largura, do qual se erguiam colunatas, também de pedras rejuntadas a seco e de cinco metros de altura.
Fora dessa área rectangular, no meio do mato, inúmeras pilastras, que deviam primitivamente ter sustentado vigas, sendo que algumas estavam envoltas por raízes de árvores, como um animal que se tomasse presa de gigantesca sucuri.
Sentia-se, no ambiente, aquele inexprimível ar de mistério.
— Sabem, meus filhos — ponderou Jonas C. Isto são ruínas...
Ruínas não sabemos do quê! Um solar?
Um convento?
Um quartel?
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:56 am

Talvez possamos tentar uma experiência de psicometria.
Depois de parar um pouco e de ficar com o olhar num ponto vago e indefinível, voltou a si e disse:
— Tragam-me um destes cacos de cerâmica ou objectos miúdos que vocês encontrarem nas ruínas.
José Ricardo, que já recolhera vários, entregou um a Jonas C. e este prosseguiu:
— Sentem-se todos. Vou fazer uma experiência que poderemos chamar de paranormal, mas que pode pertencer aos estudos compreendidos pelo Espiritismo Científico.
Este objecto, que José Ricardo me deu, poderá servir-me de guia indutor para a descoberta de alguma coisa.
Ele colocou o objecto na mão, sem apertá-lo.
Fechou os olhos e começou a falar:
— “Vejo uma jovem muito bonita, enfeitando-se, cercada de mucamas.
A casa toda regurgita de convivas.
Ê festa das suas dezoito primaveras.
Um garboso rapaz, trajado no melhor figurino de então, acompanha-a, dando-lhe o braço.
Vem-lhe ao encontro, um cidadão que parece ser o seu pai e abraça-o com emoção...”
Todos, nós, ali estávamos suspensos, quase sem respirar.
Que iria acontecer?
Algo, naturalmente, trágico.
Mas, Jonas C., melancolicamente, para nossa frustração, disse:
“A imagem retro cognitiva está sumindo... ora, sumiu... não vejo mais nada... Que pena!”
— Como pode ser isto? - perguntou surpresa, Adriana.
— Isto é um tanto complicado.
Este mimo antigo de cerâmica é um alvo-testemunho.
Ele pertencia à jovem, filha do dono deste solar, que sempre o trazia consigo e que o estimava muito.
Este objecto serviu agora, para estimular as minhas faculdades paranormais, colocando-me em sintonia com factos que se passaram.
Ou possivelmente, como querem outros, esse objecto, à maneira de um “tape”, fixou tais cenas que, então, captei.
— Poderia acontecer de, em se continuando essa leitura, chegasse você a desvendar o passado daquela família e o seu fim? — voltou à carga Adriana, muito dada a fazer perguntas, motivo que levava Jonas C. a chamá-la de “Zum-Zum”.
— Perfeitamente, pois a psicometria é muito complexa e ninguém pode defini-la e delimitá-la perfeitamente.
O espírito dessa jovem poderia vir a entrar em contacto comigo, em telementação, isto é, a sua mente espiritual com a minha.
Então, eu começaria a falar todas aquelas coisas que estariam no conhecimento do seu espírito.
Eu revelaria para vocês as memórias dela.
Ernesto Bozzano, pesquisador italiano, em Enigmas da Psicometria, relata que da Índia chegou uma caneta que entregaram ao médium-sensitivo, Roberto King, sem lhe dizerem a origem.
Este tomou o objecto na mão e disse:
Ê de uma criança, porém, falecida.
E ela me diz:
“Shanti, palavra cujo significado ignoro”.
Os pesquisadores encaminharam este e outros relatos do sensitivo para a Índia e de lá veio a confirmação:
“O dono dessa caneta era um menino, com as características físicas descritas pelo sensitivo ou paragnosta.
A palavra “Shanti”, esse moleque indiano costumava pronunciar, quando cumprimentava o seu pai todos os dias, ao levantar-se”.
— Pôxa! Que coisa misteriosa e linda — exclamou Sónia Thomaz, para quem tudo que pertencia ao mundo oculto se lhe constituía irresistível atracção.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:57 am

— Nem sempre a psicometria nos leva para a lindeza — observou Jonas C. sorrindo.
Um tal de Gerard Croiset, holandês, ajuda a polícia a descobrir pessoas desaparecidas.
Às vezes, a família aflita ainda tão esperançosa, sente um baque tremendo, pois o psicómetra vai descrevendo:
“Dino saiu de casa cedo.
Tomou um táxi até a praia.
Está sozinho.
O lugar é ermo.
De repente, três marginais o cercam.
Um lhe segura as mãos.
Outro o revista.
Tiram-lhe os pertences.
Roubam-lhe a roupa.
Ele luta denodadamente.
Matam-no a pauladas.
Fica todo deformado.
Para evitar reconhecimento, amassam-lhe o crânio.
Jogam o corpo numa furna de pedras, a vinte passos de um caminho que liga a praia ao vilarejo...”
— Assim, também, não...
Já pensaram no golpe para os pais? — obtemperou Neusa, naquele seu modo suave e encantador de falar.
— É por isso — concluiu Jonas C. — que Deus, infinitamente sábio, limitou-nos o poder de devassar o lado oculto.
Nem sempre o que se situa além de nossa visão normal é bonito.
E nem sempre saber-se isto ou aquilo, é-nos um bem.
Tudo fica hermeticamente trancado e dizem os sábios que, só quando o aluno está preparado, é que o Mestre aparece, isto é, na linguagem popular de Jesus:
“Não se dão pérolas a porcos”, mas a quem possui já condições de receber as revelações.
— Então, o Espiritismo não estimula estas curiosidades? - indagou José Ricardo.
— Não estimula, de modo algum.
O Espiritismo combate qualquer tipo de curiosidade, quando seja simples curiosidade, sem objectivo elevado ou de estudo.
Tanto é verdade que nunca alguém viu o Espiritismo anunciar leitura de “buena-dicha”, bolas de cristal, etc.
Até mesmo sessões de materialização devem ser realizadas com propósito definido de estudo e não a título de satisfazer a curiosidade de meio mundo, sem preparo mínimo para interpretação do fenómeno.
É necessário que o homem saiba que existem tais possibilidades, mas que não as tomemos levianamente.
A senda do saber nos leva a matar o dragão da ignorância, enfrentando os seus segredos, mas que, nem por isso, nos tomemos imprudentes.
Todos ouviam Jonas C. embevecidos.
Ele, agora, parecia-nos um Siddártha Gautama, debaixo da árvore bodhi, em Urevala.
Apenas parecia, porque era muito diferente, pois de repente ergueu a sua possante voz e gritou:
— Vamos, cambada...
Nada de moleza...
Estão pensando que vieram, aqui, assistir a espectáculo psicométrico-retrocognitivo?
Vícios da TV e... das telenovelas.
E juntando a tralha, que não era pequena, composta de varas, esteiras, cordas, picarés, foi distribuindo-as pela macacada.
As motucas se refestelavam.
Mordiam, tão duro que Tedy começou a dizer:
“Ah! o Sr. Poti Denizard e Iracema dos lábios de mel”, referindo-se aos autores intelectuais daquela aventura, a linda Pamele e o atlético Denizard.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:57 am

