LUZ ESPÍRITA
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A mãe que desistiu do céu / M. B. Tamassia

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 6:58 pm

Aquilo de que ainda você necessita, no seu estágio espiritual, é habitar na própria sociedade, respirar o hálito de outras pessoas, permutar com elas o suor e a preocupação, tentando amá-las e compreendei-as.”
O herói da nossa história conta que, diante dos ensinos de Meher Baba, voltou aos seus afazeres rotineiros no hospital.
Todavia, antes, teve um cuidado; jogou no mar todo o seu estoque de tóxicos.

TEMA PARA REFLEXÕES:
Alienação - subordinação - condicionamento. Relação com a liberdade. Impossível a liberdade absoluta num Cosmos organizado. Jesus obedecia ao Pai.

O SER HUMANO Ê UM ALIENADO?
- Por alienado, no sentido em que desejamos tomar a palavra, ela significa a subordinação e certa sujeição a outras pessoas, principalmente â sociedade, a seus usos, costumes, religião, autoridade, etc.
De algumas décadas passadas para cá, a mocidade foi trabalhada por psicólogos e escritores, entre os quais Freud, Marcuse, Sartre que induziram a juventude a crer que toda a angústia lhe advinha de sofrer a repressão constante da sociedade, principalmente dos pais, da pátria, dos governos.
Assim, inspirando-se nesta linha, surgiram os movimentos hippies de rebeldia à ordem.
Não trabalhavam, não se higienizavam, não casavam, não constituíam lar, compunham e tocavam músicas nervosas, andavam barbudos e gadelhudos de um lado para outro e faziam gigantescas concentrações, na mais estranha promiscuidade.
Mas, isto não deu certo, embora tivesse produzido alguns efeitos bons, como certas aberturas desejáveis.
Não faz muito tempo, uma T.V. brasileira procurou localizar os maiores nomes destes hippies e os encontrou, agora, limpinhos, trajados convenientemente, trabalhando em seus escritórios, dirigindo as suas empresas, mandando nos seus empregados, e convivendo com a esposa e seus filhos, como excelentes burgueses.

A ALIENAÇÃO É NATURAL?
A alienação decorre da própria estrutura da vida universal, pois, a ordem se sedimenta em hierarquia.
Da areia do Saara às galáxias existe um liame de interdependência.
Em primeiro lugar, queiram ou não os niilistas, somos dependentes de Deus, doador da vida, o Grande Pai, de quem somos filhos.
Do homem a Deus não existe vácuo espiritual, mas, esse espaço está todo preenchido por expressões, desde o espírito vulgar à mais elevada angelitude, que se coordenam em linhas de mando e obediência.
Isto nós, espíritas, sabemos por experiência, pois os Espíritos para fazerem isto ou aquilo pedem autorização a alguém.
Por outro lado, Jesus, a todo momento, dizia cumprir as ordens do Pai.
Na Terra, nossos pais, representam a hierarquia decorrente da paternidade natural e “sobrenatural"; natural pelos genes e “sobrenatural” em decorrência de encargo aceito em nosso plano reencarnatório.


Última edição por Ave sem Ninho em Dom Ago 11, 2019 6:59 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 6:58 pm

13 - A BONITA HISTORIA DO DEFICIENTE HANK
Henry Viscard Jr., que nos Estados Unidos, se tomou um exemplo vivo no campo da reabilitação de deficientes físicos, dedicando-se de corpo e alma ao mesmos, foi mais tarde considerado uma das mais altas autoridades no assunto.
Conta-nos ele que certa ocasião procurou um financiamento para a instituição que criara, a qual se dedicava a dar trabalho ao deficiente e torná-lo apto para a vida, por si só.
Mas, a Directoria do Banco negou o empréstimo, baseando-se no parecer do assessor de finanças que dizia:
‘O simples fato de que todos os operários da indústria, que o postulante pretende implantar, são incapacitados, torna o projecto absolutamente inviável e o fracasso inevitável.”
Henry Viscard Jr. não se conformou com a negativa, e procurou o assessor, autor do parecer, a quem perguntou:
O senhor é capaz de cantar uma ópera?”.
Ao que o alto funcionário respondeu:
De modo algum, estou incapacitado para isto.1'
Muito bem, se o senhor não é capaz de cantar uma ópera, porventura isto significa que o senhor não tenha absolutamente condições para a assessoria, análise de balanço, apreciação de relatórios, dar pareceres?”
Desnecessário é dizer que o dito funcionário caiu em si, e modificou o seu parecer, do que resultou a concessão do financiamento.
E, do financiamento, a implantação de uma empresa que se mostrou lucrativa e de grande valor moral.
Felizmente, no campo em que os homens disputam uma infindável partilha, há aqueles que Deus, através da reencarnação, coloca em liderança, os quais imprimem nos desanimados tão grande revivência, confiança, ardor, sentido de camaradagem, motivação
existencial, que fazem o milagre da integração. Homens que não eram nada ontem, e que na opinião de certos assessores não serviriam para nada, revelam-se úteis, capazes, operantes.
Um rapaz de nome Hank havia nascido com cotos de pernas e com braços deformados.
As crianças chamavam-no por “homem-macaco”, porque as suas pernas eram tão curtas que as mãos tocavam o chão.
No entanto, o médico especialista, Dr. Hanôver, dispondo do auxílio de um artesão, lhe construiu pernas de alumínio, com tanto engenho que Hank passou à altura de 1,73 m.
Ele já estava trabalhando numa colectoria governamental, mas, vivia sempre pensando nos seus companheiros de infortúnio que não tinham encontrado à sua frente um outro benfeitor igual ao Dr. Hanôver.
E foi por ter no coração essa gratidão a um homem, que o fizera feliz, que desejava fazer a felicidade dos outros.
Demonstrando espírito de luta ímpar, sem desfalecimento, e capaz de somar forças, por fim, instalou a famosa “Abilities Inc.”
Com centenas de empregados todos deficientes, em cujas operações se mobilizam milhões de dólares.
Este Hank que, se fosse outro, poderia andar por aí, sem utilidade para si, e muito, menos para os outros, foi considerado pelo “Herald Tribune” de Nova Iorque uma pessoa que se constituía em “história fascinante sobre pessoas extraordinárias, escrita por um homem notável.”
Sobretudo, ergueu ele uma bandeira, a da conscientização acerca da maneira como considerar os deficientes, escrevendo com ênfase:
“Vamos conscientizar os homens para que deixem de tutelar os deficientes como se fossem crianças retardadas.”
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 6:59 pm

TEMA PARA REFLEXÕES:
O bom ânimo - o desanimado é terreno sáfaro - entusiasmo.

PARA QUE SERVE O BOM ÂNIMO?
- O bom ânimo se assemelha ao sol dentro de nós, que dá vida ao corpo e à alma.
Entre os candidatos que se apresentavam a Edison, cognominado o Magno da Luz, este escolhia de preferência aqueles possuidores de bom ânimo, entusiasmo e fé em que alcançariam o objectivo, realizariam o projecto e a empresa teria pleno êxito.
Henry Ford, um dos pioneiros da indústria automobilística, dizia preferir um oficial menos experiente, mas, de bom ânimo que aquele pessimista cheio de cursos e currículos.
Quase todas as grandes descobertas e invenções nasceram de homens de bom ânimo.
O que levou Colombo a descobrir a América foi essa qualidade.
O casal Curie, para descobrir o metal rádio, dotado de intensa radioactividade, chegou a queimar todo o seu mobiliário.
Paulo se destacou no apostolado cristão, em virtude do seu excepcional e permanente bom ânimo.
Segundo Norman Vicente Peale, a palavra entusiasmo é formada pelo vocábulo grego en e theos (Deus), ou seja, “Deus em nós”.
O grande pensador americano Émerson dizia:
“Nada de grande jamais foi realizado sem entusiasmo.”
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 6:59 pm

