LUZ ESPÍRITA
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Criticando Kardec

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 15, 2013 10:42 pm

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A história dos Estados Unidos, em especial, apesar de conter vários elementos interessantes e progressistas, está repleta de atrocidades e de mentiras, não fugindo muito ao normal das criações humanas da época.

- Emmanuel afirma que o ataque de Filipe II à Inglaterra com a "Invencível Armada" se deu na ausência de qualquer motivo, apenas pela intolerância religiosa e por motivos pessoais do Rei. p.181/182.

Comentário: havia motivos fortíssimos para a investida de Filipe II contra a Inglaterra, religiosos e pessoais com certeza também, mas principalmente político-económicos, como o apoio dado pela Inglaterra aos revolucionários dos países baixos nas lutas de libertação contra a Espanha, e também o apoio da Inglaterra aos corsários que saqueavam os navios espanhóis vindos das Américas carregados de ouro e prata e os repassavam à Inglaterra, o mais famoso deles Francis Drake.

Sem dúvida, fazem parte dos motivos torpes que, sempre, estão por trás das guerras e conflitos entre nações.
Mas suficientes para não justificar uma defesa da Inglaterra e uma condenação da Espanha, como faz Emmanuel.

- Falando da situação mundial às vésperas da Segunda Grande Guerra, Emmanuel afirma:
"Onde os valores morais da Humanidade?
As igrejas estão amordaçadas pelas injunções de ordem económica e política.

Somente o Espiritismo, prescindindo de todas as garantias terrenas, executa o esforço tremendo de manter acesa a luz da crença, nesse barco frágil do homem..."
- p.209/210.

Comentário:
Pessoalmente, acho essa afirmação uma grande falta de respeito e de sentimento cristão.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 15, 2013 10:42 pm

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Chico Xavier
Emmanuel
Emmanuel - Há Dois Mil Anos
-1938
FEB

- Segundo Chico Xavier, Emmanuel afirma ter sido Publio Lentulus.

Este livro é a narrativa do próprio Emmanuel (psicografada por Chico Xavier) sobre sua encarnação na época de Cristo como Publio Lentulus (segundo ele, um senador romano). - p.9.

Comentário:
Mais acima, descrevi os problemas ligados à controvertida figura de Publio Lentulus.

- Ao narrar os acontecimentos, Emmanuel recorre sempre a datas tradicionais para os eventos do Novo Testamento, datas estas que são muito contestadas por vários estudiosos de assuntos bíblicos actualmente. - p:33/133/.

- Caracterização historicamente errada e incoerente (incoerente com relação a outras partes do próprio livro) de Pôncio Pilatos:
não havia reclamações do povo contra Pilatos junto a Lentulus ou identificação de escândalos administrativos até o momento em que Lentulus ficou contra Pilatos, e, posteriormente, tais reclamações e identificação de escândalos passaram a abundar. p:56/174/177/214;

Pilatos é retratado como respeitando o Sinédrio, p-60;
era possivelmente do conhecimento de Pilatos o potencial subversivo e revolucionário do fenómeno "Jesus", sem que isso lhe despertasse a esperada motivação executória, p-77;

Pilatos fala a favor de Jesus, p-137/138/140/143/144/145;
Pilatos condena Jesus movido, segundo Emmanuel, pelo "mais singular dos determinismos", p- 143/144/145;
Pilatos lava literalmente as mãos, p-145.

Comentário:
estudiosos de assuntos bíblicos retratam Pilatos como um homem brutal, que desrespeitava muito mais os costumes e prerrogativas judaicas do que a média dos romanos, e que não hesitava em executar sumariamente quaisquer judeus que lhe criassem problemas.

Os relatos dos evangelhos seriam bem diferentes do verdadeiro Pilatos, retratando-o como um homem muito mais fraco do que mau.

E isso de modo crescente, desde o mais antigo dos evangelhos até o mais recente.
A culpa da execução de Jesus recai sobre os judeus, e quase nenhuma culpa é atribuída aos romanos.

Em "Há Dois Mil Anos", tal situação é ainda muito mais exacerbada!

Emmanuel chega a afirmar que Pilatos foi movido pelo "mais singular dos determinismos", e quem quer que leia o livro ficará com uma impressão de culpabilidade dos judeus (e de inocência relativa dos romanos) muito maior do que se tivesse lido qualquer um dos evangelhos.

Alguns estudiosos afirmam que o acto de "lavar as mãos" com a intenção que lhe teria dado Pilatos era na verdade um costume judaico, sugerindo que tal trecho retratando um romano executando tal acto seria uma invenção dos que escreveram os evangelhos.

Já ouvi outros estudiosos afirmarem justamente o contrário, que os romanos tinham tal hábito também.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 15, 2013 10:43 pm

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- André de Gioras (revolucionário judeu, cujo filho foi mandado para os trabalhos forçados por Lentulus) e Sêmele (serva judia a serviço da esposa de Lentulus), vestidos de romanos, falam em aramaico, e são ouvidos por Sulpício (soldado romano; as palavras ouvidas seriam: "nosso segredo"), estando esse escondido a alguns passos, em latim! - p-105/106.

Comentário:
nesse episódio, André e Sêmele raptam o filho de Lentulus por vingança, estando vestidos como os romanos com intenção de não despertar suspeitas.

Isso leva o oficial romano Sulpício (que estava os observando escondido a alguns passos deles sem que eles soubessem) a pensar que estivesse vendo a esposa de Lentulus e Pôncio Pilatos (e teria então imaginado que eles eram amantes, e que ela lhe teria entregue o próprio filho ainda neném, traindo brutalmente o marido Lentulus).

Acontece que dificilmente André e Sêmele teriam falado em latim.
Muito mais provavelmente devem ter falado em aramaico!
Igualmente, seria muito difícil que Lívia, esposa de Lentulus, tivesse falado com Pilatos em aramaico.

Muito provavelmente teriam falado em latim, se fossem ela e Pilatos que estivessem lá.

Logo, esse parece ser um ponto provável de incoerência no livro (que foi escrito em português...), porque se o soldado romano Sulpício tivesse ouvido o que lhe pareceu serem Lívia e Pilatos (dois romanos) falando em aramaico(!), isso lhe teria causado profunda estranheza.

Como ele nada estranhou, só pode tê-los ouvido falar em latim (!).

Só que na verdade não eram Lívia e Pilatos que falavam em latim, eram André e Sêmele!
Note-se que esse se trata de um episódio crucial na vida de Lentulus, não se tratando de facto periférico da narrativa.

(Vítor Moura, que tem me enviado diversas colaborações, remeteu perguntas a uma pessoa de suas relações que tem algum conhecimento de história do período de Cristo, que respondeu dizendo que os personagens em questão teriam falado grego no episódio descrito acima.

De facto, o grego era uma espécie de língua franca em muitas regiões do mediterrâneo oriental, e não é de facto impossível que tal idioma tenha sido o utilizado em tal ocasião, suavizando ou até mesmo eliminando o problema apontado por mim neste ponto
).

- Narrativa exacerbadamente tradicional quanto à chegada de Jesus a Jerusalém, com todo o povo judeu saudando-o no começo, e todo o povo judeu condenando-o depois, ao contrário do que alguns estudiosos de assuntos bíblicos julgam ser o que de facto teria ocorrido.

Escrito às vésperas da segunda guerra mundial, e já sob as perseguições de Hitler aos Judeus na Alemanha.
p-134/137/138/139/140/143/144/145.

- Emmanuel diz que várias pessoas buscaram Lentulus pedindo a ele para intervir a favor de Jesus (e Lentulus, fatalmente, teria repassado quaisquer pedidos nesse sentido para Pilatos);
e depois, afirma que ninguém buscou junto a Pilatos uma intervenção a favor de Jesus, p- 136/145.