PERGUNTAS E RESPOSTAS
JONAS C. tinha faculdade paranormal?
— Sim, pois, tomando um objecto “viu” aquilo que os rapazes não viam; cenas que se passaram naquelas ruínas em tempos remotos.
A isto chamamos, também, pelo nome de percepção extra-sensorial.
Jonas C. viu o passado e a isso se denomina retro- cognição (retro = para trás).
Mas, também, poderia Jonas C. ver o que se estava passando em sua casa, naquele momento e a isso chamaríamos simulcognição (simul = ao mesmo tempo).
Quando uma pessoa vê o futuro, ao facto, denominamos precognição (pré = antecipado).
Que vem a ser parapsicologia?
— É o estudo desses fenómenos — inusitados captados ou provocados por faculdades paranormais.
Se uma pessoa lê um livro pela nuca, eis um fato insólito que cabe à Parapsicologia estudar.
Se outra enxerga através de uma porta de aço, eis outro fato estranho, que cabe à Parapsicologia apreciar.
Se um objecto é retirado de uma caixa hermeticamente fechada e lacrada, eis outro fenómeno para se pesquisar.
Existe uma palavra mais adequada do que Parapsicologia para tal estudo, ou seja, Psicobiofísica, adoptada já por eméritos pesquisadores, principalmente pelo engenheiro e cientista Hernâni Guimarães Andrade.
Vejam o livro:
“Em busca da Matéria Psi” da nossa autoria em parceria com o parapsicólogo Prof. Henrique Rodrigues.
A parapsicologia "explica” os fenómenos espíritas?
— Pelo contrário: quem estuda o Espiritismo Científico é que fica habilitado a explicar os fenómenos da Parapsicologia.
Suponha você um círculo de 10 metros de diâmetro.
E, nele, inscreva um pequeno círculo de 1 metro de diâmetro.
O círculo grande chama-se Espiritismo e o pequeno círculo, Parapsicologia.
Assim, quem estuda profundamente o Espiritismo Científico está em condições de explicar os fenómenos estudados pela Parapsicologia, pois quem estuda o maior conhece o menor; quem estuda o Brasil, evidente que conhecerá São Paulo.
E o contrário pode não se dar.
Sendo os fenómenos parapsicológicos de natureza extra-sensorial, portanto, além dos cinco sentidos físicos do homem, isto prova que este é um ser extra-físico, ou melhor, espiritual, como ensina Allan Kardec.
Se prevalecesse o ponto de vista materialista, o homem não poderia ver, sem o órgão próprio, chamado olhos!
Se isto acontece e a Parapsicologia o comprova, importa admitir a existência do espírito, que poderá viver, sentir e perceber sem os órgãos físicos.
Se você, estando deitado, no seu quarto em São Paulo, consegue saber, num dado momento, o que está se passando, na casa de um seu amigo, em Paris, é porque o seu espírito se deslocou para fora do corpo carnal ou percepcionou através das suas próprias vias espirituais polidimensionais, sem os entraves da prisão do corpo físico.
O que a ciência académica sabe do homem é apenas aquilo que está na superfície do ser, no seu aspecto fisiológico e de natureza concreta e que ela pode medir, pesar e comparar.
Para que o homem venha conhecer melhor a si próprio, indispensável é que estude o Espiritismo Científico bem como a Parapsicologia e outras disciplinas que penetram níveis que ultrapassam a Física e a Biologia.
Deixamos de nomear o excelso caminho da busca da Realidade Interna e outras vias de iluminação, por se tratarem de experiências subjectivas, que escapam ao método cartesiano.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:57 am

Capítulo II - O COMEÇO DO COMEÇO
A trilha ladeava um alagado e depois subia pelas encostas até que, como se nos abrisse uma janela de repente, olhávamos para a amplidão do mar aberto.
— Não sei por que os pintores não buscam lugares como estes para fixar em telas, cenários marítimos tão comoventes e indescritíveis — murmurou Neusa.
— Ê que o artista, conforme deixa de ser principiante, busca o dinamismo e então quer fazer o mais difícil, mas não o mais belo.
Mesmo na Faculdade, os professores de Arquitectura nos ensinam que ninguém criará nome, se não se tornar arrojado, — obtemperou Oirâm que estudava engenharia.
— Realmente — atalhou Jonas C. — em todas as artes existe essa pressuposição de que ela deve ser virtuosismo ou criatividade, mesmo que forçada, preferindo-se criar mal, a repetir bem.
Existe um desprezo por qualquer artista que retracte o que já existe.
Daí que, não possuindo o artista criatividade suficiente e nem estando inspirado, torna o seu produto artístico mero borrão ou ajuntamento de notas chocantes ao nosso ouvido.
— No entanto — voltou a ponderar Neusa — eles não sabem que o público, na verdade, adora o belo, sem cogitar se foi Deus ou o homem que o elaborou.
Podem possuir quadros famosos, mas olham mesmo para aqueles que lhes transmitem uma emoção agradável.
Penduram Picasso na sala, mas se deleitam com Almeida Júnior.
Com estas e mais aquelas, tínhamos alcançado a praia, de areia alva e pura como sal-gema.
O mar era mais azul do que o próprio céu. Todos desejavam banhar-se, na mesma hora, se Jonas C. não fosse enérgico.
Importava arrumar as coisas.
Colocar linha e anzóis nas varas, distribuir pelo chão os apetrechos.
Só depois de tudo arrumado, com ansiedade, os mais velhos lançaram as suas linhadas na água, enquanto os mais novos mergulharam nas ondas.
Às tantas, ouviu-se um gritinho, acompanhado de gemido:
— Ui! Uui! Era Juninho, o caçula, contorcendo-se de dor.
— Que é que foi?
— Pisei num negócio esquisito e mole e... está queimando...
Queima pra chuchu.
— Ah! meu filho, você pisou numa água-viva.
— É bicho, isto?
— Sim, Juninho.
Ê animal marinho, uma medusa, parecida com clara de ovo, mas possui células que queimam igual à urtiga...
Depois de uma pausa, em que se abaixou e soprou o vermelhão da queimadura, Jonas C. caçoou:
— ... Você, Juninho, está sendo honrado com a agressão por parte de um dos bichinhos mais antigos do mundo.
É como se a água-viva estivesse lhe dizendo:
“Saia pra lá, seu filhote de macaco".
— Por que essa tal de água-viva está, assim, me achando um intruso?
— Vejam, vocês, que estes animais vivem aqui nessa praia e nós nos intrometemos na vida deles, tirando-lhes o sossego e até a vida.
Houve um tempo, na aurora do mundo, em que não existia nenhum ser humano na face da Terra e essa água-viva vagava, balouçante, nas águas tépidas dos mares.
Jonas C. fez-nos subir numa pedra alcantilada, onde se dava a arrebentação das vagas que, ao lado, formavam um poção verde-azulado de águas profundas.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:57 am

— Olhem que enormes tartarugas!
Esses animais, com tais carapaças duras, são tão antigos que poderíamos falar em milhões de anos, quanto à época do seu aparecimento.
Um naturalista diz que a tartaruga existe na Terra, faz tanto tempo, que parece ter vida imortal!
O mar, meus filhos, — falou mais acentuadamente Jonas C. — é depósito de fósseis vivos.
Os paleontologistas cavam a Terra e descobrem ossos de animais pré-históricos.
No mar, não; tais animais estão aí vivinhos da silva!
Nós somos filhos do mar.
Tanto assim, que o nosso corpo possui mais água do que sólidos.
E o nosso plasma sanguíneo tem parecença com a água do mar.
Jonas C. fez-nos descer daquele costão perigoso e induziu-nos a que sentássemos em pequenas pedras para que descansássemos.
Depois, ainda continuou a falar-nos, batendo na rocha:
— Vocês estão sentados nestas rochas duras.
Estas pedras representam o extremo da vida.
Representam o fim do hálito do Criador.
Pois bem, a Terra, durante milhares de milhões de anos, não possuía vida alguma!
— Nem um gafanhotinho — disse Juninho — apertando entre os dedos um louva-deus, que encontrara no capim.
— Nem uma borboletinha, um grilinho, nadinha — repetiu ironicamente Jonas C., sorrindo.
Nem um capinzinho.
No começo do começo, a Terra estava mergulhada numa tremenda escuridão.
Os raios do sol não conseguiam varar a massa compacta de nuvem d’água e vapores que envolviam o nosso globo.
— Coisa horrorosa! — murmurou Kátia. Só de imaginar, fico arrepiada.
— Isto de escuridão e ausência de vida não era nada.
Por todos os lados, vulcões vomitavam fogo, água e dióxido de carbono.
Chovia seguidamente, mas as rochas eram tão quentes que a chuva se evaporava antes de tocar a crosta.
O mar fervia.
— Então, este meu doce mar, que tanto amo — disse cheia de calidez Neusa — era o caldeirão do diabo!
— Não digo isto, pois muitas coisas necessitam ser antes feias para depois se tomarem bonitas, como o Patinho feio que virou Cisne Real.
Eu acho que era como o tacho da tia Nastácia, do Sítio do Pica-pau Amarelo, quando fazia goiabada.
Ela botava fogo forte nos pedaços de goiaba com açúcar e aquilo ficava borbulhante e até pulando fora do recipiente.
Mas depois...
— Depois era aquela goiabada de fazer estalar o beiço de Pedrinho e Narizinho — acrescentou Tedy.
— É isso aí.
A Terra nesse começo do começo, era um grande tacho onde Deus, através do seu amor e vontade, auxiliado pelos Espíritos Co-Criadores começou a preparar o berço do homem.
Gastaria milhões de anos mexendo esse angú.
— Então, esse nosso Pai é lerdão — sugeriu Oiranzinho que, pela primeira vez, interferiu — ... pois meu pai faz bolo ou uma pizza, junto com o tio Nilo, em dez minutos.
Todos acharam graça da comparação.
Jonas C. puxou para junto de si o Oiranzinho, alisou-lhe a cabeça e disse:
— Deus, de facto, faz as coisas devagar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:58 am