14 - O CÁLICE DE CHUMBO
Às vezes me pergunto a mim mesmo:
“Como seria a casa onde Jesus morava em Nazaré?
Se, naquela época, vivêssemos em tal lugarejo, que pensaríamos de Maria?
Seríamos capazes de ligá-la a um contexto de tão alta transcendência, como a de ser mãe do Emissário Divino?”
Estou certo de que não.
A moradia de Maria devia, ser uma deselegante casa de pedra, como aquelas tantas outras que existiam naquele povoado que, por sua vez, não passava de pequena mancha cinzenta na paisagem multicolorida da Galileia.
Acredito mesmo que não julgaríamos Maria merecedora da nossa visita, amizade, muito menos de qualquer cumprimento mais entusiástico, pela ausência de garbo e trajar-se vulgarmente.
José, então, parecer-nos-ia um carpinteiro como outro qualquer e tudo, por ali, nos diria que aquela Nazaré jamais poderia produzir um profeta, nem mesmo de terceira classe.
Se devêssemos andar na companhia de Jesus e das santas mulheres, acolitados por aqueles homens rudes, não nos orgulharíamos disto.
Acharíamo-los uns pirados e vadios.
É a distância no tempo que permite à nossa imaginação emoldurar o evento sagrado, singelo e prosaico, com filigranas de beleza ímpar, inspirando, a Murilo, as suas Madonas e enchendo as naves dos templos de inigualável tesouro artístico.
Isto foi bom, porque nos trouxe beleza, mas, por outro lado, esse contínuo recondicionamento deturpou a realidade; perdemos o interesse pela simplicidade e pela humildade.
Se fôssemos transportados para Jerusalém de dois mil anos atrás, nenhum de nós aceitaria o convite de Pedro para sentar-se no tosco banco da “Casa do Caminho”, onde os apóstolos, depois da morte de Jesus, pensavam as feridas, alimentavam os párias e pregavam o Evangelho, possivelmente em linguagem rude de pescadores, sem qualquer burilamento.
Tive esta impressão, dias atrás, quando visitei um arrabalde de São Paulo, procurando certa médium que me diziam possuir excelentes faculdades mediúnicas.
Fui encontrá-la cozinhando debaixo de um telheiro.
Trazia a pele ressequida, cabelos em desalinho, cheirando pucumã, mãos calejadas, e envergava um avental puído e desbotado.
Enquanto servia o trivial ao marido e filhos, que estavam voltando do trabalho, suarentos e resfolegantes, no galpão aos fundos do quintal, iam se reunindo pobres, ricos e remediados, mas, todos portadores de semblantes amargurados, revelando sofrimento e cansaço.
No horário assinalado, ela deixou os cuidados domésticos e a própria louça, para lavá-la depois, e, auxiliada por uma equipe, se entregou ao seu trabalho mediúnico.
Até altas horas da noite, aquela humilde senhora, exerceu o seu ministério sagrado de curar, aconselhar e consolar.
No dia seguinte, levantar-se-ia de madrugada para despachar novamente o marido e os filhos, preparando-lhes a marmita.
Nenhuma paga, nem mesmo o padronizado muito obrigado.
Quantas destas criaturas abnegadas, vultos expressivos da cristandade, mas anónimos,
não existem por aí!
Ninguém lhes registará o nome no papiro.
Se daqui a milénios vierem os doutores, cronistas e historiógrafos discorrer sobre os mesmos, imaginem com quantas fantasias emoldurarão aquela cozinha, transformando-a em santuário feito de pedrarias cintilantes.
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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Ago 11, 2019 7:00 pm

Wallace Leal Rodrigues, em “Remotos Cânticos de Belém” relata que o nobre Sir Launfal deixou a sua família e o conforto do lar abastado, para andejar em busca da taça de ouro, da qual Jesus tinha se servido na Santa Ceia, conhecida pelo nome de Santo Graal.
Debalde aquele nobre palmilhou todo o mundo conhecido de então.
Quando regressou, estava velho, alquebrado, muito doente e descrente.
Não acreditava mais naquela preciosa relíquia.
Todavia, sofrendo fome, sede e privação na companhia dos deserdados pequeninos, descobrira o sentido da caridade cristã, que, por sinal, nunca havia praticado com ardor.
Sir Launfal chega de volta ao seu castelo, justamente na noite de Natal.
A sua vivenda estava ricamente iluminada, cheia de convivas que se banqueteavam.
“Como adentrarei nesse ambiente, em estado de deplorável miserabilidade, e esquelético?
Por certo não me reconhecerão.
Ainda pensam em mim, como um cavaleiro da mais alta linhagem, montando um ginete ricamente ajaezado, quando na verdade tenho andado como andarilho!”
No que titubeava, aproximou-se dele um mendigo e lhe pediu uma esmola.
Olhou com atenção e reconheceu-o:
“Já sei. Você é aquele mendigo a quem, ao sair de casa, em busca do Santo Graal, dei uma moeda de ouro!"
O pedinte julgou-o um marginal qualquer, de miolo mole, mas Sir Launfal foi tomado por uma onda de profundo afecto por aquele homem que, afinal, era-lhe o irmão mais próximo.
Abraçou-o e o levou até uma fonte, onde repartiu o único pão que possuía.
O mendigo trazia uma velha caneca de chumbo, com a qual apanhou a água cristalina e deu-lhe a beber.
Ambos comeram o pão e beberam a água.
E, no dia seguinte, os serviçais do Castelo encontraram morto Sir Launfal, cujas forças combalidas não foram suficientes para levá-lo mais adiante, um passo sequer, ficando enregelado, no pórtico da sua vivenda senhorial.
Enterraram aquele miserável desconhecido e assinalaram o lugar com aquela caneca de chumbo, por lhe desconhecerem o nome.
Estranho quadro!
Uma cova e em cima dela uma caneca de chumbo!
Seria de ouro ou de chumbo o cálice utilizado na Santa Ceia?

TEMA PARA REFLEXÕES:
Sacralização - Que coisa é sagrada? O abuso da sacralização.
Os símbolos e signos pesam nos galhos da árvore de uma religião.

O QUE TORNA CERTAS COISAS OU PESSOAS SAGRADAS?
- A tendência de o homem tornar certas coisas sagradas e outras não, varia segunda a época, a crença reinante, usos e costumes, influências atávicas, etc.
Os reis da antiguidade sempre foram sagrados e no Japão, ainda hoje, o é.
Pelo chamado efeito psicológico de simpatia e contágio, eles se revestiam de poderes sobrenaturais e até tinham o dom de curar.
As suas vestes andavam cheias de símbolos e signos, geradores de encantamento, o que foi imitado por certas religiões triunfalistas.
Todo deus ou Espírito poderoso sacraliza aquilo com o qual entra em contacto (contágio).
As igrejas andavam outrora cheias de relíquias sagradas que podiam ser uma tíbia, um artelho, até mesmo um prego, como os cravos que supunham ter servido para pregar Jesus na cruz.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 6:56 pm

O tão sagrado e reverenciado Santo Graal, é justamente a taça que Jesus usou na Santa Ceia e na qual José de Arimateia teria recolhido o seu sangue.
Diz, uma das maiores autoridades mundiais no assunto, J.G. Frazer, na sua obra “O Ramo de Ouro”:
“A pessoa divina é ao mesmo tempo uma fonte de risco como de bênção, e não só deve ser protegida como também dela se devem proteger os seus súbditos.”
A sagrada Arca da Aliança, na qual estavam depositadas as tábuas da Lei de Deus era tão sagrada que, até certa distância, se tomava mortífera.
Com ela, os judeus derrubaram os muros de Jericó.

E O ESPIRITISMO QUE ACHA DISTO?
O Espiritismo é a libertação do homem de tais crenças, que se ligam ao primitivismo da espécie humana, em que predominava na religião mais o medo do que o amor.
O precitado J.G. Frazer chega a ponderar que “Algumas das velhas leis de Israel são evidentemente tabus selvagens de um tipo familiar, mal disfarçados como mandamentos da divindade.”
O Espiritismo veio ao mundo para realizar a importante missão de libertar a religião da superstição, erguendo-a sobre a Fé Raciocinada, como propôs Allan Kardec.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 6:57 pm

15 - 0 CARVALHO EMBANDEIRADO DE ESPERANÇA
Um grupo de rapazes e moças resolve fazer uma viagem turística rumo à cálida Flórida, deixando a região fumarenta de Nova Iorque.
Meteram-se no ónibus, sempre muito alegres e extrovertidos.
Todavia, no ónibus viajava um cidadão, sempre macambúzio e voltado para dentro de si próprio, portanto esquivo, e que não aceitava abrir conversa com ninguém.
Não só calado, mas profundamente triste, contrastando com a alacridade juvenil do ambiente.
Mordicava os próprios lábios e parecia em cogitações estranhas.
Uma jovem do grupo, no entanto, conseguiu se aproximar do mesmo e teve ensejo de formular-lhe estas perguntas que todos desejariam fazer, sem que tivessem coragem.
- Qual é o seu nome?
- Vingo.
- Que nome interessante!
Você é casado?
- Não sei se sou casado.
- Como pode ser isto?
- Estou saindo de uma penitenciária.
Da prisão, escrevi para minha mulher que estaria ausente muito tempo e que, se ela não aguentasse, se os nossos filhos começassem a fazer perguntas, e isto lhe fosse muito doloroso, me esquecesse.
Eu compreenderia.
“Arranje outro homem" - disse-lhe.
Também, acrescentei:
“Não precisa escrever mais."
E, de facto, ela nunca mais me escreveu.
- E você está voltando para casa?
- E isso mesmo, pois, quando na semana passada me concederam livramento condicional, escrevi à minha mulher de novo.
Existe, na entrada da cidade, onde morávamos, um grande carvalho.
Se ela ainda me quisesse de volta, deveria amarrar um lenço verde à árvore.
Se, pelo contrário, não me desejasse mais, não amarrasse lenço algum.
- Meu Deus! - exclamou a jovem, comovida.
As moças e os rapazes ficaram todos sabendo da história.
O ónibus começou a se aproximar da cidade.
Todos olhavam pela janela.
Por fim, surgiu o frondoso carvalho.
Vingo parecia petrificado.
De repente, levantou-se e os seus olhos brilharam.
O carvalho parecia uma árvore de Natal.
Havia nele 20 ou 30 lenços verdes.
Era uma mensagem extraordinária de boas vindas.
Moças e rapazes se puseram a gritar, chorar e dançar dentro do ónibus.
Vingo desceu e se foi ao reencontro do amor e da vida.
Às vezes, vale a pena sofrermos para saber que somos amados.
Ou, então, para verificar que os profundos afectos não se extinguem com a adversidade.
Para mim, que acredito ter tido outras existências, segundo o ensino espírita, isto me faz pensar que somos, quase todos, semelhantes a este presidiário.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 6:57 pm

Descemos a este planeta Terra, como “degredados filhos de Eva" e bem pode acontecer que, no regresso, ao transpor o umbral da morte, comecemos a ver carvalhos embandeirados de lenços, saudando-nos em tom dê regozijo, colocados pelos entes queridos que partiram antes de nós e daqueles que um dia nos acompanharam até o cais do rio Letes para a difícil viagem da experiência carnal.