- Lentulus diz que a lei romana não admite execuções do tipo que os judeus pediam com relação a Jesus:
"...se a decisão dependesse tão-somente de mim, fundamentá-la-ia em nossos códigos judiciários, cuja evolução não comporta mais uma condenação tão sumária como esta, e mandava dispersar a multidão inconsciente à pata de cavalo."
(respondendo a um pedido de um conselho de como deveria agir, feito por parte de Pôncio Pilatos). p-144.

Comentário:
Isso parece contrário à realidade da prática de Roma para com situações similares.
Aumenta a inocência romana e a culpa judaica, contrariamente ao que os registos históricos parecem de facto indicar.

- Jesus, já há algum tempo desencarnado, aparece a Lentulus, e prevê a volta e o crescimento do mal no mundo, apesar de em "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", se mostrar surpreso com tal retorno e crescimento. p-353.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 16, 2013 10:36 pm

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Chico Xavier
Emmanuel
Vida e Sexo
- 1970
FEB

- Emmanuel afirma que sempre que escolhemos alguém para união conjugal e só depois do casamento percebemos gravíssimos defeitos conjugais no companheiro escolhido, estamos diante de criatura ofendida por nós em outra vida (ou seja, diante de débito cármico). p-44.

Comentário:
a rigor, não há como dizer que essa afirmação seja realmente um erro.

Ela é, contudo, uma afirmação que leva-nos a uma postura de encarar como débito nosso o problema conjugal descrito acima (incluindo possíveis sentimentos de culpa associados a isso), estimulando-nos (quase constrangendo-nos, talvez) a permanecer na relação problemática.

Se realmente a afirmação de Emmanuel for incorrecta, então ela se reveste de uma gravidade muito grande, por impingir-nos uma culpa indevida.

É importante assinalar, contudo, que nessa mesma obra, Emmanuel fala da não obrigatoriedade de termos que aguentar o peso de uma relação conjugal infeliz, se assim nos ditar nosso coração.

Chico Xavier
Neio Lúcio
Jesus no Lar
- 1949
FEB

- Este livro narra situações e histórias do dia a dia de Jesus e seus discípulos.
Em uma destas passagens, Judas Iscariotes mostra-se entusiasmado com as possibilidades de revolução em Jerusalém.

Jesus conta então uma história (parábola) sobre o rei triste, incompreendido pelas massas populares oprimidas, e conclui:
"a revolução é sempre o engano trágico daqueles que desejam arrebatar a outrem o ceptro do governo.
Quando cada servidor entende o dever que lhe cabe no plano da vida, não há disposição para a indisciplina, nem tempo para a insubmissão."
-63/66.

Comentário:
trata-se sem dúvida de uma afirmação, em termos técnicos, altamente reaccionária.


Talvez o problema mais grave contido nela seja uma excessiva generalização, como se todos os tiranos dominadores fossem iguais ao rei descrito na parábola, e como se todas as revoluções fossem iguais em motivação e modo de desenvolvimento.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 16, 2013 10:37 pm

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Chico Xavier
Humberto de Campos
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho
- 1938
FEB

- O livro é prefaciado por Emmanuel, que chama aí o Brasil de pátria do evangelho, diz que o conteúdo do livro é fruto das tradições do mundo espiritual, e diz que a missão do Brasil é suprir materialmente os países mais pobres, fornecer a fé raciocinada, e ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro. p- prefácio.

Comentário:
pessoalmente, acho que chamar o Brasil de "Pátria do Evangelho", e de "maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro" é uma visão incorrecta, e desrespeitosa para com os demais países do mundo.

Talvez, a realidade histórica do Brasil tenha sempre sido muito mais de suprir materialmente os países ricos do planeta (primeiro Portugal, depois Inglaterra, e depois Estados Unidos) do que suprir os países pobres.

- Humberto de Campos afirma:
"Brasileiros, ensarilhemos (ou seja, deixemos de lado) para sempre as armas homicidas das revoluções!".
No capítulo seguinte ao prefácio, intitulado: Esclarecendo.

Comentário:

afirmação reaccionária.

- Humberto de Campos relata que, mais ou menos por volta do ano de 1380, Jesus fez uma de suas visitas periódicas ao mundo, e ficou surpreso e decepcionado com os descaminhos dos homens (apesar de ter previsto que isso ocorreria, em "Há Dois Mil Anos"!). p-20/21.

- Continuando em sua visita ao planeta, Jesus fala de seu plano para o Novo Mundo (Américas), de juntar portugueses, negros africanos, e índios, sem deixar bem claro como isso seria feito.

Passa a impressão de que os africanos viriam por reencarnação.
A ideia era iniciar no Novo Mundo uma nova e melhor etapa da história da Humanidade p-24.

Comentário:
a colonização das Américas foi um verdadeiro genocídio.

Jesus parece desconhecer que o simples contacto de pessoas do Velho Mundo com as do Novo Mundo levaria a diversas epidemias devastadoras entre incontáveis povos das américas, levando-os frequentemente à completa dizimação.

- Humberto de Campos ressalta a singularidade da constituição territorial do Brasil, comparando-a, inclusive, com a dos Estados Unidos, que teriam tido seus territórios aumentados devido a anexações, guerras, etc.

Como se o "formato de coração" do Brasil tivesse se dado unicamente devido à mão divina (Jesus-Ismael, etc.), e não às conquistas de terras indígenas e aos extermínios de populações e de povos inteiros. p-33.

- Jesus esclarece que os negros eram para ter vindo para o Novo Mundo de livre e espontânea vontade. p-51.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 16, 2013 10:37 pm

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Comentário:
visão ingénua e, talvez, historicamente indefensável.

- A Guerra do Paraguai teria sido punição determinada ao Brasil pelo mundo espiritual (por Jesus?) devido às interferências (invasões) indevidas que o Brasil fizera na Argentina e Uruguai de 1849 a 1852, contra os governantes Rosas e Oribe.

O estopim da Guerra do Paraguai teria sido a invasão do Brasil ao Uruguai em 1865. p-197/198.

Comentário:
o objectivo dos líderes espirituais do planeta era punir o Brasil, mas historiadores afirmam que o Brasil acabou se beneficiando da empreitada, e o Paraguai foi reduzido a quase cinzas.

Chico Xavier
André Luiz
Missionários da Luz
- 1945
FEB

- Retrata um homem onde o álcool excessivo determinava, nos centros genitais, modificações deprimentes sobre a própria cromatina;
os rins já não conseguiam excretar o álcool eficientemente, devido à destruição do tecido renal;
e talvez só a excreção através das glândulas sudoríparas mantinha sua vida física.
p-28/29.

Contudo, na página 107 fala sobre a excreção do álcool pelos pulmões.

Comentário:
desconheço qualquer informação que justifique a afirmação de que o álcool destrói ou gera mutações no DNA dos espermatozóides.

Apesar de na página 107 André Luiz falar da excreção do álcool pelos pulmões (que é, na verdade, a principal via de tal excreção), nas páginas 28/29 ele não menciona tal mecanismo, dizendo que a vida daquele alcoólatra em especial só se mantinha devido à excreção pelos poros, o que me parece incorrecto em termos fisiológicos.

(Verifiquei recentemente na internet que, na verdade, os rins são a principal via de excreção do álcool, após metabolização no fígado, ao contrário do que eu pensava.
A excreção pulmonar existe, assim como a pelo suor, sendo responsáveis por até 10% do total.
- comentário incluído em julho de 2003).

(Verifiquei igualmente na internet mais recentemente informações sobre efeitos altamente destrutivos do álcool excessivo sobre as gónadas masculinas - novembro de 2007)

- Fala do pensamento "envenenado" de uma determinada pessoa, destruindo a substância da hereditariedade, intoxicando a cromatina dentro da própria bolsa seminal. p-182.

Comentário:
creio ser acertado dizer que a ciência actual desconhece a possibilidade de o pensamento "envenenar", destruir, ou gerar mutações no DNA dos espermatozóides.
Seria, contudo, dogmático da minha parte afirmar que isso é impossível.