Para que existisse uma rosa, em nosso jardim, gastou milhões de anos.
Devagarinho a Terra foi se esfriando, como também tia Nastácia esfria na pedra-mármore o doce-de-leite.
Então, aquele mar borbulhante se tornou o que é hoje.
Nele começaram a aparecer plantas aquáticas, que ficavam balouçando nos mares primitivos, durante 1000 milhões de anos, sem se alterarem.
— É como se Deus tivesse esquecido do que estava fazendo?! — propôs Pixoxa, admirada.
— Aparentemente, sim.
Mas tudo estava dentro das leis sábias do Senhor.
Algas, semelhantes a estas que vocês encontram nas lagoas, passaram do mar para as terras baixas e se tornaram musgos, fetos e plantas dotadas de folhas.
Quando a Terra se cobriu de vegetação, os seres aquáticos se aventuraram a buscar alimento fora da água.
Tomaram-se anfíbios, isto é, podiam viver na água e no continente.
Esses anfíbios, tornaram-se animais gigantescos e dominaram o planeta Terra durante perto de cinquenta milhões de anos.
Um deles, o Brontossauro era tão grande que pesava 30.000 quilos!
Na hora aprazada, todos desapareceram da Terra, para dar lugar a espécies ágeis e inteligentes, que necessitassem de menor quantidade de alimento.
— Mas por que Deus, Todo-Poderoso, não fez as coisas assim, como num passe de mágica, à maneira de Mandrake? - perguntou Cecilinha que ainda adorava revistas em quadrinhos.
— Acontece que, para Deus, tudo foi feito depressa.
Para Ele, um bilhão de anos é menos do que um minuto para nós.
— Deixe-me pensar... um bilhão igual a um minuto... — isto dá para fundir a cuca da gente — exclamou Cecilinha, que não era muito boa em matemática.
Jonas C. achou graça em Cecilinha e prosseguiu:
— Não adianta fazer cálculo.
Se você escrever num papel um algarismo atrás de outro, até o fim da sua existência, não terá chegado a escrever um número que signifique o tamanho do Universo.
Não faz muito tempo, no Observatório do Monte Palomar conseguiram fotografar uma galáxia e verificou-se que ela fica tão distante que um raio de luz levaria 2.000 milhões de anos para vir da mesma até o Planeta Terra!
Ora, vocês sabem que a luz percorre 300.000 quilómetros por segundo!
Novamente, Cecilinha, desta vez com um lápis, escreveu 300.000 quilómetros e tentou multiplicar por 2.000 milhões.
Mas, desistiu, com um arzinho de enfado.
— Eu já disse — observou Jonas C.
São cifras estas astronómicas.
Quem sabe onde fica o nosso planeta Terra?
— Eu sei — levantou a mão Tedy.
À noite a gente vê, no céu uma faixa, semelhante a uma estrada de poeira argêntea. Daí chamar-se Via Láctea.
Todos pegaram no pé do Tedy.
Aquelas expressões poéticas, como essa de “poeira argêntea”, eram próprias de quem andava, às escondidas, escrevendo as suas memórias.
Quando a turma se distraía, ele tirava um caderninho do bolso e escrevia um bocado.
Produzia já um jornaleco, que batia à máquina, chamado “Folha da Casa”, mas que o seu pai dizia ser um saco de besteiras.
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JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia Empty Re: JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia

Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 9:58 am

— Pois bem, seu sabichão.
Essa aglomeração de corpos celestes chamada Via Láctea, onde este nosso mundo gira, tem um diâmetro de 100.000 anos-luz.
Se você, Tedy, se acomodar numa astronave e sair voando a 300.000 quilómetros por segundo, daqui a cem mil anos você terá atravessado a Via Láctea!
E, no entanto, essa Via Láctea é uma das milhões de galáxias que há no Universo.
Pelo menos, segundo o astrónomo Sir James Jeans existem 100.000.000 de vias lácteas!
Aí fui eu que fiquei, em lugar da Cecilinha, a matutar como Deus era grande, pois, não podia existir um espacinho onde Deus não estivesse.
Este pensamento me deu um friozinho no fundo da barriga.
O meu pensamento foi cortado, pelo próprio Jonas C. que continuou:
— Deus é infinito. Mas vocês já imaginaram a força física de Deus, pois o homem ainda se deixa impressionar por isso.
Ele faz girar a Terra como fazemos girar um peão.
Assim, o sol e todos os triliões e triliões de estrelas do Universo.
Para Ele isto é brinquedinho de criança.
O astrofísico Jesse L. Greenstein, através de radiotelescópio, localizou no espaço um agregado estelar explosivo, equivalente à soma da energia de 10 bilhões de estrelas!
— Se Deus soltasse uma bomba dessa na Terra — obtemperou Tedy — sem saber, realmente, estabelecer uma correspondência — a Terra desaparecia que nem fumaça...
Jonas C. parece que ficou pensando no poder de Deus e na insignificância do homem.
Por que, afinal, Deus permitia tanta empáfia e até mesmo um ridículo desafio do homem, sem esmagá-lo como um verme?
Mas, depois de contemplar o céu, observar os passarinhos em revoada, as árvores sobranceiras erguendo-se para a amplidão, enquanto, no solo, as humildes vegetações rasteiras se apresentavam em enrodilhados encantadores, observou:
— No entanto, toda essa dimensão e toda essa força se subordinam a dois modos de ser da divindade:
a Inteligência e o Amor.
Não adiantaria existir essa força temível se ela não fosse comandada pela Inteligência e não se entretivesse harmonicamente através do Amor, para a realização do Cosmos e de tudo que ele contém.
Ah! como eu gostaria de que os homens meditassem nisto:
que o mundo é algo inteligente!
Maravilhosa a inteligência de quem faz a seiva circular na planta, o nosso coração bombear o sangue através de 95.000 quilómetros de vasos sanguíneos!
Maravilhosa inteligência que elaborou este prodigioso órgão chamado cérebro humano, máquina delicada capaz de realizar operações incrivelmente complicadas; transformando impulsos vibratórios em imagens, sons e paladares!
— E onde ficaria lugar para o Amor? — indagou Fer.
— O Amor é a força centrípeta.
É o que faz com que tudo se volte para Deus. Graças ao Amor, o todo universal mantém-se coeso.
Toda alma, demore mais ou menos tempo, caindo aqui, levantando-se ali, nascendo, tomando a nascer, vai progredindo sempre, cada vez mais bela e mais luminosa, rumo ao Senhor de todas as esferas.
Essa atracção é o Amor do Pai por todos os seus filhos.
Nesse momento Jonas C., emoldurado naquela paisagem, num ponto assim mais elevado, sugeria-nos a imagem daquele Profeta da Montanha Azul, a que certa ocasião se referira.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:46 am

Parece que Jonas C., fazendo como o pintor que contempla o seu quadro, dá um passo para trás, outro para frente e, com o pincel, coloca um pinguinho de tinta na composição, ponderou:
— Somos elaborados por uma super-inteligência, mas sobrevivemos pelo Amor.
Tínhamos descido a vertente e caminhávamos na praia.
O sol tinha já desaparecido, como se fosse um pássaro de fogo que tivesse mergulhado no mar e o deixasse todinho envermelhecido.
A água fresca beijava-nos os pés e, em toda a extensão, comprazia-se em criar verdadeira fantasmagoria naquele maravilhoso lusco-fusco.
À distância divisamos um vulto.
Era Denizard.
Gritou, de longe, entusiasmado:
“Olhem os peixes que fisguei.
Pescada cambucu, na dura...
Enquanto vocês conversam fiado, cumpro o meu programa.
Poesia e filosofia não enchem barriga de ninguém.
Ao que Jonas C., em tom altissonante, respondeu:
— Não tem nada, não.
Amanhã, iremos à forra.
E você vai ver o tutano aqui do velho, com ou sem filosofia.
— Hoje, Monsieur Denizard, pescamos estrelas...
— E eu — acentuou Fer — quase cacei um brontossauro, na lagoa, que denominamos “Aurora dos Tempos”.
Jonas C. como que respirando fundo, para haurir a brisa que vinha do mar, obtemperou:
— Num passeio, cada qual tira dele o que deseja o seu espírito.
Daí que muitos comem até cair no chão empanturrados; outros amam, alguns se exaltam, enquanto há os que se enlevam e se elevam nas asas dos sonhos.
E você, Janina, que é que aproveitou desta aventura selvática?
Janina tinha sido criada em Colégio Interno de uma ordem religiosa.
Pela primeira vez, havia deixado o estabelecimento para cursar o vestibular, motivo por que se sentia, muitas, vezes, deslocada no meio da juventude de “blue-jean”.
Agarrava-se, talvez por isto, excessivamente a Jonas C.
Muito meiga e delicada, respondeu:
— Eu tive vontade de naquele altar de pedra, que descobrimos, em continuação à prainha da Perambeira, eu... desejei me ajoelhar e orar, agradecendo ao Pai tanta beleza e bondade.