TEMA PARA REFLEXÕES:
Solidariedade - apoio - esforço conjunto - emanação de força.

QUAL O SIGNIFICADO DA SOLIDARIEDADE E DO SEU MECANISMO?
- A solidariedade é a adesão ao propósito, à acção, ou estado de alma de alguém.
Por conseguinte, a solidariedade é valiosa se a pessoa ou entidade, com a qual nos solidarizamos, possui intencionalidade de praticar uma boa acção ou coibir aquela que signifique uma acção má.
Muitas vezes, não se trata de acção, mas, de provação, pela qual passa uma pessoa e nos solidarizamos com ela, dando-lhe força para passar pela experiência.
Às vezes quando nos solidarizamos com determinada pessoa, temos, depois, que dar o nosso testemunho.
É um adendo importante e que reforça a solidariedade que, de outra forma, poderia ser simplesmente formal e política.
Mas, por isso mesmo, a solidariedade expressa em documentos, manifestações públicas, apoio a ideias, deve ser meditada e avaliada, não se deixando levar por impulso impensado, o que se dá muito na juventude, que às vezes leva o jovem a desencaminhar-se e sofrer na estrada do futuro, por atitude generosa.
Noutros casos, a solidariedade é uma contagiante manifestação de alegria, expansão que, se propaga em cadeia, à vista de um acontecimento feliz.
É signo de evolução, o homem alegrar-se com a alegria do próximo.
Mesmo Jesus alegrou-se com a alegria dos convivas nas Bodas de Caná.
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16 - O CACHIMBO DA PAZ
Albert Schweitzer conta que dispunha de homens primitivos para auxiliá-lo no Hospital de Lambaréné, no Gabão, interior da África.
O sério problema que tinha de enfrentar não era tão só aquele de parcos meios para tratar das enfermidades, mas, o extremo sentido de separatividade que imperava naquelas selvas.
“Se peço - diz esse notável médico - a um auxiliar que faça pequeno serviço a outro que não esteja em condições de se levantar da cama, ele só o fará se o doente pertencer à sua tribo.
Não sendo da sua tribo, ele me responderá com a maior naturalidade:
'Esse homem não é meu irmão’.”
Este estado de separatividade tribal, encontramos na Bíblia, no Deuteronómio, através de cujos preceitos o Povo Eleito não podia misturar-se com qualquer outra raça.
Não podia esse povo, numa guerra de conquista, nem mesmo usar os despojos, praticando, então, o herem, ou seja, a destruição de tudo:
“Quando Jeová, teu Deus, te introduzir na Terra a que vais para possuir... então destruirás aquelas nações totalmente... nem terás piedade delas...”
“Devorarás todos os povos que Jeová teu Deus te entregar, os teus olhos não terão piedade deles..."
Na fase evolutiva em que estavam, isto lhes parecia a coisa mais natural do mundo.
E Albert Schweitzer, Prémio Nobel da Paz, faz-nos ver que três categorias de progresso são importantes para o homem: progresso no campo do conhecimento e da tecnologia; progresso na socialização e, por fim, progresso no campo da espiritualidade.
De todos estes, o mais importante a seu ver é o progresso espiritual.
Talvez não significasse, para ele, a palavra espiritual aquela de rótulo religioso, mas, de crescimento e libertação de instintos primários e prejuízos decorrentes do orgulho, da vaidade e da posse.
O atavismo notado naquela gente do Gabão, de separatividade e acentuada memória tribal, até hoje persiste.
Mesmo no empenho em praticar a caridade, reunimo-nos em grupos, este espirita, aquele protestante, aqueloutro católico, mas, aderimos apenas àqueles que têm a mesma fé religiosa que a nossa.
Em algumas instituições, lemos cartazes proibindo-nos de fazer donativos e subscrições a organizações da mesma religião, mas, sem ligação com a nossa.
Quando fazíamos a “Campanha do Quilo”, liderados pelo infatigável Nestor Mendes da Rocha, Presidente então do Grupo Espírita “Casa do Caminho”, operação que consistia em percorrer bairros, deixando nas casas um saco de papel para que os moradores ali colocassem donativos, muitas vezes, batendo à porta de crente ou seguidor de outra fé, anti-espírita, recebíamos o galardão de palavras ofensivas, e diziam-nos na cara:
“Não fazemos caridade para instituições espíritas.”
Todavia, encontrávamos aqueles que, pertencentes a credo diferente, entendiam o universalismo do Amor.
O cónego Milton Santana, irmão da festejada jornalista campineira Nair Santana Moscoso, pároco da Igreja Nossa Senhora de Fátima, também na terra de Carlos Gomes, espontaneamente vinha ao nosso encontro, quando dirigíamos o Educandário Eurípedes, abrigo de menores órfãos e carentes. Inteligente, culto e de mente aberta, exortava os fiéis da sua igreja:
“Hoje o saco de esmola todinho pertence às crianças mantidas pelos nossos irmãos espíritas.
E, por esta razão, vocês devem dar em dobro."
O apelo sempre foi atendido pelos paroquianos.

TEMA PARA REFLEXÕES:
A separatividade - nasce do egocentrismo - somos ilhotas - universalismo.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 6:58 pm

QUAIS OS Prejuízos DA SEPARATIVIDADE?
- Separatividade quer dizer viver isolado, apartado e desunido.
É o que o homem pratica em demasia vivendo no imenso oceano como ilhota.
Embora filhos do mesmo Deus, não somos fraternos como deveríamos ser.
Um acontecimento trágico que levou à morte milhares de irmãos nos comove muito pouco, menos do que o ferimento que o nosso filhinho fez na perna naquele momento.
A perda de um ente querido tem grau superlativo de dor.
Mas, pouco sentimos com o sentimento dos outros.
Sem nos darmos conta, se somos donos de uma farmácia, ficamos contentes com a gripe ou epidemia que está grassando.
Para o nosso filho, a melhor escola para o filho do próximo, nada.
“Cada um por si e Deus por todos” - diz o refrão.
Puro engano, pois, Deus será nosso, desde que sejamos dos outros.
Desde que sejamos brancos, não esquentamos a cabeça pelo fato de estarem matando negros na África do Sul.
Os índios americanos foram trucidados em Norte-América e tomaram os trucidadores heróis, por serem civilizados.
A separatividade nos leva a uma óptica nefasta.
Os huguenotes, protestantes calvinistas, foram dizimados pelos católicos na “Noite de São Bartolomeu", na França.
Inacreditáveis os genocídios praticados, contra o povo judeu, com requinte de crueldade, nos Campos de Concentração, pelos nazistas, ainda recentemente.
Até hoje a separatividade poderá ter sido pouco relevante, mas, doravante, com o imenso poder conquistado pelo homem, importa que contra ela se levantem todas as vozes.
Não podemos mais continuar separados, sob pena de uma hecatombe universal.
Jesus é o símbolo do Amor, da união, da cooperação, da compreensão, e aceitação de todos os credos, raças e tipos de povos.