- Segundo relatado por André Luiz, no feto o património sanguíneo é dádiva do organismo materno;
somente aos sete anos de vida, o ser começa a presidir por si mesmo ao processo de formação do sangue. p-203.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 17, 2013 10:26 pm

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Comentário:
esta afirmação me parece altamente incorrecta.

Há vários elementos que de facto passam pela barreira hematoplacentária entre a mãe e o feto, como vírus e alguns anticorpos.

Contudo, células em especial não passam, e elas constituem o que normalmente se considera como o principal do "património sanguíneo"
(glóbulos vermelhos e brancos).

- Afirma que os organismos mais perfeitos terrenos procedem inicialmente da ameba.
A diferenciação é fruto do molde perispirítico. p-215.

Comentário:
actualmente se pensa que a vida se originou de organismos bem mais simples que as amebas, como as bactérias por exemplo, que são seres unicelulares sem núcleo.

As diferenciações celulares possuem mecanismos que, em muitos aspectos, são bem conhecidos actualmente, de modo a tornar injustificável uma explicação de tal processo aludindo unicamente ao perispírito.

Chico Xavier - Waldo Vieira
André Luiz
Evolução em Dois Mundos
- 1958
FEB

Comentários iniciais:
este livro foi psicografado pelos dois médiuns, Chico Xavier e Waldo Vieira.

Os textos assinalados com a indicação da cidade de Pedro Leopoldo (Minas Gerais) se referem à psicografia de Chico Xavier.

Os assinalados Uberaba (Minas Gerais) se referem a Waldo Vieira.
Dentro do que pude recolher desta obra, há notável predominância de trechos oriundos do trabalho de Uberaba (Waldo Vieira).

- Afirma que o espiritismo é o mais alto representante na actualidade do mundo da mensagem consoladora do evangelho de Cristo. p-16. Uberaba.

Comentário:
pessoalmente, considero esta afirmação desrespeitosa para com outras interpretações da mensagem de Cristo.

- Descreve a formação dos planetas como agrupamento de átomos que sob força electromagnética espiritualmente dirigida têm área espacial intra-atómica reduzida formando os núcleos adensados que darão origem aos planetas.

Os planetas teriam vida até que implodiriam sob a pressão dos átomos, e depois explodiriam, em processo de reciclagem. p-21/22. Uberaba.

Comentário:
descrição incoerente com o actualmente postulado pela ciência.

- Fala que primeiro vieram os vírus (...depois as bactérias e plantas...). p-32. Uberaba.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 17, 2013 10:26 pm

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Comentário:
incoerente com as descrições em livros anteriores de André Luiz ou de Emmanuel, onde os primeiros seres vivos teriam sido similares às amebas.

Algumas hipóteses científicas para a origem dos vírus sugerem que eles teriam surgido de fragmentos de DNA que teriam assumido independência com relação ao DNA das células.

Creio que a visão predominante na ciência hoje seja a de que os vírus apareceram depois das células.

- Afirma que o tecido cardíaco é um sincício. p-42 (correcção: p-43). Uberaba.

Comentário:
creio que antigamente se achava que o tecido cardíaco fosse um sincício (células agrupadas e fundidas em seus citoplasmas, retendo seus núcleos isolados entre si dentro deste citoplasma comum), e actualmente sabe-se que não é de facto assim.

(verifiquei recentemente muitas citações na internet dizendo que o coração de facto, em termos funcionais, comporta-se como um sincício.

Seria então um sincício funcional.
Mas ainda me parece que ele não seria estruturalmente um sincício.

O trecho de André Luiz é o seguinte:
FORMAS DAS CÉLULAS — Animálculos infinitesimais, que se revelam domesticados e ordeiros na colmeia orgânica, assumem formas diferentes, segundo a posição dos indivíduos e a natureza dos tecidos em que se agrupam, obedecendo ao pensamento simples ou complexo que lhes comanda a existência.

São cenositos ou microrganismos que podem viver livremente, como autositos, ou como parasitos;
sincícios ou massa de células que se fundem para a execução de actividade particular, como, por exemplo, na musculatura cardíaca ou na camada epitelial que compõe a parte externa da placenta, com acção histolítica sobre a estrutura da organização materna;

células anastomosadas, como as que se coordenam na formação dos tecidos conjuntivos;
células em grupos coloniais, com movimentos perfeitamente coordenados, quais as que se mostram nos volvocídeos;

células com matriz intersticial, que elaboram substâncias imprescindíveis à conservação da vida na província corpórea e as células que podem diversificar-se, constituindo-se elementos livres, como na preparação dos glóbulos da corrente sanguínea.

Parece-me que a placenta é de facto um sincício em termos estruturais.
Já o coração seria apenas sincício no sentido funcional, e André Luiz está, ao que me parece, meio que igualando os dois.

Recomendo aos interessados que chequem tais informações e que a relativizem diante da possibilidade de André Luiz estar, digamos, aludindo ao aspecto funcional do tal sincício coronário...
- novembro de 2007)

- Diz que as células musculares se desdiferenciam ao tipo conjuntivo. p-45/46. Uberaba.

Comentário:
actualmente a ciência afirma que células musculares (e quase todas as demais células já diferenciadas do organismo humano) não podem se desdiferenciar.

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Mensagem  Ave sem Ninho Dom Nov 17, 2013 10:27 pm

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(Recentemente, Vítor Moura me indicou uma fonte que mostraria que alguns vertebrados, como salamandras, talvez tivessem o processo de desdiferenciação no sentido células musculares -> células de tecido conjuntivo;
se André Luiz se referira a tais criaturas - e de facto ele não é claro a quem ele estaria se referindo - então talvez não haja erro. - novembro de 2007)

- Afirma que os vírus e bactérias seriam os primeiros seres, e que a origem da vida se deu há 1,5 bilhão de anos. p-53. Pedro Leopoldo.

Comentário:
afirmação similar à comentada pouco mais acima.
Acredita-se hoje em dia que a vida teria se originado na terra há 3,5 biliões de anos.

- Diz que os cromossomas se movem durante a divisão celular devido à força electromagnética, devido a impulso mental. p-55. Uberaba.

Comentário:
o movimento dos cromossomas durante a divisão celular está ligado à acção mecânica de componentes do cito esqueleto, e não meramente relacionado a acções electromagnéticas originadas directamente de um impulso mental.

- Ressalta a familiaridade (extremos laços de parentesco) entre o homem e os demais mamíferos.
Diferente de Emmanuel. p-87. Pedro Leopoldo.

Comentário:
incoerente com as descrições em livros anteriores escritos por Emmanuel.

Divaldo Franco
Joanna de Ângelis
Após a Tempestade
- 1974
Livraria Espírita Alvorada Editora

- Afirma que o materialismo é o responsável pelo estado actual das gentes e da civilização. p-10.

Comentário:
esta afirmação me parece um tanto quanto exagerada.

- Diz que o suicídio é sempre fruto do orgulho. p-85.

Comentário:
exagero grave, por jogar grande culpabilidade sobre os suicidas.

Aliás, penso que os suicidas são tratados com muita dureza dentro das obras espíritas de Kardec e Chico Xavier.

Conheço, pelo menos, três motivadores para o suicídio:
o primeiro se enquadraria mais ou menos na definição acima, feita por Joanna de Ângelis, orgulho, dor mental por uma mágoa com relação ao mundo, e desejo de punir o mundo (e gerar culpa nas pessoas ofensoras) com o próprio suicídio;

o segundo seria uma tentativa de fugir a dores lancinantes insuperáveis, mentais ou físicas, como pode acontecer em doenças como o câncer
(não vejo nisso nenhum elemento de "orgulho" envolvido);

e o terceiro, seria por altruísmo, para salvar vidas alheias, etc.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Nov 18, 2013 10:17 pm

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- Afirma que há ausência de fantasias atemorizantes na doutrina de Jesus.
Nenhuma agressão contra causas ou homens, doutrinas ou éticas.
Quando chama, não invectiva com ameaças. p-98/99.