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Como o Universo foi gerado?
— Pelo pensamento e vontade de Deus, ou seja, em virtude do poder do Espírito Divino e através das suas leis.
Evidente que não podemos conhecer o porquê, pois só mesmo Deus sabe todas as coisas.
Teria sido fruto do acaso?
— Jamais, fruto do acaso, pois o acaso não é inteligente; e no entanto o Universo foi construído com tanta sabedoria que só pode ser efeito de uma causa inteligentíssima.
Se você tem dúvida, pegue o seu relógio de pulso e desmonte-o, pecinha por pecinha; jogue tudo dentro de um saco; chocalhe o saco, um, dois ou três anos.
No fim desse tempo, verifique se o acaso montou o relógio!
Se o acaso não é capaz de apenas montar um relógio, que dirá de fazer um sol, planeta, satélites, galáxias, animais, vegetais, etc.
Sobretudo, o homem é um ser inteligentíssimo, que fabrica a TV, voa e até já foi à Lua.
Ele, o homem, poderia ser efeito do acaso?
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:46 am

Deus criou cada ser, de per si, como a árvore, o elefante, a pulga, as estrelas ou foram eles surgindo lentamente no cenário terreno?
— Não nos parece que o aparecimento das coisas tenha sido dentro do chamado criacionismo ou fixismo como consta da Bíblia.
Ao menos, a ciência, principalmente, através da astronomia e da paleontologia constata que as coisas surgiram de maneira simples e natural, em muitos pontos da terra, conforme as condições permitiram.
A Terra, no começo, era massa amorfa e caótica.
Durante bilénios, ela foi se definindo e as partes foram se destacando, como a água, a rocha, os vegetais, os animais, em processo evolutivo ou de transformismo.
Consequentemente, isto nos leva a pensar que Deus imaginou o mundo e este mundo vai se realizando da maneira semelhante ao que sucede com a semente que, dentro de si, traz projectada a frondosa árvore do futuro.
Logo, existe evolucionismo ou transformismo, mas não por tenteios vagos e resultantes de ocorrências casuais, como quer o materialista, mas em virtude de um plano inteligente superior.
A vida, em si, tem alguma finalidade?
— Certo que deve ter.
Se o universo foi realizado por uma Sabedoria Divina, é lógico que essa Sabedoria não criaria um Universo complexo como o nosso, a título de. nada.
A vida que se espraia por todas as partes tem por escopo o aperfeiçoamento do espírito.
O espírito tem de evoluir até atingir o supremo grau de perfeição através da palingenesia, isto é, nascendo, morrendo e vivendo de novo.
No Universo tão grande, existem outros planetas habitados?
— O Espiritismo sempre sustentou a existência de outros planetas habitados.
Agora, a ciência não duvida mais e vive fazendo experiências para captar vozes do espaço intergaláctico.
Conforme cálculos feitos pelo Museu do Ar e do Espaço Smithsoniano de Washington, só na Via Láctea devem existir 500 milhões de mundos habitados!
Arthur C. Clarke, Presidente da Sociedade Britânica de Astronáutica e famoso escritor diz:
“Devemos considerar que há muitas raças no universo e muitas delas superiores e em desenvolvimento mais adiantado do que os terrícolas, em milhões de anos de existência na nossa frente”.
Hoje, os próprios clérigos esclarecidos não duvidam mais disso, que Allan Kardec ensinou.
O Rev. J. Joseph Lynch, prof. da Universidade de Fordhan disse:
“Não tenho dúvida alguma quanto a isso.
E muito menos de que existem seres tão evoluídos, no espaço, que para nós seriam como anjos”.
Exactamente como o Espiritismo ensina.
Que é ufologia?
— É o estudo dos misteriosos objectos ou discos voadores.
A palavra Ufologia provém da expressão “Unden-tified Flying Objects” que quer dizer “Objectos Voadores não Identificados”.
Cogita-se de que seres de outros planetas tenham visitado a Terra, desde a mais remota antiguidade.
A pesquisa é feita considerando as testemunhas visuais, documentos antigos que aludem a tais objectos e sinais recolhidos na paisagem terrestre.
As provas testemunhais são muitas, mas nem sempre convincentes; as provas documentais são valiosas, mas não decisivas e os sinais na Terra, de que eles desceram aqui, permanecem sempre em controvérsia.
Escapando ao nosso entendimento científico, a vinda de uma espaço nave de outro sistema até a Terra, hoje, em decorrência da maneira como eles aparecem e desaparecem, fez nascer a hipótese de que as leis de que se utilizam são semelhantes àquelas que o Espiritismo Científico e a Parapsicologia pesquisam nos aportes e outros fenómenos do insólito.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:46 am

No entanto o Espiritismo não tem nenhuma posição definida diante de tais “Objectos Voadores não Identificados”.
Que vem a ser exobiologia?
— É o estudo, em nível científico, da existência de vida fora do nosso planeta.
O termo exobiologia foi proposto pelo cientista Joshua Lederberg, dos EUA.
O famoso astrónomo Cari Sagan se consagrou entusiasticamente à descoberta de sinais de vida no Espaço Sideral e foi ele quem sugeriu que se colocasse, na espaço nave Pioneer-10, uma mensagem dirigida "aos habitantes de outros planetas”.
Empenhados em descobrir vida em outros planetas existem cerca de dois mil astrónomos nos EUA e quatro mil no resto do mundo!
Isto revela como a Doutrina Espírita sempre propugnou pela verdade, ensinando a Pluralidade dos Mundos Habitados.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:46 am

Capítulo III - VOCAÇÃO E VIDAS PREGRESSAS
O teatro D. Pedro II, em Ribeirão Preto, estava literalmente tomado.
Tínhamos ganho os ingressos do maestro titular Stábile, um italiano corpulento, atarracado, mas de carnes flácidas.
Na Itália dirigira proficientemente bandas de música.
No Brasil, se dedicara à regência orquestral, prestando um grande serviço à cultura musical interiorana, ainda incipiente.
Quando Gianela di Marco, com cinco anos de idade, subiu no podium, erguendo a batuta para comandar oitenta músicos da Orquestra Sinfónica de Ribeirão Preto, toda a plateia ficou em suspenso.
Ela, parecida com a travessa Shirley Temple da velha cinematografia, deveria àquela hora estar dormindo ou brincando com as suas bonecas.
No entanto, postava-se, ali, diante de 2.000 espectadores, a reger uma orquestra.
Cada número era aplaudido freneticamente pelo público, não tanto pela sua interpretação, mas em decorrência de forte corrente de simpatia.
— Como pode ser esse negócio — perguntou Martham, que estudava canto com o prof. Pedrinho Macedo, figura muito singular, mas a quem a comunidade muito devia pelo entusiasmo que transmitia a toda criança ou jovem, que se aproximasse dele, cantasse grosso ou fino, não importava a coloratura.
— Não pense você que é tão só milagre — respondeu simpaticamente D. Juju, regente do coral ribeiropretano.
A garotinha nasceu, naturalmente com esse dom, mas é evidente que se submete à disciplina férrea por parte do pai e professores.
Moacyr Caram, jovem promissor no bel-canto, que chegara a empolgar as plateias, no Concurso Internacional “O Grande Caruso”, obtemperou:
— Eu que diga.
Nasci cantando e os heróis da minha infância não esgrimiam espadas mas tocavam ou cantavam.
No entanto, necessito ensaiar noite e dia... até mesmo dormindo, eu exercito a respiração, a dicção, timbre, modulação.
A arte verdadeira não admite trapaças.
Já tínhamos saído para fora do auditório e nos corredores formavam-se os indefectíveis grupinhos de comentaristas e críticos improvisados, uns elogiando o clarinetista Russomano, outros boquiabertos com o desempenho do flautista Lania, enquanto que muitos descontentes com o oboé e o fagote.
Para surpresa nossa, percebemos que Jonas C. vinha vindo pelo corredor e já ia cruzando com a nossa turma, sem nos ver.
Barramo-lo.
— Aonde vais, Jonas C.?
— Para os bastidores.
Querem vir comigo?
Lá fomos nós, caminhando para o fundo do teatro.
Nunca tínhamos posto os pés num camarim de artista e estávamos excitados.
Nos fundos do palco, tudo era confusão, cordames misturados com cenários, flores artificiais empoeiradas com toalhas enroladas, estantes, caixas de instrumentos.
Cumprimentamos o “spalla” da Sinfónica, o violinista principal José Gumerato, o violoncelista Maneco, a pianista Edu Rangel, Luiz Baldo, Gilberto, Hércules e outros executantes.
A maestrina Gianella, ao ver Jonas C., veio correndo ao seu encontro, envolvendo-o com seus bracinhos e largando sem cerimónia autoridades e pessoas gradas que a cercavam.
Era um tiquinho de gente.
Tão frágil e delicada como “um biscuit” de Sèvres.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:47 am