DE QUE MANEIRA COMEÇAR UM TRABALHO CONTRA A SEPARATIVIDADE?
- Primeiramente dentro de nós, harmonizando-nos connosco mesmo.
Depois, em nossa casa, aceitando as desigualdades de temperamentos; em seguida em nosso local de trabalho, nas associações a que pertencemos.
Daí, partiremos para a perfeita união em nosso grupo religioso, nunca levantando bandeira contra alguém, mas, movimento a favor de todos.
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17 - APENAS A LUZ DE UM FÓSFORO
James Keller escreveu uma excelente obra:
“Você pode melhorar o mundo”.
“De que forma?” pergunta o autor; e ele mesmo responde: “acendendo uma vela”.
E diz-nos mais, citando um velho provérbio chinês:
“É melhor acender uma vela do que atacar as trevas.”
O dito autor é um grande moralista, além de que, fundador do movimento estadunidense conhecido pelo nome de Christopher, no qual pode ingressar qualquer pessoa sem distinção de cor religiosa.
A entidade não possui estatuto, tampouco obriga o participante a pagamento de qualquer mensalidade ou taxa.
A única exigência é aquela de o cidadão conscientizar-se de que ele possui responsabilidade individual pelo bem comum e, por conseguinte, se dispõe a executar determinada obra comunitária ou se interessar efectivamente pelos problemas da comunidade.
Sem dúvida, algo importante, colimado pelo movimento.
Um buraco na rua, onde possa cair o carro, matando pessoas, não é problema exclusivo da Secretaria de Obras, mas, de todo cidadão.
Assim, no tocante a focos de detritos que ponham em risco a saúde pública.
O próprio jardim público nos pertence, e dele devemos zelar.
Geralmente, defrontando-nos com problemas sociais, transferimo-los para outros para que os resolvam, enquanto lavamos as mãos, como Pilatos no credo.
Ora acreditamos no Estado Providencial, ora esperamos do céu que faça cair maná ou outros milagres.
Imbuímo-nos da ideia de que o mundo não foi feito por nós, de maneira que cada um que se dane.
Esquecemo-nos de que estamos navegando na mesma barca.
Se ela se afundar, morreremos afogados.
Teilhard de Chardin, jesuíta e paleontobiólogo famoso, provocou escândalo na Igreja Católica, escrevendo:
“Cristo está na sovela do sapateiro.”
Com isto desejou significar que Deus criou o mundo, mas nós temos de trabalhá-lo e que Jesus, portanto, trabalha com todos os trabalhadores, o pedreiro que ergue a parede, o marceneiro que aplaina a madeira, o torneiro que desbasta o aço, o trabalhador que revolve a terra com a picareta.
No entanto, para que transformemos a massa humana em verdadeira humanidade, importa que despertemos o homem para tais ou quais realidades, através da conscientização.
A principal luz dentro de nós, a da consciência, deve ser acesa.
No coliseu de Los Angeles, se reuniram 100.000 membros do movimento Christopher.
A noite estava escura como breu.
Provocou estado de tensão emocional, quando o promotor do congresso, em voz altissonante, advertiu:
“Todas as luzes vão ser apagadas, mas não tenham receio.”
E, em seguida, acendendo um fósforo chamou a atenção de todos:
“Quem estiver vendo esta pequenina luz queira exclamar ‘Sim’.’
Eis que aquela enorme plateia respondeu “sim”, em uníssono.
O mesmo dirigente voltou a se pronunciar “esta pequenina chama equivale ao mais humilde gesto de bondade de um só ser no mundo da indiferença ou da maldade.”
Depois de uma pausa, obtemperou:
“Vejamos agora o que vai acontecer, se cada um de nós acender um fósforo."
Eis que cem mil minúsculas chamas banharam de luz o imenso recinto.
As trevas se dissiparam.
Daí ter concluído:
“Onde estejamos, não importa quem sejamos, podemos, sim, melhorar o mundo.”
Sem dúvida, o Himalaia é feito de grãos de argila e o mar de gotículas de água, e assim a iluminação do mundo depende da pequena chama de cada um.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 6:59 pm

TEMA PARA REFLEXÕES:
A Iluminação - ser iluminado - sábio - erudito.

A ILUMINAÇÃO É PALAVRA IMPORTANTE NO SEU SIGNIFICADO ESPIRITUAL?
- Sem dúvida, por iluminado designamos o ser penetrado por luz transcendente, tomando-se resplandecente e clareando o caminho.
“Brilhe vossa luz” - diz o Evangelho.
Somo luzes fracas como de uma lamparina, mas, na escala que vai de nós a Deus, encontraremos criaturas que luzem como lâmpadas eléctricas, outras como faróis até àquelas com o potencial de um Sol.
Todavia, no uso corrente, usamos a palavra iluminado para designar aqueles nossos irmãos que se destacam pelo amor, pela sabedoria, principalmente altamente inspirados nas suas palavras faladas e escritas.
A palavra iluminado é de grande alcance, pois, podemos ser um cientista, jurisconsulto, médico, literato, poeta, filósofo, matemático, de alta qualificação, sem que tenhamos luz alguma.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 6:59 pm

18 - A NECESSIDADE DE LARGUEZA
Séneca, curtindo as dores do exílio, escreve à sua mãe Hélvia, consolando-a dessa desdita repartida:
“Aqui, longe dos faustos palacianos, os bens terrenos são obstáculos aos verdadeiros bens, por causa das opiniões falsas e mentirosas que nos fixam; quanto mais compridos pórticos se constroem, quanto mais altas torres se levantam, quanto mais amplos caminhos se abrem, quanto mais monumentais se erguem os tectos das salas de jantar, tanto mais todas essas coisas nos escondem o céu.”
Este controvertido pensador, a um tempo palaciano e moralista, atirado à Córsega pelo Imperador Cláudio, descobre no céu, pontilhado de estrelas, um “habitat” de almas maior que aquele da amada Roma dos Césares, e um Templo superior àquele insignificante de Júpiter Capitolino.
Por outro lado, naquela inóspita ilha, pôde sentir-se milionário na indigência, percebendo que a riqueza legítima é aquela que carregamos dentro de nós.
O “meu”, o “teu”, o “nosso” deve ser unicamente aquela moeda real, na curso forçado da Economia da Espiritualidade Maior, e que podemos carregar nos bolsos da alma.
Fora disto, tudo ilusão!
Para o homem prático, uma cascata move-lhe o moinho; para o idealista é uma frase musical na grande sinfonia da Criação, que lhe toca a alma e lhe infunde prazer místico.
O primeiro, homem prático, um dia comerá paçoca fabricada pelo seu engenho; o segundo, sonhador, beberá sempre, até noutra existência, nessa fonte retemperadora.
Émerson, cognominado o Buda do Oeste, gostava de fazer longas caminhadas a pé, em Concord.
E, neste vagar a esmo, deixava-se penetrar pela excelsitude da natureza.
Vendo uma rica mansão, cercada de vasto e florido jardim, exclama:
“O jardim não pertence a quem o possui, mas a quem o contempla.
Os próprios cuidados administrativos impedem o seu dono de usufrui-lo.”
Podia Émerson usufruir a beleza sem pagar preço algum.
Cristo falava, no Monte, às criaturas postadas na planície simbólica e, como antena vibrátil, tinha na voz os mistérios das constelações e a profundidade do seu Amor.
“Olhai os lírios dos campos, eles não tecem nem fiam”.
A Samaritana, no Poço de Jacó, em linguagem poética, promete-lhe a “água viva”.
Adiante, convida os homens à fuga libertadora:
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”
“Livre-se de suas mantas; livre-se dos seus tesouros; livre-se das suas raças; livre-se dos seus ritos; e livre-se dos seus ódios através do perdão.”
Isto me veio à mente quando li uma monografia de Aldous Huxley, afirmando que, apenas em um ano, os médicos norte-americanos forneceram 48 milhões de receitas de tranquilizantes!
O homem paga caro o preço do perfeccionismo e da super-eficiência.
Ele é possuído pelas coisas, julgando que as possui.
No entanto, um instante de contemplação valer-lhe-ia o reencontro com o seu paraíso perdido.
Um amigo, mineiro de São Sebastião do Paraíso, tendo mudado para Campinas, hoje cidade de um milhão de habitantes, saiu-se tão bem nos seus negócios, os foi ampliando de tal forma que se tornou stressado, advindo-lhe enfermidades psicossomáticas, as mais variadas, as quais estavam acabando com a sua vida.
Disse-lhe certa ocasião, condoído do seu estado:
“Volte, como antigamente, a cheirar as vacas no curral.
Compre um modesto sítio, e coloque nele pequena quantidade de gado leiteiro.”
Não demorou muito, e já em outro tom de voz, com muita alegria, convidou-me para todos os dias ir na sua companhia ao curral do sítio que comprara, tomar leite tirado, na hora, da vaca.
Daí, por diante, ficou tinindo de saúde.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 6:59 pm

A um outro, com pronunciada taquicardia, prometi-lhe um remédio: devolvi-lhe a vara de pescar que me dera, alegando que não tinha mais tempo para usá-la “Volte à pescaria" - disse-lhe eu.
Necessitamos de espaço para ser nós mesmos.
Por esta razão, ensinava um filósofo - pintor japonês:
“Prestem atenção em nossos quadros: a árvore tem os galhos abertos com vãos amplos onde pintamos apenas um ou dois pássaros.”
As circunstâncias nos obrigam a viver na selva de pedras, sofrer a compressão das massas que desequilibram a nossa própria psicosfera.
Nas celas das cadeias, os seres humanos comprimidos em reduzido espaço, tornam-se feras.
Mesmo Jesus, de repente, deixava a turbamulta que o seguia e “subia ao Monte” para orar.

TEMA PARA REFLEXÕES: Largueza - grandeza - mente aberta — alargamento consciencial.