Comentário:
acho que esse texto não fala sobre o Cristo dos evangelhos.
Na verdade, ele desinforma, ao invés de informar.
Há de facto imagens atemorizantes nas afirmações de Jesus nos evangelhos, e também "ameaças".

Divaldo Franco
Joanna de Ângelis
Estudos Espíritas
- 1973
FEB

- Afirma que o perispírito é o responsável por todo processo teratológico. p-43.

Comentário:
exagero preocupante.

Há pelo menos medicamentos que geram processos teratológicos e que creio não poderem ser reputados à acção do perispírito.

- Diz que Jesus deixou-se imolar sem nenhuma queixa. p-186.

Comentário:
afirmação que creio desinformar a respeito do verdadeiro conteúdo dos evangelhos.

No evangelho considerado o mais antigo pelos estudiosos da bíblia, o de Marcos, Jesus termina sua vida afirmando:
"Pai, porque me abandonaste?".

(Nota Importante em 11/11/2004: alguns internautas têm já de há muito tempo me alertado que esse trecho de Cristo é na verdade o início do Salmo 22.

Um colega disse inclusive que era tradicional citar-se um Salmo recitando apenas o seu início.

Concordo com essas explicações, e isso ressalta na verdade ainda mais como é inadequado tentarmos entender Jesus de um modo literal a partir das descrições dos Evangelhos
).

Divaldo Franco
Amélia Rodrigues
Primícias do Reino
- 1967
Livraria Espírita Alvorada Editora

Este livro é uma retratação de factos da vida de Cristo tendo por base "fontes do mundo espiritual".

- Afirma que Roma através de seus diversos procuradores colocava no templo de Jerusalém os símbolos de seu poder, a águia e a estátua do imperador. p-25.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Nov 18, 2013 10:18 pm

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Comentário:
Roma mantinha, na verdade, uma posição de mínimo respeito para com as tradições judaicas, tentando não ferir suas susceptibilidades religiosas desnecessariamente.

Era Pilatos, em especial, quem realmente excedia em muito ao normal das acções romanas em seu desrespeito às tradições judaicas.

- Afirma que jamais um povo, como o judeu, sofreu tão longo e cruel exílio. p-26.

Comentário:
muitos povos do mundo ao longo da história da humanidade já sofreram demais.

Pessoalmente, julgo impossível e temerário (talvez mesmo desrespeitoso) determinar qual mais sofreu, mesmo se levarmos em conta questões aparentemente tão específicas como "exílio".

- Fala sobre a passagem da figueira, sem dizer o estranho fim da história. p-31.

Comentário:
essa passagem do Novo Testamento é muito estranha, e aparentemente absurda mesmo.

Jesus seca uma figueira simplesmente porque ele estava com fome e ela não tinha figos, sendo que estava fora da época de figueiras darem seus frutos.

O relato de Amélia Rodrigues omite tal estranho desfecho (a execução sumária da figueira), forçando uma imagem mais benévola de Jesus, e na verdade desinformando a respeito dele.

- Retorno à passagem da figueira na p-76, mas parecendo que Jesus conta uma história apenas.

Comentário:
o "cruel" desfecho é apresentado (a "secagem" da figueira), mas o relato, lido no livro de Amélia Rodrigues, passa a clara impressão de que Jesus está apenas contando uma parábola.

A passagem da figueira nos evangelhos não tem nada de parábola.
É narrada como um facto real.

Curiosamente, mesmo Kardec apresenta o facto como se fosse uma parábola (história fictícia narrada com fins didácticos-espiritualizantes).

Parece haver uma dificuldade muito grande por parte de muitos cristãos em geral (e de muitos kardecistas em especial) de narrar, lidar, e procurar entender os momentos de agressividade de Jesus.

Acabam criando imagens de Jesus deturpadamente benévolas, e desinformadoras.

- Relato tradicional da autoria dos evangelhos. -195.

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Mensagem  Ave sem Ninho Seg Nov 18, 2013 10:18 pm

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Comentário:
tradicionalmente os evangelhos são atribuídos a duas testemunhas oculares da vida de Jesus, e a dois outros autores que teriam colhido suas narrativas de testemunhas oculares.

Estudiosos do Novo Testamento acham, actualmente, que tal visão é incorrecta.
Amélia Rodrigues, contudo, mantém a versão tradicional.

- Afirma que há apenas pequenas variantes de narrativas entre os quatro evangelistas. p-196.

Comentário:
as diferenças de narrativa são enormes, em muitos aspectos, em especial com relação ao Evangelho de João, mas também entre os três outros.

§.§.§- O-canto-da-ave
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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 19, 2013 11:35 pm

Conclusões e Sugestões aos Homens e Mulheres de boa Vontade, Espiritualistas ou Materialistas
Uma coisa que é clara da leitura atenta das obras kardecistas é que há de facto erros em tais trabalhos.
Erros dos espíritas da época, erros dos "espíritos", erros de Kardec, etc.

O mais importante é que há erros nas informações que nos são comunicadas pelos "espíritos" através dos médiuns.

A pergunta seguinte é:
o que fazermos diante de tais erros?

A questão da morte, do fim da vida (e talvez da existência) de cada um de nós, é uma questão muito importante em termos humanos.

A posição de alguns materialistas, que crêem que não há vida pós morte e que acham que nem mesmo se deve tentar estudar os pretensos fenómenos que embaçam o mediunismo, é uma posição contraproducente e insensível aos apelos humanos de muitos de nós.

É também, espantosamente, uma posição irracional por se negar a sequer analisar os fenómenos e os estudos realizados na área.

Penso que, na verdade, apenas uma pequena minoria dos materialistas se encaixa nessa categoria irracional.

Contudo ela existe, e exerce efeitos sobre a sociedade e sobre a comunidade científica.

E isso é muito ruim. Da mesma maneira, a posição de alguns espiritualistas, que consideram que a vida pós morte já está plenamente demonstrada e que já temos condições inclusive de saber em minúcias como é tal vida, é também uma posição desprovida do devido envasamento factual-científico, indutora de erro, e igualmente ruim.

Quem deseje de facto estudar de modo científico a questão da "sobrevivência" (da sobrevivência da consciência humana ao fenómeno da morte física) deve atentar para alguns pontos cruciais.

Nesse sentido, listo abaixo algumas sugestões para "os homens e mulheres de boa vontade", em especial kardecistas interessados no aspecto científico do Espiritismo Kardecista.

Não se trata de uma lista completa, e sim apenas de algumas sugestões que penso sinceramente poderem ser valiosas:

1- É importante estarmos cônscios de nossos viéses pessoais, quer sejam eles viéses espiritualistas, quer sejam eles viéses materialistas, e tentarmos ao máximo evitar que tais viéses nos embotem o raciocínio.

Viéses não são necessariamente ruins.
Eles inclusive nos motivam, e isso é o elemento básico de qualquer investigação científica.

Mas devemos estar atentos para eles.

2- É crucial buscarmos com afinco e estudarmos minuciosamente os argumentos de nossos opositores (materialistas ou espiritualistas).

Existem muitos argumentos bons dos materialistas contra a possibilidade de vida pós morte, e boas críticas aos fenómenos espíritas e mediúnicos.

Igualmente, existem bons argumentos a favor da hipótese da "sobrevivência" e bons estudos dos fenómenos dessa área.

Recomendo fortemente aos espiritualistas que conheçam os argumentos cépticos.

Uma fonte inicial é o Dicionário Céptico, já traduzido para o português e disponível online gratuitamente na internet.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 19, 2013 11:36 pm

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Infelizmente há muito de deboche e até de desrespeito em materiais como esses.

Mas ainda assim recomendo fortemente que os adeptos de visões espiritualistas "respirem fundo" e mergulhem em tais materiais adversos, pois que a despeito dos excessos e descaminhos presentes neles, há também insumos válidos.