Aquela intimidade de fonas C. com a menina recém-chegada da Itália, deixou- nos encabulados.
Mais tarde, explicou-nos:
— A garotinha se encantou comigo e eu com ela, durante os ensaios.
Privando do convívio da família Inechi, onde passava as horas de descanso, tratei de cativá-la ,e ela me cativou.
Naturalmente, ela era uma princesinha que habitava outro asteróide, o B-613, onde era cativa de um lírio e eu, uma raposa velha, neste deserto de homens, a valer o que nos conta Saint Exupéry em “O Pequeno Príncipe”.
Nada mais, nada menos.
Ademais, meus jovens, tenho imensa simpatia por músicos e como Gianella, eu também fui considerado um menino prodígio.
Meu pai, um alegre hoteleiro, punha-me a tocar bandolim, aos cinco anos de idade, para agradar os hóspedes e viajantes.
E sabem de uma coisa?
Eu detestava aquela exibição.
— Então, você, Jonas, é virtuose e nunca nos falou nada?
— Aí que está o negócio.
Tinha vocação, mas nunca cultivei suficientemente a música.
Vocação, sem cultivo, é como ter semente de alface da melhor qualidade sem utilizá-la correctamente.
— Como semente de alface? — indagou Edison, que apreciava filosofar.
Jonas C., com simpatia, esclareceu:
— Pegue a melhor semente de alface e plante-a sem ser em caixotes com terra fofa, deixe de transplantar na época, defender as mudas dos insectos, do sol ardente e elas virão tão raquíticas que nem mesmo galinhas as desejarão.
A arte é bem mais delicada do que a alface.
Ter semente não é tudo.
E, no mundo, há milhões de jovens com vocação completamente arruinada...
Depois de uma pausa, Jonas C. prosseguiu:
— No entanto, existe coisa pior do que isto.
São aqueles que pretendem que uma semente de alface produza melancia.
— Não entendi — respondeu Edison, cujo pai era consagrado pintor.
— Mas já vai entender — continuou lonas C. Schumann foi rapaz cuja família desejava que ele fosse advogado.
Colocaram-no na Universidade e deram-lhe a mesada para tanto.
Ele detestava o Direito, mas era apaixonado por música.
Escondido da família, deixava de jantar e, com o dinheiro economizado, pagava um professor de música.
Assim, se tomou um dos maiores músicos que a humanidade conheceu.
— Agora entendi.
A “semente-Schumann” era semente-música e não “semente-advogado”.
— Isto mesmo, Edison.
Torcer as vocações pode gerar desastres, na vida de um homem.
Tenho um amigo que é puríssima semente-músico.
Mas os pais obrigaram- no a ser advogado.
Depois de formado, enjoou da processualística judicial.
Por fim, não se tomou nem músico, nem advogado vitorioso.
E eu tenho certeza de que pelo seu descortínio, tenacidade e sensibilidade seria o Toscanini brasileiro.
Enquanto Jonas C. falava, eu pensava como este mundo era confuso.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:47 am

Não só na arte, mas em todas as profissões.
Afinal, de onde viria esse impulso que levava uma criança a beijar todos os santos do altar e aspirar ao sacerdócio?
Outro a ser um Villas-Boas desbravador de sertão?
Ou a construir edifícios na própria areia da praia?
E o nosso mestre a tocar bandolim?
Jonas C. parece que adivinhou o pensamento que não era só meu, mas de todos, dizendo-nos:
— Os meninos prodígios são um desafio à ciência.
A genética não explica como eles surgem.
Nós, espíritas, e aqueles pertencentes a diversas correntes orientalistas, justificamos o facto pela doutrina da reencarnação ou palingenesia.
Cada ser humano é um espírito que possui experiências consequentes de muitas vidas vividas.
Além do que, cada um de nós possui uma capacidade de captação tal qual o nosso aparelho de rádio.
Quando Miguel Ângelo Buonarroti surgiu na Terra, de certo modo já “sabia” como pintar ou esculpir; necessitava apenas recordar.
Leonardo da Vinci era tão avançado, para seu tempo, que chegava a fazer projectos bem desenhados de navegação aérea.
Não vamos alongar-nos muito, mas Mozart compunha pequenas óperas aos onze anos, Paganini dava concerto aos nove e Pepito Ariola improvisava ao piano, diante do rei e da rainha de Espanha aos 3 anos, causando admiração ao célebre cientista Charles Richet.
Semelhante a esta garotinha Gianella, tivemos o menino Pierino Gamba e Willy Ferreros, tendo este último, com quatro anos e meio, encantado Paris, regendo a orquestra da Folies-Bergères.
— Quer dizer, então, que possivelmente Gianella di Marco em outra existência já tinha estudado música?
— Exactamente.
Todos encontramos no inconsciente facilidade para aprendizagem disto ou daquilo, tendência e inclinações que são consequências de outras vidas.
Temos de passar pela roda da vida e em cada rodada aprender algo mais.
Já teremos sido rei ou vagabundo, quem sabe?
Humildes ou prepotentes.
Marisselma estava pensativa.
Presa a grupo familiar insensível a tais assuntos, aquilo tudo era como se lhe estivessem falando em aventuras ocorridas no Navio Fantasma de Wilhelm Hauff.
Daí que perguntasse:
— Quer dizer que eu, antes de ser filha do meu pai Paulo e mãe Carol, já existia?
Mas onde e como?
Não entendo...
— Você já leu o livro “Toinzinho e o Anjo Galdino” de M. B. Tamassia? — perguntou Dulce, com ar assim de sabichona.
Se você ler, saberá direitinho.
A gente antes de renascer vive em cidades espirituais, naquelas moradas a que Jesus se referiu, as quais iria preparar para os discípulos.
Nelas vivemos de forma parecida como vivemos aqui, pois não somos ali fumaça, mas gente.
A diferença é que o nosso corpo, no Além, é de matéria quintessenciada...
— Como? Quinto... o quê?
Essa aí lê um livrinho e já começa a dar uma de sabida — resmungou, em solavancos, Oiram.
— Sim, quintessenciada, isto é, matéria purificada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:47 am

Temos, no Além, casas, jardins, paisagens, colégios, divertimentos, muita música, amizades...
Mas, por necessidade de progresso, temos de “descer" à Terra para novas experiências.
Não poderíamos viver, na Terra, com o mesmo corpo quintessenciado que usamos lá.
Então, nossos pais nos propiciam um corpo feito de carne... tecido de células... este de que estamos usufruindo! Uns enxutos, outros adiposos!
Ora, foram seus pais, Paulo e Carol, que lhe presentearam o corpo. Você... você...
Dulce não ia para frente.
Ela sabia só até esse ponto.
Como é que o espírito se ligava ao corpo carnal, ignorava. Jonas C. então salvou a situação:
— Você, Marisselma, no espaço, foi sentindo uma soneira danada.
E com isso foi sofrendo um processo de miniaturização, isto é, foi se tomando igual a uma miniatura microscópica.
Mediante o auxílio de técnicos de reencarnação, você se imantou ao óvulo fecundado, no útero da sua mãe, onde passou a funcionar como minúsculo modelador biológico, ou campo estruturador da forma, imprimindo as suas linhas magnéticas nos turbilhões de células.
Você realizou inconscientemente um formidável trabalho de modelação de si própria, como ocorre na ideoplastia, através da qual se constata que um pensamento pode modelar a matéria.
Marisselma ouvia encantada aquelas estranhas revelações e, de repente, saiu com uma que cortou a explicação um tanto científica de Jonas C.:
— Quer dizer que eu, Marisselma, posso já ter sido Cleópatra, em outra existência? — e fez trejeitos e poses da Rainha do Nilo, como vira no filme de Elisabeth Taylor.
Todos riram dela, ao tempo que eu fiquei a imaginar Marisselma, muito alta e loura como Cleópatra, tendo ajoelhado a seu lado, nada menos do que Júlio César.
E não sei porque aquele Júlio César, que eu via, tinha a cara do seu namorado Chiquinho.
— Olha aí — exclamou Américo Jorge — que adorava gracejar com Marisselma.
Se ela foi Cleópatra, eu fui o grande guerreiro Saladino.
— Você, qual nada, você foi é camelo noutra encarnação — vingou-se Marisselma.
Jonas C. deixava-nos, assim, descontraídos, mas aproveitava os próprios desvios, para ministrar-nos ensinamentos úteis. Acentuou:
— Sempre que pensamos em vida pregressa, nosso egoísmo nos leva a imaginar que já fomos Alexandre, o Grande, Paganini, Marconi, Napoleão, enfim, gente importante.
No entanto, o mais certo é que tenhamos sido operários ou criaturas anónimas e de vida prosaica.
Algumas pessoas, no entanto, têm bom senso, como me foi dado verificar numa carta da cientista russa Bárbara Ivanova, endereçada ao prof. Henrique Rodrigues, do Brasil, na qual dizia ter muita vontade de conhecer o Brasil, pois, tinha convicção de, em encarnação anterior, ter vivido nos canaviais de Pernambuco!
O Dr. Elifas, que se encontrava de passagem, ouvindo a aula improvisada de Jonas C., observou:
— O homem realmente tem uma alta apreciação de si próprio.
Em minha Clínica Parapsicológica, apareceu uma dama da mais alta sociedade, em virtude de problemas nervosos.
Coloquei ao seu lado um sensitivo de captação e este começou a revelar uma personalidade dela de outra existência.
Infelizmente, tal personalidade não era a de Maria Antonieta, tampouco da linda Me.
Récamier, mas de negrinha desaforenta e mal-educada de favela do Rio de Janeiro...
Desnecessário é dizer que perdi minha louríssima e bem apanhada cliente.
Ela se julgou ofendida.
O diálogo ia caminhando nesse tom e jamais poderia imaginar que um simples concerto da Orquestra Sinfónica ensejasse tantos assuntos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:47 am