COMO O HOMEM DEVE AVALIAR OS HOMENS, AS SUAS ATITUDES, E, FINALMENTE, O PRÓPRIO MUNDO?
- Ele deve avaliar o mundo com largueza e o homem do mesmo modo.
Nascemos dentro de um sistema, da mesma forma que o eléctron em tomo do núcleo atómico, em nosso aspecto corpóreo.
Crescemos muito intelectualmente, mas, continuamos pesados como chumbo por falta de um alargamento consciencial.
Viemos do barro e os nossos sonhos são ainda de barro.
Por esta razão, a nossa visão anda sempre circunscrita ao mundo material.
Falta-nos leveza, aquela mesma leveza que Doroty MacLean, alega ter encontrado nos seus Devas, que a ajudaram realizar os prodígios agrícolas de Findhom.
Ao mesmo tempo, ainda sabendo que temos capacidade para percepcionar por todos os lados, fixamos os olhos num ponto só, tornando-nos hipnotizados.
O médico cardiologista costuma ver o coração como uma bomba, e aprende a fazer reparos nele com pedaços de safena.
O negociante se concentra no lucro, o matemático nos números, o embriologista no embrião e há aqueles que nascem, vivem e morrem analisando apenas os reflexos dos olhos conjugados com a língua da rã, na biónica
Que é o homem?
Ninguém sabe, pois, na tentativa de conhecê-lo dissecaram-no, dividiram-no em inumeráveis pedacinhos, dando-lhes nomes extravagantes e difíceis.
Se há a indicação de um caminho que nos leva para o interior, para nos conhecermos, por outro lado, há o voo da alma, que nos coloca como um satélite.
E do alto podemos ver e, vendo, compreender melhor, onde estamos, quem são esses bípedes implumes que caminham connosco, como entendermo-nos reciprocamente.
O Espiritismo apela para que nos reconheçamos como cidadãos do Universo, daí ensinar a Pluralidade dos Mundos Habitados, faz mais de cem anos.
Dá-nos lição de espaço incomensurável, e de tempo sem fim, mostrando- nos o Espírito, que não surgiu na maternidade, mas que vem de séculos e séculos, viajando, ou seja, o “Homo Via tor".
Conhecemos experimentalmente a nossa imortalidade e Allan Kardec fez crescer a nossa dimensão, com uma ampla visão tão importante, que não podemos nunca mais ser míopes ou cegos.
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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Ago 12, 2019 7:00 pm

19 - PRECE PARA AS VÍTIMAS DE CRISES FINANCEIRAS
Nos embates da existência, são muitos aqueles que se deixam abater inapelavelmente.
Via de regra, prestamos solidariedade e temos palavras consoladoras para aqueles nossos irmãos atingidos por doença insidiosa, por morte de entes queridos ou implicações passionais.
No entanto, não atendemos com o mesmo amor aquele que foi vítima de empreendimento comercial desastrado, que se vê à beira da falência e perde tudo que conseguiu em largos anos de trabalho honesto, até mesmo o fogão e as camas.
Ainda, poucos dias atrás, encontrei em São Paulo, um homem extraordinário, trabalhador, combativo, eficiente e, sobretudo, cheio de amor, membro respeitável da nossa seara espírita.
De repente, complicações com um sócio fizeram-no combalir.
Não entregou os pontos, e continuou com a empresa.
Não calculou bem o capital para continuar sozinho, e o estabelecimento foi-se enfraquecendo.
Buscava suprimentos em empréstimos e caiu nas redes da usura.
Sem poder pagar os títulos nos vencimentos, tornou-se insolvível.
Resultado, falência.
Caiu de borco do pedestal, em que sempre esteve merecidamente.
Quando se aproximava de alguns irmãos, habilitados financeiramente a ajudá-lo, estes desapareciam como peixes espertos diante da chegada de um tubarão.
Ainda permaneceu no Centro, no qual fora majestade, por algum tempo, mas, logo olhavam-no de soslaio e lastimavam que diante da pureza doutrinária, estivesse este cidadão pretendendo misturar negócio com religião.
Mas, para falar a verdade, quantos destes nossos irmãos arruinados, por crises financeiras, sofrem duras provações e dores mais agudas que a de uma cólica renal.
Forma-se-lhes um buraco na boca do estômago, o coração bate em taquicardia, um suor pegajoso lhe desce pela fronte, um desejo intenso de desistir da vida lhes sobe à cabeça, os seus olhos olham, mas não vêem coisa alguma, prelibando uma faixa de demência.
São ou não dignos de compaixão?
No entanto, não são portadores de nenhum câncer pelo que possamos nos condoer.
Uma noite, em que nos preparávamos para a nossa costumeira reunião espírita, em nossa residência, eis que se apresenta um senhor de aspecto bem rústico, mal trajado, ainda mais, sujo de terra de lavoura.
Acompanhava-o a sua esposa, marcada pela miséria e uma filharada miúda desnutrida.
Perguntei-lhe que desejava e ele me respondeu:
“Desculpe, meu senhor, mas, eu vim aqui porque me disseram que esta era a Casa dos Espíritos.
E eu queria que os Espíritos me ajudassem a encontrar o meu burro, que sumiu".
Naquele momento, fiquei indignado, pelo absurdo da solicitação.
Onde se viu - pensava eu - desejar transformar Espíritos de Luz, em laçadores de animais?
Controlei-me, porém, e esclareci o campónio:
“Em nossos trabalhos espirituais, não tratamos de tais assuntos materiais.
Procurar burro? Não é possível!"
O cidadão, muito triste e desenxabido, pediu-me desculpas, e me estendeu a mão para se despedir.
Senti a mão forte, de homem sincero e trabalhador.
Era toda calos.
Quando a apertei, parei um pouco e obtemperei:
“Afinal, que burro é esse?”
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:48 pm

Ao que esclareceu:
“Sabe, Dr. Mário.
É o meu único instrumento de trabalho.
Sem o burro, a minha família passará fome"; e, em dizendo isto, mostrou as crianças e a esposa, já bastante judiadas pela vida.
Entendi, de pronto, que o problema, para ele, era grave e importante.
Furando uma enorme fila, levei-o a conversar com um Guia Espiritual,
espírito bondoso que o atendeu carinhosamente, prometendo-lhe auxílio.
Ele e os seus irmãos da espiritualidade iriam procurar o burro.
No dia seguinte, de manhã, o campónio apareceu sorridente em casa, com a sua carrocinha e fiquei conhecendo pessoal mente o burro serviçal.
Desde então, passei a ter paciência com aqueles que têm título apontado, perdem tudo nos negócios e podem ter até os seus instrumentos de trabalho penhorados pela Justiça que, infelizmente, não tem coração.

TEMA PARA REFLEXÕES:
Não só uma obra é caridade - O encorajamento do que caiu - A piedade - O calor humano - A compreensão.

QUE É CARIDADE?
- Há milhões de formas de dizer o que é caridade.
Ela, sem dúvida, é apanágio do amor.
Onde existir amor, a caridade se manifesta “Amai-vos uns aos outros e fazei aos outros o que quereríeis que voz fizessem”.
“Toda a religião, toda a moral se acham encerradas nestes dois preceitos.”
E o maior dos preceitos cristãos.
Daí que Kardec tenha também tomado o preceito como básico para o próprio exercício da fé:
“Fora da caridade não há salvação”.
Que nos adiantaria alcançarmos o pináculo do conhecimento, se esse conhecimento não fosse útil a ninguém.
Temos de dar luz aos que não a tem e servir a quem necessita.
Uma sugestão faz-nos o Divino Mestre:
“Aquele que receber um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe; e aquele que me receber, recebe não a mim, mas aquele que me enviou". (Marcos, 9:36)
Ele sabiamente reunia o caridoso, à Sua pessoa e a Deus. Queria significar que os homens, pelo amor, podiam alcançar a Ele e a Deus.
E esta seria a finalidade do mundo.

A CARIDADE É SEMPRE MATERIAL?
- Não, pelo facto de que então seria inacessível ao que não tivesse bens e nem condições de angariá-lo.
A humanidade cobriu os territórios ocupados pelo cristianismo de templos monumentais, e os homens iludidos com isto procuraram homenagear Deus com obras de pedra.
A partir de alguns séculos, a caridade cristã foi esquecida.
O Espiritismo veio para lembrar o esquecido.
Por esta razão, ele coloca no coração toda fortuna a ser amealhada.
Isto é, buscamos recursos, não para nós, mas para exercer o nosso ministério de servir.
Sobretudo, se somos fraternos, devemos sê-lo a toda prova.
“A caridade moral consiste em suportarem-se uns aos outros, e isso é o que menos fazeis nesse orbe inferior onde vos encarnastes provisoriamente."
(“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Irmã Rosália, Cap. 13.)
Temos de procurar o pobre envergonhado, o qual não se encontra nas filas como pedintes; fazermos-lhe a caridade sem exibição, enfim, exercermos a prescrição de Jesus.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:49 pm