3- Ao encontrarmos uma determinada obra sobre o assunto da "sobrevivência" (vida pós morte), é importante tentarmos colher informações a respeito do autor, de sua credibilidade, das críticas que lhe são feitas e de como ele responde a tais críticas, se ele publica em revistas científicas respeitáveis, etc.

Fiz isso em bom grau de profundidade com o pesquisador de reencarnação Ian Stevenson, por exemplo.

Ninguém é de todo ruim ou de todo bom.
O importante, portanto, e tentarmos conhecer o autor, em suas forças e fraquezas.

4- Há já uma literatura extensa sobre esse assunto, e é crucial tentarmos ler tais materiais.

Dois livros que tratam do assunto de modo introdutório, racional e analiticamente, são "Immortal Remains" (de 2003), do filósofo e pesquisador psi (parapsicólogo) Stephen Braude, e o livro "Mediunidade e Sobrevivência" (de 1982), do pesquisador psi Alan Gauld.

Tais obras são respeitadas mesmo por cépticos ateus-materialistas, como Keith Augustine (autor de uma obra muito conhecida entre os cépticos ateus-materialistas militantes que argumenta contra a hipótese de vida pós morte: O Caso Contra a Imortalidade - The Case Against Immortality - disponível online na internet).

Isso não quer dizer que os cépticos concordem com tais autores.
Apenas que eles percebem que há neles qualidade digna de serem lidos com seriedade.

Isso é muito importante.

Um site interessante é o "The International Survivalist Society", no link abaixo:
http://www.survivalafterdeath.org/

5- A questão da "sobrevivência" (pós morte) é muito mais complexa, em termos empíricos e lógicos, do que se pode a princípio imaginar.

Existem diversos aspectos biológicos, físicos, e mesmo teórico e filosóficos altamente, digamos, "ardilosos" que devem ser conhecidos.

Um deles é a questão de se os fenómenos mediúnicos (todos eles) não seriam na verdade meramente fruto de telepatia somada a psicocinese e clarividência, e premonição também talvez, e aí haveria talvez tais poderes "paranormais" sem que contudo houvesse vida pós morte.

Essa questão específica é abordada no link abaixo:
http://www.survivalafterdeath.org/articles/braude/superpsi.htm

6- Muitas questões ligadas ao problema da "sobrevivência" exigem um tratamento estatístico (assim como ocorre em diversas pesquisas científicas de outras áreas).

É importante estar atento para isso, e conhecer algo desse assunto.

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Mensagem  Ave sem Ninho Ter Nov 19, 2013 11:36 pm

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Um artigo interessante é o de Jessica Utts (excelente e altamente respeitada estatística estado-unidense), que fala sobre estudos de telepatia, mas que pode ser aplicado a estudos com médiuns também. Neste link http://www.criticandokardec.com.br/UTTS.PDF

7- Apesar de pesquisas laboratoriais não serem as únicas aceitáveis em ciência, elas possuem contudo muitas vantagens para se testar e validar hipóteses.

Considero fundamental que se tente fazer pesquisas laboratoriais controladas com médiuns, e isso é algo relativamente raro.

O pesquisador estado-unidense Gary Schwartz tem tentado isso.
Pessoalmente não confio muito nos métodos dele (e nem nos resultados).

Em todo o caso, é esse tipo de estudo que me parece ser necessário para avançarmos no conhecimento desses curiosos e importantes fenómenos.

Enfim, penso haver muito a ser estudado e desbravado nessa área, e assim como o espiritualismo tem alguns graves problemas a superar (enquanto hipótese científica), o materialismo também vai muito mais "mal das pernas" do que muitos imaginam...

Nesse sentido, sugiro aos leitores interessados os três textos abaixo, onde, no primeiro, exponho alguns graves problemas lógico-empíricos do materialismo;

no segundo, exponho algumas possibilidades interessantes da hipótese "vida pós morte";

e no terceiro, apresento em modo mais amadurecido os problemas lógicos do materialismo.

Tratam-se de humildes contribuições, como todas da área.
Mas, como todas, capazes de, talvez, contribuir positivamente para o debate e a investigação desses fenómenos e questões.

Primeiro Texto: As Dez Milhões de Maças Perdidas do Materialismo... - http://www.criticandokardec.com.br/apples.htm

Segundo Texto: Vida Pós Morte: Por Quê Sim? Por Quê Não? - Parte Um e Parte Dois. - http://www.criticandokardec.com.br/psi_vs_espirit.htm

Terceiro Texto: O Materialismo Viola a Lei da Conservação da Energia e também viola o Neodarwinismo. - http://www.criticandokardec.com.br/pomo_da_discordia.htm

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 20, 2013 10:57 pm

Reflectindo Sobre os Argumentos de Sílvio Seno Chibeni.
O estudioso do espiritismo (kardecismo) Sílvio Seno Chibeni possui uma quantidade considerável de textos e artigos onde defende que o kardecismo (ao qual ele invariavelmente se refere como "espiritismo") é de facto, além de religião e filosofia, ciência.

E boa ciência.
Chibeni possui um currículo e formação impressionante na área de Filosofia da Ciência, o que sem dúvida o situaria como um avaliador privilegiado para aquilatar a faceta científica do kardecismo.

No meu entendimento, porém, o que acontece é justamente o contrário.

Sua avaliação da cientificidade do kardecismo possui muitos problemas, incluindo diversos equívocos de visão, tanto com relação ao kardecismo quanto com relação a algumas das ciências ordinárias e com relação às chamadas "ciências psi" (especificamente a parapsicologia).

Em outubro de 2007, enviei um email ao Sr. Chibeni, perguntando se o artigo "A Excelência Metodológica do Espiritismo" (1988) ainda correspondia à sua visão actual dos temas abordados.

Ele afirmou que em linhas gerais sim, mas assinalou que no site do GEEU http://www.geocities.com/athens/academy/8482/artigos.htm há artigos dele mais recentes que tratam de pontos importantes abordados no artigo em questão.

Em vista disso, comentarei primeiro o artigo "A Excelência Metodológica do Espiritismo" http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/exemet.html (1988), e após isso alguns pontos adicionais dos artigos "Ciência Espírita" http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/ciespi.html (1991) e "O Paradigma Espírita" http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/paresp.html (1994).

Comentários sobre o artigo "A Excelência Metodológica do Espiritismo".

[url]http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/exemet.html[url]

Acessado em 28 de outubro de 2007.

Publicado em Reformador, novembro de 1988, pp. 328-33 e dezembro de 1988, pp. 373-78. Digitado por Ademir L. Xavier Jr.

Os artigos serão reproduzidos por mim aqui apenas na medida necessária para comentar seus devidos trechos dentro do contexto apropriado.

A Excelência Metodológica do Espiritismo
Silvio Seno Chibeni

Muitas vezes quando se fala de metodologia em ciência estamos nos referindo ao conjunto de práticas através das quais uma determinada ciência realiza experimentos e observações.

Contudo, nesses três artigos de Chibeni que comentarei, não é de fato analisada a maneira como o kardecismo realiza suas observações e experimentações, e nem como se chegou, no kardecismo, às conclusões e visões centrais abraçadas por esta crença (ou seja, abraçadas pelo kardecismo).

Isso é especialmente problemático, porque é justamente aí que se encontram os grandes problemas que mes impede de reconhecer no kardecismo qualquer qualidade minimamente científica (ou seja, qualquer qualidade na sua prática real que justifique dizer-se que o kardecismo já pode ser considerado como uma ciência com conclusões pelo menos minimamente confiáveis), muito menos ainda dizer que o kardecismo desfruta de uma excelência metodológico-científica.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 20, 2013 10:58 pm

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Secções:

1.
Introdução

2. O Espiritismo é científico

3. "O Espiritismo não é da alçada da ciência"

4. As deficiências das chamadas "ciências psi"

5. O Espiritismo é religioso

A estrutura de secções do artigo pode ser vista acima.