Mais longe ainda iria, pois Jonas C. arrematou:
— Eis o motivo da dificuldade na aceitação da reencarnação. Como desejariam que um nobre inglês aceitasse a reencarnação?
De que modo o admitiria a própria Rainha Vitória, que fez tantas sessões espíritas com o médium John Brown, que ficava à disposição no Palácio, a fim de que conversasse com o seu falecido Príncipe Alberto?
Ou digamos ainda, como um fanático da Ku-Klux-Klan admitiria poder renascer, na Terra, negro retinto?
Importa por outro lado, que, em virtude deste ensino, não alimentemos a preguiça nem nos mantenhamos num conformismo e estagnação prejudiciais ao género humano.
A doutrina da reencarnação, aceita com compreensão e sabedoria, seria suficiente para propiciar ao mundo a fraternidade sonhada, porque cessariam as diferenças raciais, as próprias posições sociais perderiam a importância e todos se sentiriam irmãos a caminho da luz, cada um vestindo o traje correspondente ao seu papel.
Foi nesse sentido que o grande pensador Maeterlinck escreveu:
“...nunca houve crença mais bela, mais justa, mais pura, mais moral, mais fecunda, mais consoladora e, até certo ponto, mais verossímil.”

PERGUNTAS E RESPOSTAS
A reencarnação é uma simples crença religiosa?
— Antigamente era uma crença, se bem que das mais antigas e respeitáveis.
Hoje, passou também a ser facto rigorosamente pesquisado em nível para científico.
Podemos anotar aqui o alentado trabalho do Dr. Ian Stenvenson, MD, Director do Departamento de Psiquiatria e Neurologia da Faculdade de Medicina de Virgínia, Estados Unidos.
No mesmo sentido, as pesquisas do prof. Hamendra Nat Banerjee, da Universidade de Rajasthan (Jaipur) e as do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psico-biofísicas dirigido pelo ínclito parapsicólogo, engenheiro Hernâni Guimarães Andrade.
As pesquisas desse tipo se caracterizam:
pela anotação do caso de reencarnação; constituição do grupo de pesquisa para o fato; compareci- mento no local; entrevista directa da pessoa que se lembra da vida pregressa e de todos os envolvidos pelo seu relato; bem como quaisquer outras testemunhas; levantamento de dados correlatos, elementos morais e materiais de convergência.
Em seguida, os dados são sintetizados e tabulados, permitindo, então, julgamento.
Equivale a um processo jurídico penal ou de diligência, para apuração de uma ocorrência, em que tudo é autuado.
Que vem a ser memória extra-cerebral?
— Ê uma expressão nova inventada pelo prof. Hamendra Nat Banerjee e sua equipe da Universidade Rajasthan para designar a lembrança que uma pessoa tem de fatos que não passaram pelo cérebro.
Se você se lembra de algo que não passou pelos seus sentidos físicos e não estimulou a sua massa encefálica, eis que se trata de memória mas... extra-cerebral.
Toda memória funciona na base de estímulo e resposta.
Se um jovem se lembra de que viveu em remota vila da Polónia, chamava-se Andreivitch, na rua tal, n.° tanto, etc., e que faleceu em 27 de dezembro de 1827 e, feita a averiguação, dão-se consideráveis concordâncias, eis que se trata de memória extra-cerebral, pois que o jovem não podia lembrar-se, normalmente, do que aconteceu quando ainda não tinha nascido!
Que vem a ser regressão de memória?
— Segundo definição da psicóloga Maria Lídia Gomes de Matos:
“É o método psicológico para provocar a memória dos factos do passado gravados no inconsciente.”
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JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia Empty Re: JONAS C. e os jovens / M. B. Tamassia

Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:48 am

Uma pessoa habilitada, através da hipnose, conduz o sujeito a estágios anteriores da sua vida, até a infância e, desta, à vida intra-uterina.
Acontece que, muitas vezes, o paciente passa a lembrar-se de uma vida que viveu antes de nascer.
Começa, então, a relatar às vezes, como se fosse no presente, estados emocionais vividos em existências passadas, mormente se participou de eventos trágicos.
Esse método, porém, só tem valor real, se os relatos forem confirmados, devendo, pois, ser aceito com as devidas cautelas.
Quais as ocorrências mais comuns que revelam reencarnação?
— Lembrança de crianças. Banerjee e seu grupo pesquisaram as lembranças de um menino chamado Gobal, pois este alegava chamar-se Sharma e ter tido um irmão que o matara, noutra existência, o qual fora seu sócio numa fábrica.
Feitas as diligências bem programadas, tudo foi confirmado.
Casos há em que o garoto nasce com sinais, como ocorreu com Jimmy que possuía quatro sinais redondos no corpo e dizia ter sido, noutra existência, John Cisko e que tinha sido assassinado a balas.
O neurologista, Dr. Ian Stevenson, comprovou o facto.
Uma jovem chamada Jacira se lembrava de ter sido noutra existência o jovem Ronaldo, que havia se suicidado.
O Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas pesquisou exaustivamente o facto, não deixando a mínima dúvida de que se tratava de genuíno caso de reencarnação (Jacira-Ronaldo — Monografia n.° 3 do IBPP — Hernâni Guimarães Andrade).
Trauma — Um trauma pode conduzir a pessoa a revelar uma existência pregressa.
Isto aconteceu com a menina Helena Marquard que, tendo sido acidentada na rua, foi levada ao hospital e ali começou a falar em italiano e a se identificar como sendo uma pessoa idosa, Roseta Castelani.
Naquele estado de inconsciência, dizia viver em Pádua e que tinha dois filhos Bruno e Branca.
O Dr. Schroeder, neurocirurgião, procurou tirar isso a limpo e verificou que em Pádua existira de facto Roseta Castelani, já falecida.
Os seus filhos Bruno e Branca ainda viviam e pôde entrevistá-los!
Lampejos — Ocorre que certas pessoas têm lampejos de lembrança, como ocorria com o Gal.
George Patton, célebre comandante na última grande guerra, possuído da absoluta convicção de ter sido soldado romano.
Gibran Khalil Gibran, grande poeta e filósofo árabe, dizia ter conhecido Jesus e vivido várias vezes.
Déjà-vu ou “já visto” — Impressão que tuna pessoa tem de que já esteve numa cidade, na verdade, desconhecida, mas que poderá descrevê-la com perfeição, acompanhada de profunda sensação de que andou por ali.
O Déjà-vu ou “já visto” pode referir-se a uma pessoa, objectos, inventos, viagens, leituras, paisagens, factos, etc. que nos sugerem a certeza de que já vimos antes.
Anúncio de volta — Casos há em que, por diferentes vias, até mesmo de comunicação do morto, é anunciada a reencarnação e ela se dá, dentro de tais pré-informações.
O Dalai-Lama, no Tibete, quando morre, é procurado pelos sacerdotes, numa criança renascida em determinado lugar e que se identifica reconhecendo certos objectos do morto.
Marcas de nascença — Crianças que nascem com sinais cuja origem elas explicam, como ferimento em vida pregressa.
Podem os espíritos revelar-nos quem fomos?
— Isto pode ocorrer.
No entanto, é necessário aceitar a revelação deste tipo, com rigorosa reserva, pois espíritos levianos ou médiuns influenciados animicamente, desejosos de adquirirem notoriedade, costumam, sem cerimoniosamente, dizer que tal fulano foi o Papa João XXIII, que uma jovem qualquer foi Ana Néri e beltrano, José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 9:48 am