20 - AS PEDRAS DO CAMINHO
Da janela de um apartamento à beira-mar, eu observava os moleques numa pelada animada.
O campo escolhido era um trecho de rua de areia, destas muitas que se perdem na praia Para assinalar a meta, utilizaram quatro pedras enormes.
Empenhei-me, assim ao longe, de corpo e alma, no match, a que hoje se dá o nome de “racha”.
A partida terminou ao escurecer, e todos os guris de repente se foram, como que por um toque de mágica.
O tempo virou durante a noite, e a visibilidade, por ali, caiu a zero.
No dia seguinte, do mesmo jeito.
Por se tratar de domingo, o trânsito aumentou sobremaneira.
As quatro pedras, assinalando a meta, continuaram incólumes.
Os carros, em disparada, passavam tirando lascas das mesmas.
Outros, eram obrigados a manobras difíceis, quase que trombando com o veículo que vinha em direcção contrária.
Dois deles, manobrando com infelicidade, caíram numa faixa de areão e ficaram atolados.
Ninguém, daqueles que passavam por ali, ou mesmo dos que enfrentavam o problema, se dignou de tirar tais pedras do caminho.
Até que, por fim, um turista, secundado por sua esposa e filhos, com dificuldade, rolando tais pedras, colocaram-nas amontoadas à margem da rua.
A barra estava aberta.
Dali por diante, todos continuaram a transitar, sem risco algum, mas, ignorando que apenas um coração generoso, acompanhado dos seus familiares, havia lhes servido de anjo de guarda.
A cidade grande faz aumentar em nós a irascibilidade, a impaciência, a truculência, e passamos uns a espezinhar os outros, para que o inferno venha a nós, mais rápido do que o “reino dos céus” que pedimos na oração dominical.
Todavia, Deus, através dos seus filhos de boa vontade, assiste-nos de algum modo.
E um velho aposentado, chamado Castilho, foi inspirado a este tipo de tarefa angélica.
Frequentava o supermercado, excessivamente congestionado, e guardava na longa fila, pacientemente, um lugar para qualquer pessoa cega, aleijada, ou portadora de problemas físicos ou psíquicos.
Não só, ali, mas ajudava uma criança a atravessar a rua de movimento, segurava alguns pacotes para uma senhora que necessitasse subir no ónibus.
Tomava conta de qualquer carro cujo dono tivesse largado aberto e, algumas vezes, teve de tomar conta de bebés, cujos pais entraram no cinema.
Quando um forasteiro lhe vinha ao encontro, perguntando onde ficava tal casa, em determinada rua, prazerosamente, acompanhava-o. até o local.
Mil e um servicinhos úteis prestava ao semelhante, de tão bom coração, sem ganhar um ceitil sequer, que à noite dormia bem, sentia um acolhimento cheio de ternura por parte da esposa, dos filhos e netos.
É muito difícil que uma família tenha muita paciência com um velho, pois, passam a tratá-lo, inconscientemente, como um traste inútil, que ocupa lugar e até atravanca a passagem dos familiares que têm muita ocupação.
“Ninguém responde perguntas de velho” - diz um cómico.
Tampouco, gostam de ouvir as suas lengalengas em tom de hora da saudade.
Então, é fazer o que ensina Dale Carnegie:
“Se lhe derem um limão, faça uma limonada.”
Numa pequena cidade dos Estados Unidos, os seus moradores desenvolveram uma mentalidade altamente acolhedora, de tal forma que, ao chegar um novo morador, todas as dificuldades lhe eram sanadas.
Um levava-o a conhecer o clube, outro emprestava-lhe a máquina de cortar grama, este facilitava-lhe a matrícula dos filhos, aqueloutro arranjava-lhe um carreto ou lhe procurava a faxineira.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:49 pm

Por que, afinal de contas, não levamos o filho do vizinho ao Colégio e não poderia ele trazer o nosso?
Se Deus nos colocou no mesmo barco, fez isto para que nos suportemos reciprocamente, equilibrando-nos um no outro, constrangendo-nos a tal necessidade, a fim de que, na escolinha da vida planetária, aprendamos a ser humildes servidores.

TEMA PARA REFLEXÕES:
O cuidado - a desatenção - o desleixo - nós e a comunidade ou o Governo.

COMO ENTENDER O PROCEDIMENTO DO HOMEM CORRECTO PERANTE A COMUNIDADE?
- Bastaria ele estudar a vida das abelhas e saberia como deveria ser o indivíduo em relação à comunidade.
Há tão derramado espírito de sociabilidade que as abelhas se parecem com as células do nosso corpo e a colmeia um ente colectivo, cada qual no seu trabalho individual, mas, todas substituindo, socorrendo, limpando e combatendo.
Mas, os homens são diferentes: cumprem a sua função, geralmente a contragosto; por isto ou aquilo que os desagrada, tornam-se desleixados.
Esperam tudo do Governo.
Um buraco na rua não os move a providência alguma; se a ponte está para cair, deixam que caia; se os ratos estão lhe invadindo o quintal, não os matam, pois, preferem telefonar à Saúde Pública; consentem que o belo jardim, no qual passeiam, seja depredado diante dos seus olhos, e não dizem uma palavra de condenação.
Temos de transmitir, às novas gerações, um conceito diferente de individuo e Estado, evitando que os jovens concebam duas entidades contrastantes e até inimigas.
O Estado é simples figura para fins administrativos com certas competências legais, enquanto que a Nação somos todos nós.
Aquele cidadão teórico de Rousseau inexiste.
Somos pais, irmãos, motoristas, jardineiros, comerciantes, médicos, advogados, funcionários públicos, professores e, sobretudo, brasileiros.
Se alguém polui uma praia, está estragando um património de todos nós e criando situação para a proliferação de doenças epidémicas.
A própria segurança não é só da Polícia, mas, também, de nós que devemos auxiliá-la.
No Trânsito, a mesma coisa.
Na conservação dos rios e matas, outro tanto.
Tudo então se tomará mais fácil, quando nos conscientizarmos disto:
que o Estado, realmente, ao contrário da famosa exclamação de um rei absolutista, somos nós.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:49 pm

21 - O PARAÍSO DAS LESMAS
Conta uma crónica publicada nas “Selecções do Readers Digest” que, um capitão de indústria e empresário de nome internacional, acostumado a ser acatado e recebido com deferência, onde andasse, até mesmo pela casa imperial, vítima de um insulto cardíaco, morreu instantaneamente.
Foi recebido no Além com honras e salamaleques.
Colocaram-no em rico palácio, cheio de candelabros e colunatas de mármore.
Havia mordomos e criados para atender o magnata nos mínimos desejos.
Se pensasse no charuto de Havana, a que se habituara, logo traziam-lhe, não só dessa qualidade, mas de muitas outras.
Os mais genuínos e puros uísques escoceses sabiam-lhe bem ao paladar, tanto quanto o champagne Pomery, de idade provecta.
No princípio, como já era exaltado, acreditava até mesmo na sua prosápia, sentia-se mais ainda elevado, pois que, se dominara o mundo material, espalhando-se através das suas multinacionais, agora, sentia que, além de ser rico, deveria ser um homem que agradava a Deus.
Com o tempo, ele foi se enfastiando daquela solicitude, daquele estilo de vida, na qual tudo lhe vinha às mãos, sem que tivesse que determinar qualquer coisa.
Aquela rotina vazia, sem objectivo e preocupações, foi-lhe fazendo mal.
Começava a sentir-se derreado.
Até a sua mente parecia agora congelada.
Foi, então, que chamou o mordomo, e ainda arrogante determinou:
Arranja-me algo que fazer.
Necessito trabalhar.
Sem ocupação alguma, acabarei louco varrido."
O mordomo, então, polidamente lhe explicou:
Meu senhor, trabalho neste lugar é justamente a única coisa que não encontramos.”
O poderoso homem que se julgava no céu, usou de mais energia: Se eu não posso trabalhar,
aqui, prefiro ir para o inferno.”
O mordomo sorriu maliciosamente e redarguiu:
Mas, meu senhor, onde pensa que está?”
- Onde?” - insistiu.
Ao que o mordomo, secamente esclareceu:
No próprio, inferno, na dura..." 2
Pelos relatos que nos chegam, pelas vias medianímicas, as regiões de inactividade ou indolência ficam no astral inferior e não superior.
O céu seráfico, modorrento, com todos aqueles querubins e anjos tocando harpa, é uma quimera.
E realmente, com o tempo, ninguém aguentaria mais uma nota só da harpa de Santa Cecília.
As almas de eleição e nobreza trabalham pelo seu e pelo progresso dos outros, daí que Terezinha do Menino Jesus exclamasse:
“Quero passar o meu céu, fazendo o bem sobre a Terra”
Um dia, perguntei ao espírito daquela que foi minha mãe carnal, falecida faz muitos anos, qual a razão por que ela não ficava descansando no Além, se na vida física trabalhara exageradamente, criando onze filhos e ajudando, no trabalho árduo, o meu pai, e ainda estendendo o seu manto protector, a sua solicitude, as suas providências e auxílios a todo e qualquer deserdado da sorte.
Qual era essa de, pouco depois da desencarnação, estar metida nas campanhas do Grupo Espírita e, da mesma forma, nos entusiasmando para uma acção desenvolta no campo da caridade?
A tais indagações, respondeu:
“Quando aqui cheguei, puseram-me num lugar aprazível, para descansar.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:50 pm