1. Introdução

O Espiritismo não pode considerar crítico sério senão aquele que tudo tenha visto, estudado e aprofundado com a paciência e a perseverança de um observador consciencioso;

que do assunto saiba tanto quanto o adepto mais esclarecido;
que haja, por conseguinte, haurido seus conhecimentos algures, que não nos romances da ciência;

aquele a quem não se possa opor facto algum que lhe seja desconhecido, nenhum argumento de que já não tenha cogitado e cuja refutação faça, não por mera negação, mas por meio de outros argumentos mais peremptórios;

aquele, finalmente, que possa indicar, para os factos averiguados, causa mais lógica do que a que lhe aponta o Espiritismo.

Tal crítico ainda está por aparecer.


Allan Kardec, Le Livre des Médiuns, § 14, n. 8. [nota 1]

Acima temos um comentário de Kardec.

Ainda que eu simpatize muito com os níveis de exigência delimitados por Kardec no trecho acima (até devido ao meu perfeccionismo intrínseco), creio que Kardec exagerou sobremaneira nessa passagem.

Afinal, críticas relevantes podem aparecer mesmo vindas de um observador eventual, que olhe um ponto específico e que detecte aí um problema relevante.

É do interesse do pesquisador espírita ouvir sempre os críticos e as críticas.

E, muito mais importante:
o próprio Kardec, na prática, ouvia e respondia às críticas vindas de pessoas que seriam caracterizadas como "críticos não sérios" pelos padrões definidos acima.

Ele não era do tipo que busca motivos para desqualificar algum crítico e relegar as críticas ao esquecimento.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qua Nov 20, 2013 10:58 pm

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Se temos, de um lado, o "crítico sério", e de outro, o "criticado sério", a mim parece que, quase invariavelmente, Kardec se comportava como o criticado sério.

Ou seja, ele tentava ouvir e pesar a substância da crítica mesmo se ela fosse proveniente de críticos fracos ou maldosos.

Ao procurarmos aplicar esses critérios para a caracterização de um crítico legítimo do Espiritismo a cada um daquele que o têm pretendido ser durante os mais de cento e vinte anos que se passaram desde que Allan Kardec os enumerou, verificamos, facilmente e sem possibilidade de erro, que mesmo hoje tal crítico "ainda está para aparecer",

Penso que o trecho acima de Chibeni é incorrecto.
O próprio Kardec executava a auto-crítica, o que o coloca (ou seja, o próprio Kardec) entre um dos primeiros e melhores críticos do espiritismo (kardecismo).

Não é inexpressivo o número de indivíduos e instituições ditos espíritas empenhados na busca de "novidades" que possam, segundo pensam, "actualizar" a Doutrina, dar-lhe "fundamentação científica", "harmonizá-la às conquistas da Ciência".

Nesse sentido, procuram ressaltar e dar cobertura - inclusive através de periódicos espíritas, ciclos de palestras, etc. - a pesquisadores das chamadas "ciências psi", notadamente aqueles detentores de títulos académicos.

Tentaremos, dentro das limitações de espaço de um artigo, mostrar que tais atitudes decorrem de uma injustificável inversão de valores, prejudicial tanto ao Movimento Espírita como ao próprio desenvolvimento da Doutrina e do conhecimento humano em geral.

A posição de Chibeni, conforme exposta no parágrafo acima, se mostra reaccionária (no sentido de "contrária à reacção").

Sem dúvida ele está, penso, correcto ao assinalar que há problemas nessas tentativas de "melhoramento" do kardecismo.

Contudo, penso que de facto elas surgem de problemas reais internos à própria estrutura do kardecismo, e de sua relação com o mundo e com o conhecimento (ou seja, com a busca da verdade científica).

2. O Espiritismo é científico

O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.
Allan Kardec, Qu'est-ce que le Spiritisme, Preâmbulo.

Ao reproduzir o trecho acima de Kardec, Chibeni delimita o que é o Espiritismo (que eu tento chamar sempre de Kardecismo, devido aos motivos expostos por mim em "Kardecismo ou Espiritismo?", neste link http://www.criticandokardec.com.br/kardesp.htm).

Note que se trata de uma ciência que parte do princípio de que existem de facto espíritos.
Um ponto inicial importante é identificarmos até que ponto a afirmação de que existem espíritos é, em si mesma, uma afirmação científica.

Uma ciência não pode se basear em uma premissa não científica.
Então, se não houver base científica para a afirmação de que existem espíritos, a cientificidade do kardecismo fica insustentável.

Temos então que saber, nesse primeiro ponto, como se estabeleceu, e como Kardec estabeleceu, que existem espíritos.

Que método ele usou para validar tal verdade.
Um segundo ponto é como tal "ciência" estuda a tal natureza, origem e destino dos espíritos, e suas relações com o mundo.

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 21, 2013 10:11 pm

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Quais métodos são utilizados por essa "ciência" para validar suas afirmações a respeito dessas supostas entidades do mundo real (espíritos).

Como demonstro em minha principal análise do trabalho de Kardec, neste link, http://www.criticandokardec.com.br/kardec1.htm há graves problemas nos métodos utilizados por Kardec, bem como em suas premissas e conclusões, a ponto de situar o conjunto da obra kardequiana bem abaixo do minimamente desejável para a qualificarmos como científica.

A tarefa de determinar quais as características de uma teoria são necessárias e suficientes ao seu enquadramento na categoria de ciência cabe à subárea da Filosofia intitulada Filosofia da Ciência.

Essa disciplina, assim como outros ramos do saber, vem evoluindo constantemente.

Em seu caso específico, progressos essenciais ocorreram no século XX, e , mais acentuadamente, a partir da década de 60.

Os trabalhos de vários filósofos, entre os quais Karl Popper, Willard Quine, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Imre Lakatos, evidenciaram graves problemas na concepção de ciência que prevaleceu durante séculos, e ainda hoje é muito frequente encontrar-se entre os não filósofos.

Há de facto uma enorme complexidade nas reflexões filosóficas sobre o que é ciência e como ela procede e até mesmo como ela deve proceder.
No nosso caso específico, a pergunta é:
o que torna o kardecismo uma ciência, e o que torna a Umbanda (ou o Candomblé) uma não ciência?

Muito simplificadamente, poderíamos dizer que pelo menos desde o surgimento da ciência moderna, por volta do século XVII, acreditava-se que a Ciência consistia na catalogação neutra de um grande número de "factos", dos quais então resultariam, de maneira "espontânea", certa e infalível, as leis gerais que o regem; a reunião de tais leis constituiria então uma teoria científica. [...]

Imre Lakatos sistematizou as novas ideias surgidas na Filosofia da Ciência, propondo que a actividade científica desenvolve-se em torno do que denominou "programa científico de pesquisa". [nota 3]

Um tal programa de pesquisa consiste, em termos simplificados, de um "núcleo rígido" de hipóteses teóricas básicas, suplementado por um "cinturão protector" de hipóteses auxiliares, que serve para ligar e ajustar o núcleo aos fenómenos de que a ciência trata.

A cada programa ainda estão associadas duas "heurísticas", uma "negativa", que é a decisão metodológica de se manter inalteradas as hipóteses do núcleo, e outra "positiva", que é um conjunto de sugestões ou ideias de como mudar ou desenvolver o cinturão protector de modo que o programa dê conta de novos fenómenos e explique os já conhecidos de maneira mais precisa.

Um programa de pesquisa é dito "progressivo" caso leve sistematicamente à descoberta de novos factos, que sejam por ele explicados;
caso contrário, será dito "degenerante".

Esse é um ponto deveras interessante, e Chibeni foi meu primeiro contacto com a filosofia da ciência, em textos dele que me chegaram às mãos em 1998 ou 1997.

Daí li alguns livros relacionados ao assunto, especialmente "O Que é Ciência Afinal?" (Alan Chalmers) e "A Estrutura das Revoluções Científicas" (Thomas Kuhn).