Por que esquecemos?
— Porque Deus planejou assim e, pensando bem, foi maneira feliz de atenuar nossos problemas espirituais.
Quando reencarnamos, geralmente, temos faltas a pagar e provas a passar e, se soubéssemos, isto nos paralisaria.
Por outro lado, temos de acertar contas, amando a quem ofendemos em vida anterior.
Como nos sentiríamos se soubéssemos que nosso filho amado de hoje, foi, noutra existência, um ser que infelicitamos ou que nos supliciou?
Pode o cristão ser reencarnacionista?
— O próprio Jesus foi encarnação, pois, antes de Ele ser filho de José e Maria, era filho do Pai, que O enviou.
Ademais, em outras passagens, sugeriu a reencarnação, por exemplo, dizendo que Elias, que aguardavam ansiosamente, já tinha vindo, reencarnado como João Batista, a quem degolaram.
Quando Nicodemos, na calada da noite, procurou Jesus para saber como se alcançava o reino dos céus, Jesus lhe disse que “importava nascer de novo”.
Embora interpretem isto como o sacramento do baptismo, ninguém tem nascido de novo, com um simples ato ritual.
Também em Mateus 18:7,8,9, Jesus adverte que é melhor reencarnar-se coxo ou cego (“entrar na vida”) do que ter de enfrentar regiões infernalinas pós-morte.
Como conciliar a explosão demográfica e a reencarnação, se nascem muito mais do que aqueles que morreram?
— Se você estiver num vale confinado por altas montanhas de todos os lados, verá nuvens no céu e, depois, elas caírem em forma de chuva dias e dias, até meses, sem se esgotarem.
Como poderia suceder isto?
Isto se dá porque, além da visão restrita daquele vale, o espaço se prolonga ao infinito.
Fora daquele vale existe um grande oceano, que se está evaporando e dele subindo vapor e mais vapor, formando nuvens e nuvens que o vento leva sobre o vale, onde a chuva continuará caindo sem parar.
É necessário, pois, que nos capacitemos de que os mundos são ligados entre si e que os espíritos vão se deslocando de um a outro planeta geralmente em ascensão, formando, em cada um, reservas enormes.
Sabemos, por exemplo, que a população de espíritos existentes no Além é muitas vezes superior à actual que vive encarnada em nosso globo.
Que sentido importante tem a reencarnação?
— Sem a reencarnação, não seria possível justificar a justiça de Deus, pois os destinos são desiguais e muitos nascem já cegos, mudos, surdos, aleijados, dementes, e não tiveram tempo de cometer pecado algum nesta vida.
Uns nascem em berço rico, outros em lar miserável, este inteligente, aquele medíocre.
Sem a reencarnação, a vida não faria sentido algum.
É uma doutrina que explica o Ser, o Destino e a Dor. Leiam o livro “O Problema do Ser, do Destino e da Dor” de Leon Denis.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:16 am

Capítulo IV - O SONO E OS SONHOS
— Tive um sonho bacana, nesta noite — disse Kátia.
Sonhei que montei numa libélula e voei sobre montanhas, vales e mares.
Uma delícia e tudo colorido.
A libélula, de repente, se transformou num burro paqueiro que eu puxava, arduamente, de um atoleiro.
Depois de muita dificuldade consegui tirá-lo dali.
Olhei para o alto e aterrorizada vi que vinha sobre mim enorme águia e que falava como gente, convidando-me para viajar, com mais segurança, nela.
Então acordei.
Qual será o significado disto?
— Sei lá — respondeu a professora Regina.
A gente sonha coisas tão disparatadas.
Eu, por exemplo, durante anos, sonho que estou querendo parar um monjolo que faz aquele barulho típico “bum-bum-bum”, causando-me mal-estar.
Quando aflita tento parar a roda d’água, ela me arrasta para o rio e, então, acordo.
— Eu não sonho nada — disse Genoca que, enquanto falava, varria o terreiro.
Durmo profundo, tão profundo que o meu marido diz que poderão pegar-me, enfiar-me dentro de um saco e jogar-me no rio.
Mesmo assim, ele não tem certeza de que me acordarão.
Estávamos passando um fim-de-semana no pesqueiro Sinhá Junqueira.
O rancho muito bem construído, num ponto mais alto da barranca do rio, tinha no lado direito um campinho de futebol e na frente uma frondosa e secular figueira, cujas raízes chegavam a mergulhar nas águas.
Sentados nas suas nodosas raízes, estávamos, como que improvisando uma mesa-redonda em tomo do sono e dos sonhos.
Não houve integrante da turminha que não contasse o seu sonho.
Elza, moreninha muito bonita, a quem todos chamavam pelo apelido de Lolobrígida, também, acrescentou o seu caso:
— Eu durmo bem, mas mamãe diz que saio da cama, dormindo, vou à cozinha e depois volto.
Dizem que sou sonâmbula.
Mas não acredito nesse negócio.
Deve ser piada... *
De nada valia fazer uma mesa-redonda, sem que alguém mais competente apanhasse os fatos e os utilizasse para uma interpretação.
Só mesmo Jonas C. poderia fazê-lo.
Por isso, não resistimos ao impulso de interromper a soneca que ele estava tirando na rede.
Era hora da sesta, pois, com o sol a pino, ninguém naquela região se aventurava a enfrentar o sol causticante do meio-dia.
Daí que uns jogassem dama e outros baralho, enquanto nós conversávamos à sombra da figueira.
Jonas C. abriu os olhos e, sonolento, exclamou:
— Que é? Que querem?
— Desculpe. Estamos falando sobre sono e sonhos — tartamudeou Carlinhos, apelidado “Bolinha”, de tão roliço que era.
— E por causa de sonos e sonhos querem me enganar que não vão me deixar dormir?
E, afinal, moleque, por que você não está comendo?
Levávamos Bolinha nas pescarias.
Ele não pescava nada. Sumia.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:16 am

Quando davam por fé, sentado atrás da porta ou dentro da perua, devorava todas as viandas, pastelões ou bolos, deixando a turma na mão.
— Eu não tenho culpa, “seu” Jonas...
Foi o Fer que mandou.
Jonas, depois de tais costumeiros protestos, não resistia ao fascínio dos que desejassem aprender.
Afinal, aquilo lhe era convidativo.
Então, esclareceu à turma:
— O sono, até hoje, não tem sido explicado satisfatoriamente.
É verdade que recentemente estão estudando-o mais a fundo, utilizando aparelhamento electrónico, principalmente o electroencefalógrafo que registra as ondas cerebrais, num traçado conhecido pelo nome do electroencefalograma ou, abreviadamente EEG.
Assim, já sabemos que o cérebro continua funcionando enquanto dormimos, nossos olhos se movem, como se acordados estivéssemos.
Registando-se, porém, tais ondas constata-se que o sono não se conserva sempre igual, mas assemelha-se ao mar que se eleva, em virtude de maré, ao mesmo tempo que as ondas crescem ou decrescem, mas em ritmos classificáveis em ondas do ritmo alfa, próprio da vigília, até atingir o mais profundo e calmo estado, no ritmo delta.
Se uma pessoa for acordada na fase mais superficial, ela se lembra do sonho.
Se, porém, for acordada na fase mais profunda, em ondas deltas lentas, não se lembra do sonho.
Daí que as lembranças dos sonhos sempre sejam das mais incoerentes, que se dão em estado superficial.
O sono profundo, profundíssimo, é indevassável.
A ciência não consegue saber qual seria o nosso estado consciencial.
O sono profundo seria irmão da morte, como dizia Francisco de Assis?
Todos ouvíamos encantados as explicações, mas sempre há os que não permitem que as exposições prossigam.
E foi Kátia que, interessada no seu problema pessoal, importunou Jonas C.
— Mas, afinal, eu já lhe contei, várias vezes, o meu sonho da libélula e você não me disse nada...
— Sim. Também com tanto bicho no mundo, você vai logo escolher uma libélula, que não serve, nem mesmo de palpite para o “jogo do bicho”...
Foi só gargalhada. Kátia ficou encabulada.
Jonas C. não aguentava um rostinho zangado e, tendo parentesco com ela, abraçou-a com muita ternura e disse:
— Sabe, Kátia, eu não sou oniromante.
Oniromante é aquele que adivinha pelos sonhos, isto é, pratica a oniromancia.
José, filho de Jacob, foi vendido pelos seus irmãos e o levaram para o Egipto.
Ali era um pobre escravo e ficaria sempre assim, não fosse um sonho enigmático do Faraó.
O Faraó havia sonhado com 7 vacas gordas e 7 vacas magras.
Como José vivia adivinhando sonhos de pessoas humildes, indicaram-no ao Palácio como sendo o único adivinho que poderia dizer o significado do sonho do Faraó.
Realmente, José preveniu o Faraó de que o Egipto teria sete anos de muita fartura e excelente colheitas, mas que, depois, passaria sete anos na penúria.
Com isto, o próprio Faraó o designou Primeiro Ministro, para que tomasse as providências necessárias.
Embora essa passagem bíblica nos pareça enfeitada, muitos adivinhos se enriqueciam, granjeavam posição de destaque na corte, à custa de interpretação dos sonhos, se bem que aos outros, infelizes, quando erravam na adivinhação, o rei mandava cortar-lhes a cabeça.
Eis, pois, queridíssima Kátia, que eu não estou muito disposto a que você me corte a cabeça ...
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:17 am