Não demorou para que eu ficasse enfadada e pedi ao mentor para voltar à crosta e, ombro a ombro com os seareiros, distribuir palavras de consolação e activar a caridade *
Eu acredito e sei que assim é:
Somente os espíritos menos edificados constroem, no Além, verdadeiras cidades de gozo e usufruição.
Existem Sodomas e Gomorras onde se juntam ociosos e vivem em permanente sonho voluptuoso.
A inacção é um estado de ânimo que contraria a vida.
Nem mesmo Deus podemos concebê-lo na inacção.
Através de uma crónica, Irmão X, em sua obra “Luz Acima"3, conta-nos a história de um cidadão chamado Joaquim Pires, religioso íntegro que dava o bom combate não só às suas paixões, como demonstrava uma caridade sincera e desinteressada, inspirando-se no Evangelho.
Não obstante não tivesse sido provado em situações de vida realmente difíceis, ele não tinha medo algum de morrer.
Morreu, pois, e lá se foi para uma cidade celeste resplendente.
Um simpático mensageiro veio recebê-lo no limiar e Joaquim Pires lhe manifestou a sua estranheza.
Aquele lugar lhe parecia mais uma colmeia de trabalho, do que lugar de descanso para os que tinham labutado na Terra.
Ao que foi informado de que, ali havia chefia e subalternidade, servidores melhores e piores, estudos e provas, e consequentemente reparações e punições, desequilíbrios e dificuldades.
Joaquim Pires não se deu por vencido, e insistiu:
— Procuro o repouso inalterável — Quem sabe resplandece em esfera mais elevada o céu que busco?”´
O mensageiro muito paciente e de bom humor esclareceu-o:
Parece-me que o paraíso, sonhado por você, é o éden da espécie ‘Umax ar- borum*.
Essas criaturas, que no fundo são igualmente filhas de Deus, organizam o próprio lar, através de folhas e flores.
Aquietam-se e dormem descansadas sob a claridade do firmamento.
Nada perguntam.
Não riem, nem choram, desconhecem os enigmas.
Não sabem o que vem a ser aflição ou dor de cabeça.
Alimentam-se daquilo que encontram nas árvores preciosas da vida.
Ignoram se há guerra ou paz, dificuldade ou pesadelo entre os homens.
Vivem alheias aos dramas biológicos, aos conflitos espirituais e, sem um cataclismo fulminasse o Universo em que nos achamos, não registariam grandes diferenças...”
Só assim Joaquim Pires se animou, pois, aquele mundo correspondia ao seu ideal, pelo que indagou:
“- Quem são esses seres privilegiados?”
Ao que o mensageiro lhe respondeu:
São as lesmas e se você descer, suficiente
mente, encontrará o paraíso delas—”
Assimilando a lição, Joaquim, finalmente, resolveu entrar na cidade celeste...

2 (*)0 presente relato, evidentemente, se trata de ficção do articulista Alex F. Osborne, incluído no repertório das “Selecções”, 1944

TEMA PARA REFLEXÕES:
A inacção - contemplatividade - mortificação - a carne é do diabo? - a fuga para alcançar santidade.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:50 pm

PODERÁ O ESPÍRITO PROGREDIR LIMITANDO-SE A NÃO FAZER O MAL?
- Muitos homens de saber criticam o Decálogo pelo facto de ter sido redigido só no negativo:
“Não fareis isto, não fareis aquilo”.
Alguns pedagogos consideram que até mesmo a educação da criança, principalmente no lar, viciou-se, por tradição, à prática da repressão, e a religião enfatizou este aspecto negativo, a ponto de, na adolescência e juventude, o rapaz tomar Deus como figura repressiva, os pais, também, e até os governos.
Com isto, na menoridade são levados ao Culto ou à Missa, pelas mãos dos pais, mas, depois, não querem saber de religião alguma.
Educação é ensinar a viver, crescendo; entretanto, na ânsia de conquistar o céu, passaram a fomentar o culto à morte e o profundo desprezo à vida.
Houve um tempo, o da Idade Média, que todo o planeta Terra se cobriu de crepe.
Os homens valorosos, sadios e fortes se ocultavam nas grutas, para fugir ao pecado.
Certos lamas budistas chegavam a ser emparedados.
Os conventos e eremitérios povoaram o mundo.
A carne se tomou coisa do diabo.
O pecado original ferreteou o homem, desde o seu primeiro vagido.
A conjunção carnal, uma obscenidade.
A castidade e a virgindade se constituíram em signo indispensável à santidade.
Tudo foi diabolizado, até mesmo o amor entre enamorados e a manifestação mais bela de Deus, a natureza.
O Espiritismo nos dá um entendimento diferente.
Não existe nada de mal intrínseco na matéria.
O mal maior está na cabeça do maldoso.
O berço que Deus nos conferiu é digna oferta de um Pai amoroso:
tão esplendidamente belo e capaz de nos alimentar e agasalhar a todos.
O egoísmo humano é que o deturpa com a posse e a avareza.
A mulher nunca foi, nem poderia ser amaldiçoada por Deus.
Ela é a companheira do homem.
Os filhos são frutos dessa união bendita por si mesma, sem necessidade de sacramento.
Estamos todos, homens de diferentes raças ou credos, metidos na mesma barca, e nenhum é eleito ou, tem passaporte especial.
Temos de chegar a um Porto, e essa barca deve ser conservada, consertada, embelezada, musicalizada; a viagem deve ser alegre, descontraída, em convivência amável.
A alegria sã nunca foi pecado.
Os próprios pássaros saltitantes nos mostram, e para este facto Jesus nos chamou a atenção:
“eles não tecem, nem fiam”.
“Por que vos preocupais demasiado?”

3 O Psicografada por Francisco Cândido Xavier, Editora FEB, Cap. 32.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:51 pm

22 - A MALEDICÊNCIA
Não sei de nada mais funesto para a harmonia comunitária do que a maledicência.
Em compensação, não conheço nenhum instinto mais desperto na criatura do que este de levianamente referir-se aos outros.
Com que entusiasmo e alvoroço os co-participantes de uma reunião se põem a debicar à maneira de pardais um motivo de escândalo.
Uma roda morta se torna viva, se nela sopra tal vento, revelando que, em baixo das cinzas, dormitam brasas crestantes de malignidade agressiva em cada um de nós.
“Fulano de Tal é excelente criatura, bom mesmo... gosto muito dele, mas, vocês sabem..-.."
E, daí, em diante, começam a debuxá-lo a carvão.
O extraordinário autor espiritual, Emmanuel, nos diz que, todas as vezes que diminuímos um semelhante, caímos na mesma faixa do denegrido, donde verificarmos amiúde que temos a tendência de praticar os mesmos erros e abusos que, com tanta paixão, condenáramos antes.
O pensamento emitido, denso e inferior, volta em ricochete ao emitente.
Como energia plasmante de tremendo conteúdo vibratório, o pensamento se torna causa e efeito, como o símbolo da serpente que morde a própria cauda.
Quando o homem pensa mal, ele também se torna mau.
A criatura tem um pensamento cruel e o pensamento cruel lhe cria um automatismo de crueldade.
A pessoa que se iniciou na crueldade por invigilância, às vezes, na qualidade de um comando ou subalterno para cumprir as ordens do chefe, poderá se tomar presa dessa teia de aranha, geralmente invisível, aparentemente frágil.
Isto não é digressão gratuita Um amigo meu, jovem de inteligência promissora e carácter sem jaça, formando-se em advocacia, ingressou na carreira policial, sendo lotado em sector violento de furtos e crimes, no qual devia ser duro como aço.
Ele tinha excelente formação de tolerância e bondade, mas, tanto simulou dureza para arrancar dos indiciados as confissões, e se ambientou àquele modo de ser grosseiro que, esposa e filhos, parentes, amigos, não o reconheciam mais.
Tornara-se rompante e áspero, ele que fora dócil e educado.
É de se ver que tanto no mundo físico, quanto no espiritual, nada estaciona Ou cresce ou diminui.
Assim, a maledicência que começou como prática passageira, apenas para que pudéssemos fazer média com os nossos companheiros, a fim de vitalizar o bate-papo ou porque houvéssemos pretendido alargar a nossa intimidade com os interlocutores, mostrando-nos mais interessantes de prosa e assunto, acaba se nos tornando hábito arraigado.
Todavia, pior do que tudo isto é o estado do maledicente no pós-morte.
Os males que semeou contra alguém se assemelham às gotículas de um pulverizador que se espalham no ar e, depois, nem sabemos mais identificá-las, ou então, à poeira que levantamos, vem o vento e assopra-a para todas as direcções, sem que possamos reunir os grãos e impedi-los de continuar a sua acção nefasta.