A história parece mais ou menos assim
(atente o leitor para o facto de que o parágrafo abaixo se trata de um esboço geral feito por um humilde não especialista em filosofia e história da ciência):

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Mensagem  Ave sem Ninho Qui Nov 21, 2013 10:11 pm

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Desde o início da "ciência moderna", lá pela época de Galileu e Newton (século XVIII), e Bacon também..., até inícios do século XX, reinava o "indutivismo ingénuo".

Era a visão segundo a qual a ciência progredia a partir de um ponto inicial de observações (ou de experimentações) totalmente destituídas de qualquer teorização prévia.

Tais observações levavam o cientista a certas conclusões (hipóteses ou teorias).
Isso é a indução.

Daí, uma vez tendo a teoria nas mãos, o cientista previa diversos factos e fenómenos como consequência da teoria.
Isso é a dedução.

Com Popper, na primeira metade do século XX, viria a ideia de que as teorias científicas têm que ser falsificáveis, ou seja, refutáveis.

Muitas proposições religiosas são afirmações de fé que não têm como ser refutadas, como por exemplo a virgindade de Maria mãe de Jesus Cristo.

Não poderia esse exemplo, então, ser considerado uma hipótese científica.

Após Popper, Kuhn apresentou uma visão interessante de ciência como uma sucessão de paradigmas (ou seja, modos de pensar e ver o mundo, e modos de se relacionar com ele, de testá-lo, de observá-lo, etc.).

Lakatos, a seguir, apresenta a visão talvez mais interessante, que é a descrita acima por Chibeni.

O modelo de Lakatos parece uma célula viva, ou uma sociedade humana;
parece mais uma descrição vinda de um cientista político do que de um técnico de metodologia investigativa (e Lakatos não era nenhum dos dois, e sim um filósofo da ciência).

Tomando o exemplo de um dos mais bem sucedidos programas de pesquisa da Física, a Mecânica Newtoniana, vemos que possui um núcleo rígido formado pelas três leis newtonianas do movimento e pela lei da gravitação universal, que a heurística negativa do programa recomenda sejam mantidas inalteradas:
eventuais discrepâncias com a experiência devem ser eliminadas através de ajustes nas hipóteses auxiliares do cinturão protector.

Esse processo ocorreu várias vezes durante o desenvolvimento do programa, como quando, no século XIX, se verificou que as previsões teóricas para a trajectória do planeta Urano conflituavam com os dados da observação astronómica;
ao invés de imputar esse desvio a possível falsidade das leis do núcleo rígido, assumiu-se que deveria existir um corpo celeste desconhecido perturbando a trajectória do planeta;
mais tarde, foi, de facto, observada a existência desse corpo, o planeta Neptuno.


Urano apresentava (apresenta) uma falsa anomalia para o paradigma newtoniano.
Curiosamente, Mercúrio apresentava (apresenta), em seu movimento, uma anomalia para o paradigma newtoniano que não era falsa.

Tal anomalia só pode ser explicada por outro paradigma, ou seja, pela Teoria da Relatividade de Einstein.

Assim como nesse episódio, a conjunção das heurísticas negativa e positiva do programa newtoniano levou a inúmeros desenvolvimentos:
novas teorias ópticas, novos aparelhos e técnicas de observação, criação de novos ramos da Matemática etc.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 22, 2013 10:44 pm

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A partir do início de nosso século, porém, o programa tornou-se degenerante, por motivos vários que não cabe expor aqui, vindo a ser substituído pelos programas das Teorias da Relatividade e da Mecânica Quântica.

Olhando agora para o Espiritismo, vemos que traz em si todas as características de um programa de pesquisa progressivo, sendo, portanto, genuinamente científico, segundo o critério lakatosiano.

Minha posição é diametralmente oposta a Chibeni nesse ponto.
Penso que o kardecismo se mostra como um programa de pesquisa degenerante.

Possui um núcleo rígido formado pelo princípio da existência de uma "inteligência suprema, causa primária de todas as coisas", dotada da suprema justiça e bondade;
pela lei de causa e feito;

pela imortalidade dos seres vivos;
por sua evolução ilimitada;
pela existência do livre arbítrio, a partir de determinado estágio evolutivo.


Desse núcleo pode-se, com o auxílio da lógica ("raciocínio") e de assunções auxiliares, deduzir ("explicar") a infinidade de fenómenos de que trata o Espiritismo:
os fenómenos mediúnicos e anímicos, a evolução dos seres, seus estados psicológicos, sua condição após a morte etc.

Todos esses facto, analisados extensiva e objectivamente pelo Espiritismo, embaçam e sancionam o corpo de seus princípios teóricos;
este, a seu turno, concatena, torna inteligíveis, explica aqueles factos.

Novamente se faz necessário perguntar:
qual a diferença disto acima para o que ocorre na Umbanda, ou no Candomblé por exemplo.

Há que se frisar, inclusive, o carácter altamente problemático dos pilares básicos elencados por Chibeni acima:

1- Existência de uma inteligência suprema (Deus):
não parece haver evidências, directas ou indirectas, que tornem forçoso ou mesmo minimamente necessário, a existência de um Deus assim descrito por Chibeni.


2- Deus sendo dotado de suprema justiça e bondade:
há graves problemas para a defensibilidade de tal tese.

O mundo (Universo) não parece bom nem justo.

3- Lei de causa e efeito:
aqui Chibeni deve estar se referindo a
"quem com ferro fere, com ferro será ferido".
Não há evidências suficientes para embaçar tal visão "cármica" kardecista.

4- Imortalidade dos seres vivos:
Chibeni deve estar se referindo à imortalidade dos "seres mortos", ou seja, imortalidade do espírito.


Mesmo que haja evidências para a sobrevivência de algo como um espírito para além da morte corporal, isso não é sinónimo de que tal sobrevivência se dará para toda a eternidade.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 22, 2013 10:44 pm

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Talvez os espíritos existam mas morram, em um ano, ou cem anos, ou dez mil anos.
Talvez morram em certas situações especiais, como ao cair na singularidade de um buraco negro.

Como excluir tais possibilidades?

5- Evolução ilimitada dos "seres vivos":
aqui me parece que Chibeni está se referindo ao "melhoramento" constante dos espíritos, aumentando seu conhecimento, sua bondade, e seu poder sobre os espíritos que lhes são inferiores.


Esse ponto é questionável mesmo dentro do paradigma kardecista, onde podemos nos perguntar se há algum progresso possível para um espírito que seja já Espírito Puro.

Eu, pessoalmente, considero que não haveria.
Ou seja, que assim como há um ponto de início na escala espírita, há também um ponto (ponto!) final.

6- Existência de livre arbítrio:
ponto altamente controverso em filosofia.


Na verdade, só conhecemos determinismo e aleatoriedade.

Ainda está para nascer uma teoria do livre arbítrio, e eu pessoalmente não tenho quase nenhuma esperança de que ela venha de facto a aparecer.

Allan Kardec percebeu, em admirável antecipação às conquistas recentes da Filosofia da Ciência, a importância fundamental dessa "simbiose" entre fenómeno e teoria, e expendeu extensos comentários sobre ela em várias de suas obras.

Chibeni se esquece de dizer que Kardec era, como talvez a maioria dos de sua época, um indutivista ingénuo.

Em A Génese, Kardec explica:

"Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exactamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental.

Factos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas;
ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege;
depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis.

Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida;
assim, não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina;
concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência ressaltou evidente da observação dos factos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios.

Não foram os factos que vieram a posteriori confirmar a teoria:
a teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir os factos.

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 Criticando Kardec - Página 2 Empty Re: Criticando Kardec

Mensagem  Ave sem Ninho Sex Nov 22, 2013 10:45 pm

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É, pois, rigorosamente exacto dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação.

As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental;

até então, acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas."