Kátia não sabia o que dizer e, no fundo, achou Jonas C. muito finório.
Mas este foi um pensamento injusto, porque Jonas C. continuou:
— ... Acho que você vai passar por momentos agradáveis e felizes.
Subir, levitar, voar, tudo colorido!
Depois, vai se atolar no brejo.
Tão logo você consiga sair desse estado de dificuldades, será convidada para nova aventura, mas, diferente da anterior.
Vão enganá-la.
Esse novo convite é de gente águia, maliciosa e mal intencionada.
Portanto, cuidado, garota...
Beatriz nem piscava os olhos.
Para ela, aquilo tudo era palpitante.
Falou-se em horóscopo, “buena dicha”, cartomancia ou quiromancia, estava para ela!
Por outro lado, a sua própria vida lhe parecia um estado de sonho, como se não existisse realidade.
Então, buscava no mundo oculto aquilo que não achava neste.
Sonhava frequentemente com um bonito jovem, atrás de quem corria até não poder mais.
Quando o alcançava, olhava bem no rosto dele e a sua face de galã se transformava em máscara debochada de folião carnavalesco.
Daí por diante era ela que atemorizada saía correndo e o rapaz, perseguindo-a.
Sempre, assim, neste círculo vicioso.
Ela contou isto com a sua vozinha muito doce, ao que Jonas C. observou:
— Já disse que não sou versado em tais artes divinatórias.
No entanto, penso que a sua vida será sempre assim, ao menos durante muitos anos.
Você vai andar no calcanhar dos namorados.
Quando eles toparem, você fugirá.
Nunca você encontrará aquela identificação entre o que você imaginou e o que encontrou.
— Mas por que isto?
— Não sei, mas pode ser um condicionamento de outra existência.
Quando a Psicanálise enveredar pela vida pregressa verá que muitas reacções actuais do ser humano se situam em traumas que trouxe de vida anterior.
Você já nasceu com um instinto de defesa muito grande, embora isso ficasse no seu inconsciente.
— E eu? — disse Soraia.
Os jovens me são indiferentes.
Não consigo gostar de ninguém...
— Você, Soraia, está me tirando fora da jogada.
Estamos interpretando sonhos e não analisando traumas.
No entanto, muitas criaturas não encontram na Terra a pessoa a quem desejariam entregar-se de corpo e alma e amar profundamente.
É que o seu verdadeiro amor, a sua alma afim poderá estar no Além ou morando noutras plagas espirituais.
Buscam em vão.
Por fim, se não acharem, terão de se conformar, na certeza de que os filhos preencherão todos os vazios do coração.
Enquanto dava essa explicação, eu pensava como a humanidade sempre haveria de ser incompleta.
Se a nossa verdadeira vida era a espiritual e a nossa pátria, aquela no Além, nessa questão de querer bem, amar, sonhar, poderíamos não sentir nunca uma satisfação plena.
Onde estaria a alma querida da nossa alma?
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:17 am

Jonas C. talvez pensasse a mesma coisa.
Nunca se casara.
No entanto, era homem másculo.
— E o meu sonho do monjolo — interrompeu o silêncio a professora Regina.
Nenhuma atenção para a gente?
— Você... o monjolo... desejar pará-lo... não conseguir, tudo isto revela estado de angústia, embora possa ser inconsciente. Frustração.
Jonas C. acariciou um cachorrinho vira-lata que vivia se enroscando nas suas pernas e, em seguida, prosseguiu:
— Desde que o mundo é mundo, temos querido interpretar os sonhos.
Até que surgiu um médico famoso chamado Freud, que se meteu a analisá-los e descobriu neles algum sentido para orientação no tratamento das doenças mentais.
- A sua teoria se fundamentava no facto de que reprimimos nossos sentimentos e impulsos e atiramo-los lá dentro do porão do inconsciente.
Freud infelizmente tinha uma mania: levava a interpretação do sonho quase sempre para o lado do sexo.
Para ele, o gerador mor e quase que soberano dos desequilíbrios era o deusinho Eros.
Os sonhos eram-lhe válvulas de escape de todos os nossos desejos reprimidos.
— Os sonhos são sempre simbólicos? - perguntou Américo Jorge.
Eu tenho um livrinho “O Significado dos Sonhos” e lá diz: “Braço
— Perder um braço:
decepção amorosa muito séria.
Jogue no burro
— Grupo 3.”
Cansei de jogar, jamais acertei.
— Então é essa aí, seu “burregório” — disse arreliando o seu grande amigo Gerson.
E, logo mais, estavam se engalfinhando.
Jonas C. sorriu e respondeu:
— A linguagem dos sonhos é quase sempre simbólica, mas já tenho sabido de sonhos que transmitem o facto directamente, sem subterfúgios.
Um dia Ismael Gomes Braga estava traduzindo o Evangelho Segundo o Espiritismo para o Esperanto. Eis que esse notável esperantista sonha com Allan Kardec, que lhe aparece e diz: “corrija”.
Ismael volta a examinar o trabalho e constata, admirado, que na obra faltavam inúmeros trechos do Evangelho.
Vê-se, pois, que não houve símbolo algum.
Tais revelações oníricas são comuns quando premonitórias.
Mrs. Maureen Wiseman, do Condado de Norfolk, sonha que o ónibus que ela ia tomar se espatifou.
Na hora de embarcar, recusou-se a subir no veículo.
E, de facto, o pavoroso desastre aconteceu e ela se salvou.1
— Afinal, no que ficamos, quanto ao sonho? — voltou à carga a professora Regina, que era muito positiva.
— Ficamos ainda em confusão — assentiu Jonas C.
Afinal, essa posição de perplexidade não é só nossa de leigos, mas também dos próprios psicólogos, psiquiatras e parapsicólogos.
A verdade é que existem sonhos de inúmeras maneiras, de formação diferente e, assim, não podemos nos servir de um parâmetro único para interpretá-los.
Existem sonhos desconexos, absurdos, embaralhados frutos do cérebro funcionando a esmo, sem coordenação.
Não significam coisa alguma e diríamos sonhos fisiológicos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Ago 14, 2019 10:17 am

Existem sonhos de dramatização emotiva: um fulano recebe notificação de Imposto de Renda, com grande multa por sonegação.
À noite, sonha que a Gestapo está perseguindo-o.
Sicrano foi dormir varado de fome.
Sonha que é toureiro, todo engalanado numa praça de Madrid, debaixo do aplauso frenético da multidão.
De repente, ele se transforma num açougueiro e começa a devorar o tomo vivo.
Se roçamos um perfume francês nas narinas de quem dorme, podemos levá-lo ao Moulin Rouge.
Já a criança é muito comum sonhar que está urinando...
— Ê isto mesmo — atalhou Kátia.
O Marcelo diz sonhar que está apertado.
Procura uma árvore e faz xixi...
Acorda e a cama está toda molhada...
Marcelo, que era ainda pequenino, pegou uma vara, disse uns palavrões e saiu atrás da irmã para alcançá-la.
Jonas C. nem ligou e prosseguiu:
— Nesse estado de relaxação (relax) provocada pelo sono, dão-se as mais estapafúrdias dramatizações.
Mas quando esse mesmo sono fica profundo é como se morrêssemos e já, em ritmo delta, a ciência não consegue sequer imaginar o que se passa.
— Se a ciência não sabe quem é que poderia saber? acentuou Fer.
— Aí que está — continuou Jonas C.
O Espiritismo Científico sabe perfeitamente o que se passa.
No sono profundo, o nosso corpo espiritual ou psicossoma se projecta fora do corpo carnal.
O homem se desdobra e adquire aquilo a que Kardec denominou bicorporeidade.
Em corpo espiritual, poderá viajar, visitar amigos, divertir- se... enquanto o seu corpo físico fica na cama, parecendo morto.
Egisto dormia na relva, de papo para o ar, e chegava até nós um som cavo assoprado pelas bochechas e, depois, outro como assobio.
Todos olharam, riram e pareciam indagar:
“Por onde andará a alma desse sujeito”?
Fer, porém, não estava para perder tempo.
E logo foi para cima de Jonas C., com outra questão:
— Uma pessoa dormindo assim pesado, poderia, em espírito visitar uma Cidade do Plano Espiritual, como “Nosso Lar”?
— Sem dúvida alguma.
Se fôssemos videntes, à noite veríamos a multidão de terrícolas que sobe a outros planos.
De cidades astralinas, mentores espirituais convocam-nos para reuniões.
Às vezes são verdadeiros concílios ecuménicos de religiosos de todos os credos.
Soubemos de um grande conclave que houve, no espaço, só de médicos.
Estes ouviram prelecções sobre as correlações importantes entre a mente e o corpo, espírito e matéria, que deviam levar em consideração, quando receitassem remédio e não considerassem o corpo como uma máquina.
Por outro lado, chamaram-lhes a atenção para o amor, pois a medicina é um sacerdócio e o espírito, que se reencarna para ser médico, e se esquece completamente disto, tornando-se mercenário, curtirá na volta ao plano espiritual verdadeiro calvário e desejaria, antes, não ter nascido na carne.
Certa feita, houve uma reunião de grandes magnatas e de todos os membros das classes conservadoras.
Os mentores espirituais apelaram para que os empresários conciliassem a necessidade do lucro indispensável à sobrevivência e expansão da empresa, com uma justiça social espontânea.
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