TEMA PARA REFLEXÕES:
A maledicência - lei de acção e reacção - A maldade espalhada como poeira é difícil de ser anulada.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:51 pm

QUE VEM A SER A MALEDICÊNCIA?
- É o mal praticado através da palavra escrita ou falada.
Está quase sempre ligada à difamação e o autor revela leviandade.
No entanto, ela pode ser cometida por falta de vigilância.
Comum é ela nascer do estímulo de conversas banais, principalmente em reuniões sociais.
Sob a inspiração do Espiritismo, não importa que a vítima da nossa maledicência tenha tais defeitos, vícios ou falhas, pois significa falta de caridade expô-la à execração ou simples
julgamento público, primeiramente, pelo fato de que não é fácil julgar; segundo, pela razão de que não nos cabe assumir uma função para qual não recebemos nenhuma delegação; terceiro, pelo facto de que um magistrado sabe a pena que aplica ao indiciado, segundo o capitulado no Código Penal, enquanto que o maledicente ignora quais os males que advirão ao seu réu.
A maledicência pode levar a vítima ao suicídio, à falência, à desintegração da família e até mesmo ao crime.
Há um outro aspecto terrível.
Se tiramos um objecto de alguém, podemos restitui-lo; se o machucamos fisicamente podemos pedir-lhe perdão e ajudá-lo no tratamento; se omitimos em nosso trabalho, podemos trabalhar dobrado e corrigir os erros, mas, a maledicência equivale ao ato de jogarmos poeira no ar.
Vem o vento e leva-a por toda parte.
Não há mais condições de juntá-la de novo.
E mesmo, no tempo, a maledicência contra a mãe, poderá desgraçar filha e até a neta, muitos anos depois!
As vezes intoxica por muitas gerações.
Sobretudo, nesta questão de maledicência, nela entra sempre uma terceira pessoa anónima, inqualificável, sem identificação, à qual nos reportamos com a expressão: “disseram”, “comentaram”, etc.
E isto deve nos levar à prudência de nunca transmitirmos fatos que denigram o próximo, apenas por “eles terem falado”.
Eles quem?!
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:51 pm

23 - REFERÊNCIA À VIDA
Aquela singular criatura humana que se chamou Albert Schweitzer, que granjeara fama na Europa pela sua grande cultura, conhecimentos científicos e, sobretudo, como o maior intérprete de Bach, um dia deixa a civilização, interna-se nas florestas da África Equatorial Francesa e, ali, não dispondo de meios essenciais, começa a cuidar dos negros doentes, principalmente leprosos.
Ele foi cognominado “O Profeta das Selvas”.
A sua própria vida, inspirando os seus pensamentos, tinha um profundo significado na decifração da palavra de Deus, que podemos 1er no semblante do homem sofrido e de quem busca aliviar-lhe o sofrimento.
Naqueles cenários de abandono, solidão e despedaçamento do ser humano, na mais absoluta miséria e sob o guante da hanseníase, numa comunidade chamada Lambaréné, ele, na escuridão, luzia como a estrela-d’alva.
Lutava com todo empenho para salvar uma vida que fosse, enquanto que, no mesmo instante, na Europa, estavam destruindo estas mesmas vidas aos milhões, na Grande Guerra de 1914.
Foi, então, que enunciou a sua filosofia.
Fê-lo quando recebeu um chamado de N’Gomo, que distava rio acima, a 250 quilómetros, para socorrer a esposa de um dos missionários.
Enquanto a barca singrava as águas, no entardecer do terceiro dia, lhe nasceu na mente, uma expressão significativa, a qual buscara, até então, sem encontrá-la:
Reverência à Vida.
E monologava:
“Eu sou vida que deseja vida, no meio da vida que quer viver."
Afinal, a vida não era um simples caleidoscópio, homens andando, seres engordando ou emagrecendo.
O mundo não podia ser unicamente notícia, confecções e consecuções.
O mundo para Albert Schweitzer continha vida, e isto era o principal.
Então dizia:
“O mundo não consiste só de acontecimentos, contém vida também, e eu tenho de estar em relação não só passiva, mas também activa, com a vida do mundo, na medida em que ela se põe ao meu alcance.
A ética da Reverência á Vida ê a mesma do Amor, ampliado até à universalidade.
É a ética de Jesus, agora reconhecida como uma necessidade do pensamento.”
Tempos atrás, da janela do pavimento superior de um edifício, na Cidade Ocian, pus-me a contemplar a Praia Grande de dezenas de quilómetros, coalhada de gente e comecei a reflectir sobre a razão de ser de tantas criaturas, bípedes implumes, que tomavam de assalto aquela orla banhada pelo Atlântico.
Tantos rostos, tantas pernas, tantos corpos enxutos ou flácidos, uns morenos, outros tostados, moços, mocinhas, meninos, crianças, estas correndo atrás de uma bola, o velho saltando exageradamente como se tivesse vindo ao mundo ainda ontem, a beldade espreguiçando-se ao sol, como um jacaré modorrento.
Alguns homens empurrando pesados carrinhos, senhoras carregando cestas, ofertando milho verde, quitutes, paçocas e amendoim aos turistas!
E um som cavo, enorme, ligando outros sons entre si, de mole humana, e a voz, também, rouca e misteriosa do mar, querendo, sem poder, nos dizer alguma coisa.
Trinta anos atrás, eu havia percorrido aquela praia, e ela era coalhada de aves, insectos e outros pequenos animais que se escondiam ao menor ruído dos meus passos.
Sentia, naquela vastidão de areia, de sol e de água, uma atmosfera romântica como se fosse, de repente, deparar com Iracema, a virgem dos lábios de mel.
Qual o sentido desta invasão?
Homens por toda a parte, ocupando todos os espaços, o que havia causado estupefacção a Ortega y Gasset, em “La Rebelión de Ias Masas”.
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Ago 13, 2019 7:52 pm

Aquela gente toda, disputando um espaçozinho diante do Pai-Mar ou da Deusa-Mar, Neptuno ou Iemanjá, era a mesma Vida que impusera o seu domínio, milhões de anos passados, manifestando-se em formas inferiores, mas que, agora, se exibia como homem feito.
A Vida viera do mar e exibia-se exultante diante dele, como se fosse o filho crescido, de que se orgulhava, voltando ao lar antigo.
A Reverência à Vida, por esta razão, mereceu de Albert Schweitzer todo o seu saber e dedicação.
No entanto, nós kardecistas, que temos a felicidade de possuir uma óptica mais vasta, que abrange a evolução em dois mundos, apalpamos campos de vida em planos pluridimensionais, estamos mais capacitados a compreender que, além deste painel, que contemplamos com os olhos físicos, outros painéis se desenrolam, e neles a Vida toda é meio de manifestação do Espírito, para que a seiva se alambique, se torne cada vez mais essência.
Todo animal é sagrado e o homem mais ainda, porque foi uma conquista trabalhosa, através de mil e um tenteios da natureza, nesta estrada ascensional a Deus.

TEMA PARA REFLEXÕES:
A vida - A Reverência à vida e aos seres vivos, nossos irmãos, ao homem e a Deus - Dela decorre a zelo pelo meio ambiente - a ecologia.

QUE DIZER DA REVERÊNCIA À VIDA?
- Importa no reconhecimento de uma verdade importante: a de que somos um ser vivo e de que atrás de nós, numa fieira que se perde nos confins da história natural, se situam todos outros seres vivos.
O estofo da vida à qual chamamos pelo nome de biosfera se constitui numa camada à qual pertencemos, como homens.
Para explicar a génese, isto é, o começo do mundo, em linguagem poética da mais remota antiguidade e própria do oriente, Deus criou Adão e Eva, o primeiro casal, como entes à parte, de forma especial.
Lê-se, na Bíblia, que o próprio animal foi feito para sujeitar-se e servir ao homem!
Só mais tarde, com o progresso da ciência, se constatou que a vida surgiu simples, e do protozoário unicelular, foi se desenvolvendo, unindo-se uns a outros, até chegar à formação de todos os animais, até ao homem.
Por esta razão dizemos que a árvore da vida, que contêm o desenho de todos os espécimes, tem semelhança com a árvore comum, a qual nascendo de uma simples semente, plantada pelo Grande Jardineiro Celeste, foi crescendo, crescendo, cada vez soltando mais galhos, encorpando e se diversificando.
A linha de desenvolvimento filogenético não se deu por acaso, mas, de acordo com uma ideia-matriz, o Pensamento Divino em processos de materialização.
O Espiritismo contém em si um aspecto religioso, mas, como nenhuma outra experiência antecedente em tal sentido, é aquela que olha o enigma e o decifra pari passu com a ciência, e ainda acima dela Daí que Kardec pondere:
“Não dissemos que tudo se encandeia na Natureza e tende à unidade?
É nesses seres, que estais longe de conhecer totalmente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e ensaia para a vida.
E, de alguma sorte, um trabalho preparatório, como o da germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se toma Espírito."
Se estamos vivendo corporalmente, embora com a nossa contra-parte espiritual, somos filhos da Terra e irmãos de toda a criação, e devemos muita reverência à vida, pois, se a destruímos, fazemo-la a nós mesmos e perturbamos os desígnios de Deus.
Dupla falta essa, a de destruir as florestas, poluir os rios e matar indiscriminadamente os animais.
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