Isso acima é a própria definição do indutivismo ingénuo.

Uma questão interessante é então a seguinte:
será que Kardec advogava o indutivismo ingénuo mas, na prática, fazia algo diferente, algo melhor e mais avançado?
Na verdade penso que sim.

E aliás: tanto ele quanto a quase totalidade dos cientistas de então!

Por isso que, a meu ver, a filosofia da ciência evoluiu de uma pretensão de ensinar como se deve fazer ciência (que é o que ocorria quando difundiam o indutivismo ingénuo - séculos XVII até XIX/XX) para uma visão mais lúcida de descrever como a ciência (enquanto fenómeno humano) de facto se dá.

A primeira sentença que destacamos revela uma vez mais que Kardec localizava o carácter científico do Espiritismo na "doutrina", na sua "parte filosófica", que, no contexto de nossa análise, deve ser entendido como aquilo a que vimos denominando "teoria".

Os factos em si não constituem a ciência.

No meu entendimento, as ciências normalmente possuem uma teoria (ou um conjunto de teorias), um método (ou um conjunto de métodos observacionais e/ou experimentais), e um objecto de estudo (algo a ser observado e/ou submetido a experimentos).

Tudo isso pode ser chamado, conjuntamente, de um paradigma (kuhniano). Ou de um programa de pesquisas (lakatosiano).

Nosso segundo destaque mostra que Kardec já entendia o papel da teoria como dando "corpo", ou seja, coesão, inteligibilidade, aos fenómenos, que é a tarefa que Lakatos atribui aos princípios teóricos do programa de pesquisa, notadamente os de seu núcleo rígido.

Não parece haver grande vanguardismo de Kardec nisso acima.
Kardec estava provavelmente sendo igual à média dos bons cientistas seus contemporâneos.

3. "O Espiritismo não é da alçada da Ciência"

A frase que serve de título a esta secção foi extraída do Item VII da magnífica peça "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita", que Kardec fez figurar como introdução de O Livro dos Espíritos.

Esse item trata especificamente das relações entre a Doutrina Espírita e a Ciência, devendo esta ser entendida aqui como o conjunto das ciências ordinárias, "oficiais", das academias, tal como a Física, a Química e a Biologia. [nota 4]

Penso que Chibeni interpreta incorrectamente essa afirmação de Kardec.
Kardec falava de algumas ciências específicas.
Especialmente a física.

Na época dele, creio eu, ao falar-se de "ciência", vinha-se à mente as ciências exactas (ou quase exactas...).
Os experimentos e observações da física e da química, e as observações da astronomia, são, via de regra, altamente precisos e reprodutíveis.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 23, 2013 10:24 pm

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Alguns da biologia também.

Na época de Kardec (assim imagino eu...), coisas como sociologia, psicologia, ciência política, antropologia, etologia (estudo do comportamento animal), bem como diversos ramos da biologia, não apareciam ainda como ciências.

Ou seja, ou não existiam ainda, ou não era isso que se pensava quando se falava em "ciências".

O facto é que o kardecismo, enquanto ciência, possui características altamente similares a algumas das "ciências" actuais, como a sociologia, a psicologia e a etologia.

As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente;
os fenómenos espíritas repousam na acção de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos.

As observações não podem, portanto, ser feitas de mesma forma;
requerem condições especiais e outro ponto de partida.

Querer submetê-la aos processos comuns de investigações é estabelecer analogias que não existem.

A Ciência, propriamente dita, é, pois, como ciência, incompetente para pronunciar na questão do Espiritismo:
não tem que se ocupar com isso e qualquer que seja o seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso poderá ter.

É admirável a simplicidade do argumento:
o Espiritismo e a Ciência tratam de domínios diferentes de fenómenos:
o primeiro dos relativos ao elemento espiritual, a segunda daqueles concernentes ao elemento material.


Têm, portanto, métodos específicos e objectivos distintos, não cabendo, pois, julgamentos recíprocos.

Para os efeitos disso dito acima, não há, no kardecismo, nenhuma singularidade com relação ao seu objecto de estudo. O kardecismo, se for uma ciência (ou a partir do momento em que atinja status verdadeiramente científico), é uma ciência como qualquer outra.

A ciência biológica, via de regra, não é da alçada da ciência (da ciência química).
A ciência química, via de regra, não é da alçada da ciência (da ciência biológica).

Idem para o kardecismo, se e quando for ciência.
A diferença, no kardecismo, entre o mundo material e o mundo espiritual é que este último é feito de... matéria espiritual!

Matéria portanto (de algum tipo).

Pode-se igualmente dizer que há uma diferença entre a "matéria biológica", a "matéria química", e a "matéria física", possuindo inclusive cada uma sua lógica própria (regras mecânicas de funcionamento).

Aquele que se fez especialista prende todas as suas ideias à especialidade que adoptou.
Tirai-o daí e o vereis sempre desarrazoar, por querer submeter tudo ao mesmo cadinho: consequência da fraqueza humana.

Nada obsta, evidentemente, a que os cientistas se interessem, enquanto homens, pelo Espiritismo, e o estudem e avaliem nessa condição.

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Mensagem  Ave sem Ninho Sáb Nov 23, 2013 10:24 pm

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Um pouco abaixo do trecho que acabamos de transcrever, Kardec pronuncia-se nesse sentido:
Enquanto homens, alguns cientistas podem se interessar e estudar o kardecismo.
E, ao fazerem isso, podem se tornar cientistas kardecistas, ou cientistas espíritas.


O mesmo se dá com alguns cientistas físicos que, enquanto homens, resolvem estudar a biologia, e acabam se tornando cientistas biológicos.

O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal, que os cientistas, como indivíduos, podem adquirir, abstracção feita de sua qualidade de cientistas [...].

A física e a biologia também são o resultado de uma convicção pessoal.

E o Candomblé também. O que torna os dois primeiros talvez ciência, e o último talvez não ciência, é o tipo de método usado para se observar e experimentar com a realidade, os critérios utilizados para se decretar a existência de seu objecto de estudo, e a origem ("como surgiram") de suas teorias e paradigmas.

Ainda um último aspecto está envolvido nas relações entre o Espiritismo e a Ciência:
a necessidade que ele tem de não entrar em descompasso com o progresso científico.

Esse é um ponto especialmente delicado, que retomarei mais abaixo...

No entanto, é preciso cautela no entendimento da progressividade do Espiritismo.

Primeiro, ela deve ocorrer de acordo com a heurística positiva do próprio programa espírita, sem recurso a elementos estranhos, venham de onde vierem, sob o risco de este perder sua consistência.

Aqui Chibeni parece começar a alertar contra "paradigmas" concorrentes, como a parapsicologia, etc.

Agora é certo que não há nenhum princípio científico estável, nenhuma "verdade prática", que o Espiritismo não tenha ou assimilado, ou mesmo antecipado, sendo, portanto, improcedente os pruridos de reforma e actualização da Doutrina.

Penso que Chibeni é demasiado "optimista" quanto à robustez kardecista.
Novamente, esse é o ponto que retomarei mais abaixo, ou seja:
em que pontos o kardecismo parece em descompasso com o conhecimento científico mais estabelecido.

4. As deficiências das chamadas "ciências psi"

Todas as teorias que pretendem elucidar os fenómenos mediúnicos, alheias à Doutrina Espiritista, pecam pela sua insuficiência e falsidade.
Emmanuel

Essa assertiva de Emmanuel, que abre o Capítulo XIV do primeiro livro que nos legou por via mediúnica (Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier.), há mais de cinquenta anos, pode, a alguns, parecer demasiadamente forte.

Na verdade a afirmação de Emmanuel não foi exactamente essa citada acima.

O que ele disse (na cópia que eu possuo do livro em questão) foi:
"Todas as teorias que pretendem elucidar os fenómenos mediúnicos, alheios à Doutrina Espiritista, pecam pela sua insuficiência e falsidade".

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